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Importância do Rigor Metodológico e Conceitual em Memória Institucional

Por: Eliana Rezende Bethancourt 

À guisa de uma introdução:

A escrita coloca a quem escreve, o desafio de ponderar palavras e elaborar conexões de sentido. Diante disso, um esclarecimento: minha fala pauta-se a partir da observação que venho fazendo em relação ao oferecimento de cursos e outras formas de capacitação e/ou consultorias que tem proliferado nas redes, até propiciada pelos recursos online aos quais temos acesso. 

Uma tempestade perfeita se formou onde de um lado, temos a tecnologia acessível, e de outro pessoas disponíveis com tempo ou recursos, querendo realizar cursos e aperfeiçoamentos, ou demandas que necessitam de uma consultoria ou assessoria técnica. Engana-se aquele que acredita que, por ser uma capacitação ou consultoria, esta deva ser desprovida de rigor, e que qualquer coisa poderia ser aceita, já que são poucas horas destinadas a ela.

Os pilares que sustentam, e que firmam toda uma carreira, assentam-se obrigatoriamente na formação teórica, acadêmica e no rigor metodológico. São pilares que prezo e persigo tanto em mim, quanto no meu trabalho, meus alunos e nos profissionais que me cercam, ou nos clientes que me procuram.

Em geral, e até por uma demanda que chamamos de coerência, este rigor Conceitual e Metodológico devem ser acompanhado por ações profissionais que os sustentem. A seriedade imposta deve ser ainda mais rigorosa quando nos dispomos a ensinar ou a desenvolver um trabalho que repercutirá numa comunidade ou organização (seja ela qual for). A docência e o profissionalismo em áreas de conhecimento técnico é um compromisso público e ético com a área em que atuamos e com aqueles com quem compartilhamos nossos conhecimentos ou experiências.

Colocando uma lupa

Como é óbvio, não é possível cobrir todas as formas de capacitações ou consultorias e assessorias técnicas em diferentes áreas. Portanto, me aterei a minha área específica de atuação acadêmica e profissional que é a Gestão de Informação e a Memória Institucional. Leitores de outras áreas podem tirar proveito do que escrevi pensando em conexões com suas áreas especificas de formação e/ou atuação.
Meu debate procura reforçar a noção de que em todas as áreas há os que se esmeram em Conceituação e Método aplicáveis à sua prática profissional. Mas há também os que consideram isso supérfluo e até desnecessário, por considerarem que o que importa é mesmo a cifra ao término e ao cabo. Para estes últimos não há a preocupação, pois consideram que os demandantes pouco sabem e por isso tanto faz.

No decurso de minha experiência, e por diferentes vezes, me defronto com cursos ou consultorias oferecidas que pecam exatamente pela falta de compromisso ético com o rigor e a qualidade do que se oferece. Em alguns casos, tais cursos ou consultorias apresentam fragilidades conceituais, técnicas, metodológicas e chegam a ser oferecidos de uma forma mercadológica, onde preços e certificados são oferecidos e suas entregas muitas vezes, à domicilio!

Consigo compreender que existam, na livre concorrência e nas leis de mercado, sistemas mercadológicos tais como os descritos acima e que também existam alguns profissionais que se submetam a isso. O que definitivamente não sou capaz de aceitar são fragilidades conceituais e muitas vezes grandes equívocos propiciados pela tábula rasa da ausência de consistência teórica e intelectual sendo oferecidas como vantagem e capacitação.

Exemplo neste sentido é a área de Gestão Documental, por excelência uma área multidisciplinar, e isto lhe dá como característica predominante a possibilidade de trocas e experiências com diferentes saberes. Mas simplesmente não pode ser confundida e colocada de uma forma como se tudo pudesse estar junto e misturado, sem um detido e aprofundado estudo dos diferentes conceitos que a compõe.

Dentre eles cito os que são mais gritantes e perceptíveis na área que atuo: Memória Institucional, Gestão Documental, Processos Híbridos (microfilmagem e digitalização) e célebres frases indevidas e erradas como: “arquivos inativos”, “arquivos mortos”, ou afirmar que Arquivo seja Memória Institucional e que GED é Gestão Documental. Usual é também considerar que Informação possa ser tomada como Conhecimento. Algo impensável, já que Conhecimento representa uma a informação processada e transformada em experiência pessoal e intrasferível.

Pode ficar ainda pior quando técnicas são confundidas, como por exemplo, não saber diferenciar storytelling, depoimento, história de vida ou entrevista e de como estes poderiam ser realizados em um Projeto de Memória Institucional.
Ou não ser capaz de entender como a Memória Institucional acaba sendo uma parte importante do que seja a Memória Social, e que esta definitivamente tem que ver com Tabelas de Temporalidade Documental, e NUNCA com colecionismo ou escolhas que compõe uma lógica que está há anos-luz de ser um Método adequado. Coloco propositalmente temas que se tocam, mas são de áreas diversas e possuem concepções teóricas e metodológicas diversas, não porque seja errada a interdisciplinaridade, mas sim a incapacidade por parte de alguns de transitar por todas estas áreas sem praticar alguns equívocos conceituais.

Infelizmente tenho visto muitos confundirem Linhas de Tempo e “relíquias institucionais” com Memória Institucional e com História.
Em outros casos, vejo Memória Institucional ser confundida com Arquivo. Apesar dos arquivos fornecerem subsídios para que se possa chegar ao que denominamos Memória Institucional, Arquivo NÃO é Memória Institucional. Assim como Memória Institucional NÃO significa uma cronologia composta a partir da produção de documentos, como querem alguns arquivistas.
Alguns usam a expressão “resgate de Memória“, como se esta fosse uma ‘entidade’ a ser buscada em alguma parte, para ser embalada e mostrada como produto. Esquecem-se ou simplesmente não sabem que a Memória é forjada no território social, que é constituída a partir da História e que esta não existe à priori: é uma construção subjetiva a partir de um determinado ponto de vista e/ou repertório, em última instância é forjada a partir de relações sociais complexas e que possuem diferentes vetores.

O “equívoco” é grave quando se supõe que a partir de escolhas realizadas por áreas de Comunicação ou Marketing se acumulem documentos e objetos para formar o que chamam de Memória Empresarial ou Museu. Cabe sempre lembrar que documentos NÃO nascem para ser isso ou aquilo. São produzidos no âmbito de FUNÇÕES desempenhadas por pessoas ou organizações e por isso, a escolha aleatória por terceiros não passa em grande parte de achismos e de reunião de objetos e coisas que poderiam bem compor um “gabinete de curiosidades”. Decidir por critérios outros que este ou aquele documento ou objeto é histórico é, em grande parte um erro que não se sustenta por rigor teórico e metodológico. Ainda que se faça esta ou aquela pesquisa denominada histórica, esta está longe de ser rigorosa. Representa apenas uma forma de maquiar e dar lastro à coleção reunida por objetos e eventuais ditos documentos.

São portanto, equívocos cometidos em série e que atinge de morte áreas como a Arquivologia e a História.
Há também equívocos que consideram que a produção de documentos arquivísticos da Administração Direta e Indireta de Órgãos Públicos são Memória Institucional, o que NÃO é real. A Memória Institucional é uma construção e não fruto apenas de Tabelas de Temporalidade (apesar destes documentos ser utilizados como fontes). Ainda dentro desta mesma esfera e no campo da Administração Pública, os documentos permanentes (que são os de valor histórico) devem cumprir seus prazos legais como tais. Poderão ser utilizados como fonte histórica, mas NUNCA ser subtraídos dos conjuntos documentais de que são parte. Aqui temos um exemplo bem acabado do seja teoria e metodologia aplicáveis à diferentes áreas e que possuem em comum um conjunto documental. Uma área NUNCA poderá prescindir da outra ou suplantá-la.

Também NÃO é Memória Institucional elaborar Linhas do Tempo ou escrever textos bonitinhos para integrar livros comemorativos ou mesmo exposições. Não é também colecionar imagens num álbum de fotos antigas, ou fazer colagens de ‘curiosidades’. Reduzir o trabalho a isso significa oferecer “perfumarias” desprovidas do que seja o verdadeiro significado da Memória Institucional. É preciso ir muito além disso. Como repito constantemente: a Memória Institucional não é um produto em si. É sim, meio para fortalecer a Identidade e Cultura Organizacional. É favorecer a produção de Conhecimento e Inovação dentro das organizações além de ser importante na valorização do Capital Intelectual nas organizações.

São tão graves esses equívocos que, colocar tais termos em cursos ou consultorias oferecidas, mostra à partida quão grave e preocupante é a qualidade do que se abordará! Quem se propuser a ir por esta seara deverá estar firmemente embasado por 4 áreas, talvez 5: Arquivologia, História, Tecnologia, Biblioteconomia e Gestão. Sendo a História a mais complexa e com maior rigor de leituras e metodologia. As demais áreas são técnicas e de aplicação. Diante disso, conceitos caros à História como Memória, Identidade, Sociedade, Cultura, etc, devem ser tratados a fundo e muito bem fundamentados. Utilizar tais conceitos sem conhecimento de causa é pelo menos uma temeridade.

Vejo a multidisciplinaridade como meio eficaz de aprendermos e nos esmerarmos com o aprendizado e nunca, nem que seja por um minuto sequer apropriar-nos de forma errada, equivocada ou despretensiosa de uma área tão grande de conhecimento.

Não aceitem ser ludibriados! Solicito que tenham atenção. Verifiquem, analisem, peçam indicação.

Um diagnóstico preliminar
A formação profissional, metodológica e técnica é algo sério e todos devemos zelar por isso! Se não souber avaliar, peça ajuda de quem saiba! Não temos que saber tudo sobre tudo, mas temos o dever de esclarecer quando houver problemas graves.

Um equívoco custa caro ao seu emitente, mas pode ser muito mais caro ao consumidor do mesmo! Exatamente por preocupar-me com os que buscam o saber é que estou me posicionando. Os discentes ou clientes muitas vezes, não possuem ferramentas para discernir, às vezes são jovens demais, inexperientes e oriundos de outras áreas. Por isso, temos que nos colocar e esclarecer quando possível quando detectamos tais problemas.

Acho que é um misto de várias coisas, em especial para os casos de cursos para que tais problemas ocorram.
De um lado, há uma busca de ter sempre na prateleira alguma coisa de consumo rápido e raso… sem grandes compromissos ou aprofundamentos. Este uso é comum, e temos casos de conteúdos ficarem ali sendo “fornecidos” por anos à fio. Já vi casos que os docentes morreram e o conteúdo permanece ali disponível. Isto em geral ocorre com modalidades em formado EaD previamente gravados, ou mais recentemente em formatos de conteúdos online. Estes obedecem uma lógica de oferecer ao maior número possível de pessoas o mínimo sobre algum tema. Com isto possuem um atrativo simples: custos módicos, certificados rápidos e a fantasia de capacitação.

Em outros casos, pode haver má fé: pessoas apropriando-se de ideias e proposições de outros e tentam costurar algo que sirva à vários “corpos”.

E numa que talvez seja a forma mais grave, que é a falta de cabedal e sustentação intelectual e conceitual que compromete a formação de outros. Considero essa a forma mais grave pois quando ensinamos estamos nos comprometendo com a ética da partilha de Conhecimento, mas este deve assentar-se de forma sólida numa formação devida. Nunca poderá ser aceitável uma pessoa que não seja de determinada área ser irresponsável de abarcar saberes que desconhece, ou que os saiba apenas de superfície. O que digo, é que não há problema algum em visitar áreas afins, beber e constituir perspectivas para atuação pessoal e profissional. Mas nunca apropriar-se indevida e equivocadamente daquilo que não sabe só como forma de tornar palatável a venda de um produto ou serviço (no caso aqui me refiro a cursos de capacitação e/ou consultorias).

Talvez o maior remédio que temos contra isso é que as pessoas aprendam a selecionar.

Creio que muitos espaços são indevidamente ocupados exatamente porque os que o deveriam fazer isso deixam as brechas.

Uma torre fortificada numa Ilha da Fantasia

Cito como exemplo, a minha área – as Ciência Humanas -, que é também território de aplicabilidade e prática e infelizmente muitos acham que só são profissionais se estiverem na academia… deixam com isso, espaços que poderiam ser seus na sociedade, em empresas e instituições, para serem ocupados por profissionais que possuem talvez boa vontade mas lhes falta consistência, aprofundamento e na maioria das vezes, leituras da formação.
Seria interessante que os profissionais se desencastelassem da academia e fossem ao mundo real atuar de forma aplicada quer ministrando capacitações, quer prestando assessorias técnicas ou consultorias!
A sociedade ganharia muito!

O fato a que me refiro é de que muitos profissionais encastelam-se em suas “fortalezas” intelectuais: produzindo apenas para seus pares e deixam de alcançar o cerne da sociedade. Mas creio que discursos esvaziam-se quando ficamos em discussões epistemológicas, conceituais ou de especialidades sem o pé na realidade. Aí o que temos é apenas, e tão somente, conteúdos que massageiam egos e inflam vaidades.

Preocupo-me muitíssimo, e aí falo dentro da minha área de atuação (sou historiadora, de graduação à pós-doc), que exista essa cisão de que o profissional de gabinete quase nunca saiu de sua zona de conforto e em muitos casos, não conhece as demandas de mercado e das instituições que não sejam as acadêmicas. Sabe pouco sobre a aplicação de tantos conhecimentos discutidos apenas na academia em um formato teórico. A metáfora que gosto de usar é a da Ilha da Fantasia. Alguns intelectuais ficam apenas dentro da academia, numa bolha que não o coloca no confronto direto com as demandas da realidade. Seria muito interessante que tais intelectuais pegassem seus barquinhos e fossem ao continente para ver o que se passa. Voltariam com outros olhares para a sua pequena ilha.

O inverso também é verdadeiro. Alguns saem da Ilha, vão ao Continente e NUNCA mais retornam à sua origem. Ou seja, afastam-se do rigor que é tão caro e necessário na Academia. Acredito sinceramente que o profissional do século XXI precisa e deve trafegar entre a ilha e o continente e saber levar de cada um o que há de melhor. Este seria o melhor dos mundos.

A História durante toda sua existência, e com especial força durante todo o século XIX, lutou para instituir-se e figurar como Área de Conhecimento. São discussões longas, cujos iniciadores não viveram para ver o final. Mas é muito importante que as aproximações feitas entre áreas diversas representem um esforço sério de embasamento teórico, metodológico e técnico (quando for o caso).

Arquivologia e Biblioteconomia iniciaram essas discussões ainda há pouco e há também as Ciências da Informação, que reivindicam um outro espaço de ocupação, o que indica uma longa e árdua discussão em campos teóricos e epistemológicos não cabíveis de fato ao espaço deste artigo.

Uma proposição
Acho que deve haver a busca do caminho do meio: há sim discussões teóricas, metodológicas e epistemológicas no universo de constituição e aplicação desses saberes, mas há também um território de aplicabilidade que não se encontra na academia e que nem por isso deva ser feito de forma pouco consistente. Um não deve servir de impedimento ao outro. A responsabilidade fica assim na mão de profissionais que devem estar inteirados, atualizados, preocupados e responsavelmente determinados a aplicar os mesmos em suas respectivas áreas de atuação.

Considero que estes equívocos ocorrem exatamente porque muitos profissionais de academia não assumem seu papel de agentes no âmbito social e fornecem as brechas para que profissionais sem muitos escrúpulos mascateiem o que deveria ser algo mais sério: que é a formação profissional. Este é um ponto que me inquieta.

Às vezes, os pesquisadores nos cursos de pós graduação (aqui refiro-me mais aos Mestrados e Doutorados) permanecem num mundo à parte e o que digo é que toda essa competência de fundo conceitual, metodológico, teórico precisa aparecer na sociedade e nos produtos oferecidos a instituições públicas e privadas e que não fiquem restritas às salas e discussões em aula. É altamente salutar fazermos isso! Em hipótese alguma sou contra a produção acadêmica e escrever e compartilhar deve ser nossa preocupação.
Não me coloco contra a realização de cursos e capacitações oferecidos em ambiente de web. Desde que os respectivos profissionais sejam responsáveis e tenham estofo intelectual, teórico e metodológico para isso. Esta responsabilidade sim, fará com que haja produção de Conhecimento. E é com ela que me preocupo e esforço todos os dias. 

É contra esse mercantilismo que me coloco!

A dica que fica é: quer aprimorar seus conhecimentos? Estude, investigue para poder saber escolher entre joio e trigo. 

Ou então:

Quino, Picasso revisitado

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Perspectivas e Aplicações para Gestão de Conhecimento

Por: Eliana Rezende Bethancourt

O fascínio pelo Conhecimento é universal e atravessa épocas. É dele que se originaram inovações e invenções. Mudanças foram catalisadas e muitas delas revolucionaram sociedades inteiras. Isso não é diferente no mundo contemporâneo, em especial quando, aparentemente, delegamos à tecnologia tudo de bom ou ruim que nos possa acontecer.

É consenso no mundo corporativo que o Conhecimento é um ativo de valor e muito necessário para todo e qualquer ramo da atividade humana. Apesar disso, e de ser tão importante, porque gera tantas dúvidas? Porque  acaba sendo tão subutilizado e até desperdiçado? 

Talvez o caminho inicial de responder a tais perguntas esteja na opacidade de alguns conceitos que são caros ao conhecimento.
Vejamos:
É comum a confusão recorrente entre oferta e disponibilização de informação como sendo caminho direto para que haja Conhecimento. Imagina-se que tendo uma oferta abundante de informação o conhecimento torna-se mera consequência.
Entretanto, é preciso que isto fique muito claro: informação sem contexto ou sem ser transformada em experiência não é coisa alguma. Se acumulará de tal forma que poderá transformar-se em uma massa amorfa, sem importância ou valor.
Este talvez seja o erro mais comum que a maioria das pessoas comete, que é o de confundir dados, informação e conhecimento. Alguns os tomam como sinônimos e outros os confundem barbaramente. Para tanto, escrevi há algum tempo um post onde procurei esclarecer cada um deles. O artigo chama-se: “Dados, Informação e Conhecimento. O que são?”
É fundamental tal compreensão, pois sem isso estaremos andando em círculos e não chegando a lugar algum. 

Retomo aqui um pensamento que externei em um outro artigo que intitulei “Qual o Perfil do Gestor de Conhecimento?“, onde procurei deixar bem claro que:

“(….) me aflige a confusão que muitos fazem de gestão de conhecimento com ferramentas tecnológicas.

Não se lida com intangíveis com um pensamento que vem de forma binária.

Eu própria tenho minhas reservas até mesmo em relação ao termo “Gestão do Conhecimento”, e considero que em geral somos capazes de fato de gerir informação. Não há como gerir o que seja alheio ao indivíduo. Acho que prefiro a expressão “Gestão de Informação para a produção de Conhecimento. (…)”

Sob esta ótica, para que o trabalho de Gestão do Conhecimento aconteça é necessário a integração de vários profissionais que utilizem conceitos, modelos, métodos e métricas, desenvolvidas por várias disciplinas, compondo um crescente leque de conhecimentos que, passo a passo, formará as bases teórico-metodológicas de uma disciplina científica. Em geral, a Gestão de Conhecimento se bem feita terá como principio básico o sentido de reutilização, de retroalimentação, já que sempre se pautará naquilo que já preexiste. Nada surge do vácuo. Toda produção de conhecimento atual só existe porque alguém anteriormente pensou e lançou bases. 

Graficamente diria que a informação é matéria-prima para produção de conhecimento e que este em presença de criatividade pode gerar inovação. Esta, por sua vez produzirá mais conhecimento que necessitará ser registrado como informação.
Temos assim o circulo virtuoso da produção de conhecimento: Sob esta ótica, o conhecimento é, como dito acima fruto de reutilizações de saberes anteriores. Mas até para se utilizar as informações encontradas o indivíduo necessita saber fazer as perguntas certas. Necessitará de alguma experiência sobre o que será de valor para si e o que não lhe servirá. Por isso, minha imagem não começa com dados e sim com informações, pois estas já foram trabalhadas e reunidas de alguma forma. Está como dizemos, estruturada. A dispersão dos dados problematiza ainda mais as dificuldades para a produção de Conhecimento, já que seus registros não possuem um contexto e não estão estruturados de modo a fazer sentido. 

Da soma dos saberes desta integração fica claro que a tecnologia sozinha não tem potencial de produção de Conhecimento.
Assim, é o Conhecimento que gera inteligência organizacional, vantagem competitiva e valor. Não se trata apenas de gerir ativos de Conhecimento, mas também da gestão dos processos que atuam sobre tais ativos, o que inclui desenvolver, preservar, utilizar, reutilizar e compartilhar Conhecimento.

Em geral, diferentes instituições, e mesmo alguns profissionais (uns bem intencionados e outros nem tanto) “vendem” tecnologias como sendo sinônimo de Gestão de Conhecimento. Esquecem-se de que a tecnologia é apenas meio. NUNCA será um fim em si mesma e NUNCA fará coisas por si só. Por enquanto obedecerá formulários lógicos com pouca, ou alguma criatividade.

Delegar à ferramentas o que tem a ver com competências igualmente intangíveis, como o é a produção de Conhecimento, é um equívoco colossal. Uma instituição passa longe de poder gerir conhecimento. Muito menos qualquer pessoa (e isso, por mais bem intencionada que esteja!). Cabe ao ambiente organizacional e ao Gestor de Conhecimento oferecer condições adequadas para que a produção de Conhecimento se dê, através de estímulos, trocas e possibilidades interpessoais acima de tudo. Mas se o Conhecimento se dará e produzirá frutos ninguém pode garantir, já que tal produção é individual e intransferível.

Fazer circular a Informação no ambiente organizacional para que se produza Conhecimento e eventualmente Inovação, fortalece aspectos que vincam a cultura organizacional. Entender que o grande motor desta circulação é a generosidade do compartilhamento de saberes é um caminho interessante, apesar de ser lento e longo na opinião de gestores com pensamento binário. A generosidade do saber e o compartilhamento decorrente de experiências que podem gerar frutos: uma vela que acende outra não perde sua luz, numa citação de Thomas Jefferson. 

O papel da Gestão de Conhecimento é exatamente oferecer ambientes favoráveis para que as pessoas estejam estimuladas a compartilhar, dar ideias, inovar, trabalhar em equipe e resolver problemas de forma colaborativa. É portanto, uma grande fonte de contribuição para a inovação e produção de conhecimento dentro de uma organização.

Sem este universo em mente, não há ferramentas tecnológicas que possam fazer algo pela instituição.

Esta forma de pensar a Gestão de Conhecimento no ambiente organizacional está muito atrelada à forma como lido com a Memória Institucional e a forma como esta é meio para valorizar o Capital Intelectual nas organizações. Aqui está o link fundamental entre o conhecimento tácito e implícito e a roda que faz girar a inovação ao mesmo tempo em que fortalece e vinca a cultura e identidade de uma instituição. Perceber esta costura fina é fundamental e está longe de poder ser relegada a mera aplicação e usos de ferramentas.
Fazer isso é subutilizar o que é verdadeiro patrimônio e valor dentro das organizações.


É preciso lembrar e ter sempre em mente que compartilhar conhecimento nas organizações, ele:

  1. Não diminui;
  2. Se multiplica
  3. Cria Inovação capaz de gerar ainda mais conhecimento;
  4. É validado em todas às sua expressões, ou seja, pode ser utilizado desde a alta gerência até o chão de fábrica.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de um Projeto de Gestão de Informação com vistas à Gestão de Conhecimento.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.
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Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações

Por: Eliana Rezende

“Os tempos são outros e renovar é preciso”, um mantra que vem se repetindo cada vez mais.
Por caminhos diversos, empresas e instituições estão vivendo, no Brasil e no mundo, um processo de substituição de grandes gurus por pequenos guris. Este processo atroz de descarte de capital intelectual impacta toda a sociedade e a forma como esta retém valores.

Os primeiros, que representam a experiência acumulada, a vivência de práticas e um olhar perspicaz e holístico pelos segundos: afoitos, sempre com pressa e, em geral… inexperientes. Boa parte de sua bagagem resume-se a notas de rodapé obtidas em anos de formação e pós-graduação como alunos profissionais (alguns parecem se especializar em acumular bolsas e títulos sem fim, e nunca encarar o mercado de trabalho, daí a expressão aluno profissional)
São produto de um mundo compartimentado, feito de teclas e muitos sons que produzem dispersão: seres aparentemente multitarefas, mas que em verdade possuem uma grande dificuldade de concentração e acuidade/profundidade nas relações, abordagens e intervenções. Em muitos casos, falta-lhes a flexibilidade eloquente de quem com empatia se antecipa aos problemas e as dificuldades  compondo saídas e alternativas satisfatórias, sem prejuízos ou perdas.

E diante disso, que nos vemos numa grande encruzilhada: ao praticar a ‘juniorização’ com vistas à redução de custos e de forma muitas vezes indiscriminada, as organizações estão plantando dificuldades que colherão muito em breve.

Ao partir, os mais experientes levam consigo aquilo que de maior valor e ativo uma organização pode ter: seu Capital Intelectual. Este não pode ser transmitido por osmose. Necessita de tempo… Afinal a principal virtude destes é a sabedoria atrelada à experiência: e aqui não há receitas rápidas…há o fio do tempo tecendo tramas que sustentarão as fibras do bom caráter de um líder equilibrado e respeitado.

Quando uma organização não percebe isso, perde potenciais que nunca verá crescer.

Infelizmente, nos últimos anos tenho tido oportunidade de assistir em muitas organizações do que chamei acima, de um verdadeiro bota-abaixo de gurus por guris. Pressa, atropelo, presunção, improvisação são os primeiros produtos.

A seguir, uma tentativa pífia de bota-abaixo para, num ato de pura insegurança, querer substituir a experiência pregressa pelo dito “novo e eficiente”. Em verdade, na maioria das vezes o novo não é tão novo assim, e a dita eficiência é mais um sinônimo de precipitação. O espaço destruído torna-se estilhaço e fazer brotar em terra arrasada leva tempo.

Se as instituições se apercebessem de que mora neste Capital Intelectual o verdadeiro valor das organizações muitos problemas seriam evitados. Não seria preciso reinventar a roda.
Mas na prática é o que vemos…

É neste cenário que cada vez mais fica claro para mim que Projetos de Memória Institucional, se bem conduzidos, propiciam de um lado o fortalecimento da Cultura e Identidade Organizacional e de outro favorecem a valorização do Capital Intelectual presente nas organizações. Esta costura fina tornará juniores melhores pois a experiência de um beberá na energia do outro.

O trabalho daí surgido é interdisciplinar e empático, favorecendo e tecendo relações pelo tempo e pela experiência. Não há meio de não resultar. O dividendo será uma organização que soube se manter no Tempo por meio da troca. Sem dúvida, em tempos de tanta escassez um verdadeiro feito!

Esses funcionários antigos e experientes são a melhor mentoria que um jovem profissional poderia ter, e sem dúvida com um valor agregado superior a qualquer MBA.

É preciso pensar que o Capital Intelectual funciona como um repositório humano onde informações valiosas que propiciariam a produção de novos Conhecimentos e Inovação estão ali depositados. Acessá-los é abrir a porta de um grande tesouro institucional.

Além disso, utilizar a Memória Institucional como valorização do Capital Intelectual das organizações resultará em auxiliar a sanar uma dificuldade sempre constante quando se fala em Gestão de Conhecimento, que é a de se achar que a escolha de ferramentas resolverá por si só a produção e circulação de Conhecimento. O que não é fato. A opção por ferramentas sem um trabalho prévio de fortalecimento da Cultura e Identidade Institucional trará opacidade a todo o processo e os resultados esperados dificilmente chegarão. Daí a noção que desenvolvi e argumentei no post “O Desafio das Soluções na Era da Informação”.

A Memória Institucional, por possuir um cabedal interdisciplinar, fornecerá condições adequadas para a circulação do Conhecimento nas organizações, tal como representada na figura a seguir:

A Memória Institucional se colocaria como elemento aglutinador e central, favorecendo as trocas, em especial as intangíveis. Daí nossa opção por uma representação gráfica de bolhas: podem sem vistas, dimensionadas, relacionadas, interseccionadas, mas se tocadas de forma inadequada rompem-se e desfazem-se. É esta a metáfora que melhor exemplifica o trabalho meticuloso e altamente eficiente que a Memória Institucional pode alcançar.

Mas afinal, o que seria o Capital Intelectual?
Entre tantas definições hoje feitas e por diferentes áreas, opto por escolher a que define Capital Intelectual como sendo a somatória dos ativos tangíveis e intangíveis que estão relacionados aos que dão sentindo intelectual às suas ações. Mais do que ativos materiais compostos por máquinas, ferramentas e mesmo valores monetários, os ativos intangíveis que tem em sua criatividade seu principal valor são agentes potencializadores de produção de conhecimento organizacional, já quem por meio de seu conhecimento acumulado são capazes de gerar e distribuir informações para que mais conhecimento e inovação se dê. São portanto, Patrimônio Intelectual.

Diante disso, é explicita a importância destes para toda e qualquer instituição, sem importar seu ramo de atividade ou porte.

Cada indivíduo neste todo organizacional compõe uma memória que é coletiva da organização e que se assenta no tripé: aquisição, retenção e recuperação da informação (Walsh e Ungson, 1991). Observe, segundo os autores citados como isto se dá:

“(…) Relativamente ao processo de retenção os autores apresentam um elenco de seis “caixas de retenção” da informação, sendo cinco delas internamente à organização e uma externa, conforme a seguir:

indivíduos – só os indivíduos compreendem a relação causa efeito, o porquê de uma decisão, eles retêm informações baseado em suas próprias experiências e observações;
cultura – modo aprendido de perceber, pensar e sentir sobre os problemas e que é transmitido para os membros da organização;
transformação – há informação incorporada nas várias transformações que ocorrem na organização, exemplo matéria prima transformada em produto acabado;
estrutura – reflete e armazena informação sobre a percepção do ambiente da organização;
ecologia – experiências interpessoais de empregados são afetadas pelo leiaute físico da organização, exemplo local mal iluminado gera baixa produtividade e conflitos; e, finalmente,
os arquivos externos – empregados antigos retêm grande quantidade de informações sobre a organização, especialmente sobre o tempo em que nela atuaram. (…)”

Relação entre Capital Intelectual e Memória Institucional

É neste momento que um Projeto de Memória Institucional com vistas a valorização de Capital Intelectual passa a fazer toda a diferença no âmbito institucional.

Anteriormente, em outro post que fiz sobre Memória Institucional disse que:

“(…) a partir do conjunto formado por instalações, máquinas, equipamentos, pessoas e missões que uma Instituição se firma e se põe e, impõe ao mercado, aos funcionários e a toda à sociedade. Este conjunto é considerado Patrimônio Institucional. E as pessoas em seu interior são seu Capital Intelectual.
Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos de uma instituição no tempo e no espaço.(…)”.

Por isso, a intersecção Memória Institucional e Gestão de Conhecimento se dão no trabalho de valorização do capital intelectual das organizações. É o trabalho sensível de lidar com a experiência e a história que dará sustentação, direção e objetivos sólidos à uma organização e a fará distinguir-se das demais, não apenas pelo valor monetário expresso em cifras, mas por valores muito mais caros e valiosos, intangíveis em sua maior parte.

As empresas que saem na frente em compreender o valor deste bem intangível dentro de suas organizações conseguem fortalecer sua Identidade e Cultura Organizacional por manter viva as suas raízes e origem: de onde vieram e com quais objetivos e para onde pretendem chegar. A ponte entre este passado de surgimento e seu futuro está exatamente nas mentes destes que compõem o Capital Intelectual da organização. Os cérebros maduros de uma organização são de fato seu maior ativo e valor:

Conforme citei antes no post: “Profissionais na maturidade como ativo organizacional“:

“(…) Fantástico ter a exata noção de que, tal como um músculo, o cérebro quando exercitado, nunca deixa de responder. E que o tempo aliado às experiências vividas e experimentadas podem fornecer conexões muito mais certeiras do que as que ocorrem nos jovens: já que estes contam apenas com o que lhes é extrínseco. Ainda aprenderão a transformar vivências em experiência.
São de fato, os artifícios que o tempo e a existência nos oferecem e brindam. 
Importante pensar o tempo não como uma caminho de perdas! Pode e deve ser um caminho de libertação, já que maduros deixamos as inseguranças e inexperiências próprias da juventude para trás. 
Ganhamos a possibilidade de aliarmos experiência com ação. E isso cá entre nós é o caminho para alargamento do espírito!
E isso que as instituições precisam e devem perceber. Nossa sociedade está envelhecendo e manter-se-á muito mais tempo em período de maturidade do que o seu contrário. Vale a pena redimensionar conceitos e valores. Só assim este beneficio se estenderá à pessoas, organizações e sociedades.(…)”

A valorização do capital intelectual por meio de um Projeto de Memória Institucional significa não ser apenas uma efeméride a mais na organização, mas de fato um meio de produzir conhecimento sem descartar nem desperdiçar os valores existentes.

É esta costura indelével entre a experiência e a juventude que os Projetos de Memória Institucional agregam valor ao Patrimônio Intelectual das organizações e as ajudam a mostrar a si mesmas e a sociedade que estão inseridas o que são, de onde vieram e para onde vão com os cérebros que possuem na sociedade onde estão inseridos. É assim que a instituição praticará a Responsabilidade Histórica para com a sociedade que a acolheu e absorveu.

_____________
Referências:
WALSH, James P.; UNGSON, Gerardo Rivera. Organizational Memory. Academy of Management Review, v.16, n.1, pp. 57-91, 1991.

*
Como desenvolver um Projeto de Memória Institucional que atenda demandas de valorização de Capital intelectual e Gestão de Conhecimento e como a ER Consultoria pode auxiliá-lo:

  • Definir qual caminho seguir
  • Como pensar em um Projeto de Memória Institucional com olhar interdisciplinar?
  • Como relacionar Gestão de Conhecimento e Memória Institucional para valorização de Capital Intelectual numa organização?
  • Como um trabalho interdisciplinar de Memória Institucional pode fortalecer a Cultura e Identidade da Instituição ao mesmo tempo em que organiza e distribui informação para a geração de Conhecimento e Inovação?
  • Como utilizar as metodologias de Storytelling e História Oral?
  • Como através de um Projeto de Memória divulgar e fortalecer a imagem corporativa/institucional?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na organização da Informação produzida hoje. De forma a poder ser instrumental para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que se constitui como matéria-prima para que a Memória e Identidade Institucional se fortaleçam, e a Cultura Organizacional se mantenha através do tempo.

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História Oral: o que é? para que serve? como se faz?

Por: Eliana Rezende

A questão sobre o que vem a ser História Oral, como pode ser utilizada pelas instituições e de que forma deve ser realizada é um tema que interessa a diferentes áreas e profissionais.

Neste artigo, procurarei tecer considerações acerca de sua utilização, metodologias, aproximações e diferenças, bem como sua importância em Projetos de Memória Institucional com vistas à valorização de Capital Intelectual e o fortalecimento da Cultura e Identidade nas Instituições.

Os relatos orais são amplamente utilizados em diferentes áreas, mas para o recorte deste artigo ficarei concentrada dentro da minha própria área de atuação que é sua circunscrição no âmbito das Ciências Humanas.

A chamada História Oral é amplamente utilizada pelas Ciências Humanas, e é caracterizada pela coleta de depoimentos com pessoas que testemunharam conjunturas, processos, acontecimentos, modos de ser e de estar dentro de uma sociedade ou instituição. Para efeito didático pode estar dividida em três gêneros distintos: a tradição oral, a história de vida e a história temática.

Explicando cada uma delas:

Tradição Oral caracteriza-se pelo testemunho transmitido oralmente de uma geração para outra. São exemplos disso metodologias, por exemplo, que são capazes de resgatar tradições rurais e urbanas como cantigas de roda, brincadeiras e histórias infantis. Isso porque esta tradição precede à escrita e podem ser encontradas em sociedades bastante antigas ou mesmo comunidades que não passaram pelo processo de escrita. São exemplos disso comunidades ribeirinhas, indígenas, agricultoras, entre outras.

Já a História Oral não pode ser confundida com História de Vida. Esta última é um relato autobiográfico onde a escrita está ausente, e, portanto, não pode ser chamada de autobiografia. A História de Vida concentra-se na história pessoal de um indivíduo contada por ele próprio. É, portanto, um relato pessoal, que em geral percorre toda a existência desta pessoa: do nascimento até o momento presente.
Em alguns casos, e como parte de Projetos de Memória, opta-se por este tipo de relato e a história da pessoa percorre todos os momentos de sua vida e o momento em que encontrou-se com a instituição à qual o projeto faz parte. É interessante esta opção, já que apesar do projeto ser sobre uma determinada instituição, a importância de uma história de vida pode ser ainda maior. Um exemplo disso é a figura de um fundador. Este personagem tem grande importância para a existência da Instituição, mas sua trajetória anterior e de vida podem ter um significado ainda maior.

De outra sorte, há a chamada História Oral Temática, que em geral, é feita com um grupo de indivíduos em torno de um determinado evento ou movimento vivido por todos. São perspectivas individuais de sujeitos inseridos em um mesmo contexto.
A utilização desta forma de coleta de depoimento pode possuir aspectos positivos e negativos. O aspecto positivo é o de que uns poderão disparar gatilhos de lembranças e detalhes poderão ser muito melhor esmiuçados à luz de muitos olhares. Mas também poderá ocorrer o seu contrário: eventualmente alguém com maior poder de fala ou influencia poderá silenciar outras vozes e memórias. São comuns depoimentos desse tipo no caso de movimentos populares, sindicais, religiosos ou culturais, entre outros. Neste caso, a importância maior está no tema, e não nas individualidades. O interesse é o maior número de informações possíveis sobre o tema a partir das multiplicidades de olhares.

Definitivamente caberá ao pesquisador uma capacidade intuitiva e metodológica bastante grande para não se perder em uma ou outra possibilidade, e conseguir se valer da melhor forma possível. Com o agravante que aquele momento é único, e provavelmente não se repetirá.

Diante disso, você poderá estar se perguntando:

Mas afinal, podemos afirmar que História Oral é uma metodologia de trabalho?

Bem, ela poderá ser considerada um método de investigação, fonte de pesquisa ou técnica para produção e tratamento de depoimento, entretanto, sua classificação dependerá da orientação dada ao trabalho.

Vejamos um exemplo:

Quando a história oral é utilizada como forma de conhecer um período, conjuntura ou instituição, ela será entendida como uma metodologia de trabalho mas, a partir do momento que essas informações sejam utilizadas, tais relatos constituirão a bibliografia de uma pesquisa posterior.
Ou seja, de acordo com o encaminhamento da pesquisa e seus usos. E poderá ser ao mesmo tempo mais do que uma coisa. O fundamental é que o pesquisador tenha muito claro o que quer e assim conduzir cada forma com o rigor metodológico que precisará ter. Para cada uma das situações a condução das ações e os procedimentos deverão ser específicos.

Um ponto muito importante de ser destacado é que a produção de um depoimento é um trabalho conjunto entre depoente e entrevistador/pesquisador onde juntos produzem um documento. Após a geração deste documento, que deve obedecer a um método e sequência de trabalho próprio da história oral, é necessário estabelecer critérios técnicos para a sua guarda, sigilo e acesso. Ressalto que o produto deste depoimento é um documento histórico, e portanto, de valor permanente. Nunca poderá ser eliminado. Além de ser um importante repertório de matéria bruta para usos infindáveis de subprodutos.

Considerar o depoimento como documento toma em conta minha definição, de que “qualquer informação registrada em um suporte se constitui documento”, de acordo com a imagem a seguir:

Há diferença entre um depoimento e uma entrevista?

Em linhas bem genéricas podemos afirmar que sim!

Em geral, a entrevista é utilizada pelas áreas de Comunicação e obedece a  uma pauta previamente estabelecida, com objetivos claros e definidos a priori.

Numa entrevista nunca se busca ir muito além da pauta, especialmente, por questões de tempo e disponibilização aos meios de comunicação que a produziram e, normalmente, atendem sempre a urgência de um fato. É habitual que as perguntas saiam prontas da reunião de pauta, e em poucos casos são feitas de improviso. E normalmente quando isso ocorre costumam atender um insight de momento, que muitas vezes pode interromper uma linha de raciocínio ou mesmo uma direção de pensamento. Em caso de pessoas menos inexperientes isso pode significar um corte fundamental na construção do ritmo das ideias do entrevistado, gerando perdas aos eventuais interessados e ao registro como um todo. Ao observarmos boa parte dos casos de entrevistas deste tipo, notamos o quanto o silêncio é importante e como o entrevistador perde chances de exercê-lo.

Com o depoimento precisa e deve ser diferente. Em geral, faz-se um roteiro inicial para entrevista, mas este pode ser alterado de acordo com a interação entre depoente e entrevistador. O roteiro neste caso passa longe de ser uma lista semelhante a um interrogatório. É apenas um norteador que deve ser usado como bússola. O depoimento respeita a sequência memorialística do depoente, valorizando seus silêncios e não ditos.  Nesse tipo de depoimento, o depoente nunca deve ser interrompido. O entrevistador é antes de tudo um ouvinte!

Daí que NUNCA um entrevistador deve ser ou estar ansioso. Sua ansiedade pode tolher o curso das águas caudalosas da memória. E isso para um registro que pretende ser histórico é imperdoável.
Por isso, aquele que colhe o depoimento não é um entrevistador, é um ouvinte! Aqui está a grande e significativa diferença.

Insisto que o responsável pela coleta do depoimento deve ser alguém sensível, empático e tranquilo. Será como um porto seguro para que as memórias do depoente possam atracar. Oferecerá segurança ao que lhe está oferecendo seus tesouros no formato de memórias tecidas pelo tempo: seu bem mais precioso.
É com este olhar e com esta atitude que o ouvinte deve se colocar.

Foi no tempo que as memórias foram tecidas, e é com tempo e sem pressa que elas devem ser ouvidas…

Seguindo sobre a história oral seria importante você saber que:

Sua introdução no Brasil deu-se a partir dos anos 1970 e encontrou força nos anos 1990. Deste crescimento surgiu a criação em 1994 da Associação Brasileira de História Oral, e em 1996 foi criada a Associação Internacional de História Oral.

Desde os seus primórdios a história oral firmou-se como um instrumento de construção da identidade de grupos em processo de transformação social.

A história oral é caracterizada por uma série de procedimentos no pré, no curso e pós-depoimento. Isso porque a definição de quem, porquê e como deve obedecer a critérios pré-estabelecidos de relevância e sentido ao que se quer pesquisar ou preservar.

Em geral, a opção pela história oral dentro de uma instituição ocorre com alguns objetivos pré-definidos. Dentre os quais citamos:

  1. Registrar os relatos das personalidades que, direta ou indiretamente, partilharam determinado período, tema, ou instituição;
  2. Recuperar dados e informações sobre fatos e episódios importantes para a história institucional;
  3. Constituir um acervo que sirva às consultas, para posterior pesquisa e produção de conhecimento.
  4. É preciso que se tenha em mente que o equacionamento entre história x memória nestes casos, resulta em uma nova “construção do passado, mas pautada em emoções e vivências”, já que os eventos da memória são retomados a partir de experiências passadas com o filtro da atualidade.

Sugiro que aprofunde seus conhecimentos sobre o tema. Você pode obter informações sobre todos os passos necessários à coleta do depoimento, suas diferenças e procedimentos, consultando o Manual do CPDOC no link abaixo, tal leitura será útil para a nossa Unidade que trata sobre metodologias adequadas:

Alberti, Verena. Manual de História Oral.

Abra-o e leia-o na íntegra aqui:

Na sua leitura tenha atenção sobre os aspectos relacionados à metodologia de produção do depoimento e de que forma esta se adequaria às realidades de sua instituição ou às suas concepções de projeto. Fazendo desta forma, sua leitura passa a ter uma direção metodológica e não apenas informativa.

As experiências do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC / FGV  continuam a fornecer importantes relatos sobre a experiência de colher e tratar depoimentos. Por isso, sugiro que leia o artigo “Tratamento das entrevistas de história oral no CPDOC”, de Alberti (2005), disponível aqui:

No caso dessas leituras, é importante ressaltar que para além das discussões entre História, Memória e Psicologia, todo um universo que considera os aspectos técnicos e tecnológicos deve ser tomado em conta. Muitas vezes o fascínio pela possibilidade de colher depoimentos tira a nitidez do que todo o processo significa.

As tecnologias hoje disponíveis facilitam em muito a coleta de depoimentos, por outro lado colocam inúmeros desafios em relação à sua perenidade que o artigo trata de forma meticulosa e acertada. Considere tais aspectos ao pensar sobre a elaboração de um Projeto de Memória Institucional quando for o caso.

Sugiro atenção em relação aos campos definidos para compôr a identificação do depoimento. Defina com antecedência quais serão estes campos, como deverão ser preenchidos e de que forma sua acessibilidade estará garantida em especial considerando aspectos relacionados à obsolescência tecnológica. A leitura atenta do artigo de Alberti auxiliará na estruturação destas necessidades.

Não há uma única forma de estruturar depoimentos de história oral. Mas alguns cuidados podem e devem ser tomados na fase de elaboração e execução do projeto. Transcrevo alguns destes cuidados, apresentados no artigo “História Oral e Memória: a construção de um perfil de Historiador-Etnográfico”, de Éder Silveira e que você, se desejar, pode ler na íntegra aqui:

(…) A entrevista se configura como principal instrumento (ou técnica) do método de História Oral. Para realizá-la, não há uma única receita ou diretriz. Contudo, cita-se algumas observações convergentes nas obras de THOMPSON (2002), ALBERTI (2004; 2005) e ZAGO (2003) que orientam o pesquisador na produção de entrevistas no método da História Oral:

  1. Ter consciência de que não existe neutralidade do pesquisador desde a escolha pelo tipo de entrevista a qualquer outro instrumento de coleta de dados ou fontes.
  2. Respeitar os princípios éticos e de objetividade na pesquisa, lembrando que nenhum método dá conta de captar o problema em todas as suas dimensões. Todas as conclusões são provisórias, pois podem ser aprofundadas e revistas por pesquisas posteriores.
  3. O pesquisador não deve se apropriar da entrevista somente como uma técnica de coleta de dados, mas como parte integrante da construção do objeto de estudo.
  4. A entrevista compreensiva não tem uma estrutura rígida, isto é, as questões previamente definidas podem sofrer alterações conforme o direcionamento que se quer dar à investigação. Dar preferência a perguntas mais abertas e um roteiro flexível.
  5. Reservar um tempo relativamente longo para a realização da entrevista.
  6. Durante a entrevista é válido ter um diário de campo onde se possa fazer anotações das reações, posturas e impressões do entrevistado, dificuldades nas informações obtidas, o que provocaram suas lembranças, novidades nas informações ou conteúdo, informações obtidas em off, etc.
  7. Uso de elementos que evoquem a memória do entrevistado como fotografias, recortes de periódicos e menção a fatos específicos podem facilitar o desenvolvimento do trabalho.
  8. Construir fichas que organizem e orientem as futuras fontes orais. Deve-se privilegiar dados como o nome do entrevistado, número da entrevista que vai representar dentro do universo da pesquisa, idade do entrevistado, endereço, local onde foi gravada a entrevista, nome do entrevistador, idade, profissão, religião, datas das entrevistas realizadas com o informante, em que fitas (previamente numeradas) estarão gravadas as entrevistas, em que páginas da transcrição se encontrarão referências a determinados temas e se há alguma restrição ao acesso das informações.
  9. No início da entrevista, gravar informações como: nome do entrevistado, do(s) entrevistador (es), data, local e finalidade do trabalho.
  10. Providenciar um Termo de Consentimento Informado, onde fique bem claro ao entrevistado:
    1. as finalidades da pesquisa;
    2. nome do informante e número de documento pessoal, como RG;
    3. se a divulgação da entrevista oferece riscos ou prejuízos à pessoa informante;
    4. a permissão ou não permissão da divulgação do nome do informante (caso não seja permitido, orienta-se que se produza uma declaração para este fim no verso deste termo, sendo assinado por ambas as partes (pesquisador e entrevistado), podendo o informante optar por um pseudônimo;
    5. cedência dos direitos da participação do entrevistado e seus depoimentos para a pesquisa em questão;
    6. abdicação dos direitos autorais do entrevistado e de seus descendentes;
    7. data e assinatura do termo pelo participante e pesquisador – torna-se importante nesse item, anexar ao termo que será assinado por ambas as partes, a transcrição da entrevista. (…)  Silveira (2007)

Realizado o depoimento, vem o momento de indexá-lo de modo a facilitar sua posterior pesquisa. De novo, o exemplo do CPDOC merece ser considerado. Como forma de pensar em formas de indexação para o caso da história oral proponho a leitura do artigo “Princípios de indexação de entrevistas de história oral” de Brando,que você lê aqui:

Mas, todo este trabalho não faria qualquer sentido se a divulgação não alcançar seus objetivos: registrar as informações de maneira a atender às demandas de produção de conhecimento e/ou inovação em diferentes áreas de conhecimento.

Para esta tarefa, o mundo contemporâneo tem oferecido inúmeras ferramentas e possibilidades. Se usadas de forma coerente e consciente trarão inúmeros benefícios.

Muitos subprodutos um Projeto de Memória Institucional pode oferecer: de exposições permanentes à itinerantes, livros comemorativos, sites, portais, workshops, seminários, boletins, calendários, entre outros. Em todo caso, o cuidado e o zelo na elaboração do projeto devem estar refletidos e mostrar a importância e o respeito às memórias ali reunidas.

Os produtos devem refletir o valor reunido de experiências e da identidade institucional.

Simples assim…
*
A ER Consultoria pode ajudá-lo em Projetos para Memória Institucional e coleta de depoimentos.
Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer

*Esta é uma versão revista e atualizada de um post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta
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Uma Metodologia à Serviço da Informação

Por: Eliana Rezende

Os ambientes organizacionais estão fartos por todos os lados de dados, que estruturados convertem-se em Informação que pode ser utilizada em benefício de produção de conhecimento e inovação.
No entanto, e apesar disso, muitos deles perdem-se ou acumulam-se em um caldo indigesto e de difícil utilização.

A partir desta constatação, a ER Consultoria desenvolveu uma metodologia que procura conectar e potencializar os diferentes caminhos da Informação e sua utilização Institucional.
Conheçam-na aqui:

Seu uso e aplicação à diferentes instituições podem garantir uma otimização dos usos e recursos informacionais existentes nas instituições, além de ser um item fundamental de fortalecimento da Memória, Identidade e Cultura Organizacional.

Em geral, sou sempre questionada se ‘apenas’ dou capacitações e cursos. Com esta metodologia pretendo mostrar a todos vocês o alcance do que penso e como aplico institucionalmente a Gestão de Informação, de Conhecimento e a Memória Institucional. Além do trato e da lida com documentos físicos e digitais (entendo sua organização, guarda, preservação, conservação, disponibilização e acesso), que requerem em sua maior parte um trabalho de Assessoria Técnica bastante especializada.
Como você pode ver aqui

Não gosto de pensar que tratar com Informação signifique apenas falar de sistemas tecnológicos. A tecnologia é importante. Mas é apenas ferramenta! É preciso ter um outro olhar e dimensão para tais processos. Dou uma dimensão humana e holística a tudo que faço. Daí as características que meu trabalho e atuação tem.

Se notar, e de acordo com a imagem da metodologia para mim a informação é a matéria-prima que perpassa diferentes segmentos e os meios de tratar com ela necessitam de formas especificas.
As informações que chegam de formas estruturadas requerem um tratamento de Gestão de Informação, que abarca os vários âmbitos da Gestão Documental (estabelecimento de normas e procedimentos, guarda, sigilo, acesso e até cuidados com ambientes digitais e sua preservação).

De outro lado, a informação que chega via capital intelectual, representado por pessoas que detém um conhecimento tácito podem ser de grande beneficio institucional e garantir a partir de um trabalho de Memória Institucional, o fortalecimento da Identidade e Cultura Organizacional.

Estas informações chegadas em profusão precisam ser organizadas de forma a fazer sentido e valorizar o seu conteúdo de acordo com o perfil institucional. É aí que a Curadoria de Conteúdos entra e favorece filtrar, organizar e disponibilizar o que se obteve.

E a Gestão de Conhecimento? Onde se encaixa? Ela estará ocorrendo na intersecção entre todos os campos de trabalho abarcados pela minha atuação. Ela faz um grande anel que inter-secciona e acomoda as áreas à sua volta por serem absolutamente essenciais para a sua existência. Cabe à  instituição e ao meu trabalho fornecer possibilidades para que a produção de conhecimento encontre solo fértil para se desenvolver.

Em todo este processo, o objetivo único que se espera é a Produção de Conhecimento e Inovação. É o alvo da imagem.

Com esta perspectiva metodológica, e com um universo de atuação em diferentes segmentos, a ER Consultoria é capaz de desenvolver diferentes Projetos por meio de Consultoria e/ou Assessoria Técnica especializada.
Confira nossas possibilidades e veja qual seria o perfil de sua necessidade: 

Eventualmente você possui um acervo imenso de fotografias tanto em formato digital, como ainda em suportes de papel ou distribuídas em muitos álbuns.
Como organizá-las e disponibilizá-las para seus usuários? Que produtos ou subprodutos podem ser produzidos a partir delas? Como garantir sua guarda e preservação? O que fazer com as imagens em suportes físicos? E os álbuns? Como tratá-los?
Então, provavelmente, você precisa de um Projeto de Preservação e Conservação de Documentação Fotográfica

Mas sua instituição pode estar precisando estabelecer normas e procedimentos ou definir critérios para localizar, guardar ou eliminar documentos (físicos ou digitais). Então a solução seria um Projeto de implantação de Gestão Documental.

Pode ser que sua instituição já tenha muitas décadas no mercado e talvez valesse muito a pena cuidar de sua Memória Institucional, coletar depoimentos de antigos funcionários e até estruturar um Centro de Documentação e/ou Memória. Algumas instituições possuem dúvidas sobre como criar este espaço físico, mas também um espaço virtual onde possa ser visitado e consultado por aqueles que estão distantes. Em tempos de web 2.0 precisamos ter alternativas para isso.

Para todos estes casos, a ER Consultoria possui soluções interessantíssimas e que podem ser customizadas de acordo com as demandas e necessidades da instituição.
Consulte-nos e analisamos qual é para o seu caso a melhor indicação.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Qual o perfil do Gestor de Conhecimento?

Por: Eliana Rezende

Gosto sempre de incentivar as pessoas interdisciplinarmente. Não creio num mundo compartimentado, creio num mundo que integre vários modos de pensar!

É este novo mundo que se descortina para nós. Buscar conexões possíveis entre áreas e manter o espírito aberto para dialogar é o que nos deve manter.

Sempre digo que nesta seara falo não como uma especialista, mas antes de tudo, como uma observadora.

Em teoria as pessoas “decoram” tudo corretamente.
Mas me aflige o caldo de confusões que muitos cometem “tentando”. Também me aflige a confusão que muitos fazem de gestão de conhecimento com ferramentas tecnológicas.
Este talvez seja o mais crasso de todos.
Não se lida com intangíveis com um pensamento que vem de forma binária.

Eu própria tenho minhas reservas até mesmo em relação ao termo “Gestão do Conhecimento”, e considero que em geral somos capazes de fato de gerir informação. Não há como gerir o que seja alheio ao indivíduo. Acho que prefiro a expressão “Gestão de Informação para a produção de Conhecimento”.
Eu sei, eu sei que este termo não existe nos meios corporativos e que em uso é o Gestão de Conhecimento. Mas abstraindo-me de tudo isso, lanço a discussão por crer que toca a todos os que lidam com informação sem distinção, direta ou perpendicularmente.

Sou uma humanista. Apenas e tão somente… por isto, tantos temas e inquietações. A possibilidade de aprender com outros e dividir prismas é o meu objetivo. E num tema como este não poderia ter outro olhar.

Percebo como necessária esta forma de ver e conceber empresas que estão aprendendo a gerir seu capital intelectual. Isso é bastante significativo quando pensamos que cada vez mais lidamos com massas de informações que podem ou não gerar conhecimento e inovação e que em boa parte dos casos podem estar retidas também em formas de experiências profissionais de cada um.

Gosto sempre de frisar isso, pois na minha concepção o Conhecimento não é algo que preexiste em algum lugar e simplesmente o tomamos. Considero-o como o produto de uma ação consciente e pontual em transformar informação em algo mais. É uma ação consciente que parte de um indivíduo e de seu repertório. Repertório este alimentado por toda a gama de experiências que possa ter.

Como forma de esclarecer isto, sugiro a observação atenta da apresentação abaixo:

[slideshare id=35083998&doc=informaoeconhecimento2-140524170239-phpapp01]

Tomando-se esta perspectiva não acredito que atores extrínsecos ao indivíduo possam gerir aquilo que é de sua absoluta competência. Por isso, não gosto da expressão Gestão de Conhecimento. Como dito acima, podemos sim ter agentes facilitadores para que a Informação circule e gere novas possibilidades de produção de conhecimento, criação e inovação.

Por outro lado, o professor W. Jones, da University of Washington, USA alega que a definição deste profissional é uma tarefa difícil. Ele indica isso fortemente em um artigo recente (e que você pode ler a seguir), de nome: “Nenhum conhecimento existe sem uma informação” (http://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/3062/2600)

Por isso, a importância não apenas de produzir informações, mas essencialmente de distribuir criativamente o que se tem e manter uma inquietação necessária aos constantes acréscimos.

Questões sobre como oferecer o ambiente propicio para que tal ciclo virtuoso ocorra é um dos desafios das instituições. Não basta ter planos, estratégias, metas bem traçadas e delineadas, índices de performance (KPI) se no seu corpo faltarem profissionais com tal espírito compartilhador e interdisciplinar. Sob esta ótica, é preciso não de “tarefeiros”, meros executores, cumpridores de metas e afins, mas antes de tudo são necessárias pessoas com a capacidade de engendrar e compartilhar… com espírito colaborativo e motivador da criatividade e Inteligência própria e alheias.

Usualmente os gestores de conhecimento vêm de disciplinas variadas. Dependendo muito da cultura organizacional são engenheiros ou administradores e, recentemente, até gestores de TI que são chamados para ocupar e exercer esta função. Mas nada impede que sejamos cria de outras disciplinas, às vezes isto até ajuda.

A função do Gestor de Conhecimento vai muito além da disponibilização de informação, do mapeamento e catalogação. Necessariamente vai além de ferramentas tecnológicas ou processos desenhados desta ou daquela forma com receitas prévias.
Essas são funções que preexistem e fazem parte das rotinas institucionais, mas não encerra suas funções. O olhar do Gestor de Conhecimento sob esse aspecto deveria ser muito mais holístico e abrangente do que tais funções.

Não creio em receitas prontas, e muito menos daquelas que seguem em listas com os 10 pontos…os 6 ou os 5 pontos… Isso não existe!
Acho que o primeiro passo efetivo a ser dado é reconhecer que as receitas não servem à pessoas! São eficientes na culinária! E dependendo de quem as faz ainda podem dar errado só com perdas de ingredientes. A metáfora aqui é excelente: já que uma empresa pode ter ali todos os ingredientes que resultarão em algo muito bom, mas se o profissional responsável em conduzir o processo não tem esse cabedal, tudo se perde.

Acredito sim, que pessoas com o perfil citado acima, e que tenham um bom repertório intelectual, metodológico, amplamente experienciado em suas vivências profissionais terão maiores chances de êxito, apenas e tão somente isso.

Imponderáveis poderão ocorrer quando o mesmo indivíduo estiver submetido à diferentes grupos de indivíduos e/ou instituições. O mesmo profissional terá resultados diversos de acordo com o ambiente e a cultura organizacional em que estiver inserido.

Creio sim em lapidação! E esta, precisa e deve, ser feita. Reside aqui uma característica importantíssima: o candidato a Gestor de Conhecimento deve ter antes de tudo essa humildade de entender que sempre estará aprendendo e assimilando coisas. Nunca poderá ter a atitude presunçosa de achar que sabe o suficiente e que seu papel seja só ensinar. Será um eterno aprendiz… e aceitará isso.

De novo insisto que a questão da interdisciplinaridade me seduz e não consigo pensar em trabalho que não seja assim, em especial quando envolve um grupo. Gosto dos grupos e das possibilidades advindas por múltiplos olhares. Em minha experiência, vejo a necessidade de muita flexibilidade, é um esforço pessoal, mas sinto-me recompensada. Preciso lidar com pessoas de diferentes áreas e formações para que juntos possamos construir na instituição as normas, procedimentos e ações em torno da Gestão da Informação.

No desempenho desta atividade, noto que o grande hiato entre diferentes áreas é a segmentação e, destarte, a dificuldade de interlocução. As pessoas costumam estar sempre muito voltadas para o seu “centro” e desperdiçam oportunidades de ver o que está ao seu redor, ou mesmo mais além.

Creio que neste ponto a metáfora que se adequa é a do fazedor de pontes… Não devem haver muros e divisões e acho salutar que as fronteiras sejam movediças e todos troquem suas fontes e aprendam com a flexibilidade.
Essa é uma característica muito importante a ser desenvolvida.

Dito isto, e retomando a nossa questão inicial de: qual é o perfil desse profissional Gestor de Conhecimento, segundo a minha perspectiva?

Vejamos:

Tal profissional deve se capaz de aceitar respostas diferentes para as mesmas perguntas.
Dever ser do tipo que não descarta, a priori, como erradas respostas que apenas sejam diferentes das suas. Em muitos casos, não há certo ou errado: há apenas o diferente!

Deve saber liderar equipes trans e multidisciplinares, ter sempre uma atitude de facilitador para que trocas e aprendizagens se façam. Deve ter uma atuação de empatia e acesso ao outro: só assim o valor de subsidiar esclarecimento de dúvidas, estímulo à interação e o compartilhamento se efetivarão.

Precisa ser um profissional com livre trânsito e acesso à Geração Y e conhecer de perto a matéria-prima e DNA de que sua instituição é feita. É preciso ser alguém que não apenas conheça, mas que faça circular atributos da cultura organizacional: valorizando-a e aprimorando-a tanto quanto possível a partir da experiência de todos.

Dever ter espírito curioso e interessado: ser humilde e reconhecer que aprende sempre e todos os dias. E mais do que isso: ser generoso em partilhar e distribuir o que sabe!

Deve ter profundo interesse pelo aprimoramento e aprendizagem não apenas de si próprio, mas de todos os que lhe cercam, tirando de cada oportunidade e pessoa o seu melhor.

De todas essas características, ser bom ouvinte é dos exercícios que o Gestor de Conhecimento deve procurar melhor desenvolver. Dar-lhe-á o sentido do respeito à experiência do outro.

Por trabalhar com Projetos de Memória Institucional é usual recorrermos à metodologia de coleta de depoimentos e isso nos dá sensibilidade e proximidade com a construção de outros saberes e outras perspectivas que informam o presente e engendram outros caminhos e possibilidades. Mas isso é assunto para um post inteiro…

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de um Projeto de Gestão de Informação com vistas à Gestão de Conhecimento.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

* Publicado originalmente no blog Pensados a Tinta

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