É preciso que se diga e se assuma definitivamente: a Cultura Digital é restrita a poucos, e estes só possuem lugar garantido no consumo de países desenvolvidos.
Uma massa gigantesca da humanidade permanecerá onde está: excluída!
O desenvolvimento tecnológico não propicia de forma alguma a possibilidade de distribuição igualitária de bens tecnológicos. Já que bens tecnológicos significam poder de compra.
Mas a cultura tecnológica tem também suas carências. As redes sociais que brotaram nesta fauna apresentam muitos e variados problemas e dentre eles talvez seu maior defeito: criadas e desenvolvidas para um ambiente de consumo caracterizam-se por pouca ou quase nula atenção. Tem seus movimentos em ondas de massas, mas que infelizmente não significam autoconhecimento.
Alguns dirão que são revolucionárias. Não as considero como tais! Conseguem sim, em alguns casos, arregimentar pessoas em torno de pautas muito pontuais. Não adiantaria pautas extensas ou longas. Não conseguiriam adeptos. E por isso a afirmação de que as redes sociais não tem consistência atenta.
“A tecnologia se perpetua através da desatenção, desigualdade, inconsistência e consumo ávido. Sem tais ingredientes não se mantém”.
Por: Eliana Rezende Bethancourt
A exclusão digital também se configura pela forma como indivíduos se apropriam desta tecnologias, e isto pode significar ter ou não ter determinado aplicativo ou aparelho. Mas também pode significar única e exclusivamente saber utilizar a parafernália que os acompanha ou até não conseguir acesso à redes WiFi.
O que é ponto pacífico em um ou outro caso é que a exclusão digital anda pare-passo com a exclusão social. São simbióticas e pertencem a indivíduos que antes de tudo, estão em uma determinada camada da sociedade. A exclusão digital é portanto, um dos produtos de que a exclusão social é capaz de fazer. Podemos considerar que o acesso à internet estendida a todos os cidadãos figura como uma categoria de Direitos Humanos que deve ser oferecida a todos indistintamente.
Por exemplo, no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos é assegurado a todos os seres humanos o direito à informação. O texto segue como encontrado:
“Artigo 19: Todos os seres humanos têm direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.”
Declaração Universal dos Direitos Humanos, ONU
Mas o acesso a informação por si só não oferece a igualdade de condições entre as diversas pessoas e nem mesmo a apropriação desta para a produção de Conhecimento. É neste sentido que a Economia de Conhecimento enfrenta muitos desafios, em especial o que lida com a exclusão digital, que se transforma numa grande barreira para que o salto qualitativo de fato se dê na sociedade como um todo. Tal fato se dá porque a produção de Conhecimento necessita de fatores intrínsecos e extrínsecos ao próprio indivíduo para que se realize. Dar acesso por si só não é garantia de quase nada. A informação propiciada por meios tecnológicos necessita ser apropriada e transformada em experiência prática pelo próprio individuo que deverá ser incluído tanto por ferramentas como por saber identificar como elas podem ser usadas.
A pior parte de uma forma de exclusão como a que temos em nosso país é ela ocorrer em pleno momento da história que se diz que vivemos no tempo da sociedade de informação. Mesmo esta expressão intelectualmente construída para caracterizar um tempo de explosão informacional e de recursos tecnológico esbarra nos abismos sociais e culturais que diferentes partes do mundo possuem. E ao que tudo indica, como sempre ocorreu na história, estes bens não terão ampla distribuição e acesso à todas as parcelas da sociedade.
E ainda temos outro ingrediente fundamental: não basta apenas haver meios disponíveis em termos nacionais de tecnologia se as pessoas não souberem como utilizar as diferentes ferramentas para otimizar sua vida e seus trabalhos, e com isso ser capaz de produzir conhecimentos ou melhores condições na elaboração de suas atividades cotidianas e de trabalho. Sem entender esta lógica, dificilmente haverá benefícios gerais.
Donde se conclui que a exclusão digital pode ocorrer de diferentes maneiras:
A primeira e a mais visível é o individuo não ter o acesso à computadores, internet ou outros meios digitais que favoreçam o acesso e a troca de informações.
Analfabetismo digital e às vezes, também funcional, onde o indivíduo simplesmente não compreende o básico necessário para ler e usar comandos tecnológicos simples sem auxílio de uma outra pessoa
Incapacidade de saber usar ferramentas básicas de todos os dias que o auxiliariam em tornar o desenvolvimento de suas atividades cotidianas.
Puro e simples desinteresse. Onde o individuo não sabe e não se interessa em aprender.
O que é certo é que a exclusão econômica leva à exclusão digital quase que de forma espontânea. A exclusão digital é quase o produto final de uma exclusão econômica que em geral, se atrela à uma exclusão social.
Por isso, é fundamental entender que não basta apenas haver internet, redes ou equipamentos. Se não enfrentarmos a exclusão social e econômica, a exclusão digital NUNCA será eliminada ou minorada. Por isso, precisamos entender que políticas públicas NECESSITAM ser implementadas e pensadas tomando-se em conta esta realidade no nosso país e o caminho primeiro é via da Educação.
Afinal, se fazemos mais, melhor e mais rápido com o uso e apropriação de tecnologias por que ainda há abismos entre nós?
Como poderíamos imaginar o quanto a grande massa de informações que temos hoje disponível, em ambientes digitais por meio de diferentes plataformas e programas, poderiam acabar se convertendo em massa amorfa e ruído branco, sendo apenas potencializadora de gastos e nenhum benefício? Como poderíamos supor que grande quantidade de dados e até informações poderiam ter como contra-indicação transformar-se apenas em custo sem nada poder oferecer?
O fato é que a facilidade que hoje temos, tanto de produzir como de armazenar, registros que poderão ou não ser utilizados, faz com que produzamos uma quantidade imensa de dados que representam apenas, e tão somente ruído, pois não oferecem informações capazes de gerar produtos, sejam para quais fins forem.
Esta massa, que aumenta dia-a-dia tem sua localização dificultada pela dispersão e ausência de padrões para seu armazenamento e posterior recuperação. É usual nos depararmos com conjuntos imensos de registros que ninguém sabe exatamente do que tratam e porque estão ali armazenados. Em geral, ocupam redes, computadores, pendrives e até gavetas. Nesta linha entram e-mails, tabelas, planilhas, gráficos e demais registros que, sem uma estruturação, nada trarão de benefício para seus produtores e/ou armazenadores do que volume e gastos para seu armazenamento. Nesta condição também estão digitalizações realizadas de forma massiva e sem critérios, tornando todo o conjunto apenas uma grande redundância desprovida de significado e sem possibilidade de ágil localização nem utilização.
A forma de acúmulo é bem conhecida por todos: guardamos por que achamos que um dia isso nós será útil, necessário, ou que alguém irá solicitar… “vai que”… e em pouquíssimo tempo temos uma imensidão de registros que, para pouco ou nada servem. O acúmulo também pode ocorrer pela “desconfiança”. Temos receio que alguém, antes ou depois, irá perder o que é importante e nos responsabilizarão por isso. Então passamos a reproduzir tais registros, provocando o que chamamos de redundâncias de informações, entropia. A situação fica às vezes tão crítica que somos capazes de encontrar o mesmo registro em todos os suportes possíveis: analógicos, digitais, e às vezes até em fax-símiles, digitalizações e fotocópias.
Este acúmulo pode ficar ainda pior, se a eles acrescentarmos registros fotográficos, audiovisuais e até mensagens como whatsapp! Para estes casos, é comum termos uma imensidão de registros que compõem o que chamaríamos de “crônicas de mais do mesmo”. A facilidade de produção destes registros torna o número de imagens e audiovisuais uma quantidade absurda, mas que ao mesmo tempo, e quase sempre, impossíveis de serem identificadas e processadas. Tornam-se uma massa indecifrável e indisponível, quase sempre. Em geral, sabe-se que eles existem, que estão lá, mas ninguém os consegue localizar. Por um período sobrará alguém que saiba minimamente do que se tratava, mas transcorrido tempo, nem isso se saberá: ninguém será capaz de dizer o que ali está sem ter que abrir, registro a registro.
Isto que inicialmente pode parecer apenas e tão somente desorganização, com o tempo e fazendo-se uma análise mais acurada se mostrará algo bem mais grave. O suposto mundo digital limpinho e muito organizado pode se converter em seu maior pesadelo, quase que sem você perceber.
A grande transformação pela qual o mundo passa depende em grande parte da forma como lida com seus dados. Muita tecnologia tem sido desenvolvida nas formas de produção de dados. Mas a produção simplesmente não basta! É preciso entender que estamos também sofrendo transformações nas formas como obtemos e coletamos tais dados, como os armazenamos e principalmente como os analisaremos para poder gerar informação de qualidade. Não entender esta dinâmica que vai da produção à utilização e guarda racional nos transformará apenas em acumuladores. E acumuladores, em geral, simplesmente não conseguem determinar o real valor do que possuem e para quê o guardam. Se isso pode ser um péssimo vício individual, imagine quando ele alcança patamares institucionais.
O volume de dados gerados é imenso já que tudo à nossa volta comporta capacidades estatísticas para a reunião posterior e utilização destes registros, em geral para que sejam formuladas informações que validem decisões estratégicas. Por exemplo, informações oriundas de mudanças climáticas que acumulam registros sobre densidades, volumetrias e índices de chuvas e estiagens e interferência em regimes de plantios, ou combate de pragas. Há dados que se originam de pessoas: podem vir de prontuários médicos, prontuários de alunos, consumo de marcas, alimentos, veículos ou roupas, passando por arte, cultura e lazer. Quando estes vários conjuntos de dados se cruzam, quer pelo olhar de um pesquisador de área acadêmica específica, quer de um estudioso de tendências de mercado o resultado será muito mais registros que se sobrepõem. No entanto, todos estes dados AINDA precisam de uma lógica humana definindo as perguntas certas para encontrar nesta quantidade infindável de registros, e que de fato façam sentido como informação de valor.
Observe: A empresa Veritas fez uma pesquisa com 1.500 profissionais dispersos por 15 países e constatou que 52% dos dados armazenados dentro das instituições não possuem nenhum tipo de classificação, tornando-se com isso absolutamente invisíveis e indisponíveis para tomadas de decisões, sendo apenas útil para hackers – que violarão e utilização estes dados para fins que estão longe desejáveis para a instituição. No Brasil este número não é diferente e revela as mesmas mazelas.
Para se ter uma ideia desde volume, estimativas dão conta de que apenas no ano de 2020 estarão sendo lançados na atmosfera 6.4 milhões de toneladas de CO2 na geração de energia para manter armazenados em data centers tal quantidade de dados. Sendo que boa parte deles, ou mantendo-se a estimativa acima, 52% serão de dados e registros sem valor algum, por que são mantidos sem classificação e/ou identificação. E é preciso que se diga que estes números tendem a duplicar a cada dois anos. Ou seja, a produção mundial chega facilmente a 500 quatrilhões de dados armazenados no universo digital.
O que significa dizer que deste montante e obedecendo os percentuais citados acima teremos 91ZB de dark data no mundo, fato que apenas gera consumo de energia e libera CO2 na atmosfera. Mas o que é a “dark data”? Em uma tradução livre seria exatamente este amontoados de dados não tratados, e que por isso tornam-se inúteis e sem valor, pois não estão relacionados a mais nada. São órfãos neste sentido.
Os prejuízos óbvios são financeiros, mas também o são em termos de sustentabilidade do planeta. As pegadas ecológicas resultantes desta guarda desprovida de significado são imensas, e para uma empresa que tenta praticar a responsabilidade ambiental é bastante constrangedor. As pegadas ecológicas são o que poderíamos chamar de uma contabilidade ambiental onde as empresas e cidadãos utilizam e/ou avançam sobre recursos naturais e o quanto isso impacta o Planeta. O armazenamento em data centers significa milhões de toneladas de carbono, que ano a ano representam florestas inteiras. A chamada “dark data” sozinha pode significar uma produção de dióxido de carbono superior a de 80 países, ou mais precisamente seria como se um carro rodando 575 mil vezes ao redor da Terra queimando CO2!
Entendendo e desmitificando o Big Data O termo Big Data começou a entrar em voga pelos idos da década de 1990, mas foi ganhando importância à medida que o volume de dados acumulados no mundo foi aumentando, propiciado em grande parte pela facilidade tecnológica e diferenciação de suportes e mídias. Anteriormente quando falávamos em Big Data utilizávamos como principais métricas três variáveis: volume, variedade (podem ser compostos por dados estruturados, mas também com dados semiestruturados e principalmente não estruturados, como: vídeos, fotografias, áudios, atualizações de redes sociais, cliques, dados de máquinas, entre outros) e velocidade. Juntos compunham o que era chamado os 3Vs do Big Data. Mas, hoje em dia pode-se acrescentar mais outros 7Vs. Suas características podem ser resumidas, segundo Juan Pablo D. Boeira como sendo:
“Variabilidade: Um é o número de inconsistências nos dados (…) É variável também devido à multiplicidade de dimensões de dados resultantes de vários tipos e fontes de dados diferentes. Variabilidade também pode se referir à velocidade inconsistente na qual os dados são carregados em um banco de dados. Veracidade: À medida que todas as propriedades acima podem aumentar, a veracidade (ou confiança nos dados) diminui (…) A veracidade refere-se à proveniência ou confiabilidade da fonte de dados, seu contexto e a importância da análise com base nela. Os criadores de dados resumiram as informações? As informações foram editadas ou modificadas por mais alguém? As respostas a essas perguntas são necessárias para determinar a veracidade dessas informações.(…) Validade: Semelhante à veracidade, a validade refere-se à precisão e correção dos dados para o uso pretendido. Estima-se que 60% do tempo de um cientista de dados é gasto limpando seus dados antes de poder fazer qualquer análise. Vulnerabilidade: O big data vem trazendo novas preocupações em relação à segurança dos dados e, por este motivo, é necessária uma atenção especial nos quesitos ligados à privacidade. Volatilidade: Quanto tempo um banco de dados precisa ter para que seja considerado relevante? Por quanto tempo os dados precisam ser mantidos? Antes do Big Data, as organizações tendiam a armazenar dados indefinidamente – alguns terabytes de dados podem não criar altas despesas de armazenamento; pode até ser mantido no banco de dados ativo sem causar problemas de desempenho. É necessário estabelecer regras para a disponibilidade de dados, além de garantir a recuperação rápida de informações quando necessário. Faz-se operante também verificar se os dados estão claramente vinculados às necessidades e processos da organização, assim como se fazem sentido em relação a custos e a complexidade de um processo de armazenamento e recuperação. Visualização: Por este motivo, é de suma importância utilizar-se de dashboards para visualizações gerenciais dos dados, transformando-os em informações para tomadas de decisão. Valor: As outras características do Big Data não fazem sentido se não houver valor comercial relevante para os dados. (…)”
Questões fundamentais a tomar em conta em relação à sua produção de dados O cenário que temos hoje, e que vem sendo fortalecido, é de digitalização da sociedade e das instituições tornando cada vez mais registros móveis e dinâmicos um caminho natural de compartilhamento e trabalho. E são exatamente nestes dispositivos que o maior número de informações são registradas e não identificadas, tagueadas, classificadas. Tornando-se uma fauna propícia ao vazamento de informações sensíveis. O que deixa claro que, se de um lado, há a facilidade de produção e armazenamento, de outro lado há o acúmulo massivo e sem significado que pode ter como principal produto vazamentos de informações que debilitam a segurança dos dados armazenados.Mas, se a segurança dos dados é um fator que preocupa muito as organizações, como estabelecer a hierarquia de valor e importância se não se sabe ao certo o quê se possui? Como saber o risco que representam e o grau de sensibilidade de seus dados se não conhecem ou sabem sobre eles?
Aí que entra o importante trabalho de Gestão de Informação e a utilização de ferramentas apropriadas para identificação, armazenamento e localização de informações, e sua posterior disponibilização para tomada de decisões estratégicas. Note que não falo aqui em curadoria de conteúdos. Esta estratégia não se aplica ao dark data. Sobre este tema escrevi o artigo “Curadoria de Conteúdos: O que é? Quem faz? Como faz?“, onde abordo o que significa este trabalho. Ao lê-lo poderá perceber a diferença entre uma coisa e outra.
Existe ainda um outro ingrediente de complexidade, e não apenas de tecnologia. Se tomarmos instituições públicas ou mistas, ou mesmo empresas que precisam cumprir aspectos legais envolvendo leis trabalhistas e tributárias temos aTemporalidade Documental. Há documentos que necessitam cumprir prazos prescricionais estabelecidos em legislação vigente. Portanto, não basta apenas saber o quê se tem, se produz e onde se armazena. É preciso criar instrumentos para organizar e guardar pelo tempo estabelecido em lei tais documentos independente de seus suportes.
Mas podemos ir mais longe. Há empresas e instituições que possuem uma estatura que a tornam verdadeiros patrimônios e que detém importantes documentos que merecem guarda permanente. Para estes casos não basta querer guardar TUDO. É preciso estabelecer critérios sobre o quê preservar, para quê, por quem e com quais finalidades. Não saber isso significará o problema que pontuamos acima e os prejuízos daí decorrentes.
Uma instituição que se reconheça como sendo detentora de um Patrimônio mostrará isso a partir de ações que indicam que possuem preocupações com o que chamo de Responsabilidade Histórica nas Organizações: seu papel em garantir à civilização futura o seu patrimônio cultural/documental como herança de um percurso de valor.
Como proceder diante disso? É fundamental que antes de tudo a instituição conheça o quê produz, porquê e com qual finalidade. Para, a seguir buscar compreender o que merece este dispêndio de energia e custos, e o que pode simplesmente ser eliminado. Daí que o estabelecimento de normas e procedimentos para este fluxo documental precisam e devem ser criados e rigorosamente obedecido, bem como estratégias de segurança, sigilo e acesso precisam ser definidas. O que é preciso deixar claro é que quem deve fazer isso, são os que tem a responsabilidade de produção, circulação e guarda destes registros e não apenas ferramentas tecnológicas. Estas são muito importantes, minimizam retrabalho e auxiliam nas tarefas, mas não são Solução para todas as decisões que precisam ser tomadas e monitoradas.
Como podemos auxiliá-lo? Se você possui informações dispersas e definitivamente não sabe o quê possui e que decisões tomar em relação a isso, consulte-nos. Teremos imenso prazer em auxiliá-lo a encontrar uma solução que de fato atenda seus problemas não apenas de produção e armazenamento, mas também decisões sobre por quanto tempo manter tais registros, aonde e por quem.
Em 2016 foram uma, duas, três vezes e milhões de brasileiros sendo penitenciados por uma decisão togada que revelava além de uso desproporcional de força um equívoco provocado por desinformação começada na toga e concluída em praça pública.
Não creio ser necessário entrar no mérito da questão judicial que de um lado pressionava a empresa detentora do serviço (WhatsApp) e a questão de quebra de sigilo de contas de contraventores ou punição de milhões de inocentes.
O que me chamava a atenção naquele momento, e ainda hoje, era a desinformação sobre o assunto da criptografia por parte dos que julgam e promulgam sentenças. Algo crasso e imperdoável. Emitiram pareceres que caberiam bem no século XIX, ou no XX sem web. Mas nos dias de hoje?!
Todo o mal entendido e as consequências dele decorrentes giravam em torno do desconhecimento do que vinha a ser criptografia.
Mas afinal: o que é mesmo criptografia?
Se formos ao dicionário, a definição mais completa seria:
“(….) Conjunto de regras e técnicas utilizado para cifrar, para codificar a escrita, transformando-a num tipo de código incompreensível para quem não está autorizado a ter acesso ao seu conteúdo. (…)”
A palavra criptografia vem do grego e é formada por duas palavras: “kryptós” que significa oculto e “gráphein” que significa escrever. Ou seja, é uma escrita escondida.
A técnica em si não é nova e remonta às civilizações clássicas gregas, romanas e egípcias que criptografavam seus escritos para impedir que inimigos tomassem conhecimento de seus escritos. Exemplo disso é a necessidade de pesquisadores decodificarem inscrições para compreenderem escritos diversos de tabuletas à tumbas.
A criptografia funciona como se fosse um embaralhamento de dados. E tal como ocorria em tempos passados, o objetivo é tornar seguro o conteúdo da informação trocada entre partes.
O grau de segurança de uma criptografia esta na quantidade bits utilizados para encriptação. Já que um sistema de encriptação que contenha 8 bits oferece um universo de 256 combinações diferentes. Atualmente utilizam-se 128 bits (que são combinações de números e letras).
Para se ter uma ideia, no modelo 128 bits, para se conseguir decodificá-los seriam necessários 40 computadores trabalhando simultaneamente durante 20 anos ininterruptamente! Isto do ponto de vista de um meio onde a fragilidade e volatilidade predominam é fundamental para garantir a segurança das partes.
De um ponto de vista mais técnico, diríamos que a criptografia pode ser simétrica e assimétrica e envolve uma série de procedimentos para cada um destes casos. Como não é objetivo deste post explanar tecnicamente isto sugiro a leitura para maior entendimento e mais fontes de bibliografia e consulta o texto “Segurança, Criptografia, Privacidade e Anonimato”.
Graficamente a criptografia pode ser exemplificada da seguinte forma:
Ou seja, o conteúdo das informações trocadas ficam disponíveis apenas entre os envolvidos, como se houvessem cadeados que as trancassem e apenas a chave que cada um tem as abre e decodifica.
Agora vejamos o caso do WhatsApp
Recentemente a ferramenta enviou mensagens a todos seus usuários informando que estaria sendo utilizada a criptografia de ponta-a-ponta. Provavelmente foi uma mensagem assim que você recebeu no seu celular, e que continua a receber toda vez que acrescenta um novo contato:
O que de fato este tipo de criptografia significa?
A chamada “criptografia de ponta-a-ponta” do WhatsApp assegura que somente as pessoas que estão se comunicando possam ler o conteúdo trocado. Ninguém mais consegue fazê-lo, nem mesmo o próprio WhatsApp.
Este formato de segurança, apesar de questionado para os casos de uso ao crime é uma grande segurança para usuários comuns e que representam a esmagadora a maioria de utilizações. Claro que crimes podem ser cometidos, mas interferir neste caso significa por em xeque a segurança de milhões de usuários. Algo prezado e alvo de muitos lutas e debates para que passassem a existir.
Por envolver tantos milhões de pessoas e negócios é uma relação onde o custo benefício precisa ser medido de forma responsável.
Como o próprio STF vem se manifestando, este tipo de punição a milhões de pessoas é desproporcional.
De minha parte, acrescento que, ignorante por parte de quem julga e inconsequente perante a punição de milhões de usuários que nada tem com o ocorrido. Não se pune 100 milhões de pessoas por causa de UM contraventor!
Além do mais, as decisões de bloqueio tomam a ferramenta como se a mesma funcionasse como um telefonema. O que nossos togados se esquecem, é que apesar de ser usada em um aparelho celular, a ferramenta está longe de possuir as características tão usuais de grampos telefônicos.
Se criminosos se comunicam da cadeia usando a ferramenta, o problema que precede ao seu uso, e este sim de competência das autoridades, é o de celulares nos presídios!
Enquanto soluções tecnológicas que atendam de um lado o direito à privacidade e sigilo de uns e, de outro, o praticante de delito, não estiverem disponíveis e sem prejuízo a ninguém, é preciso que togados usem de bom juízo e entendam os tempos que julgam, os meios tecnológicos e o seu alcance social. As decisões não podem ser unilaterais, autoritárias nem desproporcionais. Fazer isso fere a essência do que seja praticar o Juízo e a justiça.
Julgar, tomando em conta um único aspecto e perder de vista o alcance e prejuízo social de todos, em nome de um é uma irracionalidade torpe e sem sentido. A imagem da justiça com uma venda nos olhos parece se aplicar com precisão nestes casos.
Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação de procedimentos para a Preservação Digital e Repositórios Digitais Confiáveis em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a produção e tramitação de documentos digitais.
A Gestão da Informação como Transparência à Administração Pública tem sido um tema aliciante e em voga em muitos países do mundo e não poderia ser diferente em nosso próprio continente.
Uma experiência agradabilíssima e que serviu para demonstrar que o tema de fato tem movimentado diferentes países e políticas publicas com alcances e abrangências diversas.
Daí a riqueza e importância de um evento como este.
Com representantes ibero-americanos, o Seminário Internacional teve como principal objetivo trocar experiências entre profissionais empenhados, nos seus respectivos países, no tratamento da informação com a finalidade de garantir acesso e preservação à mesma. Além disso, e num trabalho intimamente relacionado está o fortalecimento da Memória Institucional.
No universo institucional, muitos confundem soluções de ECM/GED como sendo Gestão Documental, o que gera uma série de problemas. Gestão Documental possui um universo muito mais abrangente do que a mera definição de uma solução tecnológica!
Foi exatamente em torno desta que fiz minha exposição.
O Seminário foi profícuo neste sentido e mostrou como diferentes profissionais, em seus âmbitos de atuação, vêm cuidando, tratando e normatizando princípios em relação à Gestão Documental.
Além disso, buscou apresentar diferentes modelos aplicáveis à Gestão Documental e como os mesmos se relacionam com políticas com vistas ao Governo Aberto.
Com uma intensa agenda de dois dias inteiros mostrou de forma bastante consistente o que os países Ibero-americanos vêm realizando no âmbito da Gestão da Informação e o acesso. São políticas diversas, que adequam-se à universos diversos, mas ao mesmo tempo demonstram como uma grande gama de princípios norteadores pautam trabalhos e iniciativas, e em boa parte das vezes com muito bons resultados.
Como forma de demonstrar isso, apresento a página com a Programação Geral do evento, que você pode acessar clicando aqui, onde terá informações sobre o objetivo do evento e maiores informações sobre a instituição acolhedora: IFAI (Instituto Federal de Acceso a la Información y Protección de Datos – México)
Para que o evento possa ser apreciado em sua totalidade, ao mesmo tempo mostrando o alcance das conferências e mesas, a seguir disponibilizo o link de cada uma das exposições. Considero que isso agregará muito valor e interesse à diferentes profissionais na área de Informação.
Clicando aqui você poderá acessar a programação do evento e as versões estenográficas de cada uma das apresentações, inclusive a minha.
Além disso, disponibilizo o post que foi base para uma das minhas apresentações, intitulada “Gestão Documental: transparência e racionalidade às Administrações“, clicando aqui.
Conto que seja de grande proveito a todos e que possa servir de inspiração para iniciativas locais regionais e nacionais, já que vem sendo perseguido pelos diferentes países convidados.
Apoiamos a utilização da Informação como base para gerar Conhecimento e Inovação nas empresas. Defendemos que a Memória Institucional possui um papel vital na valorização do Capital Intelectual, ajudando a consolidar a Identidade e a Imagem Organizacional. Além disso, ela deve ser vista como mais uma ferramenta de Gestão Estratégica que fortalece a Cultura Organizacional e promove a prática da Responsabilidade Histórica nas instituições.
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