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Entenda o que são os Acervos Privados da Presidência da República

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Um tema que por muito tempo esteve quase que adormecido ganhou notoriedade a partir do escândalo das joias cravejadas em brilhantes que se tornaram conhecidas a partir de investigação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Nunca em toda a História da República um valor tão vultuoso teria sido dado como “presente” a um Presidente.

Em pouquíssimo tempo muitas dúvidas surgiram: afinal, o que são estes acervos? O que diz a legislação federal tem a dizer sobre o tema? Como a bibliografia técnica entende tais Acervos Privados da Presidência da República? Qual a diferença entre este e outros tipos de Acervo? Por que eles precisam ser denominados como Acervos Privados da Presidência da República e não simplesmente Arquivos ou Acervos? Quais são suas características e especificidades? Que relação existe entre tais Acervos e a Preservação e Conservação de Patrimônio Cultural Documental?

Vejamos:

Em períodos anteriores aos anos de 1980 já havia preocupação em relação ao destino de acervos que pertencessem aos então Presidentes da República, mas não havia uma legislação regulamentadora. Os acervos eram compostos em sua maioria por correspondências, registros fotográficos, sonoros, audiovisuais, entre outros.

Um pouco antes, ainda em princípios da década 1970, o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas é criado com o objetivo de tratar acervos pessoais de personalidades.
Por este princípio e por um trabalho reconhecidamente metodológico de tratamento de acervos, foram convidados a participar do Projeto “Memória do Governo Sarney”, que havia sido Presidente da República no período entre 1985-1990. Diante desta situação foi formado um grupo específico para estudar as especificidades destes Acervos e as formas de tratá-lo e divulgá-lo, ao mesmo tempo em que se cuidaria de sua preservação e conservação.
Um dos produtos deste trabalho pode ser consultado na base de dados existente ainda hoje no Centro de Referência de Acervos Presidenciais que contam com acervos dos ex-Presidentes Manuel Deodoro da Fonseca (1889-1891) até o José Sarney (1985-1990).

Do ponto de vista jurídico porém, outras necessidades se impunham. E assim, duas normativas dos Acervos Privados da Presidência da República foram elaboradas. A 1ª é a Lei nº 8.394, de 30 de dezembro de 1991, assinada pelo então presidente Fernando Collor de Melo e que dispunha sobre a preservação, organização e proteção dos acervos documentais privados dos presidentes da República e a sua regulamentação, por meio do Decreto nº 4.344, de 26 de agosto de 2002, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Por falta de uma normatização mais específica em relação a valores e tipos de presentes ofertados, a Lei de 1991 e o Decreto de 2002 foram sendo utilizadas pelos Presidentes que as sucederam dentre eles Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (1º mandato).

Apesar da Lei e do Decreto ainda existiam algumas brechas que necessitavam ser melhor normatizadas, em especial no que concernia a valores e tipos de presentes que deveriam ser considerados privados e quais deveriam ser incorporados ao Patrimônio Nacional.
O primeiro momento em que o questionamento se tornou uma necessidade de regramento destes acervos quando estes foram alvo de litigio em 2016, devido à operação Lava Jato, e em função do questionamento do que deveria ser considerado presente pessoal do presidente e o que deveria ser incorporado ao Patrimônio da Nação, estabeleceu-se o chamado Acórdão/TCU nº 2255/2016.
Por este instrumento ficou determinado que os presentes recebidos em missões oficiais não seriam de caráter particular do Presidente, mas sim deveriam ser incorporados ao Estado Brasileiro, não sendo permitido ao mandatários que estes bens fossem tomados como pessoais. Na mesma ocasião, ficou determinado que estudos mais aprofundados fossem feitos, já que haviam poucos estudos sobre como tratar tais acervos e suas peculiaridades.
Ficou também decidido que poderiam ser considerados presentes personalíssimos itens como: camisetas de clube, bonés, bebida típica, um bordado, etc. Ou seja, algo de valor muito baixo e que fosse de uso exclusivo e pessoal.

Em síntese, o que tínhamos até o ano de 2016 as únicas regras claras que existiam sobre o que deveria ser considerado patrimônio da nação eram os presentem recebidos em cerimônias oficiais de troca de presentes entre nações. Com o Acórdão citado acima as regras ficaram muito mais claras, e a partir delas presentes recebidos por Lula e Dilma que não estavam dentro deste recorte legal foram incorporados ao Patrimônio da União.

Seguindo o Acórdão do TCU o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 9.037 itens nos seus primeiros 2 mandatos (2003-2010) e teve que incorporar ao Patrimônio da União 559 presentes. A lista contendo fotografias destes presentes pode ser vista aqui

Dilma devolveu 144 presentes. Nos dois casos os presentes não encontrados foram ressarcidos em dinheiro.

É importante ressaltar que mesmo estando com os ex-presidentes os presentes estavam devidamente registrados no INFOAP (Sistema de Gestão de Acervos Privados da Presidência da República).
Nos dois casos houve a devolução e/ou reembolso nos casos de objetos não localizados, já que os dois mandatos foram exercidos antes do Acórdão de 2016 e haviam obedecido as regras da lei de 2002.

A Teoria Arquivística aplicada à Acervos Privados da Presidência da República

Ao falarmos de acervos precisamos compreender de que forma a teoria arquivística os trata. Consideramos, de acordo com o Dicionário Arquivístico, um Acervo aquela documentação que é originária da acumulação no desempenho de funções administrativas desempenhadas em um cargo público. O acervo está intimamente relacionado às funções que o mandante desempenha e por meio delas pode-se ter acesso à História desta instituição. Tais documentos são considerados assim não porque nascem para ser patrimônio ou documentos históricos, mas sim para cumprir seu papel em uma função pública.
Entretanto, quando pensamos em acervos privados da Presidência da República encontramos algumas dificuldades técnicas:

1. Em primeiro lugar, temos a distinção entre o que seja público e privado e os documentos produzidos nesta seara que seja de interesse público. Afinal, temos um ente físico desempenhando uma função pública, e portanto, vários itens que fazem parte de seu acervo podem ter características ora privadas, ora públicas dependendo de ocasiões específicas.

2. De outra sorte, os Acervos Privados da Presidência da República não representam uma coleção no seu sentido estrito, já que seu acúmulo e/ou reunião de documentos que os compõe não se dão por escolha direta de seu titular. Sua coleção é orgânica, mas nem sempre representa os critérios de seleção de seu titular.
Em geral, as coleções quando organizadas pelos seus próprios acumuladores possui uma lógica específica que se dá por interesses pessoais de seus possuidores. Neste sentido, elas espelham fielmente o que pensa e o que protagoniza seu acumulador. No caso analisado aqui não é uma coleção no seu sentido estrito já que cada documento chega de diferentes formas e por diferentes razões. Simplesmente são incorporados de uma forma cronológica a partir de visitas, cerimônias e encontros protocolares.

3. Ainda é preciso deixar claro que em relação aos documentos que chegam a ser incorporados nestes acervos não se pode dizer que sejam exclusivamente documentos arquivisticos, nem tão pouco podem ser considerados pessoais. Tais documentos possuem um caráter muito mais político e diplomático e seus suportes e significados deixam isso muito claro, especialmente pelos que ofertam os presentes. Muitos destes presentes são formas de demonstrar amizade ou divulgar a cultura de quem visita ou é visitado.

4. Tanto por sua forma como por seu acúmulo tais acervos estão longe de ser considerados acervos pessoais, já que para este caso específico há uma profunda e objetiva intencionalidade de seu proprietário em reunir, ter e manter determinados documentos em detrimento de outros. No caso de documentos pertencentes ao acervo privado da presidência não há esta possibilidade de seleção e escolha.
A forma de organização NUNCA é pessoal, como ocorre com arquivos pessoais onde o pensamento do seu titular fica espelhado em suas preferências por determinados documentos. No caso de Acervos Privados da Presidência da República é muito mais usual que a organização se dê de forma rotineira por servidores destacados burocraticamente para fazer tais tarefas. Esta organização obedecerá, de acordo com os servidores destacados perfis diversos que podem ser bibliográficos, museológicos, arquivisticos e/ou históricos.
A organização destes acervos acaba sendo cronológica e não consegue ser fechada como é de praxe em fundos arquivisticos. Alguns princípios da arquivística, biblioteconomia e museologia serão respeitados em sua organização, mas não em sua totalidade por conta da forma como estes documentos em diversos suportes dão entrada ao acervo.

5. Outra característica que diferencia estes Acervos Privados da Presidência da República de outros tipos de documentos arquivisticos é seu uso como sendo elemento de prova. Por tratar-se de um acervo específico como o da presidências ele provavelmente não estará inserido nesta modalidade de servir de prova, já que haverão outros documentos na Administração Pública que poderão oferecer tais subsídios e com muito mais riqueza de detalhes.

É preciso lembrarmos que a Constituição de 1988 esclarece em detalhes como se deve proceder sua guarda, sigilo e acesso com fins de preservação de memória e como forma de produção de conhecimento por meio de pesquisa, com documentos que denomino tridimensionais – que abarcam todo o conjunto do acervo do Palácio do Planalto que vai desde sua arquitetura e estruturas até suas tapeçarias, mobiliários, obras de arte diversas, paisagismo e jardins – as especificações não são tão pormenorizadas, e podem levar à pratica de erros como os que a reportagem acima revelou. Se os habitantes do Planalto não possuem sensibilidade e algum nível de respeito à coisa pública teremos tais problemas.

Os chamados Acervos Privados da Presidência da República possui uma equipe técnica e fixa que se responsabiliza por catalogar os diferentes documentos que passam a fazer parte do acervo desde o momento que o Presidente é empossado. Mas ao deixar a Presidência tais documentos não são considerados plenamente seus ou privados. Por possuírem interesse público e poderem ser utilizados para fins de pesquisa não podem ser vendidos sem antes ser oferecidos à União e nem podem ser remetidos para fora do país sem a autorização do Estado Brasileiro. Por estarem inseridos na Administração Pública, devem obedecer criteriosamente aspectos determinados em metodologias de acervos arquivisticos, bibliográficos e museológicos de acordo com seus suportes e obedecer rigorosamente os termos que se relacionam a tombamentos e descrição de objetos de arte quando for o caso (lembrando que há casos de telas, tapeçarias, vasos, pratarias entre outros objetos considerados obras de arte).

Por tudo isso, ex-presidentes criam Fundações ou Institutos para que tais acervos continuem a ser cuidados e acessados. Além disso, são eles que devem arcar com as custas de preservação, conservação e tratamento técnico documental destes acervos.

A Lei nº8.394, de 30 de dezembro de 1991 é a que disciplinou num primeiro momento os “Acervos Privados da Presidência da República” e que posteriormente teve o Decreto publicado em 2002 e o Acórdão citado acima pelo TCU em 2016

O texto da Lei nº8.394 deixa claro quais devem ser as ações e responsabilidades destes acervos como se nota a seguir:

Art. 5° O sistema dos acervos documentais privados dos presidentes da República terá participação do Arquivo Nacional, Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC), Museu da República, Biblioteca Nacional, Secretaria de Documentação Histórica do Presidente da República e, mediante acordo, de outras entidades públicas e pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que detenham ou tratem de acervos documentais presidenciais.

        Art. 6° O sistema de acervos documentais privados dos presidentes da República, através de seus participantes, terá como objetivo:

        I – preservar a memória presidencial como um todo num conjunto integrado, compreendendo os acervos privados arquivísticos, bibliográficos e museológicos;

        II – coordenar, no que diz respeito às tarefas de preservação, conservação, organização e acesso aos acervos presidenciais privados, as ações dos órgãos públicos de documentação e articulá-los com entidades privadas que detenham ou tratem de tais acervos;

        III – manter referencial único de informação, capaz de fornecer ao cidadão, de maneira uniforme e sistemática, a possibilidade de localizar, de ter acesso e de utilizar os documentos, onde quer que estejam guardados, seja em entidades públicas, em instituições privadas ou com particulares, tanto na capital federal como na região de origem do Presidente ou nas demais regiões do País.

        IV – propor metodologia, técnicas e tecnologias para identificação, referência, preservação, conservação, organização e difusão da documentação presidencial privada; e

        V – conceituar e compatibilizar as informações referentes à documentação dos acervos privados presidenciais aos documentos arquivísticos, bibliográficos e museológicos de caráter público.

LEI NO 8.394, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1991 – QUE DISPÕE SOBRE A PRESERVAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E PROTEÇÃO DOS ACERVOS DOCUMENTAIS PRIVADOS DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA E DÁ PROVIDÊNCIAS

E foi a partir disso que, tanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como Luís Inácio Lula da Silva, instituíram Fundações que pudessem cuidar de todos estes conjuntos de documentos.

Acompanhe abaixo como cada um dos ex-presidentes lidou com seus acervos:

Abaixo, a própria fala do ex-presidente FHC sobre seu Instituto>

(…) Nasceu assim a ideia de fundar um instituto. Quis que ele fosse não só um centro de memória histórica, mas também um lugar de debates sobre a democracia e o desenvolvimento. Duas causas com as quais estive envolvido desde muito cedo. Desempenhando um ou outro papel, sua missão para mim seria uma só: contribuir para ampliar a compreensão e disseminar conhecimento sobre o País e seus desafios, com os olhos abertos para o mundo.
Inaugurado em maio de 2004, com um debate internacional que reuniu políticos e intelectuais do Brasil e do exterior, entre eles, Bill Clinton e Manuel Castells, o Instituto transformou-se em Fundação em 2010. O objetivo da mudança foi o de fortalecer o iFHC – hoje chamado Fundação FHC, como instituição perene, comprometida com a missão definida em sua origem(…)

FHC

Abaixo, temos as explicações sobre o Instituto Lula que abriga o Acervo do Presidente de seus dois primeiros mandatos, e que provavelmente abrigará o deste terceiro mandato:

“(…) O Instituto Lula tem a responsabilidade de cuidar do acervo que deixou Brasília junto com Lula em 2011, e o faz com toda transparência. São milhares de cartas, livros, CDs, fitas, quadros, gravuras, fotografias, álbuns, DVDs, presentes de altas autoridades, instituições, empresas e populares, assim como prêmios, condecorações e títulos que Lula recebeu. Todo esse material está catalogado, embalado e armazenado. Neste link você pode consultar todos os objetos do acervo. (…)”

No ano de 2021 foi assinada uma Resolução que dispôs sobre os Acervos Documentais Privados da Comissão Memória dos Presidentes da República e que segue como publicado em 09 de Dezembro de 2021, e que tenho certeza que após tudo o que ocorreu no caso dos diamantes será amplamente revisada e devida esclarecida.

O que continua sendo claro é o compromisso de que os documentos em diferentes suportes são de responsabilidade do setor de Memória da Presidência da República nos casos de acervos que serão incorporados à Nação e no casos dos documentos que compõe o Acervo Privado do Presidente da República deverão ter garantida sua segurança, preservação, conservação, tratamento técnico documental (higienização, descrição, indexação, digitalização, manuseio e acesso), eventualmente trabalhos de exposição e divulgação como forma de divulgar e preservar a Memória do Executivo.
Mesmo os documentos que por ventura sejam indexados em bases digitais ou que existam em tais formatos deverão ter garantidos aspectos relacionados à sua preservação digital e garantias de acesso. Lembrando que tais documentos possuem valor permanente e compõe o conjunto de documentação histórica do país.

A importância destes acervos e do cabedal necessário para tratar de todo este conjunto favorece a solicitação de profissionais técnicos qualificados para tratar adequadamente cada um destes acervos nos seus diferentes suportes. O que deixa claro a necessidade de uma equipe interdisciplinar.

A preservação de Patrimônio Cultural Documental e a Responsabilidade Histórica como forma de garantir fortalecimento da Memória do Executivo

Todo este debate sobre a importância dos Acervos Privados da Presidência da República serve para demonstrar de que forma a Administração Pública e a guarda documental necessitam de regras e procedimentos para que possam cumprir suas funções.
Se para a Administração Pública como um todo, temos a Gestão Documental e a elaboração de Tabelas de Temporalidade Documental instituindo prazos e locais de guarda, o caso dos Acervos Privados da Presidência da República necessitam de uma outra forma de regramento.

Conforme citei no artigo “Abandono e/ou Destruição de Patrimônio Cultural e Arquitetônico é crime!”

Diante tudo isso, e como forma de auxiliar tais chefes de Estado, há a previsão de destino de verbas para a realização de obras de preservação, conservação e até restauração tanto de obras arquitetônicas, quanto de peças de arte, mobiliários, paisagísticos.
Mas tudo isso simplesmente não se efetiva se as pessoas que tem sob sua responsabilidade esta tarefa não estejam sensibilizadas suficientemente e compreendam que cuidar da preservação, conservação e até restauração de um acervo tão rico e plural deve fazer parte de uma política de cultura da preservação de patrimônio, atendendo de perto ao que seja minha concepção de Responsabilidade Histórica.
É esta consciência de que o Presidente da República é o responsável direto a imprimir e propiciar que tais cuidados se efetivem e que isso seja parte de sua política cultural, já que estará cuidando de um legado que é de todos e que precisa ser entregue ao futuro. Daí a aplicação do conceito de Responsabilidade Histórica.

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Como dito acima, estes acervos possuem peculiaridades e é muito importante que apesar de haver Decretos e Acórdãos regulamentando, é essencial que haja profissionais que compreendam tais especificidades e consigam tratar toda a gama de documentos, muitos dos quais em formatos diversos, com necessidades específicas de higienização, identificação, catalogação, indexação e guarda com vistas à preservação (já que estes documentos possuem valor permanente, ou seja, NUNCA poderão ser eliminados). Tais Acervos Privados da Presidência da República se assemelham muito à concepção de Centros de Documentação e/ou Referencia, dada a similaridade de sua acumulação, bem como sua diversidade de temas e suportes, exigindo profissionais de áreas tão distintas como História, Diplomacia, Biblioteconomia, Arquivística, Museologia para ficar em apenas algumas áreas.

Por isso, FHC e Lula optaram para criar instituições, e que nelas pudessem abrigar os diferentes acervos e profissionais capacitados trabalhando na sua guarda e custódia. Além de trabalhar especialmente com divulgação das informações contidas nestes acervos,. FHC por seu perfil acadêmico colocou sua Fundação num âmbito bastante acadêmico e de formação. Lula por estar muito ligado à Movimentos Sociais tem um Instituto que trabalha muito próximo destes setores.

Cabe ressaltar que nos dois casos o tratamento técnico documental é realizado e toda a documentação obedece os termos de preservação e conservação dos documentos com esta importância. Mas nem por isso, necessitam ser idênticos em sua forma. Como mostrado nos vídeos acima, cada um deles encontrou uma forma de cumprir o que a legislação determina. Tal como ocorre com Centros de Documentação e/ou Memória não existe uma ÚNICA fórmula a ser usada. Cada equipe deverá encontrar a melhor forma de tratar a documentação e dar a ela sentido de acordo com seu titular presidencial e ao mesmo tempo encontrar maneiras de divulgar estes acervos ao mesmo tempo em que cuida de sua preservação e conservação.

É importante deixar muito claro que o compromisso de preservação e conservação de acervos envolve não apenas os presentes recebidos pelos Presidentes da República no desempenho de suas funções. A eles cabem também o cuidado com todo o conjunto composto pelo Palácio do Planalto, Palácio do Alvorada e todas as obras de arte e mesmo a parte arquitetônica destas edificações. Ainda no artigo “Abandono e/ou Destruição de Patrimônio Cultural e Arquitetônico é crime!” abordei esta questão e os maus tratos sofridos por tais obras arquitetônicas e muitas de suas obras durante o governo Jair Bolsonaro (2019-2022), e que tal descaso pode ser considerado crime e falta do cuidado com o que denomino Responsabilidade Histórica e como esta se mantém quando a Memória Institucional se fortalece a partir do conjunto de informações trazidas pelo conjunto de documentos presidenciais.

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** Referencias:
ABREU, A. A. Apresentação. In: SILVA, S. B. Os presidentes da república: guia de acervos privados. Rio de Janeiro: FGV, 1989.
ARQUIVO NACIONAL. Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.
BELLOTTO, H. L. Arquivos permanentes: tratamento documental. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006
BRASIL. Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras Providências. Diário Oficial da União, Brasília, 9 jan. 1991a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8159.htm. Acesso em 15/03/2023
BRASIL. Decreto nº 4.344, de 26 de agosto de 2002. Regulamenta a Lei no 8.394, de 30 de dezembro de 1991, que dispõe sobre a preservação, organização e proteção dos acervos documentais privados dos presidentes da República, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 27 ago. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4344.htm.Acesso em 15/03/2023
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 2255/2016. Plenário. Relator: Walton Alencar Rodrigues. Sessão de 31 ago. 2016. Disponível em: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wpcontent/uploads/sites/41/2016/09/52_OUT4-TCU-TRALHAS-LULA.pdf. Acesso 15/03/2023
CRUZ, B. S.; BEZERRA, M. FHC na defesa de Lula: “cuidar de acervo é obrigação, mas
não há dinheiro”. 2017. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/02/09/fhc-na-defesa-de-lula-cuidar-de-acervo-e-obrigacao-mas-nao-ha-dinheiro.htm . Acesso em 15/03/2023
RODRIGUES, Georgete Medleg e LOPES, Bruna Pimentel. “Os acervos privados de presidentes da República no Brasil: entre as noções de propriedade privada e de interesse público” In: InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 10, n.1, p. 64-80, mar./ago. 2019 – DOI: 10.11606/issn.2178-2075.v10i1p 64-80

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Entenda a diferença entre Imagem, Identidade e Memória Institucional

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Alguma vez parou para pensar o que são: Imagem, Identidade e Memória Institucionais? E, como esse entendimento pode alavancar o ROI (Retorno Sobre Investimento) e a produtividade da sua instituição, ao mesmo tempo que a Cultura e Identidade Organizacional ficam ainda mais fortes?

Várias definições são possíveis, mas escolho aquelas que auxiliam numa síntese:

Se tomarmos a definição que os dicionários dão, Imagem seria o “aspecto particular pelo qual um ser ou um objeto é percebido“.
Imagem aplicada ao universo institucional seria a forma como as pessoas veem e/ou percebem a organização e tem como característica principal ser intangível. A Imagem é, portanto, subjetiva, exterior à organização.
A Imagem possui um sentido que lhe é exterior: projeta-se ao olhar externo.
É também a forma como a instituição se mostra publicamente, e pode ser vista nas suas escolhas de ‘logotipos’, marcas, rótulos, serviços, folhetos, uniformes e até produtos, entre outras coisas.
É sua exteriorização, exposta como em uma vitrine para consumo externo.
Em síntese: é todo seu patrimônio visual dado como informação para que o público forme sua opinião a respeito dela.

A Identidade é, segundo os mesmos dicionários o “conjunto de características que distinguem uma pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível individualizá-la“. Aplicado ao universo institucional é aquilo que individualiza e torna única uma organização.
Identidade é o que de fato a organização é e faz, é tangível neste sentido.
A Identidade é a essência da instituição. É o que ela é. Nem sempre se projeta na forma de produtos, mas é o que serve de base para suas linhas de ação, objetivos, missão, valores.

Imagem e Identidade podem confundir-se já que uma mesma empresa com sua identidade pode ter aos olhos do público diferentes imagens. Um exemplo muito interessante pode ser uma empresa fabricante de cigarros que possui uma mesma estrutura (identidade), entretanto, possui diferentes imagens se observada por diferentes públicos: fumantes, não fumantes e organizações anti-tabagismo. O mercado está repleto de exemplos de empresas que sofrerão influências positivas ou negativas de acordo como diferentes públicos as vejam e percebam.

Podemos portanto, afirmar que a existência de uma instituição se dá pelo tripé: o que diz sobre si, o que faz e o que outros dizem e/ou acham dela. Desta forma, as instituições possuem uma complexidade dada por aspectos tangíveis e intangíveis, objetivos e subjetivos, exteriores e interiores, construídos e constituídos. O sucesso em conseguir ter e manter uma boa imagem dependerá em grande parte da capacidade de ter e manter uma profunda identidade vincada a partir de sua essência. Sem ela, não se configurará como tendo força suficiente para imprimir uma marca na Cultura Organizacional.
Estará suscetível a ver, na passagem do Tempo, seu esfacelamento ou seu total desvirtuamento.

Mas, e a Memória Institucional?
A Memória Institucional é a forma como a instituição se vê e se projeta, só que no Tempo (ou seja, através de sua História). Diferente de Imagem e Identidade que estão sempre muito focadas no tempo presente.
A partir de uma Identidade bem vincada, a Memória Institucional se alternará com o Tempo e se modificará a partir de demandas do presente, exigências do futuro e das relações desta instituição com seu meio social, cultural, político, econômico. A gama de todas estas variáveis é dada pelo que chamamos de Cultura Organizacional. Algo profundo que permeia ações, modos de estar e se relacionar.

A Cultura Organizacional inclui as expectativas da organização, suas experiências, sua filosofia e os valores que a mantém unida, e é expressa na sua autoimagem, seu funcionamento interno, as interações com o mundo exterior, e suas expectativas futuras. É única para cada organização. E exatamente por esta exclusividade específica é uma das coisas mais difíceis de se alterar e/ou modificar. Mas é absolutamente possível cultivá-la, exatamente pela valorização de seu Patrimônio Cultural, Intelectual e Documental. E devido a isso, dependerá em grande parte de uma sensibilidade e inteligência histórica por parte dos seus gestores. Será tal inteligência que fará com que saibam dar o devido valor para a identidade que a sua instituição tem e de que forma sua preocupação em investir em sua Memória Institucional e Cultura Organizacional será fundamental para garantir que a instituição vença o Tempo e permaneça.

Desta forma, toda a produção institucional, na forma de documentos, informações, ativos, equipamentos, tecnologias que ajudam a vincar e fortalecer esta Identidade e Cultura Organizacional, são o que chamamos Patrimônio Institucional. Ainda podem ser incluídos nesta conta o Patrimônio Intelectual, formado por pessoas que através de suas ações e trabalhos ajudaram a construir e constituir a Identidade Institucional.

Mas cuidado: Memória Institucional não se resume à memória de guarda documental ou coleção de curiosidades e historias peculiares. Acreditar e praticar isso significa absolutamente não compreender o que seja este trabalho que necessita e muito do diálogo interdisciplinar e com práticas metodológicas muito específicas. Não há receitas prontas e usar fórmulas de terceiros não trará o que de fato se espera de todo este trabalho.
É preciso cuidado e muito rigor teórico e metodológico de áreas interdisciplinares (História, Arquivologia, Patrimônio, Gestão de Conhecimento, Comunicação, Relações Institucionais, Psicologia, Antropologia, Administração, entre outras) como demonstrei acima e em diferentes artigos.

Como fortalecer a Identidade Institucional ao mesmo tempo em que se preserva a Memória Institucional?

Fortalecer a Identidade Institucional por meio de um Projeto de Memória significa fixar, divulgar e preservar a História da instituição ao mesmo tempo em que se reúne, organiza e disponibilizam fontes e informações contidas em seus documentos, armazenados em diferentes suportes (fotografias, filmes, áudios, textos, mesmo seus produtos, entre outros).

Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos da evolução da instituição no tempo e no espaço.
É a História viva que se constitui dia-a-dia.

A quem serve um Projeto de Memória Institucional?

A todas as instituições que, além de possuir um acervo documental de referência e memória, reconheçam seu potencial de fortalecer a identidade institucional, valorizar o capital intelectual e consolidar a cultura organizacional.
Sendo por isso importante veículo de comunicação corporativa para os públicos interno e externo.
Mais do que isso: um projeto assim construído e com tais perspectivas assegurará que a Instituição imprima indelevelmente sua marca na sociedade onde está inserida e possa ser referência em seus campos de atuação.

Ações de um Projeto de Memória Institucional e como a ER Consultoria pode auxiliá-lo:

  • Como pensar e estruturar um Projeto de Memória Institucional
  • Definir quais caminhos seguir
  • Como ir além da simples “perfumaria” (meras exposições, linhas de tempo e livros comemorativos)
  • Como utilizar as metodologias de Storytelling e História Oral
  • Como através de um Projeto de Memória divulgar e fortalecer a imagem corporativa/institucional
  • De que forma o Projeto de Memória Institucional pode valorizar o Capital Intelectual, podendo gerar Conhecimento e Inovação

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Importância do Rigor Metodológico e Conceitual em Memória Institucional

Por: Eliana Rezende Bethancourt 

À guisa de uma introdução:

A escrita coloca a quem escreve, o desafio de ponderar palavras e elaborar conexões de sentido. Diante disso, um esclarecimento: minha fala pauta-se a partir da observação que venho fazendo em relação ao oferecimento de cursos e outras formas de capacitação e/ou consultorias que tem proliferado nas redes, até propiciada pelos recursos online aos quais temos acesso. 

Uma tempestade perfeita se formou onde de um lado, temos a tecnologia acessível, e de outro pessoas disponíveis com tempo ou recursos, querendo realizar cursos e aperfeiçoamentos, ou demandas que necessitam de uma consultoria ou assessoria técnica. Engana-se aquele que acredita que, por ser uma capacitação ou consultoria, esta deva ser desprovida de rigor, e que qualquer coisa poderia ser aceita, já que são poucas horas destinadas a ela.

Os pilares que sustentam, e que firmam toda uma carreira, assentam-se obrigatoriamente na formação teórica, acadêmica e no rigor metodológico. São pilares que prezo e persigo tanto em mim, quanto no meu trabalho, meus alunos e nos profissionais que me cercam, ou nos clientes que me procuram.

Em geral, e até por uma demanda que chamamos de coerência, este rigor Conceitual e Metodológico devem ser acompanhado por ações profissionais que os sustentem. A seriedade imposta deve ser ainda mais rigorosa quando nos dispomos a ensinar ou a desenvolver um trabalho que repercutirá numa comunidade ou organização (seja ela qual for). A docência e o profissionalismo em áreas de conhecimento técnico é um compromisso público e ético com a área em que atuamos e com aqueles com quem compartilhamos nossos conhecimentos ou experiências.

Colocando uma lupa

Como é óbvio, não é possível cobrir todas as formas de capacitações ou consultorias e assessorias técnicas em diferentes áreas. Portanto, me aterei a minha área específica de atuação acadêmica e profissional que é a Gestão de Informação e a Memória Institucional. Leitores de outras áreas podem tirar proveito do que escrevi pensando em conexões com suas áreas especificas de formação e/ou atuação.
Meu debate procura reforçar a noção de que em todas as áreas há os que se esmeram em Conceituação e Método aplicáveis à sua prática profissional. Mas há também os que consideram isso supérfluo e até desnecessário, por considerarem que o que importa é mesmo a cifra ao término e ao cabo. Para estes últimos não há a preocupação, pois consideram que os demandantes pouco sabem e por isso tanto faz.

No decurso de minha experiência, e por diferentes vezes, me defronto com cursos ou consultorias oferecidas que pecam exatamente pela falta de compromisso ético com o rigor e a qualidade do que se oferece. Em alguns casos, tais cursos ou consultorias apresentam fragilidades conceituais, técnicas, metodológicas e chegam a ser oferecidos de uma forma mercadológica, onde preços e certificados são oferecidos e suas entregas muitas vezes, à domicilio!

Consigo compreender que existam, na livre concorrência e nas leis de mercado, sistemas mercadológicos tais como os descritos acima e que também existam alguns profissionais que se submetam a isso. O que definitivamente não sou capaz de aceitar são fragilidades conceituais e muitas vezes grandes equívocos propiciados pela tábula rasa da ausência de consistência teórica e intelectual sendo oferecidas como vantagem e capacitação.

Exemplo neste sentido é a área de Gestão Documental, por excelência uma área multidisciplinar, e isto lhe dá como característica predominante a possibilidade de trocas e experiências com diferentes saberes. Mas simplesmente não pode ser confundida e colocada de uma forma como se tudo pudesse estar junto e misturado, sem um detido e aprofundado estudo dos diferentes conceitos que a compõe.

Dentre eles cito os que são mais gritantes e perceptíveis na área que atuo: Memória Institucional, Gestão Documental, Processos Híbridos (microfilmagem e digitalização) e célebres frases indevidas e erradas como: “arquivos inativos”, “arquivos mortos”, ou afirmar que Arquivo seja Memória Institucional e que GED é Gestão Documental. Usual é também considerar que Informação possa ser tomada como Conhecimento. Algo impensável, já que Conhecimento representa uma a informação processada e transformada em experiência pessoal e intrasferível.

Pode ficar ainda pior quando técnicas são confundidas, como por exemplo, não saber diferenciar storytelling, depoimento, história de vida ou entrevista e de como estes poderiam ser realizados em um Projeto de Memória Institucional.
Ou não ser capaz de entender como a Memória Institucional acaba sendo uma parte importante do que seja a Memória Social, e que esta definitivamente tem que ver com Tabelas de Temporalidade Documental, e NUNCA com colecionismo ou escolhas que compõe uma lógica que está há anos-luz de ser um Método adequado. Coloco propositalmente temas que se tocam, mas são de áreas diversas e possuem concepções teóricas e metodológicas diversas, não porque seja errada a interdisciplinaridade, mas sim a incapacidade por parte de alguns de transitar por todas estas áreas sem praticar alguns equívocos conceituais.

Infelizmente tenho visto muitos confundirem Linhas de Tempo e “relíquias institucionais” com Memória Institucional e com História.
Em outros casos, vejo Memória Institucional ser confundida com Arquivo. Apesar dos arquivos fornecerem subsídios para que se possa chegar ao que denominamos Memória Institucional, Arquivo NÃO é Memória Institucional. Assim como Memória Institucional NÃO significa uma cronologia composta a partir da produção de documentos, como querem alguns arquivistas.
Alguns usam a expressão “resgate de Memória“, como se esta fosse uma ‘entidade’ a ser buscada em alguma parte, para ser embalada e mostrada como produto. Esquecem-se ou simplesmente não sabem que a Memória é forjada no território social, que é constituída a partir da História e que esta não existe à priori: é uma construção subjetiva a partir de um determinado ponto de vista e/ou repertório, em última instância é forjada a partir de relações sociais complexas e que possuem diferentes vetores.

O “equívoco” é grave quando se supõe que a partir de escolhas realizadas por áreas de Comunicação ou Marketing se acumulem documentos e objetos para formar o que chamam de Memória Empresarial ou Museu. Cabe sempre lembrar que documentos NÃO nascem para ser isso ou aquilo. São produzidos no âmbito de FUNÇÕES desempenhadas por pessoas ou organizações e por isso, a escolha aleatória por terceiros não passa em grande parte de achismos e de reunião de objetos e coisas que poderiam bem compor um “gabinete de curiosidades”. Decidir por critérios outros que este ou aquele documento ou objeto é histórico é, em grande parte um erro que não se sustenta por rigor teórico e metodológico. Ainda que se faça esta ou aquela pesquisa denominada histórica, esta está longe de ser rigorosa. Representa apenas uma forma de maquiar e dar lastro à coleção reunida por objetos e eventuais ditos documentos.

São portanto, equívocos cometidos em série e que atinge de morte áreas como a Arquivologia e a História.
Há também equívocos que consideram que a produção de documentos arquivísticos da Administração Direta e Indireta de Órgãos Públicos são Memória Institucional, o que NÃO é real. A Memória Institucional é uma construção e não fruto apenas de Tabelas de Temporalidade (apesar destes documentos ser utilizados como fontes). Ainda dentro desta mesma esfera e no campo da Administração Pública, os documentos permanentes (que são os de valor histórico) devem cumprir seus prazos legais como tais. Poderão ser utilizados como fonte histórica, mas NUNCA ser subtraídos dos conjuntos documentais de que são parte. Aqui temos um exemplo bem acabado do seja teoria e metodologia aplicáveis à diferentes áreas e que possuem em comum um conjunto documental. Uma área NUNCA poderá prescindir da outra ou suplantá-la.

Também NÃO é Memória Institucional elaborar Linhas do Tempo ou escrever textos bonitinhos para integrar livros comemorativos ou mesmo exposições. Não é também colecionar imagens num álbum de fotos antigas, ou fazer colagens de ‘curiosidades’. Reduzir o trabalho a isso significa oferecer “perfumarias” desprovidas do que seja o verdadeiro significado da Memória Institucional. É preciso ir muito além disso. Como repito constantemente: a Memória Institucional não é um produto em si. É sim, meio para fortalecer a Identidade e Cultura Organizacional. É favorecer a produção de Conhecimento e Inovação dentro das organizações além de ser importante na valorização do Capital Intelectual nas organizações.

São tão graves esses equívocos que, colocar tais termos em cursos ou consultorias oferecidas, mostra à partida quão grave e preocupante é a qualidade do que se abordará! Quem se propuser a ir por esta seara deverá estar firmemente embasado por 4 áreas, talvez 5: Arquivologia, História, Tecnologia, Biblioteconomia e Gestão. Sendo a História a mais complexa e com maior rigor de leituras e metodologia. As demais áreas são técnicas e de aplicação. Diante disso, conceitos caros à História como Memória, Identidade, Sociedade, Cultura, etc, devem ser tratados a fundo e muito bem fundamentados. Utilizar tais conceitos sem conhecimento de causa é pelo menos uma temeridade.

Vejo a multidisciplinaridade como meio eficaz de aprendermos e nos esmerarmos com o aprendizado e nunca, nem que seja por um minuto sequer apropriar-nos de forma errada, equivocada ou despretensiosa de uma área tão grande de conhecimento.

Não aceitem ser ludibriados! Solicito que tenham atenção. Verifiquem, analisem, peçam indicação.

Um diagnóstico preliminar
A formação profissional, metodológica e técnica é algo sério e todos devemos zelar por isso! Se não souber avaliar, peça ajuda de quem saiba! Não temos que saber tudo sobre tudo, mas temos o dever de esclarecer quando houver problemas graves.

Um equívoco custa caro ao seu emitente, mas pode ser muito mais caro ao consumidor do mesmo! Exatamente por preocupar-me com os que buscam o saber é que estou me posicionando. Os discentes ou clientes muitas vezes, não possuem ferramentas para discernir, às vezes são jovens demais, inexperientes e oriundos de outras áreas. Por isso, temos que nos colocar e esclarecer quando possível quando detectamos tais problemas.

Acho que é um misto de várias coisas, em especial para os casos de cursos para que tais problemas ocorram.
De um lado, há uma busca de ter sempre na prateleira alguma coisa de consumo rápido e raso… sem grandes compromissos ou aprofundamentos. Este uso é comum, e temos casos de conteúdos ficarem ali sendo “fornecidos” por anos à fio. Já vi casos que os docentes morreram e o conteúdo permanece ali disponível. Isto em geral ocorre com modalidades em formado EaD previamente gravados, ou mais recentemente em formatos de conteúdos online. Estes obedecem uma lógica de oferecer ao maior número possível de pessoas o mínimo sobre algum tema. Com isto possuem um atrativo simples: custos módicos, certificados rápidos e a fantasia de capacitação.

Em outros casos, pode haver má fé: pessoas apropriando-se de ideias e proposições de outros e tentam costurar algo que sirva à vários “corpos”.

E numa que talvez seja a forma mais grave, que é a falta de cabedal e sustentação intelectual e conceitual que compromete a formação de outros. Considero essa a forma mais grave pois quando ensinamos estamos nos comprometendo com a ética da partilha de Conhecimento, mas este deve assentar-se de forma sólida numa formação devida. Nunca poderá ser aceitável uma pessoa que não seja de determinada área ser irresponsável de abarcar saberes que desconhece, ou que os saiba apenas de superfície. O que digo, é que não há problema algum em visitar áreas afins, beber e constituir perspectivas para atuação pessoal e profissional. Mas nunca apropriar-se indevida e equivocadamente daquilo que não sabe só como forma de tornar palatável a venda de um produto ou serviço (no caso aqui me refiro a cursos de capacitação e/ou consultorias).

Talvez o maior remédio que temos contra isso é que as pessoas aprendam a selecionar.

Creio que muitos espaços são indevidamente ocupados exatamente porque os que o deveriam fazer isso deixam as brechas.

Uma torre fortificada numa Ilha da Fantasia

Cito como exemplo, a minha área – as Ciência Humanas -, que é também território de aplicabilidade e prática e infelizmente muitos acham que só são profissionais se estiverem na academia… deixam com isso, espaços que poderiam ser seus na sociedade, em empresas e instituições, para serem ocupados por profissionais que possuem talvez boa vontade mas lhes falta consistência, aprofundamento e na maioria das vezes, leituras da formação.
Seria interessante que os profissionais se desencastelassem da academia e fossem ao mundo real atuar de forma aplicada quer ministrando capacitações, quer prestando assessorias técnicas ou consultorias!
A sociedade ganharia muito!

O fato a que me refiro é de que muitos profissionais encastelam-se em suas “fortalezas” intelectuais: produzindo apenas para seus pares e deixam de alcançar o cerne da sociedade. Mas creio que discursos esvaziam-se quando ficamos em discussões epistemológicas, conceituais ou de especialidades sem o pé na realidade. Aí o que temos é apenas, e tão somente, conteúdos que massageiam egos e inflam vaidades.

Preocupo-me muitíssimo, e aí falo dentro da minha área de atuação (sou historiadora, de graduação à pós-doc), que exista essa cisão de que o profissional de gabinete quase nunca saiu de sua zona de conforto e em muitos casos, não conhece as demandas de mercado e das instituições que não sejam as acadêmicas. Sabe pouco sobre a aplicação de tantos conhecimentos discutidos apenas na academia em um formato teórico. A metáfora que gosto de usar é a da Ilha da Fantasia. Alguns intelectuais ficam apenas dentro da academia, numa bolha que não o coloca no confronto direto com as demandas da realidade. Seria muito interessante que tais intelectuais pegassem seus barquinhos e fossem ao continente para ver o que se passa. Voltariam com outros olhares para a sua pequena ilha.

O inverso também é verdadeiro. Alguns saem da Ilha, vão ao Continente e NUNCA mais retornam à sua origem. Ou seja, afastam-se do rigor que é tão caro e necessário na Academia. Acredito sinceramente que o profissional do século XXI precisa e deve trafegar entre a ilha e o continente e saber levar de cada um o que há de melhor. Este seria o melhor dos mundos.

A História durante toda sua existência, e com especial força durante todo o século XIX, lutou para instituir-se e figurar como Área de Conhecimento. São discussões longas, cujos iniciadores não viveram para ver o final. Mas é muito importante que as aproximações feitas entre áreas diversas representem um esforço sério de embasamento teórico, metodológico e técnico (quando for o caso).

Arquivologia e Biblioteconomia iniciaram essas discussões ainda há pouco e há também as Ciências da Informação, que reivindicam um outro espaço de ocupação, o que indica uma longa e árdua discussão em campos teóricos e epistemológicos não cabíveis de fato ao espaço deste artigo.

Uma proposição
Acho que deve haver a busca do caminho do meio: há sim discussões teóricas, metodológicas e epistemológicas no universo de constituição e aplicação desses saberes, mas há também um território de aplicabilidade que não se encontra na academia e que nem por isso deva ser feito de forma pouco consistente. Um não deve servir de impedimento ao outro. A responsabilidade fica assim na mão de profissionais que devem estar inteirados, atualizados, preocupados e responsavelmente determinados a aplicar os mesmos em suas respectivas áreas de atuação.

Considero que estes equívocos ocorrem exatamente porque muitos profissionais de academia não assumem seu papel de agentes no âmbito social e fornecem as brechas para que profissionais sem muitos escrúpulos mascateiem o que deveria ser algo mais sério: que é a formação profissional. Este é um ponto que me inquieta.

Às vezes, os pesquisadores nos cursos de pós graduação (aqui refiro-me mais aos Mestrados e Doutorados) permanecem num mundo à parte e o que digo é que toda essa competência de fundo conceitual, metodológico, teórico precisa aparecer na sociedade e nos produtos oferecidos a instituições públicas e privadas e que não fiquem restritas às salas e discussões em aula. É altamente salutar fazermos isso! Em hipótese alguma sou contra a produção acadêmica e escrever e compartilhar deve ser nossa preocupação.
Não me coloco contra a realização de cursos e capacitações oferecidos em ambiente de web. Desde que os respectivos profissionais sejam responsáveis e tenham estofo intelectual, teórico e metodológico para isso. Esta responsabilidade sim, fará com que haja produção de Conhecimento. E é com ela que me preocupo e esforço todos os dias. 

É contra esse mercantilismo que me coloco!

A dica que fica é: quer aprimorar seus conhecimentos? Estude, investigue para poder saber escolher entre joio e trigo. 

Ou então:

Quino, Picasso revisitado

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Relação entre Cultura Organizacional e Memória Institucional

Por: Eliana Rezende & Lionel C. Bethancourt

O termo Cultura Organizacional é amplamente usado no mundo corporativo, mas na maior parte das vezes apenas como um chavão sem que os envolvidos definitivamente atentem para o quê de fato significa, como se relaciona com a instituição, e como esta em última instância refere-se à Memória Institucional.

O objetivo deste post é tentar esclarecer conceitualmente um e outro termo e de que forma a instituição, possuindo clareza sobre o que são, possa trabalhar para fortalecer sua Identidade.

Assim sendo, comecemos por tentar definir o que seja Cultura Organizacional.
Em primeiríssimo lugar é preciso dizer que o termo pode ser considerado polissêmico, e neste sentido possuir várias acepções. Escolho portanto, a definição que melhor esclarece, do ponto de vista de minha atuação, o mesmo.

Cultura Organizacional, são os valores e comportamentos que contribuem para o ambiente social e psicológico únicos de uma organização.

A Cultura Organizacional inclui as expectativas da organização, suas experiências, sua filosofia e os valores que a mantém unida, e é expressa na sua auto-imagem, seu funcionamento interno, as interações com o mundo exterior, e suas expectativas futuras. Baseia-se em atitudes compartilhadas, crenças, costumes e regras explicitas e tácitas que foram desenvolvidas ao longo do tempo e são consideradas válidas.

O termo Cultura Organizacional, também chamada de Cultura Corporativa, é evidente:

  1. Nos modos da organização conduzir seus negócios, tratar seus funcionários, seus clientes e a comunidade em geral;
  2. Em que medida há liberdade e é permitido a tomada de decisão, o desenvolvimento de novas ideias e a expressão pessoal;
  3. Em como o poder, e o fluxo de informações, flui através de sua hierarquia, e;
  4. No quanto os funcionários são comprometidos com os objetivos coletivos.

É fundamental pois, afeta a produtividade e o desempenho da organização, e fornece orientações sobre o atendimento ao cliente e serviço, qualidade e segurança dos produtos, atendimento e pontualidade, e preocupação com o meio ambiente, seu contexto. Mas não apenas isso, ela também se estende aos métodos de produção, marketing, práticas de publicidade, e a criação de novos produtos.

Por todas estas características, vemos que é única para cada organização. E exatamente por esta exclusividade específica é uma das coisas mais difíceis de se alterar e/ou modificar. É única porque está imbuída daquilo que chamamos a Identidade Instituição, como uma digital. Mas está lá, e a cada vez que uma instituição se “reconhece” em suas práticas e modos de atuar reforça esta Identidade.

De outro lado, a Cultura Organizacional se relaciona muito com a Memória Institucional, pois esta lhe diz e mostra os caminhos já trilhados. Mostra de onde veio e aponta sua trajetória futura a partir das escolhas realizadas no presente. É portanto, fruto de uma História construída e constituída no tempo.
Pensada desta forma, a Memória Institucional transforma-se em ferramenta de gestão estratégica para o fortalecimento da Cultura Organizacional.

Em outro artigo expliquei como a Memória Institucional é Ferramenta de Gestão Estratégica e sua importância em ser levada à sério pelos responsáveis pela Gestão Organizacional. Fazer isso, mostra que a instituição tem maturidade e age com Responsabilidade Histórica com seu legado e na herança que preserva e mantém para as gerações futuras. Em dois artigos desenvolvi esta concepção: Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de Cidadania e o outro Planejamento Estratégico e Responsabilidade Histórica. 
Diante disso, podemos deduzir que: a Cultura Organizacional, a Memória Institucional, a Gestão de informação  são fundamentais para uma boa Gestão Estratégica e se decupam, uma dentro da outra, para a empresa fazer sentido do seu contexto, produzindo em última instância Inovação e Conhecimento. Como se observa, os temas são interdisciplinares, e indicam por parte de gestores a fundamental postura de olhar flexível, inter e multidisciplinar. Sem este olhar muito se perde e pouco se constrói no tempo. Pondo em risco a manutenção da Instituição como relevante e pertencente à uma conjuntura que se perpetua pela história.

Políticas simples e rápidas que preocupam-se apenas em “poupar recursos”, atingir metas e conseguir balanço anual positivo são altamente limitadas e limitantes. Estrategicamente história institucional não se faz com planilhas. Sua construção é árdua e a perenidade não se dará apenas e tão somente por resultados econômicos positivos. Facilmente estes dados se esfacelam e NADA sobrará sobre quem de fato edificou e fundou estas organizações. A inteligência histórica destes gestores será validada pelo grau de permanência de sua Instituição no Tempo. 

Como podemos ajudar?

Se a sua organização precisa reforçar sua Cultura e Identidade Institucional e aceita o compromisso de ter Responsabilidade Histórica ao realizar isso, nos contate. Teremos imenso prazer em pensar como realizar isso a partir de um Projeto de Memória Institucional. Ao mesmo tempo, poderemos pensar em formas de zelar por seu Patrimônio Cultural/Documental.
Ao realizar isso, cuidamos da Memória Institucional garantindo que a cultura e a identidade organizacional se solidifiquem, ao mesmo tempo em que auxiliamos nas formas como a informação possa estar acessível, organizada e em locais próprios como Centros de Documentação e/ou Memória.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Planejamento Estratégico e Responsabilidade Histórica

Por: Eliana Rezende

Existem muitas definições para o quê seja Planejamento Estratégico. Estas variam de acordo com: a área de aplicação, o seu formulador e os objetivos para os quais será criado.
Escolho como definição de trabalho a que diz:

“(…) Planejamento estratégico para nossas necessidades, é um sistema de escolhas sucessivas e hierarquizadas entre alternativas que se prefiguram dentro de um universo de conhecimentos em expansão dirigida, com o propósito de racionalizar e orientar a ação com vistas à consecução de determinados fins – dadas, de um lado, certa disponibilidade estimada de recursos e, de outro, uma série, também estimada, de obstáculos” (Couto e Silva).

Em outras palavras, o Planejamento Estratégico é utilizado como ferramenta onde se pode antecipar tendências, problemas, oportunidades, diagnósticos com o objetivo de encontrar maiores e melhores soluções.
É, entre muitas ferramentas, o meio que os gestores encontram para atingir seus objetivos de forma adequada e satisfatória de acordo com um plano previamente traçado.

No âmbito de atuação no qual a ER Consultoria atua, toda instituição é vista como sendo possuidora de um ciclo de vida próprio, e que com ele há o surgimento de necessidades específicas, que variam de uma organização jovem, para uma organização madura ou para uma secular.
Há que se tentar entender como esta organização se coloca e como impacta e é impactada pelos ecossistemas (tanto contextos internos quanto externos) à sua volta.
Em comum, todas tem que zelar pela qualidade das informações produzidas e as formas como são armazenadas.

Podemos afirmar que as organizações podem ser divididas em pelo menos três ciclos de existência:

  1. Jovem: que coincide com seu momento de surgimento. Definições estratégicas sobre o que é, a quem serve, alcance, âmbito de atuação, e concorrência são fundamentais para dar-lhe um perfil. É neste momento, e sob a ótica da Informação, que a organização necessita estabelecer critérios sobre o quê preservar, para quê e com quê finalidade e que faz parte da principal definição do que seja Gestão Documental nas organizações.
    É neste momento que se precisa determinar tipos de documentos produzidos e armazenados, ambientes físicos ou digitais (onde serão criados, tramitados e armazenados), normas e procedimentos para criação, segurança, sigilo e acesso, bem como determinação de prazos de guarda ou eliminação visando o cumprimento de legislação vigente.
  2. Madura: Uma empresa madura continuará a aplicar as determinações acima descritas, mas deverá se preocupar também com sua imagem institucional e a forma como sua produção documental é armazenada, divulgada e preservada para as gerações futuras. É onde a prática da Responsabilidade Histórica começa a ser uma demanda tão séria como vem sendo hoje em dia a Responsabilidade Social, nas Organizações.
  3. Secular: Para as empresas seculares, o fortalecimento de sua Identidade e Cultura Organizacional se colocam como prioritárias. Além, é claro, do cuidado com seu Patrimônio Cultural/Documental, matéria-prima para continuidade de Produção de Conhecimento e Inovação. Ao mesmo tempo, a Responsabilidade Histórica se consolida como prática e garantia de solidificação de uma imagem junto a `toda uma comunidade’. Essa inter-relação entre Organização e Sociedade se consagra como a forma que a Responsabilidade Histórica se coloca.

Mas afinal, o que é Responsabilidade Histórica nas organizações?
A construção do termo Responsabilidade Histórica nas organizações chega a ser recente e ainda possui um debate, tanto conceitual quanto historiográfico, restrito. Poucos profissionais a abordam. Paulo Nassar, em sua tese de doutorado, em 2006 a menciona,  mas não chegou a se aprofundar conceitualmente para a construção do termo. Na tese o termo surge como título de um tema e se encerra aí.

De forma sintética, e a partir da forma como tomo o termo para os objetivos deste artigo e no âmbito de minha atuação profissional, considero que a Responsabilidade Histórica ocorre quando a organização compreende seu papel histórico para com a sociedade que a cerca e para com as futuras gerações.
Tal comprometimento com o futuro das gerações se refletirá em ações de preservação e conservação de seus patrimônios culturais/documentais, técnicos e de capital intelectual.
Sob a perspectiva de minha atuação esta conscientização se dá quando a organização decide tratar a forma como suas informações são produzidas, tramitadas e armazenadas através de políticas consistentes de Gestão Documental e Memória Institucional, visando o fortalecimento de sua Cultura e Identidade Organizacional através do tempo. Passam neste sentido, longe de ações às quais denomino de “perfumarias” que servem muito mais como ações de marketing e subprodutos como exposições, artigos ou mesmo livros comemorativos. Tais ações NÃO SÃO a Responsabilidade Histórica em si, representam apenas produtos de marketing. Responsabilidade Histórica PRECISA ir além e de forma muito mais consistente e que estar amparadas metodologicamente e estruturalmente em ações inter e trasndisciplinares como citamos acima.

A Responsabilidade Histórica, quando bem compreendida por uma organização, acionará todo um conjunto de boas práticas que reforçarão a Identidade e a Cultura Organizacional e terá amplos reflexos sobre a sociedade à sua volta. Cria-se com isso um ciclo virtuoso onde quanto mais forte as raízes históricas de uma organização, maiores serão suas chances de perpetuar-se no tempo e no espaço.

Independente de sua fase institucional, as empresas demandam por parte de seus gestores uma comunicação estratégica que permita que seus valores sejam facilmente compreendidos pelo público externo (desde clientes até concorrentes) e por seu público interno (funcionários, gestores e fundadores).
Compreender que a organização possui um papel que é social e também histórico, dentro da sociedade, é praticar a Responsabilidade Histórica. O que significa dizer: cuidar, preservar e disponibilizar seu Patrimônio Cultural e Documental, para as futuras gerações.
Ter, esta preocupação garantirá a contínua produção de conhecimento e inovação. Ao mesmo tempo que a História Institucional se fortalece.

Portanto, sob a ótica tomada para este artigo, a Responsabilidade Histórica é um conceito abrangente que comporta todas as demais formas de responsabilidade hoje presentes dentro das organizações, tais como: a social, cultural, jurídica, civil, ética, ambiental, de preservação e retenção do capital intelectual nas organizações, entre outras. Daí a necessidade de integrar-se como uma política (no sentido de continuidade) dentro da organização e ser planejada estrategicamente para atingir seus fins.

Se a organização de fato se preocupar com sua permanência no tempo e a forma como responderá as demandas da sociedade à sua volta, será imprescindível um planejamento estratégico que tome em conta seu papel histórico e a imagem que procurou vincar no Tempo.

É bom que se faça a distinção entre Imagem e Identidade organizacional.
A Imagem é  como as pessoas vêem e/ou percebem a organização e tem como característica principal ser intangível. A Imagem é, portanto, subjetiva, exterior à organização.
A Identidade por outro lado, é o que de fato a organização é e faz, é tangível. Podemos afirmar que sua existência se dá pelo tripé: o que diz, o que faz e o que dizem e acham dela.

Ações de Planejamento Estratégico com uma visão de Responsabilidade Histórica será sempre um trabalho interdisciplinar e deverá ser pensado como Comunicação Organizacional, já que produtos e subprodutos servirão às áreas de Publicidade, Marketing, Relações Institucionais, Recursos Humanos, entre outros.

Cabe ressaltar que toda a produção envolvendo ações de Responsabilidade Histórica, como: exposições itinerantes e/ou permanentes, tanto de imagens quanto de objetos museológicos, produção de vídeos, coletas de depoimentos, storytelling ou mesmo a formação de Centros de Documentação e Memória, terão papel fundamental como espaço de produção, manutenção e preservação daquilo que é  Patrimônio Cultural da organização, e também espaço para valorização do Capital Intelectual.

É neste universo que a Memória Institucional se coloca como um elemento fundamental, tanto do Planejamento Estratégico, como na Responsabilidade Histórica das organizações. Somente as empresas que entendam este seu papel, tanto técnico quanto social, cultural e histórico, podem se orgulhar de levar a sério sua Identidade e Cultura Organizacional.
Sem Responsabilidade Histórica, a Cultura e Identidade Organizacional, serão apenas termos esvaziados de sentido.

*  Se sua organização pensa e aceita o compromisso de ter Responsabilidade Histórica, e pensa em elaborar uma ação de Planejamento Estratégico para ter uma boa reputação no futuro, com o fortalecimento de sua Cultura e Identidade, nos contate. Teremos imenso prazer em pensar como realizar um trabalho de Memória Institucional com Responsabilidade Histórica. Ao mesmo tempo, poderemos pensar em formas de zelar por seu Patrimônio Patrimônio Cultural/Documental.
Teremos enorme prazer em pensar numa Solução customizada para as suas demandas, ou para o tratamento técnico documental de acervos documentais e fotográficos e sua preservação e conservação.

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Referências:
BOSI, Ecléa. Lembrança de velhos: memória e sociedade. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979.
KUNSCH, Margarida M. Krohling. Planejamento estratégico para a excelência da comunicação. In: KUNSCH, Margarida M. Krohling. Obtendo resultados com relações públicas. 2a. ed. rev. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. p. 33-52.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 2003.
NASSAR, Paulo. Relações Públicas na construção da responsabilidade histórica e no resgate da memória institucional das organizações. São Paulo: Difusão, 2007.
______. Comunicação organizacional e as novas relações públicas. In: DINES, Alberto, NASSAR, Paulo e KUNSCH, Waldemar Luiz (orgs.). Estado, mercado e interesse público: a comunicação e os discursos organizacionais. Brasília: Banco do Brasil, 1999.
REZENDE, Eliana Almeida de Souza.“Um Ensaio de Ego-História” na revista SUSTINERE – Revista de Saúde e Educação da UERJ, 2016.

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Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações

Por: Eliana Rezende

“Os tempos são outros e renovar é preciso”, um mantra que vem se repetindo cada vez mais.
Por caminhos diversos, empresas e instituições estão vivendo, no Brasil e no mundo, um processo de substituição de grandes gurus por pequenos guris. Este processo atroz de descarte de capital intelectual impacta toda a sociedade e a forma como esta retém valores.

Os primeiros, que representam a experiência acumulada, a vivência de práticas e um olhar perspicaz e holístico pelos segundos: afoitos, sempre com pressa e, em geral… inexperientes. Boa parte de sua bagagem resume-se a notas de rodapé obtidas em anos de formação e pós-graduação como alunos profissionais (alguns parecem se especializar em acumular bolsas e títulos sem fim, e nunca encarar o mercado de trabalho, daí a expressão aluno profissional)
São produto de um mundo compartimentado, feito de teclas e muitos sons que produzem dispersão: seres aparentemente multitarefas, mas que em verdade possuem uma grande dificuldade de concentração e acuidade/profundidade nas relações, abordagens e intervenções. Em muitos casos, falta-lhes a flexibilidade eloquente de quem com empatia se antecipa aos problemas e as dificuldades  compondo saídas e alternativas satisfatórias, sem prejuízos ou perdas.

E diante disso, que nos vemos numa grande encruzilhada: ao praticar a ‘juniorização’ com vistas à redução de custos e de forma muitas vezes indiscriminada, as organizações estão plantando dificuldades que colherão muito em breve.

Ao partir, os mais experientes levam consigo aquilo que de maior valor e ativo uma organização pode ter: seu Capital Intelectual. Este não pode ser transmitido por osmose. Necessita de tempo… Afinal a principal virtude destes é a sabedoria atrelada à experiência: e aqui não há receitas rápidas…há o fio do tempo tecendo tramas que sustentarão as fibras do bom caráter de um líder equilibrado e respeitado.

Quando uma organização não percebe isso, perde potenciais que nunca verá crescer.

Infelizmente, nos últimos anos tenho tido oportunidade de assistir em muitas organizações do que chamei acima, de um verdadeiro bota-abaixo de gurus por guris. Pressa, atropelo, presunção, improvisação são os primeiros produtos.

A seguir, uma tentativa pífia de bota-abaixo para, num ato de pura insegurança, querer substituir a experiência pregressa pelo dito “novo e eficiente”. Em verdade, na maioria das vezes o novo não é tão novo assim, e a dita eficiência é mais um sinônimo de precipitação. O espaço destruído torna-se estilhaço e fazer brotar em terra arrasada leva tempo.

Se as instituições se apercebessem de que mora neste Capital Intelectual o verdadeiro valor das organizações muitos problemas seriam evitados. Não seria preciso reinventar a roda.
Mas na prática é o que vemos…

É neste cenário que cada vez mais fica claro para mim que Projetos de Memória Institucional, se bem conduzidos, propiciam de um lado o fortalecimento da Cultura e Identidade Organizacional e de outro favorecem a valorização do Capital Intelectual presente nas organizações. Esta costura fina tornará juniores melhores pois a experiência de um beberá na energia do outro.

O trabalho daí surgido é interdisciplinar e empático, favorecendo e tecendo relações pelo tempo e pela experiência. Não há meio de não resultar. O dividendo será uma organização que soube se manter no Tempo por meio da troca. Sem dúvida, em tempos de tanta escassez um verdadeiro feito!

Esses funcionários antigos e experientes são a melhor mentoria que um jovem profissional poderia ter, e sem dúvida com um valor agregado superior a qualquer MBA.

É preciso pensar que o Capital Intelectual funciona como um repositório humano onde informações valiosas que propiciariam a produção de novos Conhecimentos e Inovação estão ali depositados. Acessá-los é abrir a porta de um grande tesouro institucional.

Além disso, utilizar a Memória Institucional como valorização do Capital Intelectual das organizações resultará em auxiliar a sanar uma dificuldade sempre constante quando se fala em Gestão de Conhecimento, que é a de se achar que a escolha de ferramentas resolverá por si só a produção e circulação de Conhecimento. O que não é fato. A opção por ferramentas sem um trabalho prévio de fortalecimento da Cultura e Identidade Institucional trará opacidade a todo o processo e os resultados esperados dificilmente chegarão. Daí a noção que desenvolvi e argumentei no post “O Desafio das Soluções na Era da Informação”.

A Memória Institucional, por possuir um cabedal interdisciplinar, fornecerá condições adequadas para a circulação do Conhecimento nas organizações, tal como representada na figura a seguir:

A Memória Institucional se colocaria como elemento aglutinador e central, favorecendo as trocas, em especial as intangíveis. Daí nossa opção por uma representação gráfica de bolhas: podem sem vistas, dimensionadas, relacionadas, interseccionadas, mas se tocadas de forma inadequada rompem-se e desfazem-se. É esta a metáfora que melhor exemplifica o trabalho meticuloso e altamente eficiente que a Memória Institucional pode alcançar.

Mas afinal, o que seria o Capital Intelectual?
Entre tantas definições hoje feitas e por diferentes áreas, opto por escolher a que define Capital Intelectual como sendo a somatória dos ativos tangíveis e intangíveis que estão relacionados aos que dão sentindo intelectual às suas ações. Mais do que ativos materiais compostos por máquinas, ferramentas e mesmo valores monetários, os ativos intangíveis que tem em sua criatividade seu principal valor são agentes potencializadores de produção de conhecimento organizacional, já quem por meio de seu conhecimento acumulado são capazes de gerar e distribuir informações para que mais conhecimento e inovação se dê. São portanto, Patrimônio Intelectual.

Diante disso, é explicita a importância destes para toda e qualquer instituição, sem importar seu ramo de atividade ou porte.

Cada indivíduo neste todo organizacional compõe uma memória que é coletiva da organização e que se assenta no tripé: aquisição, retenção e recuperação da informação (Walsh e Ungson, 1991). Observe, segundo os autores citados como isto se dá:

“(…) Relativamente ao processo de retenção os autores apresentam um elenco de seis “caixas de retenção” da informação, sendo cinco delas internamente à organização e uma externa, conforme a seguir:

indivíduos – só os indivíduos compreendem a relação causa efeito, o porquê de uma decisão, eles retêm informações baseado em suas próprias experiências e observações;
cultura – modo aprendido de perceber, pensar e sentir sobre os problemas e que é transmitido para os membros da organização;
transformação – há informação incorporada nas várias transformações que ocorrem na organização, exemplo matéria prima transformada em produto acabado;
estrutura – reflete e armazena informação sobre a percepção do ambiente da organização;
ecologia – experiências interpessoais de empregados são afetadas pelo leiaute físico da organização, exemplo local mal iluminado gera baixa produtividade e conflitos; e, finalmente,
os arquivos externos – empregados antigos retêm grande quantidade de informações sobre a organização, especialmente sobre o tempo em que nela atuaram. (…)”

Relação entre Capital Intelectual e Memória Institucional

É neste momento que um Projeto de Memória Institucional com vistas a valorização de Capital Intelectual passa a fazer toda a diferença no âmbito institucional.

Anteriormente, em outro post que fiz sobre Memória Institucional disse que:

“(…) a partir do conjunto formado por instalações, máquinas, equipamentos, pessoas e missões que uma Instituição se firma e se põe e, impõe ao mercado, aos funcionários e a toda à sociedade. Este conjunto é considerado Patrimônio Institucional. E as pessoas em seu interior são seu Capital Intelectual.
Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos de uma instituição no tempo e no espaço.(…)”.

Por isso, a intersecção Memória Institucional e Gestão de Conhecimento se dão no trabalho de valorização do capital intelectual das organizações. É o trabalho sensível de lidar com a experiência e a história que dará sustentação, direção e objetivos sólidos à uma organização e a fará distinguir-se das demais, não apenas pelo valor monetário expresso em cifras, mas por valores muito mais caros e valiosos, intangíveis em sua maior parte.

As empresas que saem na frente em compreender o valor deste bem intangível dentro de suas organizações conseguem fortalecer sua Identidade e Cultura Organizacional por manter viva as suas raízes e origem: de onde vieram e com quais objetivos e para onde pretendem chegar. A ponte entre este passado de surgimento e seu futuro está exatamente nas mentes destes que compõem o Capital Intelectual da organização. Os cérebros maduros de uma organização são de fato seu maior ativo e valor:

Conforme citei antes no post: “Profissionais na maturidade como ativo organizacional“:

“(…) Fantástico ter a exata noção de que, tal como um músculo, o cérebro quando exercitado, nunca deixa de responder. E que o tempo aliado às experiências vividas e experimentadas podem fornecer conexões muito mais certeiras do que as que ocorrem nos jovens: já que estes contam apenas com o que lhes é extrínseco. Ainda aprenderão a transformar vivências em experiência.
São de fato, os artifícios que o tempo e a existência nos oferecem e brindam. 
Importante pensar o tempo não como uma caminho de perdas! Pode e deve ser um caminho de libertação, já que maduros deixamos as inseguranças e inexperiências próprias da juventude para trás. 
Ganhamos a possibilidade de aliarmos experiência com ação. E isso cá entre nós é o caminho para alargamento do espírito!
E isso que as instituições precisam e devem perceber. Nossa sociedade está envelhecendo e manter-se-á muito mais tempo em período de maturidade do que o seu contrário. Vale a pena redimensionar conceitos e valores. Só assim este beneficio se estenderá à pessoas, organizações e sociedades.(…)”

A valorização do capital intelectual por meio de um Projeto de Memória Institucional significa não ser apenas uma efeméride a mais na organização, mas de fato um meio de produzir conhecimento sem descartar nem desperdiçar os valores existentes.

É esta costura indelével entre a experiência e a juventude que os Projetos de Memória Institucional agregam valor ao Patrimônio Intelectual das organizações e as ajudam a mostrar a si mesmas e a sociedade que estão inseridas o que são, de onde vieram e para onde vão com os cérebros que possuem na sociedade onde estão inseridos. É assim que a instituição praticará a Responsabilidade Histórica para com a sociedade que a acolheu e absorveu.

_____________
Referências:
WALSH, James P.; UNGSON, Gerardo Rivera. Organizational Memory. Academy of Management Review, v.16, n.1, pp. 57-91, 1991.

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Como desenvolver um Projeto de Memória Institucional que atenda demandas de valorização de Capital intelectual e Gestão de Conhecimento e como a ER Consultoria pode auxiliá-lo:

  • Definir qual caminho seguir
  • Como pensar em um Projeto de Memória Institucional com olhar interdisciplinar?
  • Como relacionar Gestão de Conhecimento e Memória Institucional para valorização de Capital Intelectual numa organização?
  • Como um trabalho interdisciplinar de Memória Institucional pode fortalecer a Cultura e Identidade da Instituição ao mesmo tempo em que organiza e distribui informação para a geração de Conhecimento e Inovação?
  • Como utilizar as metodologias de Storytelling e História Oral?
  • Como através de um Projeto de Memória divulgar e fortalecer a imagem corporativa/institucional?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na organização da Informação produzida hoje. De forma a poder ser instrumental para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que se constitui como matéria-prima para que a Memória e Identidade Institucional se fortaleçam, e a Cultura Organizacional se mantenha através do tempo.

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Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público

Por: Eliana Rezende

Entre os dias 27 e 28 de julho de 2017, na Sede do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) ocorreu o VIII Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público com o objetivo de compartilhar informações e trocar experiências entre profissionais e instituições ligados às áreas de documentação e memória.

O evento procurou apresentar práticas e experiências atuais desenvolvidas em diferentes instituições e que interessam diretamente à centros de memória. Na ocasião ocorreram palestras proferidas por profissionais reconhecidos em diferentes áreas de conhecimento, dentre os quais tive a honra de ser a responsável pela Conferência de Abertura.

A Conferência foi intitulada: “Centros de Documentação e Memória: Espaços de Preservação e Salvaguarda de Patrimônio Documental e Identidade Institucional“, e que pode ser assistida em sua integra abaixo, tocou em aspectos práticos e metodológicos relacionados à Centros de Documentação e Memória, além de suas relações com a transparência administrativa, gestão documental, organização e acesso à informação com vistas à produção de conhecimento.

Confira a conferência na íntegra clicando na imagem abaixo:

A ER Consultoria pode ajudá-lo em Projetos para Memória Institucional ou Implantação de Centros de Documentação.

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História Oral: o que é? para que serve? como se faz?

Por: Eliana Rezende

A questão sobre o que vem a ser História Oral, como pode ser utilizada pelas instituições e de que forma deve ser realizada é um tema que interessa a diferentes áreas e profissionais.

Neste artigo, procurarei tecer considerações acerca de sua utilização, metodologias, aproximações e diferenças, bem como sua importância em Projetos de Memória Institucional com vistas à valorização de Capital Intelectual e o fortalecimento da Cultura e Identidade nas Instituições.

Os relatos orais são amplamente utilizados em diferentes áreas, mas para o recorte deste artigo ficarei concentrada dentro da minha própria área de atuação que é sua circunscrição no âmbito das Ciências Humanas.

A chamada História Oral é amplamente utilizada pelas Ciências Humanas, e é caracterizada pela coleta de depoimentos com pessoas que testemunharam conjunturas, processos, acontecimentos, modos de ser e de estar dentro de uma sociedade ou instituição. Para efeito didático pode estar dividida em três gêneros distintos: a tradição oral, a história de vida e a história temática.

Explicando cada uma delas:

Tradição Oral caracteriza-se pelo testemunho transmitido oralmente de uma geração para outra. São exemplos disso metodologias, por exemplo, que são capazes de resgatar tradições rurais e urbanas como cantigas de roda, brincadeiras e histórias infantis. Isso porque esta tradição precede à escrita e podem ser encontradas em sociedades bastante antigas ou mesmo comunidades que não passaram pelo processo de escrita. São exemplos disso comunidades ribeirinhas, indígenas, agricultoras, entre outras.

Já a História Oral não pode ser confundida com História de Vida. Esta última é um relato autobiográfico onde a escrita está ausente, e, portanto, não pode ser chamada de autobiografia. A História de Vida concentra-se na história pessoal de um indivíduo contada por ele próprio. É, portanto, um relato pessoal, que em geral percorre toda a existência desta pessoa: do nascimento até o momento presente.
Em alguns casos, e como parte de Projetos de Memória, opta-se por este tipo de relato e a história da pessoa percorre todos os momentos de sua vida e o momento em que encontrou-se com a instituição à qual o projeto faz parte. É interessante esta opção, já que apesar do projeto ser sobre uma determinada instituição, a importância de uma história de vida pode ser ainda maior. Um exemplo disso é a figura de um fundador. Este personagem tem grande importância para a existência da Instituição, mas sua trajetória anterior e de vida podem ter um significado ainda maior.

De outra sorte, há a chamada História Oral Temática, que em geral, é feita com um grupo de indivíduos em torno de um determinado evento ou movimento vivido por todos. São perspectivas individuais de sujeitos inseridos em um mesmo contexto.
A utilização desta forma de coleta de depoimento pode possuir aspectos positivos e negativos. O aspecto positivo é o de que uns poderão disparar gatilhos de lembranças e detalhes poderão ser muito melhor esmiuçados à luz de muitos olhares. Mas também poderá ocorrer o seu contrário: eventualmente alguém com maior poder de fala ou influencia poderá silenciar outras vozes e memórias. São comuns depoimentos desse tipo no caso de movimentos populares, sindicais, religiosos ou culturais, entre outros. Neste caso, a importância maior está no tema, e não nas individualidades. O interesse é o maior número de informações possíveis sobre o tema a partir das multiplicidades de olhares.

Definitivamente caberá ao pesquisador uma capacidade intuitiva e metodológica bastante grande para não se perder em uma ou outra possibilidade, e conseguir se valer da melhor forma possível. Com o agravante que aquele momento é único, e provavelmente não se repetirá.

Diante disso, você poderá estar se perguntando:

Mas afinal, podemos afirmar que História Oral é uma metodologia de trabalho?

Bem, ela poderá ser considerada um método de investigação, fonte de pesquisa ou técnica para produção e tratamento de depoimento, entretanto, sua classificação dependerá da orientação dada ao trabalho.

Vejamos um exemplo:

Quando a história oral é utilizada como forma de conhecer um período, conjuntura ou instituição, ela será entendida como uma metodologia de trabalho mas, a partir do momento que essas informações sejam utilizadas, tais relatos constituirão a bibliografia de uma pesquisa posterior.
Ou seja, de acordo com o encaminhamento da pesquisa e seus usos. E poderá ser ao mesmo tempo mais do que uma coisa. O fundamental é que o pesquisador tenha muito claro o que quer e assim conduzir cada forma com o rigor metodológico que precisará ter. Para cada uma das situações a condução das ações e os procedimentos deverão ser específicos.

Um ponto muito importante de ser destacado é que a produção de um depoimento é um trabalho conjunto entre depoente e entrevistador/pesquisador onde juntos produzem um documento. Após a geração deste documento, que deve obedecer a um método e sequência de trabalho próprio da história oral, é necessário estabelecer critérios técnicos para a sua guarda, sigilo e acesso. Ressalto que o produto deste depoimento é um documento histórico, e portanto, de valor permanente. Nunca poderá ser eliminado. Além de ser um importante repertório de matéria bruta para usos infindáveis de subprodutos.

Considerar o depoimento como documento toma em conta minha definição, de que “qualquer informação registrada em um suporte se constitui documento”, de acordo com a imagem a seguir:

Há diferença entre um depoimento e uma entrevista?

Em linhas bem genéricas podemos afirmar que sim!

Em geral, a entrevista é utilizada pelas áreas de Comunicação e obedece a  uma pauta previamente estabelecida, com objetivos claros e definidos a priori.

Numa entrevista nunca se busca ir muito além da pauta, especialmente, por questões de tempo e disponibilização aos meios de comunicação que a produziram e, normalmente, atendem sempre a urgência de um fato. É habitual que as perguntas saiam prontas da reunião de pauta, e em poucos casos são feitas de improviso. E normalmente quando isso ocorre costumam atender um insight de momento, que muitas vezes pode interromper uma linha de raciocínio ou mesmo uma direção de pensamento. Em caso de pessoas menos inexperientes isso pode significar um corte fundamental na construção do ritmo das ideias do entrevistado, gerando perdas aos eventuais interessados e ao registro como um todo. Ao observarmos boa parte dos casos de entrevistas deste tipo, notamos o quanto o silêncio é importante e como o entrevistador perde chances de exercê-lo.

Com o depoimento precisa e deve ser diferente. Em geral, faz-se um roteiro inicial para entrevista, mas este pode ser alterado de acordo com a interação entre depoente e entrevistador. O roteiro neste caso passa longe de ser uma lista semelhante a um interrogatório. É apenas um norteador que deve ser usado como bússola. O depoimento respeita a sequência memorialística do depoente, valorizando seus silêncios e não ditos.  Nesse tipo de depoimento, o depoente nunca deve ser interrompido. O entrevistador é antes de tudo um ouvinte!

Daí que NUNCA um entrevistador deve ser ou estar ansioso. Sua ansiedade pode tolher o curso das águas caudalosas da memória. E isso para um registro que pretende ser histórico é imperdoável.
Por isso, aquele que colhe o depoimento não é um entrevistador, é um ouvinte! Aqui está a grande e significativa diferença.

Insisto que o responsável pela coleta do depoimento deve ser alguém sensível, empático e tranquilo. Será como um porto seguro para que as memórias do depoente possam atracar. Oferecerá segurança ao que lhe está oferecendo seus tesouros no formato de memórias tecidas pelo tempo: seu bem mais precioso.
É com este olhar e com esta atitude que o ouvinte deve se colocar.

Foi no tempo que as memórias foram tecidas, e é com tempo e sem pressa que elas devem ser ouvidas…

Seguindo sobre a história oral seria importante você saber que:

Sua introdução no Brasil deu-se a partir dos anos 1970 e encontrou força nos anos 1990. Deste crescimento surgiu a criação em 1994 da Associação Brasileira de História Oral, e em 1996 foi criada a Associação Internacional de História Oral.

Desde os seus primórdios a história oral firmou-se como um instrumento de construção da identidade de grupos em processo de transformação social.

A história oral é caracterizada por uma série de procedimentos no pré, no curso e pós-depoimento. Isso porque a definição de quem, porquê e como deve obedecer a critérios pré-estabelecidos de relevância e sentido ao que se quer pesquisar ou preservar.

Em geral, a opção pela história oral dentro de uma instituição ocorre com alguns objetivos pré-definidos. Dentre os quais citamos:

  1. Registrar os relatos das personalidades que, direta ou indiretamente, partilharam determinado período, tema, ou instituição;
  2. Recuperar dados e informações sobre fatos e episódios importantes para a história institucional;
  3. Constituir um acervo que sirva às consultas, para posterior pesquisa e produção de conhecimento.
  4. É preciso que se tenha em mente que o equacionamento entre história x memória nestes casos, resulta em uma nova “construção do passado, mas pautada em emoções e vivências”, já que os eventos da memória são retomados a partir de experiências passadas com o filtro da atualidade.

Sugiro que aprofunde seus conhecimentos sobre o tema. Você pode obter informações sobre todos os passos necessários à coleta do depoimento, suas diferenças e procedimentos, consultando o Manual do CPDOC no link abaixo, tal leitura será útil para a nossa Unidade que trata sobre metodologias adequadas:

Alberti, Verena. Manual de História Oral.

Abra-o e leia-o na íntegra aqui:

Na sua leitura tenha atenção sobre os aspectos relacionados à metodologia de produção do depoimento e de que forma esta se adequaria às realidades de sua instituição ou às suas concepções de projeto. Fazendo desta forma, sua leitura passa a ter uma direção metodológica e não apenas informativa.

As experiências do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC / FGV  continuam a fornecer importantes relatos sobre a experiência de colher e tratar depoimentos. Por isso, sugiro que leia o artigo “Tratamento das entrevistas de história oral no CPDOC”, de Alberti (2005), disponível aqui:

No caso dessas leituras, é importante ressaltar que para além das discussões entre História, Memória e Psicologia, todo um universo que considera os aspectos técnicos e tecnológicos deve ser tomado em conta. Muitas vezes o fascínio pela possibilidade de colher depoimentos tira a nitidez do que todo o processo significa.

As tecnologias hoje disponíveis facilitam em muito a coleta de depoimentos, por outro lado colocam inúmeros desafios em relação à sua perenidade que o artigo trata de forma meticulosa e acertada. Considere tais aspectos ao pensar sobre a elaboração de um Projeto de Memória Institucional quando for o caso.

Sugiro atenção em relação aos campos definidos para compôr a identificação do depoimento. Defina com antecedência quais serão estes campos, como deverão ser preenchidos e de que forma sua acessibilidade estará garantida em especial considerando aspectos relacionados à obsolescência tecnológica. A leitura atenta do artigo de Alberti auxiliará na estruturação destas necessidades.

Não há uma única forma de estruturar depoimentos de história oral. Mas alguns cuidados podem e devem ser tomados na fase de elaboração e execução do projeto. Transcrevo alguns destes cuidados, apresentados no artigo “História Oral e Memória: a construção de um perfil de Historiador-Etnográfico”, de Éder Silveira e que você, se desejar, pode ler na íntegra aqui:

(…) A entrevista se configura como principal instrumento (ou técnica) do método de História Oral. Para realizá-la, não há uma única receita ou diretriz. Contudo, cita-se algumas observações convergentes nas obras de THOMPSON (2002), ALBERTI (2004; 2005) e ZAGO (2003) que orientam o pesquisador na produção de entrevistas no método da História Oral:

  1. Ter consciência de que não existe neutralidade do pesquisador desde a escolha pelo tipo de entrevista a qualquer outro instrumento de coleta de dados ou fontes.
  2. Respeitar os princípios éticos e de objetividade na pesquisa, lembrando que nenhum método dá conta de captar o problema em todas as suas dimensões. Todas as conclusões são provisórias, pois podem ser aprofundadas e revistas por pesquisas posteriores.
  3. O pesquisador não deve se apropriar da entrevista somente como uma técnica de coleta de dados, mas como parte integrante da construção do objeto de estudo.
  4. A entrevista compreensiva não tem uma estrutura rígida, isto é, as questões previamente definidas podem sofrer alterações conforme o direcionamento que se quer dar à investigação. Dar preferência a perguntas mais abertas e um roteiro flexível.
  5. Reservar um tempo relativamente longo para a realização da entrevista.
  6. Durante a entrevista é válido ter um diário de campo onde se possa fazer anotações das reações, posturas e impressões do entrevistado, dificuldades nas informações obtidas, o que provocaram suas lembranças, novidades nas informações ou conteúdo, informações obtidas em off, etc.
  7. Uso de elementos que evoquem a memória do entrevistado como fotografias, recortes de periódicos e menção a fatos específicos podem facilitar o desenvolvimento do trabalho.
  8. Construir fichas que organizem e orientem as futuras fontes orais. Deve-se privilegiar dados como o nome do entrevistado, número da entrevista que vai representar dentro do universo da pesquisa, idade do entrevistado, endereço, local onde foi gravada a entrevista, nome do entrevistador, idade, profissão, religião, datas das entrevistas realizadas com o informante, em que fitas (previamente numeradas) estarão gravadas as entrevistas, em que páginas da transcrição se encontrarão referências a determinados temas e se há alguma restrição ao acesso das informações.
  9. No início da entrevista, gravar informações como: nome do entrevistado, do(s) entrevistador (es), data, local e finalidade do trabalho.
  10. Providenciar um Termo de Consentimento Informado, onde fique bem claro ao entrevistado:
    1. as finalidades da pesquisa;
    2. nome do informante e número de documento pessoal, como RG;
    3. se a divulgação da entrevista oferece riscos ou prejuízos à pessoa informante;
    4. a permissão ou não permissão da divulgação do nome do informante (caso não seja permitido, orienta-se que se produza uma declaração para este fim no verso deste termo, sendo assinado por ambas as partes (pesquisador e entrevistado), podendo o informante optar por um pseudônimo;
    5. cedência dos direitos da participação do entrevistado e seus depoimentos para a pesquisa em questão;
    6. abdicação dos direitos autorais do entrevistado e de seus descendentes;
    7. data e assinatura do termo pelo participante e pesquisador – torna-se importante nesse item, anexar ao termo que será assinado por ambas as partes, a transcrição da entrevista. (…)  Silveira (2007)

Realizado o depoimento, vem o momento de indexá-lo de modo a facilitar sua posterior pesquisa. De novo, o exemplo do CPDOC merece ser considerado. Como forma de pensar em formas de indexação para o caso da história oral proponho a leitura do artigo “Princípios de indexação de entrevistas de história oral” de Brando,que você lê aqui:

Mas, todo este trabalho não faria qualquer sentido se a divulgação não alcançar seus objetivos: registrar as informações de maneira a atender às demandas de produção de conhecimento e/ou inovação em diferentes áreas de conhecimento.

Para esta tarefa, o mundo contemporâneo tem oferecido inúmeras ferramentas e possibilidades. Se usadas de forma coerente e consciente trarão inúmeros benefícios.

Muitos subprodutos um Projeto de Memória Institucional pode oferecer: de exposições permanentes à itinerantes, livros comemorativos, sites, portais, workshops, seminários, boletins, calendários, entre outros. Em todo caso, o cuidado e o zelo na elaboração do projeto devem estar refletidos e mostrar a importância e o respeito às memórias ali reunidas.

Os produtos devem refletir o valor reunido de experiências e da identidade institucional.

Simples assim…
*
A ER Consultoria pode ajudá-lo em Projetos para Memória Institucional e coleta de depoimentos.
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*Esta é uma versão revista e atualizada de um post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta
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Qual o valor de um Centro de Documentação e/ou Memória

Por: Eliana Rezende

Uma pergunta constante é a de qual valor pode haver em um Centro de Documentação e/ou Memória dentro de uma instituição já que estamos tão rodeados por informações que nos chegam de todos os lados.
Sua implantação não representaria um gasto e demanda desnecessários?
Afinal, qual seu valor e importância?

Importância e objetivos:
Implantar e manter um Centro de Documentação e/ou Memória pode ser um grande desafio institucional, mas ao mesmo tempo é item fundamental dentro de um Projeto de Memória Institucional, que tenha como preocupação o fortalecimento da Identidade e Cultura Organizacional.

As dúvidas são recorrentes e muitas, em especial sobre quais seriam suas funções e de que forma podem ser item de produção de Conhecimento e Inovação. Como estruturá-lo e mantê-lo passam a ser preocupações recorrentes. Daí a necessidade de um trabalho interdisciplinar e linkado ao DNA da instituição.

Alcance:
Os Centros de Documentação (CEDOC) extrapolam o universo documental das Bibliotecas, embora possam conter material bibliográfico (que será sempre e unicamente aquele relacionado à temática na qual o Centro é especializado), e aproximam-se do perfil dos arquivos, na medida em que recolhem originais ou reproduções de conjuntos arquivísticos. É por isso uma instituição híbrida com desafios de amplos alcances e com a lida de diferentes suportes.

Um Centro de Documentação e Referência diferencia-se de um arquivo na medida em que este se torna um repositório de informação para profissionais de diferentes áreas que se ocupem de um determinado ramo do conhecimento. Tem um potencial de transformar-se em Centro de Referência, no sentido de ser o local para onde convergem todo tipo de arquivo, em conjuntos documentais de diferentes suportes, sempre voltados para o mesmo tema, e que facilita, em última instância, a pesquisa dos usuários. Assim, encontramos audiovisuais, fotografias, livros, jornais, revistas, microfilmes, mapas, plantas, gravuras, negativos flexíveis, negativos em celulose e vidro, e outros..

Numa hierarquia, diríamos que o Centro de Documentação (CEDOC) possui maior alcance que uma Biblioteca e que um Arquivo. Isto porque possuem conjuntos bibliográficos, arquivísticos e até museológicos e arqueológicos, em alguns casos.

É natural em sua formação possuir documentos museológicos, hemerográficos, iconográficos, textuais, audiovisuais, entre outros. E, devido a esta característica, necessariamente precisará “beber” das metodologias oriundas das diferentes áreas como a a arquivística, a história, a museologia, e biblioteconomia entre outras.

Nem sempre o Centro de Documentação (CEDOC) tem como objetivo a preservação da memória ou a pesquisa histórica. Muitos estão vinculados à pesquisa em outras áreas ou à produção e prestação de serviços a usuários internos e externos. Neste caso, pode se configurar um Centro de Referência (CR) para as área em que atuam.

Importante destacar que a principal missão de um Centro de Documentação (CEDOC) é o apoio à pesquisa: seja ela institucional ou acadêmica. Seu papel não é o de substituir a gestão arquivística de acervos permanentes, que possuem fins administrativos e/ou probatórios e que, no caso da documentação pública, cumpre legislação vigente. Utilizá-lo desta forma seria um desvirtuamento de seus objetivos e funções.

Os primeiros passos de uma implantação
A natureza e vocação de um Centro de Documentação (CEDOC) sendo a pesquisa e referência, implica a definição de sua abrangência e recorte temático, espacial e cronológico.

Isto se dá pela abrangência documental permitida na sua configuração. Colocar tais recortes favorecerá a qualidade das referência geradas. Quanto mais abrangente, provavelmente, mais superficiais serão suas informações.
Em geral, o primeiro passo a ser dado é a definição do que chamamos “Linha de Acervo”, que é exatamente o universo do seu recorte e sua área de atuação. Por exemplo: estudos sobre a cidade, educação, saúde, sustentabilidade, indústria têxtil, etc. Em que período? Começo do século XIX. meados do século XX, 2ª metade do século XX, e assim por diante….

Estas definições darão ao Centro de Documentação (CEDOC) aporte e consistência diante de outros fornecedores de dados e informações. Legitimarão seu universo de atuação, bem como as políticas de ampliação do acervo.

Apesar disso, tais Linhas de Acervo não são rígidas a ponto de não sofrerem processos de flexibilização. Vez por outra, poderão mover-se em uma ou outra direção sofrendo adequações, acréscimos ou mesmo reconfigurações a partir de demandas de usuários e público alvo.

Definidas as Linhas de concentração, é hora de definir o âmbito das ações que o Centro de Documentação (CEDOC) desenvolverá. É neste ponto que se definem estratégias de cursos, oficinas, workshops, seminários, congressos, conferências, publicações diversas, exposições (fixas, itinerantes, virtuais), fac-símiles de documentos, assessorias e/ou consultorias técnicas a outras instituições.
Atentar para tais ações reforça a vocação para a pesquisa e produção de conhecimento que se espera de um Centro de Documentação (CEDOC).

Torna-se evidente que, pela abrangência de suportes e documentos, de ações a serem desenvolvidas e universo de atuação, o perfil profissional exigido dos que atuarão neste Centro de Documentação (CEDOC) deverá ser múltiplo e interdisciplinar. No entanto, está longe de representar o universo de um único tipo de profissional. Quanto mais flexível e interdisciplinar maiores as chances de obtenção de bons resultados à frente de uma instituição como esta.

Alguns cuidados
Um Centro de Documentação (CEDOC) não pode converter-se em uma colcha de retalhos ou um gabinete de curiosidades! Facilmente, e até por desconhecimento na maior parte das vezes, começam a ser reunidos em seu interior quinquilharias que pouco ou nada tem que ver com o que se determinou como Linha de Acervo.

A constituição do acervo, e dos objetos que o integram, deve obedecer critérios técnicos estabelecidos quando da definição do âmbito e alcance do Centro de Documentação (CEDOC). Sua ampliação é paulatina e sempre se guiará por tais critérios. Isso evitará dispersão e gastos desnecessários envolvendo espaço físico, tempo de tratamento técnico e recursos humanos e tecnológicos.

É importante destacar que um Centro de Documentação (CEDOC) não precisa reunir TUDO sobre sua área de atuação. Não é um órgão acumulador, mas deve ser antes de tudo um referenciador: fornecendo a maior quantidade possível de informações sobre sua área de cobertura.

Ser referenciador também não deve significar ser um duplicador! É importante que um Centro de Documentação (CEDOC) não seja um duplicador de informações, reproduzindo tudo o que já existe em outros acervos. Valendo-se de tecnologias digitais pode fornecer as informações que se encontram em outras instituições ou Base de Dados, sem reproduzir desnecessariamente acervos ou documentos.

E aqui entra uma palavra de cautela: a digitalização utilizada para fins de ampliação de acervo deve ser tomada com cuidado. Mais do que isso, deve ser uma ferramenta utilizada com parcimônia e eventualmente, como política de preservação documental, favorecendo o acesso sem permitir manipulações indevidas de originais raros, por exemplo.

Apesar de oferecerem muitas potencialidades e possibilidades, as ferramentas tecnológicas disponíveis hoje em dia podem não trazer todos os benefícios possíveis por ausência de uma boa estruturação e metodologia de trabalho. Por isso, todo o cuidado em seu planejamento é fundamental.

Centros de Documentação em tempos web
Algumas instituições possuem dúvidas sobre como criar este espaço físico, mas também um espaço virtual onde possa ser visitado e consultado por aqueles que estão distantes. Precisamos ter alternativas para isso.

Em um mundo tão digitalizado vem sendo questionado a existência ou não de um acervo físico e meios pelos quais um Centro de Documentação possa ser virtual e estender suas fronteiras para além de um espaço estritamente físico, eles extrapolam muros institucionais e geram visibilidade, valorizando a cultura institucional.

As tecnologias da informação podem apoiar projetos de implantação de Centros de Documentação (CEDOC) ao mesmo tempo que as funcionalidades da WEB 2.0 contribuem para a disseminação, compartilhamento e colaboração tanto de matérias-primas como de produtos. Em todos os casos, muitas decisões precisam ser tomadas.

As tecnologias hoje disponíveis propiciam diferentes meios de divulgação com um alcance nunca antes imaginado. E, quando bem estruturados, possuem um custo benefício interessantíssimo.

A fluidez dos meios digitais faz com que as pessoas em geral olhem para as tecnologias como sendo a panaceia para todos os problemas de divulgação que uma Instituição possa ter.
No entanto, as coisas não são bem assim.

É um equívoco achar que um espaço virtual demandará menos trabalho, ou apenas facilidades. Todo o trabalho bruto de referenciamento e tratamento técnico será mantido, alterando-se apenas as formas de veiculação e acesso. Em alguns casos podemos afirmar que um espaço virtual poderá ter ainda mais acessos e buscas e demandará até a necessidade de possuir um atendimento que sirva às necessidades de estrangeiros. A web é uma uma porta aberta ao mundo e não à uma rua local. Por isso é preciso tomar em conta isso.

Além disso, há decisões que envolvem a disponibilidade e acesso de acervos. Dentre as muitas questões cito algumas cruciais:
Se houver um banco de dados como se dará o acesso? E no caso de imagens originais? Como cuidar de aspectos relacionados à autoria e créditos?
Em caso de exposições virtuais como serão? Qual a periodicidade para sua atualização?
E as formas de contato e atendimento aos usuários/pesquisadores?
Em relação aos cursos, oficinas, workshops, exposições, conferências, publicações: como serão sua veiculação? Estarão abertos em canais online?

Todas são questões que precisam ser pensadas ainda na fase de planejamento e periodicamente deverão ser repensadas de acordo com erros e acertos, que sempre ocorrem.

O que é definitivo, e que podemos afirmar com certeza, é que a partir desta nova concepção de uso da Web o mundo das bibliotecas e locais que detém informação organizada e estruturada passou a se movimentar na direção do usuário. Esteja ele onde estiver!

Se de um lado este sentido de colaboração inovou e começou um processo irreversível de interação, de outro colocou o desafio da segurança de que estes conteúdos estarão acessíveis e disponíveis no tempo, cuidando integralmente e com o respeito devido ao sigilo, preservação e acesso.

O Centros de Documentação (CEDOC) lidam com documentos que em sua maior parte são permanentes e, portanto, com necessidades de perenidade, longevidade, segurança e autenticidade a serem garantidas.
As coisas ficam ainda mais complicadas quando falamos não apenas de textos, mas imagens, audiovisuais e outras possibilidades de links e hipertextos.
A funcionalidade de muitos recursos só é possível em determinada configuração.
Se não forem estruturados de forma que contemplem a obsolescência poderemos ter um rico material que estará fadado à impossibilidade de utilização futura para diferentes fins.

Quando pensamos em períodos para a obsolescência falamos em períodos que em geral não excedem os 5 anos.
E isso, para documentos permanentes, não significa rigorosamente nada!
O termo “longa permanência” pode ser definido por períodos não inferiores a 100 anos.

Por isso, é fundamental um bom planejamento e estratégia de escolha consciente envolvendo o quê preservar, para quê e para quem e com quais objetivos.

O que tomar em consideração para Centros de Documentação (CEDOC) em ambientes digitais?

Em primeiro lugar deve-se definir qual tecnologia a ser utilizada. E nesta escolha o mais importante é definir um sistema robusto e que tenha sido amplamente usado.
Evite as últimas “novidades” no mercado. Tenha certeza da solidez e robustez destas tecnologias, sua manutenção e custos.
Pense que o mais caro em tecnologia não é sua aquisição inicial, mas a sua manutenção no decurso do tempo. Em especial se os documentos forem de caráter permanente.

Atente para os dados reunidos e a forma escolhida para sua disponibilização e divulgação.
1. Se não houver uma preocupação efetiva, com o tempo o que você terá em poucos anos é uma base de dados inútil e sem possibilidades de uso e produção de conteúdos, conhecimento ou inovação.
A tônica principal em verdade não é o acesso e sim a autenticidade dos documentos digitais no decurso do tempo. Acesso acaba sendo o fator mais simples em uma cadeia extremamente longa e importante, e seu ápice é sem dúvida fornecer garantias de que estes documentos são autênticos e que não sofreram alterações e adulterações. O investimento, sem dúvida, é na segurança da informação. Sem ela, poderemos apenas acumular o que será apenas lixo digital.

2. Elaboração de uma política clara de preservação e conservação de documentos em suportes físicos e digitais, com previsão de prazos de guarda e com quais utilizações nas diferentes ferramentas tecnológicas disponíveis pela Instituição;

3. É necessário, portanto, uma visão mais curatorial de todo o processo.
Tendo claro todos os limites que um projeto se defronta e já iniciá-lo tendo ações bem delineadas, flexíveis e adequadas às nossas reais circunstâncias de recursos humanos, financeiros e tecnológicos.

Dos fins
De tudo o que se disse, o fundamental é ter em conta que todo este trabalho de base, inter e multidisciplinar visa antes de tudo a reunião de informações para a produção de conhecimento. Só aí que o Centro de Documentação (CEDOC) cumprirá sua verdadeira vocação.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e a aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação.

Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a preservação e conservação física e digital dos documentos.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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O trabalhador invisível

Por: Eliana Rezende

Começo com uma pergunta simples:
Você em seu cotidiano “vê” um gari?
A pergunta pode parecer óbvia e alguns inclusive dirão: “mas é claro!”
Mas será que de fato é assim?
Acompanhe-me:

Tempos atrás lia sobre um pesquisador que para desenvolver sua pesquisa de Mestrado na área de Psicologia Social vestiu-se de gari um dia por semana durante um período de seis anos, dentro do próprio Campus da Universidade de São Paulo no Departamento de Psicologia.
Clicando aqui você pode conhecer mais sobre essa pesquisa e seu recorte.

No decorrer de sua pesquisa e para sua surpresa, percebeu o quanto essa categoria era ignorada por professores, alunos e funcionários. Em suas palavras:
“Conhecia muitas das pessoas, porém, todas passavam sem me olhar. Em determinado momento, um professor se aproximou e interrompi a varrição para cumprimentá-lo, debruçando-me sobre a vassoura. Ele não me notou. Chegou a esbarrar no meu ombro e nem sequer parou para pedir desculpas”

Sua experiência serviu apenas para mostrar que muitos destes trabalhadores mantém-se restritos aos seus próprios círculos e evitam o contato visual com outras pessoas como forma de proteger-se de formas de violência ou desprezo social. O que revela uma forte exclusão ligada à divisão social do trabalho.

Tal forma de invisibilidade recebe o nome de “invisibilidade social”. O termo aplica-se em especial à profissões que, apesar de fundamentais para o funcionamento social, são totalmente ignoradas pela ampla parcela da população. Quer por preconceito, quer por indiferença. De modo geral, é uma indiferença que parte de camadas sociais consumidoras e com maior poder aquisitivo em relação às que habitam sua margem, ou que estão excluídas por causa de sua condição social.

No caso da pesquisa supra citada, o exemplo foi revelador, pois o pesquisador simplesmente trocou o lado e vestiu-se com um uniforme, dentro da própria instituição que estudava e descobriu que havia algo invisível à sua volta, que ele não havia se dado conta até então. Estar dentro dos muros da maior universidade do país e ainda assim encontrar tal tipo de invisibilidade apontou para um substrato de uma cultura da superioridade do conhecimento acadêmico em detrimento do trato humano entendido como relação social e humana.Isso nos causa certo “choque” exatamente por que seria um espaço onde se esperaria que tais atitudes não devessem acontecer. Infelizmente, esse comportamento pode ser recorrente: claro que não podemos generalizar, mas ocorre.

Agora, partindo-se desse ponto, a pergunta quase inevitável e que destino a todos é:

Em seu cotidiano você “vê” tais trabalhadores?

E amplio um pouco mais: Não apenas eles, mas uma gama imensa de operários, trabalhadores que edificam e erigem com seus braços caminhos, moradias, espaços e que em muitos casos (eles) não podem ser usuários dos mesmos. Vivem a exclusão e invisibilidade consentida de todos os que deles dependem e necessitam.

Falo de faxineiros, porteiros, pessoal da manutenção, jardineiros, pedreiros, ascensoristas, recepcionistas, seguranças, empacotadores, entre muitos outros.

Pergunto exatamente porque esta pesquisa veio mostrar as teias de invisibilidade que estão por trás de formas menores de preconceitos que tomam em conta a origem e a condição social.

Muitos veem apenas como seus iguais aqueles que possuem o mesmo colarinho.
Todo e qualquer trabalhador que não tenha esse parâmetro torna-se invisível.
Talvez tenhamos que avaliar como anda a redoma que às vezes nos pomos.

O cumprimento e a atenção estendidos a quem quer que seja além de denotar boa educação e consideração ao outro aponta nossos universos de prioridades e hierarquias.

Essa invisibilidade tecida muitas vezes por cargos de liderança infelizmente tem muito que ver como uma concepção muito arcaica, e pessoalmente gostaria de ver eliminada, que é a de que as pessoas são diferentes por exercerem funções tidas como menores ou terem tido menos oportunidades, escolaridade ou títulos. Isto é um equívoco imenso, mas infelizmente muitos em cargos de liderança nos fazem lembrar que essa nódoa existe e que continua sendo praticada diariamente.
É de fato algo que precisamos superar.

Hoje em dia, quando esta ‘invisibilidade’ é tão ostensiva que podemos claramente identificar sua existência, chamamos de preconceito.

Nosso mundo altamente compartimentado e segmentado criou nichos e formas de organização. E os mesmos possibilitam o funcionamento de uma complexa engrenagem de produção/utilização do mundo.
O problema começa quando permitimos que tais compartimentações que tem que ver com divisões de trabalho se confundam com a forma como olhamos este Outro.
Aí de fato podemos ir para a esfera do parar de enxergar pessoas que são fundamentais para que toda essa dinâmica exista.
Daí a importância desse olhar atento às nossas atitudes em relação aos que nos rodeiam, e que fazem toda a diferença em nossas rotinas.

A questão da invisibilidade que procurei trazer à tona aqui nada tem que ver com um maniqueísmo proposital. Elas tem que ver como indivíduos sociais inseridos num mercado consumidor veem os invisíveis dentro desta mesma sociedade.

Procurei mostrar de que forma cada um individualmente dá sua parcela de visibilidade e invisibilidades a todos esses trabalhadores no desempenho de suas funções através da forma como os tratamos e os “vemos”.

Veja, que não falo aqui daquele sentimento que também pode parecer pequeno que é o de “ajudar”.
Não.
Falo de respeito, cumprimentos dados olho no olho. Atenção dada e dispensada a um igual e não um “inferior” que eu me digno a olhar.
Essa forma que denota preconceito existe sim e a pesquisa apontada mostrava isso.

Portanto fica minha dica de auto reflexão…

Uniformes & Invisibilidade

Outro aspecto interessante nesta pesquisa foi apontar que em muitos casos os uniformes servem como “manto de invisibilidade”. Já que por meio de tais uniformes condiciona-se pessoas a determinados usos do espaço social. Indicam de onde vem e qual a função que ocupam e como devem ser “vistos”. É uma dentre tantas fronteiras que os espaços profissionais podem tecer.

Os uniformes, muitas vezes usados como garantias de segurança ou hegemonização dos espaços liga-se profundamente a ideia de exercer o controle, poder e vigilância.
Essa coisa de exercer a vigilância como forma de centralizar o poder e controlar pessoas é talvez a grande ambição humana. Acho que a relação humana acaba sempre colocando como mediação formas de controle para justificar atuações, sejam elas políticas, sociais, econômicas, entre outras.
Basta pensarmos em Michel Foucault.

Como se vê, as barreiras não são apenas físicas e edificadas com tijolos. Podem estar à nossa volta e o que é pior, podemos ser nós a erigi-las. Por isso, creio que lidar com o diferente é algo que começa em casa e o outro terá que ser incluído em nossas existências, posturas e ações. Falar, projetar e pensar sempre é mais fácil que agir. Mas é nossa responsabilidade colaborar para esse salto qualitativo de relação.

Creio que aqui seja um bom momento para assistirmos o próprio pesquisador falando sobre seu tema:

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Vejo que o fundamental é sempre olharmos com várias perspectivas, e nisso a troca com outros é fundamental. O que para nó,s às vezes não é óbvio ou claro, pode ser oferecido pelo olhar alheio.

O que fica claro para mim a cada cumprimento é que em sua essência todos gostam da mesma atenção. Então, por criar diferenças?

Como digo sempre, temos que olhar de um ponto de vista empático. Se não soubermos exercer a empatia pouco prosseguiremos no sentido de extirpar esse mal do nosso meio. Estimular a empatia, e exercê-la cotidianamente, nos tornará melhores e mais receptivos do outro. Escrevi sobre empatia em outro post, você poderá saber mais clicando aqui:

A invisibilidade também pode projetar-se em casos de servidores, funcionários ou colaboradores que também oferecem seu intelecto e experiência por anos a fio e que de repente se defrontam com seu “descarte”. Aposentados, ou mesmo demitidos, são postos à parte como se tudo o que soubessem não valesse nada.

Neste ponto, e muito afeita a minha área de atuação, creio que entra uma forma muito interessante de uma instituição reverter esta invisibilidade/descarte com valorização de capital intelectual.

Mas, como?
Quando as instituições reconhecem que estas pessoas podem contribuir e muito para a fortalecer a Memória Institucional e a Cultura Organizacional o passo para o abandono à invisibilidade é dado!

Nós na ER Consultoria trabalhamos com prazer em Projetos que auxiliam as instituições a dar e receber o melhor enquanto preocupam-se com sua Identidade institucional e valorizam o Capital Intelectual de sua organização.
Consulte-nos e saiba como podemos trabalhar hoje, amanhã e sempre, para que nunca a invisibilidade assole e faça perder o valor primeiro de uma organização e sua herança para o futuro.
Ao mesmo tempo em que se garante a produção de Conhecimento e Inovação.

Escolho para encerrar esse post um poema.

É de Bertolt Brecht,

“Perguntas de um trabalhador que lê”:

Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?

Nos livros estão nomes de reis; os reis carregaram pedras?

E Babilônia, tantas vezes destruída, quem a reconstruía sempre?

Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a edificaram?

No dia em que a Muralha da China ficou pronta, para onde foram os pedreiros?

A grande Roma está cheia de arcos-do-triunfo: quem os erigiu?

Quem eram aqueles que foram vencidos pelos Césares?

Bizâncio, tão famosa, tinha somente palácios para seus moradores?

Na legendária Atlântida, quando o mar a engoliu, os afogados continuaram a dar ordens a seus escravos. O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho?

César ocupou a Gália. Não estava com ele nem mesmo um cozinheiro?

Felipe da Espanha chorou quando sua frota naufragou. Foi o único a chorar?

Frederico Segundo venceu a guerra dos sete anos. Quem partilhou da vitória?

A cada página uma vitória. Quem preparava os banquetes comemorativos?

A cada dez anos um grande homem. Quem pagava as despesas?

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