Arquivo da categoria: Responsabilidade Histórica

Relação entre Cultura Organizacional e Memória Institucional

Por: Eliana Rezende & Lionel C. Bethancourt

O termo Cultura Organizacional é amplamente usado no mundo corporativo, mas na maior parte das vezes apenas como um chavão sem que os envolvidos definitivamente atentem para o quê de fato significa, como se relaciona com a instituição, e como esta em última instância refere-se à Memória Institucional.

O objetivo deste post é tentar esclarecer conceitualmente um e outro termo e de que forma a instituição, possuindo clareza sobre o que são, possa trabalhar para fortalecer sua Identidade.

Assim sendo, comecemos por tentar definir o que seja Cultura Organizacional.
Em primeiríssimo lugar é preciso dizer que o termo pode ser considerado polissêmico, e neste sentido possuir várias acepções. Escolho portanto, a definição que melhor esclarece, do ponto de vista de minha atuação, o mesmo.

Cultura Organizacional, são os valores e comportamentos que contribuem para o ambiente social e psicológico únicos de uma organização.

A Cultura Organizacional inclui as expectativas da organização, suas experiências, sua filosofia e os valores que a mantém unida, e é expressa na sua auto-imagem, seu funcionamento interno, as interações com o mundo exterior, e suas expectativas futuras. Baseia-se em atitudes compartilhadas, crenças, costumes e regras explicitas e tácitas que foram desenvolvidas ao longo do tempo e são consideradas válidas.

O termo Cultura Organizacional, também chamada de Cultura Corporativa, é evidente:

  1. Nos modos da organização conduzir seus negócios, tratar seus funcionários, seus clientes e a comunidade em geral;
  2. Em que medida há liberdade e é permitido a tomada de decisão, o desenvolvimento de novas ideias e a expressão pessoal;
  3. Em como o poder, e o fluxo de informações, flui através de sua hierarquia, e;
  4. No quanto os funcionários são comprometidos com os objetivos coletivos.

É fundamental pois, afeta a produtividade e o desempenho da organização, e fornece orientações sobre o atendimento ao cliente e serviço, qualidade e segurança dos produtos, atendimento e pontualidade, e preocupação com o meio ambiente, seu contexto. Mas não apenas isso, ela também se estende aos métodos de produção, marketing, práticas de publicidade, e a criação de novos produtos.

Por todas estas características, vemos que é única para cada organização. E exatamente por esta exclusividade específica é uma das coisas mais difíceis de se alterar e/ou modificar. É única porque está imbuída daquilo que chamamos a Identidade Instituição, como uma digital. Mas está lá, e a cada vez que uma instituição se “reconhece” em suas práticas e modos de atuar reforça esta Identidade.

De outro lado, a Cultura Organizacional se relaciona muito com a Memória Institucional, pois esta lhe diz e mostra os caminhos já trilhados. Mostra de onde veio e aponta sua trajetória futura a partir das escolhas realizadas no presente. É portanto, fruto de uma História construída e constituída no tempo.
Pensada desta forma, a Memória Institucional transforma-se em ferramenta de gestão estratégica para o fortalecimento da Cultura Organizacional.

Em outro artigo expliquei como a Memória Institucional é Ferramenta de Gestão Estratégica e sua importância em ser levada à sério pelos responsáveis pela Gestão Organizacional. Fazer isso, mostra que a instituição tem maturidade e age com Responsabilidade Histórica com seu legado e na herança que preserva e mantém para as gerações futuras. Em dois artigos desenvolvi esta concepção: Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de Cidadania e o outro Planejamento Estratégico e Responsabilidade Histórica. 
Diante disso, podemos deduzir que: a Cultura Organizacional, a Memória Institucional, a Gestão de informação  são fundamentais para uma boa Gestão Estratégica e se decupam, uma dentro da outra, para a empresa fazer sentido do seu contexto, produzindo em última instância Inovação e Conhecimento. Como se observa, os temas são interdisciplinares, e indicam por parte de gestores a fundamental postura de olhar flexível, inter e multidisciplinar. Sem este olhar muito se perde e pouco se constrói no tempo. Pondo em risco a manutenção da Instituição como relevante e pertencente à uma conjuntura que se perpetua pela história.

Políticas simples e rápidas que preocupam-se apenas em “poupar recursos”, atingir metas e conseguir balanço anual positivo são altamente limitadas e limitantes. Estrategicamente história institucional não se faz com planilhas. Sua construção é árdua e a perenidade não se dará apenas e tão somente por resultados econômicos positivos. Facilmente estes dados se esfacelam e NADA sobrará sobre quem de fato edificou e fundou estas organizações. A inteligência histórica destes gestores será validada pelo grau de permanência de sua Instituição no Tempo. 

Como podemos ajudar?

Se a sua organização precisa reforçar sua Cultura e Identidade Institucional e aceita o compromisso de ter Responsabilidade Histórica ao realizar isso, nos contate. Teremos imenso prazer em pensar como realizar isso a partir de um Projeto de Memória Institucional. Ao mesmo tempo, poderemos pensar em formas de zelar por seu Patrimônio Cultural/Documental.
Ao realizar isso, cuidamos da Memória Institucional garantindo que a cultura e a identidade organizacional se solidifiquem, ao mesmo tempo em que auxiliamos nas formas como a informação possa estar acessível, organizada e em locais próprios como Centros de Documentação e/ou Memória.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

***
Siga-nos: 
No LinkedIn
© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

Planejamento Estratégico e Responsabilidade Histórica

Por: Eliana Rezende

Existem muitas definições para o quê seja Planejamento Estratégico. Estas variam de acordo com: a área de aplicação, o seu formulador e os objetivos para os quais será criado.
Escolho como definição de trabalho a que diz:

“(…) Planejamento estratégico para nossas necessidades, é um sistema de escolhas sucessivas e hierarquizadas entre alternativas que se prefiguram dentro de um universo de conhecimentos em expansão dirigida, com o propósito de racionalizar e orientar a ação com vistas à consecução de determinados fins – dadas, de um lado, certa disponibilidade estimada de recursos e, de outro, uma série, também estimada, de obstáculos” (Couto e Silva).

Em outras palavras, o Planejamento Estratégico é utilizado como ferramenta onde se pode antecipar tendências, problemas, oportunidades, diagnósticos com o objetivo de encontrar maiores e melhores soluções.
É, entre muitas ferramentas, o meio que os gestores encontram para atingir seus objetivos de forma adequada e satisfatória de acordo com um plano previamente traçado.

No âmbito de atuação no qual a ER Consultoria atua, toda instituição é vista como sendo possuidora de um ciclo de vida próprio, e que com ele há o surgimento de necessidades específicas, que variam de uma organização jovem, para uma organização madura ou para uma secular.
Há que se tentar entender como esta organização se coloca e como impacta e é impactada pelos ecossistemas (tanto contextos internos quanto externos) à sua volta.
Em comum, todas tem que zelar pela qualidade das informações produzidas e as formas como são armazenadas.

Podemos afirmar que as organizações podem ser divididas em pelo menos três ciclos de existência:

  1. Jovem: que coincide com seu momento de surgimento. Definições estratégicas sobre o que é, a quem serve, alcance, âmbito de atuação, e concorrência são fundamentais para dar-lhe um perfil. É neste momento, e sob a ótica da Informação, que a organização necessita estabelecer critérios sobre o quê preservar, para quê e com quê finalidade e que faz parte da principal definição do que seja Gestão Documental nas organizações.
    É neste momento que se precisa determinar tipos de documentos produzidos e armazenados, ambientes físicos ou digitais (onde serão criados, tramitados e armazenados), normas e procedimentos para criação, segurança, sigilo e acesso, bem como determinação de prazos de guarda ou eliminação visando o cumprimento de legislação vigente.
  2. Madura: Uma empresa madura continuará a aplicar as determinações acima descritas, mas deverá se preocupar também com sua imagem institucional e a forma como sua produção documental é armazenada, divulgada e preservada para as gerações futuras. É onde a prática da Responsabilidade Histórica começa a ser uma demanda tão séria como vem sendo hoje em dia a Responsabilidade Social, nas Organizações.
  3. Secular: Para as empresas seculares, o fortalecimento de sua Identidade e Cultura Organizacional se colocam como prioritárias. Além, é claro, do cuidado com seu Patrimônio Cultural/Documental, matéria-prima para continuidade de Produção de Conhecimento e Inovação. Ao mesmo tempo, a Responsabilidade Histórica se consolida como prática e garantia de solidificação de uma imagem junto a `toda uma comunidade’. Essa inter-relação entre Organização e Sociedade se consagra como a forma que a Responsabilidade Histórica se coloca.

Mas afinal, o que é Responsabilidade Histórica nas organizações?
A construção do termo Responsabilidade Histórica nas organizações chega a ser recente e ainda possui um debate, tanto conceitual quanto historiográfico, restrito. Poucos profissionais a abordam. Paulo Nassar, em sua tese de doutorado, em 2006 a menciona,  mas não chegou a se aprofundar conceitualmente para a construção do termo. Na tese o termo surge como título de um tema e se encerra aí.

De forma sintética, e a partir da forma como tomo o termo para os objetivos deste artigo e no âmbito de minha atuação profissional, considero que a Responsabilidade Histórica ocorre quando a organização compreende seu papel histórico para com a sociedade que a cerca e para com as futuras gerações.
Tal comprometimento com o futuro das gerações se refletirá em ações de preservação e conservação de seus patrimônios culturais/documentais, técnicos e de capital intelectual.
Sob a perspectiva de minha atuação esta conscientização se dá quando a organização decide tratar a forma como suas informações são produzidas, tramitadas e armazenadas através de políticas consistentes de Gestão Documental e Memória Institucional, visando o fortalecimento de sua Cultura e Identidade Organizacional através do tempo. Passam neste sentido, longe de ações às quais denomino de “perfumarias” que servem muito mais como ações de marketing e subprodutos como exposições, artigos ou mesmo livros comemorativos. Tais ações NÃO SÃO a Responsabilidade Histórica em si, representam apenas produtos de marketing. Responsabilidade Histórica PRECISA ir além e de forma muito mais consistente e que estar amparadas metodologicamente e estruturalmente em ações inter e trasndisciplinares como citamos acima.

A Responsabilidade Histórica, quando bem compreendida por uma organização, acionará todo um conjunto de boas práticas que reforçarão a Identidade e a Cultura Organizacional e terá amplos reflexos sobre a sociedade à sua volta. Cria-se com isso um ciclo virtuoso onde quanto mais forte as raízes históricas de uma organização, maiores serão suas chances de perpetuar-se no tempo e no espaço.

Independente de sua fase institucional, as empresas demandam por parte de seus gestores uma comunicação estratégica que permita que seus valores sejam facilmente compreendidos pelo público externo (desde clientes até concorrentes) e por seu público interno (funcionários, gestores e fundadores).
Compreender que a organização possui um papel que é social e também histórico, dentro da sociedade, é praticar a Responsabilidade Histórica. O que significa dizer: cuidar, preservar e disponibilizar seu Patrimônio Cultural e Documental, para as futuras gerações.
Ter, esta preocupação garantirá a contínua produção de conhecimento e inovação. Ao mesmo tempo que a História Institucional se fortalece.

Portanto, sob a ótica tomada para este artigo, a Responsabilidade Histórica é um conceito abrangente que comporta todas as demais formas de responsabilidade hoje presentes dentro das organizações, tais como: a social, cultural, jurídica, civil, ética, ambiental, de preservação e retenção do capital intelectual nas organizações, entre outras. Daí a necessidade de integrar-se como uma política (no sentido de continuidade) dentro da organização e ser planejada estrategicamente para atingir seus fins.

Se a organização de fato se preocupar com sua permanência no tempo e a forma como responderá as demandas da sociedade à sua volta, será imprescindível um planejamento estratégico que tome em conta seu papel histórico e a imagem que procurou vincar no Tempo.

É bom que se faça a distinção entre Imagem e Identidade organizacional.
A Imagem é  como as pessoas vêem e/ou percebem a organização e tem como característica principal ser intangível. A Imagem é, portanto, subjetiva, exterior à organização.
A Identidade por outro lado, é o que de fato a organização é e faz, é tangível. Podemos afirmar que sua existência se dá pelo tripé: o que diz, o que faz e o que dizem e acham dela.

Ações de Planejamento Estratégico com uma visão de Responsabilidade Histórica será sempre um trabalho interdisciplinar e deverá ser pensado como Comunicação Organizacional, já que produtos e subprodutos servirão às áreas de Publicidade, Marketing, Relações Institucionais, Recursos Humanos, entre outros.

Cabe ressaltar que toda a produção envolvendo ações de Responsabilidade Histórica, como: exposições itinerantes e/ou permanentes, tanto de imagens quanto de objetos museológicos, produção de vídeos, coletas de depoimentos, storytelling ou mesmo a formação de Centros de Documentação e Memória, terão papel fundamental como espaço de produção, manutenção e preservação daquilo que é  Patrimônio Cultural da organização, e também espaço para valorização do Capital Intelectual.

É neste universo que a Memória Institucional se coloca como um elemento fundamental, tanto do Planejamento Estratégico, como na Responsabilidade Histórica das organizações. Somente as empresas que entendam este seu papel, tanto técnico quanto social, cultural e histórico, podem se orgulhar de levar a sério sua Identidade e Cultura Organizacional.
Sem Responsabilidade Histórica, a Cultura e Identidade Organizacional, serão apenas termos esvaziados de sentido.

*  Se sua organização pensa e aceita o compromisso de ter Responsabilidade Histórica, e pensa em elaborar uma ação de Planejamento Estratégico para ter uma boa reputação no futuro, com o fortalecimento de sua Cultura e Identidade, nos contate. Teremos imenso prazer em pensar como realizar um trabalho de Memória Institucional com Responsabilidade Histórica. Ao mesmo tempo, poderemos pensar em formas de zelar por seu Patrimônio Patrimônio Cultural/Documental.
Teremos enorme prazer em pensar numa Solução customizada para as suas demandas, ou para o tratamento técnico documental de acervos documentais e fotográficos e sua preservação e conservação.

____________

Referências:
BOSI, Ecléa. Lembrança de velhos: memória e sociedade. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979.
KUNSCH, Margarida M. Krohling. Planejamento estratégico para a excelência da comunicação. In: KUNSCH, Margarida M. Krohling. Obtendo resultados com relações públicas. 2a. ed. rev. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. p. 33-52.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 2003.
NASSAR, Paulo. Relações Públicas na construção da responsabilidade histórica e no resgate da memória institucional das organizações. São Paulo: Difusão, 2007.
______. Comunicação organizacional e as novas relações públicas. In: DINES, Alberto, NASSAR, Paulo e KUNSCH, Waldemar Luiz (orgs.). Estado, mercado e interesse público: a comunicação e os discursos organizacionais. Brasília: Banco do Brasil, 1999.
REZENDE, Eliana Almeida de Souza.“Um Ensaio de Ego-História” na revista SUSTINERE – Revista de Saúde e Educação da UERJ, 2016.

______________
Posts relacionados:
Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de cidadania
Memória Institucional: ferramenta de Gestão Estratégica
Qual o valor de um Centro de Documentação e/ou Memória
O valor da Memória Institucional no Universo Organizacional
Relação entre Cultura Organizacional e Memória Institucional
Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público
Uso de tecnologias como Política de Preservação de Patrimônio Cultural 
Informação não processada é só ruído
Profissionais na maturidade como ativo organizacional

***
Siga-nos: 
No LinkedIn

© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações

Por: Eliana Rezende

“Os tempos são outros e renovar é preciso”, um mantra que vem se repetindo cada vez mais.
Por caminhos diversos, empresas e instituições estão vivendo, no Brasil e no mundo, um processo de substituição de grandes gurus por pequenos guris. Este processo atroz de descarte de capital intelectual impacta toda a sociedade e a forma como esta retém valores.

Os primeiros, que representam a experiência acumulada, a vivência de práticas e um olhar perspicaz e holístico pelos segundos: afoitos, sempre com pressa e, em geral… inexperientes. Boa parte de sua bagagem resume-se a notas de rodapé obtidas em anos de formação e pós-graduação como alunos profissionais (alguns parecem se especializar em acumular bolsas e títulos sem fim, e nunca encarar o mercado de trabalho, daí a expressão aluno profissional)
São produto de um mundo compartimentado, feito de teclas e muitos sons que produzem dispersão: seres aparentemente multitarefas, mas que em verdade possuem uma grande dificuldade de concentração e acuidade/profundidade nas relações, abordagens e intervenções. Em muitos casos, falta-lhes a flexibilidade eloquente de quem com empatia se antecipa aos problemas e as dificuldades  compondo saídas e alternativas satisfatórias, sem prejuízos ou perdas.

E diante disso, que nos vemos numa grande encruzilhada: ao praticar a ‘juniorização’ com vistas à redução de custos e de forma muitas vezes indiscriminada, as organizações estão plantando dificuldades que colherão muito em breve.

Ao partir, os mais experientes levam consigo aquilo que de maior valor e ativo uma organização pode ter: seu Capital Intelectual. Este não pode ser transmitido por osmose. Necessita de tempo… Afinal a principal virtude destes é a sabedoria atrelada à experiência: e aqui não há receitas rápidas…há o fio do tempo tecendo tramas que sustentarão as fibras do bom caráter de um líder equilibrado e respeitado.

Quando uma organização não percebe isso, perde potenciais que nunca verá crescer.

Infelizmente, nos últimos anos tenho tido oportunidade de assistir em muitas organizações do que chamei acima, de um verdadeiro bota-abaixo de gurus por guris. Pressa, atropelo, presunção, improvisação são os primeiros produtos.

A seguir, uma tentativa pífia de bota-abaixo para, num ato de pura insegurança, querer substituir a experiência pregressa pelo dito “novo e eficiente”. Em verdade, na maioria das vezes o novo não é tão novo assim, e a dita eficiência é mais um sinônimo de precipitação. O espaço destruído torna-se estilhaço e fazer brotar em terra arrasada leva tempo.

Se as instituições se apercebessem de que mora neste Capital Intelectual o verdadeiro valor das organizações muitos problemas seriam evitados. Não seria preciso reinventar a roda.
Mas na prática é o que vemos…

É neste cenário que cada vez mais fica claro para mim que Projetos de Memória Institucional, se bem conduzidos, propiciam de um lado o fortalecimento da Cultura e Identidade Organizacional e de outro favorecem a valorização do Capital Intelectual presente nas organizações. Esta costura fina tornará juniores melhores pois a experiência de um beberá na energia do outro.

O trabalho daí surgido é interdisciplinar e empático, favorecendo e tecendo relações pelo tempo e pela experiência. Não há meio de não resultar. O dividendo será uma organização que soube se manter no Tempo por meio da troca. Sem dúvida, em tempos de tanta escassez um verdadeiro feito!

Esses funcionários antigos e experientes são a melhor mentoria que um jovem profissional poderia ter, e sem dúvida com um valor agregado superior a qualquer MBA.

É preciso pensar que o Capital Intelectual funciona como um repositório humano onde informações valiosas que propiciariam a produção de novos Conhecimentos e Inovação estão ali depositados. Acessá-los é abrir a porta de um grande tesouro institucional.

Além disso, utilizar a Memória Institucional como valorização do Capital Intelectual das organizações resultará em auxiliar a sanar uma dificuldade sempre constante quando se fala em Gestão de Conhecimento, que é a de se achar que a escolha de ferramentas resolverá por si só a produção e circulação de Conhecimento. O que não é fato. A opção por ferramentas sem um trabalho prévio de fortalecimento da Cultura e Identidade Institucional trará opacidade a todo o processo e os resultados esperados dificilmente chegarão. Daí a noção que desenvolvi e argumentei no post “O Desafio das Soluções na Era da Informação”.

A Memória Institucional, por possuir um cabedal interdisciplinar, fornecerá condições adequadas para a circulação do Conhecimento nas organizações, tal como representada na figura a seguir:

A Memória Institucional se colocaria como elemento aglutinador e central, favorecendo as trocas, em especial as intangíveis. Daí nossa opção por uma representação gráfica de bolhas: podem sem vistas, dimensionadas, relacionadas, interseccionadas, mas se tocadas de forma inadequada rompem-se e desfazem-se. É esta a metáfora que melhor exemplifica o trabalho meticuloso e altamente eficiente que a Memória Institucional pode alcançar.

Mas afinal, o que seria o Capital Intelectual?
Entre tantas definições hoje feitas e por diferentes áreas, opto por escolher a que define Capital Intelectual como sendo a somatória dos ativos tangíveis e intangíveis que estão relacionados aos que dão sentindo intelectual às suas ações. Mais do que ativos materiais compostos por máquinas, ferramentas e mesmo valores monetários, os ativos intangíveis que tem em sua criatividade seu principal valor são agentes potencializadores de produção de conhecimento organizacional, já quem por meio de seu conhecimento acumulado são capazes de gerar e distribuir informações para que mais conhecimento e inovação se dê. São portanto, Patrimônio Intelectual.

Diante disso, é explicita a importância destes para toda e qualquer instituição, sem importar seu ramo de atividade ou porte.

Cada indivíduo neste todo organizacional compõe uma memória que é coletiva da organização e que se assenta no tripé: aquisição, retenção e recuperação da informação (Walsh e Ungson, 1991). Observe, segundo os autores citados como isto se dá:

“(…) Relativamente ao processo de retenção os autores apresentam um elenco de seis “caixas de retenção” da informação, sendo cinco delas internamente à organização e uma externa, conforme a seguir:

indivíduos – só os indivíduos compreendem a relação causa efeito, o porquê de uma decisão, eles retêm informações baseado em suas próprias experiências e observações;
cultura – modo aprendido de perceber, pensar e sentir sobre os problemas e que é transmitido para os membros da organização;
transformação – há informação incorporada nas várias transformações que ocorrem na organização, exemplo matéria prima transformada em produto acabado;
estrutura – reflete e armazena informação sobre a percepção do ambiente da organização;
ecologia – experiências interpessoais de empregados são afetadas pelo leiaute físico da organização, exemplo local mal iluminado gera baixa produtividade e conflitos; e, finalmente,
os arquivos externos – empregados antigos retêm grande quantidade de informações sobre a organização, especialmente sobre o tempo em que nela atuaram. (…)”

Relação entre Capital Intelectual e Memória Institucional

É neste momento que um Projeto de Memória Institucional com vistas a valorização de Capital Intelectual passa a fazer toda a diferença no âmbito institucional.

Anteriormente, em outro post que fiz sobre Memória Institucional disse que:

“(…) a partir do conjunto formado por instalações, máquinas, equipamentos, pessoas e missões que uma Instituição se firma e se põe e, impõe ao mercado, aos funcionários e a toda à sociedade. Este conjunto é considerado Patrimônio Institucional. E as pessoas em seu interior são seu Capital Intelectual.
Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos de uma instituição no tempo e no espaço.(…)”.

Por isso, a intersecção Memória Institucional e Gestão de Conhecimento se dão no trabalho de valorização do capital intelectual das organizações. É o trabalho sensível de lidar com a experiência e a história que dará sustentação, direção e objetivos sólidos à uma organização e a fará distinguir-se das demais, não apenas pelo valor monetário expresso em cifras, mas por valores muito mais caros e valiosos, intangíveis em sua maior parte.

As empresas que saem na frente em compreender o valor deste bem intangível dentro de suas organizações conseguem fortalecer sua Identidade e Cultura Organizacional por manter viva as suas raízes e origem: de onde vieram e com quais objetivos e para onde pretendem chegar. A ponte entre este passado de surgimento e seu futuro está exatamente nas mentes destes que compõem o Capital Intelectual da organização. Os cérebros maduros de uma organização são de fato seu maior ativo e valor:

Conforme citei antes no post: “Profissionais na maturidade como ativo organizacional“:

“(…) Fantástico ter a exata noção de que, tal como um músculo, o cérebro quando exercitado, nunca deixa de responder. E que o tempo aliado às experiências vividas e experimentadas podem fornecer conexões muito mais certeiras do que as que ocorrem nos jovens: já que estes contam apenas com o que lhes é extrínseco. Ainda aprenderão a transformar vivências em experiência.
São de fato, os artifícios que o tempo e a existência nos oferecem e brindam. 
Importante pensar o tempo não como uma caminho de perdas! Pode e deve ser um caminho de libertação, já que maduros deixamos as inseguranças e inexperiências próprias da juventude para trás. 
Ganhamos a possibilidade de aliarmos experiência com ação. E isso cá entre nós é o caminho para alargamento do espírito!
E isso que as instituições precisam e devem perceber. Nossa sociedade está envelhecendo e manter-se-á muito mais tempo em período de maturidade do que o seu contrário. Vale a pena redimensionar conceitos e valores. Só assim este beneficio se estenderá à pessoas, organizações e sociedades.(…)”

A valorização do capital intelectual por meio de um Projeto de Memória Institucional significa não ser apenas uma efeméride a mais na organização, mas de fato um meio de produzir conhecimento sem descartar nem desperdiçar os valores existentes.

É esta costura indelével entre a experiência e a juventude que os Projetos de Memória Institucional agregam valor ao Patrimônio Intelectual das organizações e as ajudam a mostrar a si mesmas e a sociedade que estão inseridas o que são, de onde vieram e para onde vão com os cérebros que possuem na sociedade onde estão inseridos. É assim que a instituição praticará a Responsabilidade Histórica para com a sociedade que a acolheu e absorveu.

_____________
Referências:
WALSH, James P.; UNGSON, Gerardo Rivera. Organizational Memory. Academy of Management Review, v.16, n.1, pp. 57-91, 1991.

*
Como desenvolver um Projeto de Memória Institucional que atenda demandas de valorização de Capital intelectual e Gestão de Conhecimento e como a ER Consultoria pode auxiliá-lo:

  • Definir qual caminho seguir
  • Como pensar em um Projeto de Memória Institucional com olhar interdisciplinar?
  • Como relacionar Gestão de Conhecimento e Memória Institucional para valorização de Capital Intelectual numa organização?
  • Como um trabalho interdisciplinar de Memória Institucional pode fortalecer a Cultura e Identidade da Instituição ao mesmo tempo em que organiza e distribui informação para a geração de Conhecimento e Inovação?
  • Como utilizar as metodologias de Storytelling e História Oral?
  • Como através de um Projeto de Memória divulgar e fortalecer a imagem corporativa/institucional?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na organização da Informação produzida hoje. De forma a poder ser instrumental para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que se constitui como matéria-prima para que a Memória e Identidade Institucional se fortaleçam, e a Cultura Organizacional se mantenha através do tempo.

_______________
Posts Relacionados:
Você tem Carreira ou Profissão? 
Qual o perfil do Gestor de Conhecimento?
O valor da Memória Institucional no Universo Organizacional
Memória Institucional: ferramenta de Gestão Estratégica
Relação entre Cultura Organizacional e Memória Institucional
Empatia e gentileza: para quê, para quem e porquê?
Qual o valor de um Centro de Documentação e/ou Memória
Memórias Digitais em busca da Eternidade
O trabalhador invisível
Profissionais na maturidade como ativo organizacional
Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de cidadania

***
Siga-nos: 
No LinkedIn

© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

KODAK: uma história de derrocada ou de longevidade?

Por: Eliana Rezende

Era 19 de Janeiro de 2012.
A então centenária companhia fotográfica Eastman Kodak, de 135 anos de existência, por meio de um comunicado oficial anunciava:
“A companhia e suas subsidiárias nos EUA entram com pedido voluntário de ‘proteção’ ao Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos”.
Pioneira dos processos fotográficos a Kodak que tinha sede em Rochester (Nova York) entrava com pedido de concordata.

Você aperta o botão e nós fazemos o resto”.
Esse era o slogan daquela que foi a mais importante fábrica de câmeras e filmes do mundo até seu pedido de concordata.
A Kodak, criada por George Eastman em 1888, foi a primeira a apostar na popularização da fotografia por meio de um modelo de câmara portátil.

Crédito: Reprodução internet. Revista do Correio. Propaganda da Kodak do século 19.

Diante de tal acontecimento, a pergunta por todo o mundo e em todos os meios empresariais era:
Faltou à KODAK visão de futuro?

A pergunta era e é tão instigadora!
Explico:
Como uma historiadora, especialista em preservação e conservação de fotografias do século XIX e XX, não podia deixar de pensar em como uma empresa com uma longevidade imensa podia ser acusada de falta de visão de futuro.

Não poderia pensar em falta de visão para uma empresa que por mais de 100 anos mudou completamente a forma de registrar as imagens do mundo.
Uma empresa que por meio de sua simplificação tecnológica retirou dos ateliês fotográficos a tão sonhada possibilidade de retratar-se: de se expor e por meio de uma pose registrar uma imagem de si para a posteridade…que com um slogan tão simples como: “você aperta um botão e nós fazemos o resto”, mudou comportamentos, atitudes e representações.
Influenciou hábitos, culturas e transformou a publicidade, o jornalismo, as artes impressas – para ficar só em alguns exemplos – numa outra coisa totalmente diversa de tudo o que já havia existido até então.

Até a opção da escolha do nome teve essa preocupação: um som que soasse igual em todo o mundo… daí a palavra Kodak.

Com imagens que eram fixadas em emulsões em gelatina ou com clara de ovos em placas de vidro desde sua invenção (1839) a fotografia passou à rolos de filme com a invenção da KODAK, onde podiam se trocados e revelados transformados em objetos que materializavam imagens de momentos. Era sem dúvida, uma empresa com grande capacidade empreendedora aliada ao domínio de diferentes técnicas.

Em termos estratégicos do século XIX eles atenderam, em muito, os aspectos que tomavam em conta inovações e o perfil da sociedade que estava à sua volta. Souberam imprimir por meio de um dispositivo novas concepções e formas de relações sociais, culturais, comerciais.

A partir dos anos 1920, a KODAK passa a ter ampla publicidade nas revistas ilustradas mostrando as vantagens de uma máquina portátil, além de oferecer sugestões de situações cotidianas em que se podia utilizar a fotografia.

As pessoas eram incentivadas desde crianças a manipular as câmaras para delas obter as imagens de lembranças agradáveis. Os registros fotográficos eram trabalhados nas revistas ilustradas como sendo o meio para favorecer ou alimentar determinados valores: o lazer desfrutado em família, o carinho dos pais pelos filhos ou o registro de horas agradáveis ao lado de amigos e familiares.

Às vezes grandes passos passam desapercebidos no seu tempo: não encontraram terreno fértil para se desenvolver. Em outro tempo e sob outras condições tornam-se amplamente fecundos.
As artes, a literatura, a técnica, a medicina… entre outras áreas de saber que o digam!
Em um momento da história social e cultural, a Kodak representou o que havia de mais inovador e ambicioso.
Revolucionou padrões e criou um novo paradigma para a sociedade.

Vejo as organizações como seres que se constituem e dialogam com seu tempo. Mas como tudo tem seu momento de ápice e derrocada. Infelizmente uma empresa desse porte e com uma história tão consistente tenha se perdido exatamente no caminho que ela própria trilhou por mais de 100 anos e com muito sucesso, sem medos de inovar e de romper com antigas formas.

Ela não se sustentava sobre o nada, e inúmeras vezes mostrou capacidade de ler e atuar no mundo e na sociedade em que estava. Tinha como principal tradição o componente criativo e empreendedor. Era o seu DNA!

Alguns argumentarão que, só para resumir, estavam os tais prováveis erros capitais e como a empresa tentava solucioná-los. A listas enumerando os erros da empresa cresciam, bem como os debates sobre o mesmo. Dentre eles, escolho as palavras de Mércia Neves*. Além dela, você pode também ler outros com perspectivas semelhantes e que cito como as mais constantes:

1 – Ignorar as mudanças do mercado
Desde o início dos anos 90, o fim do filme fotográfico era visto como questão de tempo. A Kodak tentou negar essa realidade de todas as formas e manteve seu modelo de negócios inalterado. O que foi feito – Nos últimos cinco anos, a Kodak vem tentando reduzir sua dependência dos produtos de fotografia tradicional, um negócio que, apesar de decadente,ainda é o mais lucrativo da empresa
2. – Hesitar ao adotar novas tecnologias
A primeira câmera digital foi desenvolvida pela Kodak em 1976. A empresa, no entanto, levou 25 anos para levar esse negócio a sério, quando o mercado já estava tomado pelos concorrente. O que foi feito: A empresa deu uma forte guinada em direção às câmeras digitais e se tornou líder nos Estados Unidos em 2003. Hoje, esse é um negócio pouco promissor em razão das margens reduzidas
3. – Desprezar a inovação
A Kodak sempre foi pródiga nos gastos com pesquisas, o que resultou em uma vasta base de patentes. No entanto, a maioria das inovações ficava na gaveta ou era licenciada a terceiros. O que foi feito- Antigas inovações da empresa, como as telas de OLED e sistemas de impressão com jato de tinta, foram recuperadas, atualizadas e aplicadas no desenvolvimento de novos produtos
4. – Manter uma estrutura fossilizada
Uma das heranças negativas do fundador George Eastman foi uma cultura corporativa hierarquizada e lenta na tomada de decisões. Isso atrasou dramaticamente as mudanças na empresa. O que foi feito – Uma das prioridades da reestruturação foi injetar sangue novo na empresa e mudar a cultura corporativa. Hoje, 60% dos funcionários da Kodak têm menos de três anos de empresa.”
À luz desse cenário prever o futuro da Kodak já era uma “aposta de alto risco”.
É nítida aqui ma postura equivocada dos que estavam a frente no comando e que eram movidos por outras causas que no atual momento não conseguimos perceber bem porque”.

Exposto isso, creio mesmo é que análise mais completa se dará dentro de várias décadas quando se poderá olhar todo o percurso e verificar que foi que faltou…

Em História não julgamos contemporaneamente: deixamos o tempo trazer as respostas. Todo e qualquer julgamento é precipitado e não encontrará soluções que se sustentem. Serão apenas e tão somente pontos de vista. No imediatismo do momento poderemos fazer juízos de valor que simplesmente não serão cabíveis em algumas décadas. A História é antes de tudo feita por movimentos, e que em muitos casos ocorrem de forma quase imperceptível.
Será preciso pensar a empresa, o seu tempo e a cultura social… muito mais do que aspectos técnicos e organizacionais.

Como digo… olho sempre como humanista…

_________________
*O post aqui chega a ser uma homenagem póstuma a uma grande profissional que foi interlocutora em vários debates dos quais eu participei ainda no inicio de minha atuação em Grupos de Discussão no LinkedIn, Mércia Neves.

Posts relacionados:
Fotografia como Documento e Narrativas possíveis
Memórias Digitais em busca de Eternidade
*
Esta é uma versão revista e atualizada de um post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta 
**
Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na de Projetos de Preservação e Conservação Documental e Fotográfica com utilização de estratégias híbridas e acesso à informação contida nestes documentos, por meio de uma Política de Gestão Documental.
Entre em contato pela nossa página ou pelo e-mail para assessoria técnica de acordo com suas necessidades e demandas.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer

________________
Posts Relacionados:
Fotografia como Documento e Narrativas Possíveis
Memórias Digitais em busca da Eternidade
Uso de tecnologias como Política de Preservação de Patrimônio Cultural

***
Siga-nos: 
No LinkedIn

© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público

Por: Eliana Rezende

Entre os dias 27 e 28 de julho de 2017, na Sede do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) ocorreu o VIII Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público com o objetivo de compartilhar informações e trocar experiências entre profissionais e instituições ligados às áreas de documentação e memória.

O evento procurou apresentar práticas e experiências atuais desenvolvidas em diferentes instituições e que interessam diretamente à centros de memória. Na ocasião ocorreram palestras proferidas por profissionais reconhecidos em diferentes áreas de conhecimento, dentre os quais tive a honra de ser a responsável pela Conferência de Abertura.

A Conferência foi intitulada: “Centros de Documentação e Memória: Espaços de Preservação e Salvaguarda de Patrimônio Documental e Identidade Institucional“, e que pode ser assistida em sua integra abaixo, tocou em aspectos práticos e metodológicos relacionados à Centros de Documentação e Memória, além de suas relações com a transparência administrativa, gestão documental, organização e acesso à informação com vistas à produção de conhecimento.

Confira a conferência na íntegra clicando na imagem abaixo:

A ER Consultoria pode ajudá-lo em Projetos para Memória Institucional ou Implantação de Centros de Documentação.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer
___________________
Posts relacionados:
O valor da Memória Institucional no Universo Organizacional
Seminário Internacional: Gestão da Informação e Transparência
Relação entre Cultura Organizacional e Memória Institucional
História Oral: o que é? para que serve? como se faz?
Qual o valor de um Centro de Documentação e/ou Memória

**
Siga-nos:
No LinkedIn 

© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

História Oral: o que é? para que serve? como se faz?

Por: Eliana Rezende

A questão sobre o que vem a ser História Oral, como pode ser utilizada pelas instituições e de que forma deve ser realizada é um tema que interessa a diferentes áreas e profissionais.

Neste artigo, procurarei tecer considerações acerca de sua utilização, metodologias, aproximações e diferenças, bem como sua importância em Projetos de Memória Institucional com vistas à valorização de Capital Intelectual e o fortalecimento da Cultura e Identidade nas Instituições.

Os relatos orais são amplamente utilizados em diferentes áreas, mas para o recorte deste artigo ficarei concentrada dentro da minha própria área de atuação que é sua circunscrição no âmbito das Ciências Humanas.

A chamada História Oral é amplamente utilizada pelas Ciências Humanas, e é caracterizada pela coleta de depoimentos com pessoas que testemunharam conjunturas, processos, acontecimentos, modos de ser e de estar dentro de uma sociedade ou instituição. Para efeito didático pode estar dividida em três gêneros distintos: a tradição oral, a história de vida e a história temática.

Explicando cada uma delas:

Tradição Oral caracteriza-se pelo testemunho transmitido oralmente de uma geração para outra. São exemplos disso metodologias, por exemplo, que são capazes de resgatar tradições rurais e urbanas como cantigas de roda, brincadeiras e histórias infantis. Isso porque esta tradição precede à escrita e podem ser encontradas em sociedades bastante antigas ou mesmo comunidades que não passaram pelo processo de escrita. São exemplos disso comunidades ribeirinhas, indígenas, agricultoras, entre outras.

Já a História Oral não pode ser confundida com História de Vida. Esta última é um relato autobiográfico onde a escrita está ausente, e, portanto, não pode ser chamada de autobiografia. A História de Vida concentra-se na história pessoal de um indivíduo contada por ele próprio. É, portanto, um relato pessoal, que em geral percorre toda a existência desta pessoa: do nascimento até o momento presente.
Em alguns casos, e como parte de Projetos de Memória, opta-se por este tipo de relato e a história da pessoa percorre todos os momentos de sua vida e o momento em que encontrou-se com a instituição à qual o projeto faz parte. É interessante esta opção, já que apesar do projeto ser sobre uma determinada instituição, a importância de uma história de vida pode ser ainda maior. Um exemplo disso é a figura de um fundador. Este personagem tem grande importância para a existência da Instituição, mas sua trajetória anterior e de vida podem ter um significado ainda maior.

De outra sorte, há a chamada História Oral Temática, que em geral, é feita com um grupo de indivíduos em torno de um determinado evento ou movimento vivido por todos. São perspectivas individuais de sujeitos inseridos em um mesmo contexto.
A utilização desta forma de coleta de depoimento pode possuir aspectos positivos e negativos. O aspecto positivo é o de que uns poderão disparar gatilhos de lembranças e detalhes poderão ser muito melhor esmiuçados à luz de muitos olhares. Mas também poderá ocorrer o seu contrário: eventualmente alguém com maior poder de fala ou influencia poderá silenciar outras vozes e memórias. São comuns depoimentos desse tipo no caso de movimentos populares, sindicais, religiosos ou culturais, entre outros. Neste caso, a importância maior está no tema, e não nas individualidades. O interesse é o maior número de informações possíveis sobre o tema a partir das multiplicidades de olhares.

Definitivamente caberá ao pesquisador uma capacidade intuitiva e metodológica bastante grande para não se perder em uma ou outra possibilidade, e conseguir se valer da melhor forma possível. Com o agravante que aquele momento é único, e provavelmente não se repetirá.

Diante disso, você poderá estar se perguntando:

Mas afinal, podemos afirmar que História Oral é uma metodologia de trabalho?

Bem, ela poderá ser considerada um método de investigação, fonte de pesquisa ou técnica para produção e tratamento de depoimento, entretanto, sua classificação dependerá da orientação dada ao trabalho.

Vejamos um exemplo:

Quando a história oral é utilizada como forma de conhecer um período, conjuntura ou instituição, ela será entendida como uma metodologia de trabalho mas, a partir do momento que essas informações sejam utilizadas, tais relatos constituirão a bibliografia de uma pesquisa posterior.
Ou seja, de acordo com o encaminhamento da pesquisa e seus usos. E poderá ser ao mesmo tempo mais do que uma coisa. O fundamental é que o pesquisador tenha muito claro o que quer e assim conduzir cada forma com o rigor metodológico que precisará ter. Para cada uma das situações a condução das ações e os procedimentos deverão ser específicos.

Um ponto muito importante de ser destacado é que a produção de um depoimento é um trabalho conjunto entre depoente e entrevistador/pesquisador onde juntos produzem um documento. Após a geração deste documento, que deve obedecer a um método e sequência de trabalho próprio da história oral, é necessário estabelecer critérios técnicos para a sua guarda, sigilo e acesso. Ressalto que o produto deste depoimento é um documento histórico, e portanto, de valor permanente. Nunca poderá ser eliminado. Além de ser um importante repertório de matéria bruta para usos infindáveis de subprodutos.

Considerar o depoimento como documento toma em conta minha definição, de que “qualquer informação registrada em um suporte se constitui documento”, de acordo com a imagem a seguir:

Há diferença entre um depoimento e uma entrevista?

Em linhas bem genéricas podemos afirmar que sim!

Em geral, a entrevista é utilizada pelas áreas de Comunicação e obedece a  uma pauta previamente estabelecida, com objetivos claros e definidos a priori.

Numa entrevista nunca se busca ir muito além da pauta, especialmente, por questões de tempo e disponibilização aos meios de comunicação que a produziram e, normalmente, atendem sempre a urgência de um fato. É habitual que as perguntas saiam prontas da reunião de pauta, e em poucos casos são feitas de improviso. E normalmente quando isso ocorre costumam atender um insight de momento, que muitas vezes pode interromper uma linha de raciocínio ou mesmo uma direção de pensamento. Em caso de pessoas menos inexperientes isso pode significar um corte fundamental na construção do ritmo das ideias do entrevistado, gerando perdas aos eventuais interessados e ao registro como um todo. Ao observarmos boa parte dos casos de entrevistas deste tipo, notamos o quanto o silêncio é importante e como o entrevistador perde chances de exercê-lo.

Com o depoimento precisa e deve ser diferente. Em geral, faz-se um roteiro inicial para entrevista, mas este pode ser alterado de acordo com a interação entre depoente e entrevistador. O roteiro neste caso passa longe de ser uma lista semelhante a um interrogatório. É apenas um norteador que deve ser usado como bússola. O depoimento respeita a sequência memorialística do depoente, valorizando seus silêncios e não ditos.  Nesse tipo de depoimento, o depoente nunca deve ser interrompido. O entrevistador é antes de tudo um ouvinte!

Daí que NUNCA um entrevistador deve ser ou estar ansioso. Sua ansiedade pode tolher o curso das águas caudalosas da memória. E isso para um registro que pretende ser histórico é imperdoável.
Por isso, aquele que colhe o depoimento não é um entrevistador, é um ouvinte! Aqui está a grande e significativa diferença.

Insisto que o responsável pela coleta do depoimento deve ser alguém sensível, empático e tranquilo. Será como um porto seguro para que as memórias do depoente possam atracar. Oferecerá segurança ao que lhe está oferecendo seus tesouros no formato de memórias tecidas pelo tempo: seu bem mais precioso.
É com este olhar e com esta atitude que o ouvinte deve se colocar.

Foi no tempo que as memórias foram tecidas, e é com tempo e sem pressa que elas devem ser ouvidas…

Seguindo sobre a história oral seria importante você saber que:

Sua introdução no Brasil deu-se a partir dos anos 1970 e encontrou força nos anos 1990. Deste crescimento surgiu a criação em 1994 da Associação Brasileira de História Oral, e em 1996 foi criada a Associação Internacional de História Oral.

Desde os seus primórdios a história oral firmou-se como um instrumento de construção da identidade de grupos em processo de transformação social.

A história oral é caracterizada por uma série de procedimentos no pré, no curso e pós-depoimento. Isso porque a definição de quem, porquê e como deve obedecer a critérios pré-estabelecidos de relevância e sentido ao que se quer pesquisar ou preservar.

Em geral, a opção pela história oral dentro de uma instituição ocorre com alguns objetivos pré-definidos. Dentre os quais citamos:

  1. Registrar os relatos das personalidades que, direta ou indiretamente, partilharam determinado período, tema, ou instituição;
  2. Recuperar dados e informações sobre fatos e episódios importantes para a história institucional;
  3. Constituir um acervo que sirva às consultas, para posterior pesquisa e produção de conhecimento.
  4. É preciso que se tenha em mente que o equacionamento entre história x memória nestes casos, resulta em uma nova “construção do passado, mas pautada em emoções e vivências”, já que os eventos da memória são retomados a partir de experiências passadas com o filtro da atualidade.

Sugiro que aprofunde seus conhecimentos sobre o tema. Você pode obter informações sobre todos os passos necessários à coleta do depoimento, suas diferenças e procedimentos, consultando o Manual do CPDOC no link abaixo, tal leitura será útil para a nossa Unidade que trata sobre metodologias adequadas:

Alberti, Verena. Manual de História Oral.

Abra-o e leia-o na íntegra aqui:

Na sua leitura tenha atenção sobre os aspectos relacionados à metodologia de produção do depoimento e de que forma esta se adequaria às realidades de sua instituição ou às suas concepções de projeto. Fazendo desta forma, sua leitura passa a ter uma direção metodológica e não apenas informativa.

As experiências do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC / FGV  continuam a fornecer importantes relatos sobre a experiência de colher e tratar depoimentos. Por isso, sugiro que leia o artigo “Tratamento das entrevistas de história oral no CPDOC”, de Alberti (2005), disponível aqui:

No caso dessas leituras, é importante ressaltar que para além das discussões entre História, Memória e Psicologia, todo um universo que considera os aspectos técnicos e tecnológicos deve ser tomado em conta. Muitas vezes o fascínio pela possibilidade de colher depoimentos tira a nitidez do que todo o processo significa.

As tecnologias hoje disponíveis facilitam em muito a coleta de depoimentos, por outro lado colocam inúmeros desafios em relação à sua perenidade que o artigo trata de forma meticulosa e acertada. Considere tais aspectos ao pensar sobre a elaboração de um Projeto de Memória Institucional quando for o caso.

Sugiro atenção em relação aos campos definidos para compôr a identificação do depoimento. Defina com antecedência quais serão estes campos, como deverão ser preenchidos e de que forma sua acessibilidade estará garantida em especial considerando aspectos relacionados à obsolescência tecnológica. A leitura atenta do artigo de Alberti auxiliará na estruturação destas necessidades.

Não há uma única forma de estruturar depoimentos de história oral. Mas alguns cuidados podem e devem ser tomados na fase de elaboração e execução do projeto. Transcrevo alguns destes cuidados, apresentados no artigo “História Oral e Memória: a construção de um perfil de Historiador-Etnográfico”, de Éder Silveira e que você, se desejar, pode ler na íntegra aqui:

(…) A entrevista se configura como principal instrumento (ou técnica) do método de História Oral. Para realizá-la, não há uma única receita ou diretriz. Contudo, cita-se algumas observações convergentes nas obras de THOMPSON (2002), ALBERTI (2004; 2005) e ZAGO (2003) que orientam o pesquisador na produção de entrevistas no método da História Oral:

  1. Ter consciência de que não existe neutralidade do pesquisador desde a escolha pelo tipo de entrevista a qualquer outro instrumento de coleta de dados ou fontes.
  2. Respeitar os princípios éticos e de objetividade na pesquisa, lembrando que nenhum método dá conta de captar o problema em todas as suas dimensões. Todas as conclusões são provisórias, pois podem ser aprofundadas e revistas por pesquisas posteriores.
  3. O pesquisador não deve se apropriar da entrevista somente como uma técnica de coleta de dados, mas como parte integrante da construção do objeto de estudo.
  4. A entrevista compreensiva não tem uma estrutura rígida, isto é, as questões previamente definidas podem sofrer alterações conforme o direcionamento que se quer dar à investigação. Dar preferência a perguntas mais abertas e um roteiro flexível.
  5. Reservar um tempo relativamente longo para a realização da entrevista.
  6. Durante a entrevista é válido ter um diário de campo onde se possa fazer anotações das reações, posturas e impressões do entrevistado, dificuldades nas informações obtidas, o que provocaram suas lembranças, novidades nas informações ou conteúdo, informações obtidas em off, etc.
  7. Uso de elementos que evoquem a memória do entrevistado como fotografias, recortes de periódicos e menção a fatos específicos podem facilitar o desenvolvimento do trabalho.
  8. Construir fichas que organizem e orientem as futuras fontes orais. Deve-se privilegiar dados como o nome do entrevistado, número da entrevista que vai representar dentro do universo da pesquisa, idade do entrevistado, endereço, local onde foi gravada a entrevista, nome do entrevistador, idade, profissão, religião, datas das entrevistas realizadas com o informante, em que fitas (previamente numeradas) estarão gravadas as entrevistas, em que páginas da transcrição se encontrarão referências a determinados temas e se há alguma restrição ao acesso das informações.
  9. No início da entrevista, gravar informações como: nome do entrevistado, do(s) entrevistador (es), data, local e finalidade do trabalho.
  10. Providenciar um Termo de Consentimento Informado, onde fique bem claro ao entrevistado:
    1. as finalidades da pesquisa;
    2. nome do informante e número de documento pessoal, como RG;
    3. se a divulgação da entrevista oferece riscos ou prejuízos à pessoa informante;
    4. a permissão ou não permissão da divulgação do nome do informante (caso não seja permitido, orienta-se que se produza uma declaração para este fim no verso deste termo, sendo assinado por ambas as partes (pesquisador e entrevistado), podendo o informante optar por um pseudônimo;
    5. cedência dos direitos da participação do entrevistado e seus depoimentos para a pesquisa em questão;
    6. abdicação dos direitos autorais do entrevistado e de seus descendentes;
    7. data e assinatura do termo pelo participante e pesquisador – torna-se importante nesse item, anexar ao termo que será assinado por ambas as partes, a transcrição da entrevista. (…)  Silveira (2007)

Realizado o depoimento, vem o momento de indexá-lo de modo a facilitar sua posterior pesquisa. De novo, o exemplo do CPDOC merece ser considerado. Como forma de pensar em formas de indexação para o caso da história oral proponho a leitura do artigo “Princípios de indexação de entrevistas de história oral” de Brando,que você lê aqui:

Mas, todo este trabalho não faria qualquer sentido se a divulgação não alcançar seus objetivos: registrar as informações de maneira a atender às demandas de produção de conhecimento e/ou inovação em diferentes áreas de conhecimento.

Para esta tarefa, o mundo contemporâneo tem oferecido inúmeras ferramentas e possibilidades. Se usadas de forma coerente e consciente trarão inúmeros benefícios.

Muitos subprodutos um Projeto de Memória Institucional pode oferecer: de exposições permanentes à itinerantes, livros comemorativos, sites, portais, workshops, seminários, boletins, calendários, entre outros. Em todo caso, o cuidado e o zelo na elaboração do projeto devem estar refletidos e mostrar a importância e o respeito às memórias ali reunidas.

Os produtos devem refletir o valor reunido de experiências e da identidade institucional.

Simples assim…
*
A ER Consultoria pode ajudá-lo em Projetos para Memória Institucional e coleta de depoimentos.
Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer

*Esta é uma versão revista e atualizada de um post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta
___________________
Posts relacionados:
História Oral: uma História que Escuta
O valor da Memória Institucional no Universo Organizacional
Fotografia como Documento e Narrativas Possíveis
Memórias Digitais em busca da Eternidade
Profissionais na maturidade como ativo organizacional
Memória Institucional: ferramenta de Gestão Estratégica
Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações
Relação entre Cultura Organizacional e Memória Institucional
Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de cidadania
**
Siga-nos:
No LinkedIn

© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

Qual o valor de um Centro de Documentação e/ou Memória

Por: Eliana Rezende

Uma pergunta constante é a de qual valor pode haver em um Centro de Documentação e/ou Memória dentro de uma instituição já que estamos tão rodeados por informações que nos chegam de todos os lados.
Sua implantação não representaria um gasto e demanda desnecessários?
Afinal, qual seu valor e importância?

Importância e objetivos:
Implantar e manter um Centro de Documentação e/ou Memória pode ser um grande desafio institucional, mas ao mesmo tempo é item fundamental dentro de um Projeto de Memória Institucional, que tenha como preocupação o fortalecimento da Identidade e Cultura Organizacional.

As dúvidas são recorrentes e muitas, em especial sobre quais seriam suas funções e de que forma podem ser item de produção de Conhecimento e Inovação. Como estruturá-lo e mantê-lo passam a ser preocupações recorrentes. Daí a necessidade de um trabalho interdisciplinar e linkado ao DNA da instituição.

Alcance:
Os Centros de Documentação (CEDOC) extrapolam o universo documental das Bibliotecas, embora possam conter material bibliográfico (que será sempre e unicamente aquele relacionado à temática na qual o Centro é especializado), e aproximam-se do perfil dos arquivos, na medida em que recolhem originais ou reproduções de conjuntos arquivísticos. É por isso uma instituição híbrida com desafios de amplos alcances e com a lida de diferentes suportes.

Um Centro de Documentação e Referência diferencia-se de um arquivo na medida em que este se torna um repositório de informação para profissionais de diferentes áreas que se ocupem de um determinado ramo do conhecimento. Tem um potencial de transformar-se em Centro de Referência, no sentido de ser o local para onde convergem todo tipo de arquivo, em conjuntos documentais de diferentes suportes, sempre voltados para o mesmo tema, e que facilita, em última instância, a pesquisa dos usuários. Assim, encontramos audiovisuais, fotografias, livros, jornais, revistas, microfilmes, mapas, plantas, gravuras, negativos flexíveis, negativos em celulose e vidro, e outros..

Numa hierarquia, diríamos que o Centro de Documentação (CEDOC) possui maior alcance que uma Biblioteca e que um Arquivo. Isto porque possuem conjuntos bibliográficos, arquivísticos e até museológicos e arqueológicos, em alguns casos.

É natural em sua formação possuir documentos museológicos, hemerográficos, iconográficos, textuais, audiovisuais, entre outros. E, devido a esta característica, necessariamente precisará “beber” das metodologias oriundas das diferentes áreas como a a arquivística, a história, a museologia, e biblioteconomia entre outras.

Nem sempre o Centro de Documentação (CEDOC) tem como objetivo a preservação da memória ou a pesquisa histórica. Muitos estão vinculados à pesquisa em outras áreas ou à produção e prestação de serviços a usuários internos e externos. Neste caso, pode se configurar um Centro de Referência (CR) para as área em que atuam.

Importante destacar que a principal missão de um Centro de Documentação (CEDOC) é o apoio à pesquisa: seja ela institucional ou acadêmica. Seu papel não é o de substituir a gestão arquivística de acervos permanentes, que possuem fins administrativos e/ou probatórios e que, no caso da documentação pública, cumpre legislação vigente. Utilizá-lo desta forma seria um desvirtuamento de seus objetivos e funções.

Os primeiros passos de uma implantação
A natureza e vocação de um Centro de Documentação (CEDOC) sendo a pesquisa e referência, implica a definição de sua abrangência e recorte temático, espacial e cronológico.

Isto se dá pela abrangência documental permitida na sua configuração. Colocar tais recortes favorecerá a qualidade das referência geradas. Quanto mais abrangente, provavelmente, mais superficiais serão suas informações.
Em geral, o primeiro passo a ser dado é a definição do que chamamos “Linha de Acervo”, que é exatamente o universo do seu recorte e sua área de atuação. Por exemplo: estudos sobre a cidade, educação, saúde, sustentabilidade, indústria têxtil, etc. Em que período? Começo do século XIX. meados do século XX, 2ª metade do século XX, e assim por diante….

Estas definições darão ao Centro de Documentação (CEDOC) aporte e consistência diante de outros fornecedores de dados e informações. Legitimarão seu universo de atuação, bem como as políticas de ampliação do acervo.

Apesar disso, tais Linhas de Acervo não são rígidas a ponto de não sofrerem processos de flexibilização. Vez por outra, poderão mover-se em uma ou outra direção sofrendo adequações, acréscimos ou mesmo reconfigurações a partir de demandas de usuários e público alvo.

Definidas as Linhas de concentração, é hora de definir o âmbito das ações que o Centro de Documentação (CEDOC) desenvolverá. É neste ponto que se definem estratégias de cursos, oficinas, workshops, seminários, congressos, conferências, publicações diversas, exposições (fixas, itinerantes, virtuais), fac-símiles de documentos, assessorias e/ou consultorias técnicas a outras instituições.
Atentar para tais ações reforça a vocação para a pesquisa e produção de conhecimento que se espera de um Centro de Documentação (CEDOC).

Torna-se evidente que, pela abrangência de suportes e documentos, de ações a serem desenvolvidas e universo de atuação, o perfil profissional exigido dos que atuarão neste Centro de Documentação (CEDOC) deverá ser múltiplo e interdisciplinar. No entanto, está longe de representar o universo de um único tipo de profissional. Quanto mais flexível e interdisciplinar maiores as chances de obtenção de bons resultados à frente de uma instituição como esta.

Alguns cuidados
Um Centro de Documentação (CEDOC) não pode converter-se em uma colcha de retalhos ou um gabinete de curiosidades! Facilmente, e até por desconhecimento na maior parte das vezes, começam a ser reunidos em seu interior quinquilharias que pouco ou nada tem que ver com o que se determinou como Linha de Acervo.

A constituição do acervo, e dos objetos que o integram, deve obedecer critérios técnicos estabelecidos quando da definição do âmbito e alcance do Centro de Documentação (CEDOC). Sua ampliação é paulatina e sempre se guiará por tais critérios. Isso evitará dispersão e gastos desnecessários envolvendo espaço físico, tempo de tratamento técnico e recursos humanos e tecnológicos.

É importante destacar que um Centro de Documentação (CEDOC) não precisa reunir TUDO sobre sua área de atuação. Não é um órgão acumulador, mas deve ser antes de tudo um referenciador: fornecendo a maior quantidade possível de informações sobre sua área de cobertura.

Ser referenciador também não deve significar ser um duplicador! É importante que um Centro de Documentação (CEDOC) não seja um duplicador de informações, reproduzindo tudo o que já existe em outros acervos. Valendo-se de tecnologias digitais pode fornecer as informações que se encontram em outras instituições ou Base de Dados, sem reproduzir desnecessariamente acervos ou documentos.

E aqui entra uma palavra de cautela: a digitalização utilizada para fins de ampliação de acervo deve ser tomada com cuidado. Mais do que isso, deve ser uma ferramenta utilizada com parcimônia e eventualmente, como política de preservação documental, favorecendo o acesso sem permitir manipulações indevidas de originais raros, por exemplo.

Apesar de oferecerem muitas potencialidades e possibilidades, as ferramentas tecnológicas disponíveis hoje em dia podem não trazer todos os benefícios possíveis por ausência de uma boa estruturação e metodologia de trabalho. Por isso, todo o cuidado em seu planejamento é fundamental.

Centros de Documentação em tempos web
Algumas instituições possuem dúvidas sobre como criar este espaço físico, mas também um espaço virtual onde possa ser visitado e consultado por aqueles que estão distantes. Precisamos ter alternativas para isso.

Em um mundo tão digitalizado vem sendo questionado a existência ou não de um acervo físico e meios pelos quais um Centro de Documentação possa ser virtual e estender suas fronteiras para além de um espaço estritamente físico, eles extrapolam muros institucionais e geram visibilidade, valorizando a cultura institucional.

As tecnologias da informação podem apoiar projetos de implantação de Centros de Documentação (CEDOC) ao mesmo tempo que as funcionalidades da WEB 2.0 contribuem para a disseminação, compartilhamento e colaboração tanto de matérias-primas como de produtos. Em todos os casos, muitas decisões precisam ser tomadas.

As tecnologias hoje disponíveis propiciam diferentes meios de divulgação com um alcance nunca antes imaginado. E, quando bem estruturados, possuem um custo benefício interessantíssimo.

A fluidez dos meios digitais faz com que as pessoas em geral olhem para as tecnologias como sendo a panaceia para todos os problemas de divulgação que uma Instituição possa ter.
No entanto, as coisas não são bem assim.

É um equívoco achar que um espaço virtual demandará menos trabalho, ou apenas facilidades. Todo o trabalho bruto de referenciamento e tratamento técnico será mantido, alterando-se apenas as formas de veiculação e acesso. Em alguns casos podemos afirmar que um espaço virtual poderá ter ainda mais acessos e buscas e demandará até a necessidade de possuir um atendimento que sirva às necessidades de estrangeiros. A web é uma uma porta aberta ao mundo e não à uma rua local. Por isso é preciso tomar em conta isso.

Além disso, há decisões que envolvem a disponibilidade e acesso de acervos. Dentre as muitas questões cito algumas cruciais:
Se houver um banco de dados como se dará o acesso? E no caso de imagens originais? Como cuidar de aspectos relacionados à autoria e créditos?
Em caso de exposições virtuais como serão? Qual a periodicidade para sua atualização?
E as formas de contato e atendimento aos usuários/pesquisadores?
Em relação aos cursos, oficinas, workshops, exposições, conferências, publicações: como serão sua veiculação? Estarão abertos em canais online?

Todas são questões que precisam ser pensadas ainda na fase de planejamento e periodicamente deverão ser repensadas de acordo com erros e acertos, que sempre ocorrem.

O que é definitivo, e que podemos afirmar com certeza, é que a partir desta nova concepção de uso da Web o mundo das bibliotecas e locais que detém informação organizada e estruturada passou a se movimentar na direção do usuário. Esteja ele onde estiver!

Se de um lado este sentido de colaboração inovou e começou um processo irreversível de interação, de outro colocou o desafio da segurança de que estes conteúdos estarão acessíveis e disponíveis no tempo, cuidando integralmente e com o respeito devido ao sigilo, preservação e acesso.

O Centros de Documentação (CEDOC) lidam com documentos que em sua maior parte são permanentes e, portanto, com necessidades de perenidade, longevidade, segurança e autenticidade a serem garantidas.
As coisas ficam ainda mais complicadas quando falamos não apenas de textos, mas imagens, audiovisuais e outras possibilidades de links e hipertextos.
A funcionalidade de muitos recursos só é possível em determinada configuração.
Se não forem estruturados de forma que contemplem a obsolescência poderemos ter um rico material que estará fadado à impossibilidade de utilização futura para diferentes fins.

Quando pensamos em períodos para a obsolescência falamos em períodos que em geral não excedem os 5 anos.
E isso, para documentos permanentes, não significa rigorosamente nada!
O termo “longa permanência” pode ser definido por períodos não inferiores a 100 anos.

Por isso, é fundamental um bom planejamento e estratégia de escolha consciente envolvendo o quê preservar, para quê e para quem e com quais objetivos.

O que tomar em consideração para Centros de Documentação (CEDOC) em ambientes digitais?

Em primeiro lugar deve-se definir qual tecnologia a ser utilizada. E nesta escolha o mais importante é definir um sistema robusto e que tenha sido amplamente usado.
Evite as últimas “novidades” no mercado. Tenha certeza da solidez e robustez destas tecnologias, sua manutenção e custos.
Pense que o mais caro em tecnologia não é sua aquisição inicial, mas a sua manutenção no decurso do tempo. Em especial se os documentos forem de caráter permanente.

Atente para os dados reunidos e a forma escolhida para sua disponibilização e divulgação.
1. Se não houver uma preocupação efetiva, com o tempo o que você terá em poucos anos é uma base de dados inútil e sem possibilidades de uso e produção de conteúdos, conhecimento ou inovação.
A tônica principal em verdade não é o acesso e sim a autenticidade dos documentos digitais no decurso do tempo. Acesso acaba sendo o fator mais simples em uma cadeia extremamente longa e importante, e seu ápice é sem dúvida fornecer garantias de que estes documentos são autênticos e que não sofreram alterações e adulterações. O investimento, sem dúvida, é na segurança da informação. Sem ela, poderemos apenas acumular o que será apenas lixo digital.

2. Elaboração de uma política clara de preservação e conservação de documentos em suportes físicos e digitais, com previsão de prazos de guarda e com quais utilizações nas diferentes ferramentas tecnológicas disponíveis pela Instituição;

3. É necessário, portanto, uma visão mais curatorial de todo o processo.
Tendo claro todos os limites que um projeto se defronta e já iniciá-lo tendo ações bem delineadas, flexíveis e adequadas às nossas reais circunstâncias de recursos humanos, financeiros e tecnológicos.

Dos fins
De tudo o que se disse, o fundamental é ter em conta que todo este trabalho de base, inter e multidisciplinar visa antes de tudo a reunião de informações para a produção de conhecimento. Só aí que o Centro de Documentação (CEDOC) cumprirá sua verdadeira vocação.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e a aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação.

Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a preservação e conservação física e digital dos documentos.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

Posts relacionados:  

Porque Documento Digitalizado não é Documento Digital 
A Jovem, e surpreendente, Gestão da Informação

O Valor da Gestão Documental para as Empresas
Memórias Digitais em busca da Eternidade
O desafio das Soluções na Era da Informação
Por que Ferramentas de GED não são Gestão Documental? 
Uso de tecnologias como Política de Preservação de Patrimônio Cultural
Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de cidadania
Memória Institucional: ferramenta de Gestão Estratégica
Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações
Uso de tecnologias como Política de Preservação de Patrimônio Cultural

Siga-nos:
No LinkedIn 

© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

A Jovem, e surpreendente, Gestão da Informação

Por: Lionel C. Bethancourt

O que é Gestão de Conhecimento, afinal?
Em 1994, Davenport definia a Gestão de Conhecimento como: “o processo de coleta, distribuição e uso efetivo do conhecimento” (Knowledge management is the process of capturing, distributing, and effectively using knowledge). Que é usada ainda até hoje, mudando uma ou outra palavra, aqui e ali.

E a Gestão de Informação?
Ainda teremos o fato da diferenciação entre informação e conhecimento. Muitas áreas cinzas e confusões. Primeiramente; informação não é conhecimento!
Dados são um conjunto de valores ou ocorrências em estado bruto com o qual são obtidas informações.
Informação é (qualquer) dado, ou conjunto de dados, com significado para o usuário-consumidor.
Conhecimento é a capacidade de processar essa (qualquer) informação com outros dados e informações e dela fazer uso prático, gerando ao mesmo tempo novas informações e dados.
Só para complicar, a informação é uma (1) coisa e o conhecimento é seu fractal (1n).
A escolha é sua; Mandelbrot ou Julia, não importa.

Quando falamos em jovem, imediatamente nos vêm à cabeça, não somente a juventude cronológica mas também a inovação. A juventude como estado e a inovação como conceito abstrato. No imaginário, acreditamos que ambas vem sempre juntas.

A gestão se dá a partir do momento em que, em qualquer sistema, se faça necessária a coleta, organização, compartilhamento e guarda de informação. Neste caso específico, para ter condições de melhores decisões estratégicas. Convenhamos que a gestão de informação se formaliza desde o momento em que os documentos são organizados pelos motivos que forem. Documentos organizados em bibliotecas, documentos organizados por temas, documentos guardados ou separados em coleções; atas, volumes científicos, recibos de contas, cartas de amor, etc.

Logo, nos surpreendemos ao aliar juventude à gestão de informação, pois por definição, parece paradoxal que ela possa ser jovem, nova e, ao mesmo tempo, tão velha que tenha uma história documentada, tão grande, ou talvez mais, do que a história da própria humanidade.
Visto que, uma sem a outra, não existe. Mesmo apesar dessa nossa ignorância.
(Também não vemos o ar, no entanto, sabemos que ele está ai.) O documento em si já é um fruto de escolha (coleta + organização) e compartilhamento. As informações contidas no documento foram propositalmente escolhidas e separadas das outras.
E isto em qualquer documento é igual.

A história da humanidade documentada em documentos e os documentos testemunhas da história da humanidade. O fato simples de criar documentos, exige antes, uma hierarquização e organização de dados e informações. Tornando-os acessíveis ao usuário-consumidor.
Isto é gestão de informação, não de conhecimento.
Logo, jovem, nos pareceria um contrassenso, mas vamos convir, a juventude nunca é a mesma. Enquanto a gestão de informação, não somente acompanha, como muitas vezes ela mesma é promotora da emergência dos movimentos ditos ‘jovens‘.

Vejamos como isso acontece quando, por exemplo, na Era Digital, os avanços são documentados ANTES de ser assimilados pelos seus usuários-consumidores. Todas as novidades que mudem o comportamento “jovem” são resultado de documentações anteriores.

E aqui… a surpresa. Quando, por fim, entendemos o que acontece à nossa frente.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de um Projeto de Gestão de Informação com vistas à produção de Conhecimento.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

Referências: 
Arjan Ten Cate, Knowledge management – A Theoretical Framework and Implementation at the “big four”, TCC da Faculteit der Economische Wetenschappen Erasmus Universiteit Rotterdam, 2016.
Davenport, T.H. et al., Building Successful Knowledge Management Projects at http://www.providersedge.com/docs/km_articles/building_successful_km_projects.pdf

Davenport, T.H., Some Principles of Knowledge Management at http://www.strategy-business.com/article/8776?gko=f91a7
Koenig, M.E.D., What is KM? Knowledge Management Explained at http://www.kmworld.com/Articles/Editorial/What-Is-…/What-is-KM-Knowledge-Management-Explained-82405.aspx
Milton, N., Knowledge Management FAQ at http://www.knoco.com/knowledge-management-FAQ.htm
Wilson, T.D. (2002) “The nonsense of ‘knowledge management‘” Information Research, 8(1), paper no. 144   [Available at http://InformationR.net/ir/8-1/paper144.html]
__________________
*
Siga-nos:
No LinkedIn
© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

O Valor da Gestão Documental para as Empresas

Por: Eliana Rezende Bethancourt & Lionel Bethancourt

Quando falamos em dados, sempre estaremos lidando com números astronômicos. 90% dos dados que há no mundo hoje foram criados nos últimos dois anos e, agora, a cada dois anos, o mundo dobra a taxa em que os dados são produzidos. “Segundo a sexta edição da pesquisa DOMO em 2018, mais de 2,5 quintilhões de bytes são criados todos os dias (domo.com). E, no ano de 2020, estima-se que 1.7MB de informação serão criados a cada segundo, por pessoa, no mundo”.

A verdade é  que estamos vivendo uma revolução no setor de dados. O que impulsiona essa revolução, além da abundância de dados disponíveis atualmente, são as tecnologias fundamentais que alteram a forma com que coletamos, armazenamos, analisamos e transformamos as informações.

Se olharmos de uma perspectiva mundial, as estatísticas ficam realmente interessantes, observe:

  • O IDC estimou que em 2020, as transações comerciais na internet, que incluem B2B and B2C alcançariam US$ 450 bilhões por dia.
  • A Walmart atende mais de 1 milhão de transações de clientes por hora, e elas são importadas a vários bancos de dados que contêm mais de 2.5 Petabytes de informação.
  • No distante ano de 2008, a Google processava 20 Petabytes (20,000Tb) de dados por dia.
  • AT&T tem um banco de dados que com 312 Tb de tamanho, incluindo gravações de 1.9 trilhões de ligações telefônicas.
  • Há 30 bilhões de peças de conteúdo compartilhado no Facebook mensalmente com 2,85 bilhões de usuários.
  • Mais de 100 horas de conteúdo de vídeo são carregadas à YouTube a cada minuto.
  • No ano de 2013, segundo Chris Flores, diretor de comunicação para o Grupo Windows da Microsoft, foram criados 500 bilhões de documentos no Office!
  • Segundo Gil Press (Forbes), de 2010 a 2020, a quantidade de dados criados, capturados, copiados e consumidos no mundo aumentou de 1,2 trilhão de gigabytes para 59 trilhões de gigabytes, um crescimento de quase 5.000%.
  • Segundo a International Data Corporation IDC a taxa composta de crescimento anual (CAGR) de cinco anos até 2024 dos dados criados, capturados, copiados e consumidos no mundo; a quantidade de dados criados nos próximos três anos será maior do que os dados criados nos últimos 30 anos. E não apenas isso. Em 2024, os dados de entretenimento representarão 40% do Global DataSphere e a produtividade / dados incorporados serão 29%, parcialmente paralisados ​​pela dinâmica do COVID-19.
  • Ainda nesta esteira temos a produção massiva de dados por pessoas e empresas por meio de redes móveis e nuvens, quer por trabalho, quer diversão gerando uma massa imensa de dados e informações que compõem ora lixo, ora informação relevante que precisa ser distinguida e usada. O universo de produção de dados audiovisuais com fins de recreação, segurança ou trabalho é uma realidade que aumenta de forma absurda os dados de pessoas e organizações.
  •  Em 2021 já tínhamos mais de 2.29 bilhões de usuários no YouTube que a cada minuto, sobem 500 horas de vídeo distribuídos por cerca de 1 bilhão de canais.
  • O Instagram possui 1,22 bilhões de usuários ativos
  • A presença em redes sociais e perfis digitais acumulam inúmeros dados e é comum empresas e instituições também possuírem tais perfis e não terem o devido cuidado com os mesmos. Lembrando que representam partem substancial do que seja sua Memória Institucional.

Mas a pergunta que todos nos fazemos é: em que ritmo e velocidade produzimos documentos hoje? E ainda: precisaremos deles por quanto tempo?
E ao precisar, encontraremos?
E se, em formato digital, conseguiremos abri-lo?

Sabemos que os dados estão aumentando, mas será que sabemos o que realmente isto significa para nossos negócios? Segundo a Fathom Consultoria, dados pobres custam aos negócios 20-35% da sua renda operacional, com dados ruins custando aos negócios americanos US$ 600 bilhões anualmente.

Em estudo recente patrocinado pela Xerox Corporation, chegou-se a conclusão que:

  • 90% das organizações não têm controle sobre os valores gastos anualmente sobre a produção de processos/tarefas que envolvem documentos;
  • 82% das organizações acreditam que os documentos são essenciais para o sucesso das operações organizacionais;
  • 70% dos executivos afirmam que uma Gestão Documental ineficiente, torna a organização mais lenta, e;
  • 45% do tempo dos executivos é utilizado com documentos (produção, acesso, recuperação, uso, etc.)

Se você está envolvido nas operações de TI na sua organização, pergunte-se:

  • Estamos coletando e armazenando os dados corretamente?
  • Usamos os dados coletados para melhor gerenciar nossos negócios ou dos nossos clientes?
  • Qual nossa confiança em tomar decisões baseadas nestes dados?
  • O que fazem nossos competidores? Lançaram campanhas direcionadas à nossa base de clientes?
  • E por último, mas não menos importante: se vamos conseguir uma vantagem competitiva sobre nossa concorrência e ofertar uma experiência única aos nossos clientes, será que os dados que temos e produzimos nos ajudam neste propósito?

E, se você é produtor-usuário de dados e informações pergunte-se:

  • Para quê serve a Gestão Documental numa empresa?
  • Existe Gestão Documental na nossa empresa?
  • A quem cabe a responsabilidade da Gestão Documental?
  • Como estabelecer políticas de Gestão Documental?
  • Quais são os seus benefícios e retorno?
  • Como definir prazos e locais para guardar informações?
  • Como filtrar, hierarquizar e localizar informações relevantes?
  • Como estabelecer critérios para segurança, sigilo e acesso às informações?
  • Ferramentas e tecnologia resolverão meus problemas de Gestão de Documental?
  • Como identificar o que de fato preciso?
  • Como multiplicar conhecimento a partir de dados e informações nos documentos que produzimos?

Apesar da importância e volume representada pela informação digital ou mesmo mantida em ambientes físicos, existe um amplo desconhecimento do que uma Tabela de Temporalidade Documental (TTD) e um Código de Classificação dos Documentos (CCD) podem fazer por uma documentação a ser gerida. O que acaba acarretando um aumento nos custos operacionais das empresas, afinal despende-se em recursos (humanos, tecnológicos e em espaços) tanto físicos quanto digitais. Guardando documentos além do tempo necessário e perdendo documentos importantes para a tomada de decisões estratégicas. Independente de se possuir ferramentas tecnológicas ou não.
Indo além: acabam ocupando espaços caros com o que, às vezes, não importa e perdendo aqueles que são verdadeiros tesouros de Patrimônio Cultural/Documental, que servem ao fortalecimento da Cultura, Identidade e Memória Institucional.

Gestores que ignoram a Gestão Documental como parte essencial dos processos organizacionais incorrem no erro básico de ingerência. Subaproveitam valor contido nas informações presentes nos documentos sob sua responsabilidade. Cuidar de informações significa cuidar de TODOS os seus suportes (sejam eles físicos ou digitais) e com toda a complexidade que cada um deles representa do ponto de vista de guarda, sigilo e acesso.

A ER Consultoria possui metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para a aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação.

Veja nosso Portfólio de Cases   e o que nossos clientes tem a dizer

_____________________
* Post revisto e atualizado em Julho/2021

**
Posts Relacionados:
Dados, Informação e Conhecimento. O que são?
Direto ao ponto: Gestão Documental e a Babel Algorítmica
Por que Ferramentas de GED não são Gestão Documental?
Gestão Documental para Racionalidade e Transparência Administrativa
Digitalização não é Solução. Entenda Porquê
Seminário Internacional: Gestão da Informação e Transparência
Porque Documento Digitalizado não é Documento Digital
A Jovem, e surpreendente, Gestão da Informação
O desafio das Soluções na Era da Informação 
Informação não processada é só ruído

***
Siga-nos:
No LinkedIn
No Pinterest

© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

Fotografia como Documento e Narrativas Possíveis

Por: Eliana Rezende*

Pare, pense e responda:
Você vai fazer uma longa viagem, somente poderá levar uma mala de mão com alguns pertences. O quê você levaria, quais objetos seriam sua escolha? O que seria fundamental?

Em 1995, a Secretaria de Saúde do Estado de New York, desativou o Sanatório Mental de Willard, em Syracuse. um edifício de arquitetura vitoriana que abriu suas portas em 1893. Antes de concluir o fechamento, o funcionário Bev Courtwright, foi incumbido de fazer uma vistoria para determinar o que poderia ser recuperado (antiguidades, mobília, etc.). Ao executá-la, o funcionário abriu a porta de um dos sótãos, e descobriu um tesouro: uma coleção de mais de 400 malas (429, mais precisamente) com pertences de antigos pacientes da instituição, datando de 1910 até fins dos anos 1960.

Craig Williams adquiriu as malas para o Museu do Estado de New York e as incorporou à Coleção Permanente da instituição. No ano de 2003 ela originou uma exposição que o fotógrafo Jon Crispin pode ver e interessou-se em documentar através de registros fotográficos tais pertences. Contar um pouco desses pacientes que, a partir de um dado momento de suas vidas foram internados e viveram ali até suas mortes. Poderiam ser trilhas para as histórias prováveis desses pacientes a partir daquilo que carregaram consigo no momento de sua internação.

A escolha deste argumento para meu post não foi aleatória. O caso aqui utilizado como mote para o post é exatamente o quê alguém que estava sendo confinado em um manicômio levaria consigo… ou quem sabe o fariam levar para uma viagem que provavelmente não teria volta.

Belíssimo sob esse aspecto, pois aponta uma certa quantidade de valores tangíveis e intangíveis e que só fazem sentido ao seu possuidor. De qualquer forma, podemos inferir possibilidades, intenções, trechos de uma história nem dita nem escrita, apenas disposta em retalhos como num caleidoscópio.

De outra parte, e não menos sedutor para mim que sou historiadora e também arquivista, é o sentido que tal documentação de cultura material pode ajudar a tecer trilhas de existências que se foram. Achei de uma criatividade sensível incrível a proposta do artista e a forma delicada com que lançou luz aos objetos para que, combinados entre si, fossem crônica do pensado e vivido por um paciente recluso devido aos fantasmas mentais que os habitavam.

São imagens fortes, apesar do ensaio ter um quê muito sensível.
Olhar por essas frestas das histórias por trás dessas malas e de seus pertences, saber sobre seus pacientes, seus nomes e histórias pregressas é mesmo uma experiência muito forte e cheia de significados.

Quando pensamos no caso de pacientes de manicômios desse período podemos de fato encontrar historias de pessoas que foram deixadas ali por abandono ou ganância. Era comum pessoas sãs serem entregues a essas instituições por seus familiares, como forma de mantê-las reclusas.
Mas há também aqueles que, de fato, tinham do seu passado apenas sua mala. Suas memórias (bem mais precioso que podemos ter) já haviam sido perdidas.

Além disso, a fotografia, para mim, também tem um sentido muito especial.

Sou historiadora, conservadora e restauradora de fotografias dos séculos XIX e XX.
E como historiadora, lido muito com as memórias das pessoas e sei o quanto objetos pessoais são elementos de ligação com uma trajetória, um passado, uma vida. Despertam sentimentos e emoções que muitas vezes não cabem entre duas linhas. São carregadas de sentimentos e portam como poucas coisas aquilo que é precioso para cada um.

E é nesse sentido que o ensaio fotográfico é tão forte.
Somos alçados a estas vidas através de seus pertences pessoais. As malas são por assim dizer metáforas de vidas vividas que se foram, sobram como repositório de vestígios, pistas de um passado diverso.
É como se nós próprios estivéssemos embarcando em uma longa viagem.

Lógico está que esta viagem dependerá de onde partimos, com qual olhar, e com quais inquietações. Por isso a diferença do olhar do historiador, do escritor de ficção, ou mesmo de um psicólogo verá de maneira diferente do que um jornalista olhando para os mesmos objetos.
O fundamental é termos a dimensão exata do que este ensaio revela: a humanidade vivida e experienciada deixada nesses pequenos vestígios.

Através do singelo olhar do fotógrafo, foi-nos possível conhecer o conjunto de objetos, e descobrir neles indícios e links da vida vivida e sentida desses pacientes. Seu ensaio fotográfico tornou-se, pelo seu conjunto, uma narrativa.

Convido-os a vir comigo e ver o resultado desse ensaio. Preparei uma apresentação para que tenham a oportunidade de perscrutar algumas dessas muitas vidas e seus fragmentos:

[slideshare id=33919125&doc=willardasylumsuitcases1-140424183413-phpapp02]

Conheça mais o projeto e seu idealizador clicando aqui:

Na área de História chamamos de Cultura Material o trabalho de ver nesses objetos pequenas notas de existências e pequenos trechos de possíveis longas histórias.
Da reunião desses objetos tem-se uma micro-história.
Os objetos assim, possuem uma biografia, uma trajetória que o insere em um determinado contexto.

São como pontos que tecem um fio… cada fio conta uma história.

Como destaco em um artigo que escrevi sobre a fotografia e cultura material, que você pode ler na íntegra aqui, de onde o trecho abaixo foi tirado:

“Seria bom frisar que, no caso do documento fotográfico, temos sempre um objeto único e, portanto, com características muito peculiares. No entanto, se tecermos a rede das tramas que nos trouxeram a estes objetos, sozinhos ou em coleções, chegaremos a horizontes mas amplos.” (Rezende, 2007)

Lidar com tais documentos tridimensionais requereu por parte do fotógrafo um cuidado extremo, e mais do que tudo: apoio interdisciplinar de profissionais de várias áreas. Acompanhe um vídeo produzido para mostrar como foi o trabalho de produção do ensaio fotográfico:

[vimeo 29772611 w=640 h=360]

Todo esse trabalho feito pelo museu de identificar cada um dos pacientes e suas respectivas malas podem ser conhecidos, eis o link.
Gostaria que percebessem porque a História é algo tão fascinante para mim.
Na realidade, tais fragmentos abrem janelas de possibilidades que fornecem pontes de acesso, elos que ligam a um outro tempo. Sem estes toda a leitura do conjunto ficaria dificultada.

Ao fotografar tais objetos, o fotógrafo nos direciona o olhar. Fragmenta e enfoca o tema para fixarmos nossa atenção. Depois desse momento, todas as leituras são possíveis a partir do repertório, interesses e indagações de cada um.
Um historiador olhará de forma diferente que um autor ficcional, por exemplo. Cada um lançará viés próprio.

As imagens nos remetem a uma certa intimidade de um tempo e de determinadas histórias que estavam perdendo suas referências, identidades e memórias. Confinadas num espaço de reclusão podem ser alcançadas pelos rastros e vestígios que deixaram e que traziam de uma vida pregressa, que teve que ficar do lado de fora dos muros de sua reclusão.
Muitos deles deixaram suas vidas ali mesmo na instituição.
Nunca mais retornaram às suas origens.

Por serem registros tomados com sensibilidade nos trazem uma beleza quase roubada de uma existência que se foi. Uma história que passou.

O projeto do fotógrafo de fato nos permite caminhar por esse horizonte de análise de documentos e o qual convencionamos chamar de Cultura Material. Lógico que aqui não é uma aula, mas é um meio de conhecerem um pouco outras formas e fontes documentais que servem à pesquisa e à organização documental.

Percebam como ‘documento’ é uma categoria muito mais ampla do que simplesmente a que o senso comum costuma imaginar?

E, ao término, uso este post para indicar-lhes como se faz um trabalho de curadoria. Não apenas no que tange ao trabalho do fotógrafo e curadores da exposição no museu, mas para o meu próprio caso.
Notem que aqui vocês tem exemplificado como se realiza a curadoria de conteúdos. Tão em voga enquanto produto, mas muito longe de ser feito corretamente.
Espero ter podido mostrar como a curadoria de conteúdos acontece de acordo com a metodologia que indiquei em outro post, intitulado “Curadoria de Conteúdos: O que é? Quem faz? Como faz?”

Além disso, contribuiu para toda a construção do conteúdo e mesmo do ensaio fotográfico algo fundamental a qualquer profissional: saber usar a empatia. Sem ela provavelmente você não teria terminado a leitura deste post.

Encerrando, gostaria de saber:
“Conseguiu decidir o que tua mala conteria?
Que pistas deixaria para investigações e elucubrações futuras?
O que teus vestígios revelariam?
Qual seria a narrativa que tua mala possibilitaria?”

E de tudo o que viu? Qual a sua narrativa?

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor de tratar acervos documentais que possam compor patrimônio cultural documental, dentre eles Projetos de Preservação e Conservação Documental e Fotográfica.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

*
Este post é uma versão revisada e atualizada da versão publicada originalmente no Blog Pensados a Tinta sob o título: “Como se constrói uma Narrativa Fotográfica?

___________________
Referências:

Ginzburg, Carlo. “Mitos, Emblemas e Sinais – Morfologia e História“. São Paulo, Companhia das Letras, 1986.
Meneses, Ulpiano T. Bezerra de. “Memória e Cultura Material: Documentos Pessoais no Espaço Público”.
Meneses, Ulpiano T. Bezerra de. “A cultura material no estudo das sociedades antigas“.
Rede, Marcelo. “Estudos de cultura material: uma vertente francesa“.
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Construindo imagens, fazendo clichês: fotógrafos pela cidade“.
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Um Ensaio de Ego-História

Créditos:
Todas as imagens aqui apresentadas são de direitos autorais do fotógrafo Jon Crispin

_______________
Posts relacionados:
Curadoria de Conteúdos: O que é? Quem faz? Como faz?
Memória Institucional: ferramenta de Gestão Estratégica
Uso de tecnologias como Política de Preservação de Patrimônio Cultural
KODAK: uma história de derrocada ou de longevidade?
Empáticos e gentis: para quê?
Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de cidadania
Memórias Digitais em busca da Eternidade 
Informação não processada é só ruído

* * Conheça:

Mais imagens podem ser vistas aqui:
© 2021 ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).