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A Cultura Digital e seus Excluídos

Por: Eliana Rezende Bethancourt

É preciso que se diga e se assuma definitivamente: a Cultura Digital é restrita a poucos, e estes só possuem lugar garantido no consumo de países desenvolvidos.

Uma massa gigantesca da humanidade permanecerá onde está: excluída!

O desenvolvimento tecnológico não propicia de forma alguma a possibilidade de distribuição igualitária de bens tecnológicos. Já que bens tecnológicos significam poder de compra.

Mas a cultura tecnológica tem também suas carências. As redes sociais que brotaram nesta fauna apresentam muitos e variados problemas e dentre eles talvez seu maior defeito: criadas e desenvolvidas para um ambiente de consumo caracterizam-se por pouca ou quase nula atenção. Tem seus movimentos em ondas de massas, mas que infelizmente não significam autoconhecimento.

Alguns dirão que são revolucionárias. Não as considero como tais! Conseguem sim, em alguns casos, arregimentar pessoas em torno de pautas muito pontuais. Não adiantaria pautas extensas ou longas. Não conseguiriam adeptos. E por isso a afirmação de que as redes sociais não tem consistência atenta.

“A tecnologia se perpetua através da desatenção, desigualdade, inconsistência e consumo ávido. Sem tais ingredientes não se mantém”. 

Por: Eliana Rezende Bethancourt

A exclusão digital também se configura pela forma como indivíduos se apropriam desta tecnologias, e isto pode significar ter ou não ter determinado aplicativo ou aparelho. Mas também pode significar única e exclusivamente saber utilizar a parafernália que os acompanha ou até não conseguir acesso à redes WiFi. 

O que é ponto pacífico em um ou outro caso é que a exclusão digital anda pare-passo com a exclusão social. São simbióticas e pertencem a indivíduos que antes de tudo, estão em uma determinada camada da sociedade. A exclusão digital é portanto, um dos produtos de que a exclusão social é capaz de fazer. 
Podemos considerar que o acesso à internet estendida a todos os cidadãos figura como uma categoria de Direitos Humanos que deve ser oferecida a todos indistintamente.

Por exemplo, no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos é assegurado a todos os seres humanos o direito à informação. O texto segue como encontrado:

“Artigo 19: Todos os seres humanos têm direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.”

Declaração Universal dos Direitos Humanos, ONU

Mas o acesso a informação por si só não oferece a igualdade de condições entre as diversas pessoas e nem mesmo a apropriação desta para a produção de Conhecimento. É neste sentido que a Economia de Conhecimento enfrenta muitos desafios, em especial o que lida com a exclusão digital, que se transforma numa grande barreira para que o salto qualitativo de fato se dê na sociedade como um todo. Tal fato se dá porque a produção de Conhecimento necessita de fatores intrínsecos e extrínsecos ao próprio indivíduo para que se realize. Dar acesso por si só não é garantia de quase nada. A informação propiciada por meios tecnológicos necessita ser apropriada e transformada em experiência prática pelo próprio individuo que deverá ser incluído tanto por ferramentas como por saber identificar como elas podem ser usadas.

A pior parte de uma forma de exclusão como a que temos em nosso país é ela ocorrer em pleno momento da história que se diz que vivemos no tempo da sociedade de informação. Mesmo esta expressão intelectualmente construída para caracterizar um tempo de explosão informacional e de recursos tecnológico esbarra nos abismos sociais e culturais que diferentes partes do mundo possuem. E ao que tudo indica, como sempre ocorreu na história, estes bens não terão ampla distribuição e acesso à todas as parcelas da sociedade.   

E ainda temos outro ingrediente fundamental: não basta apenas haver meios disponíveis em termos nacionais de tecnologia se as pessoas não souberem como utilizar as diferentes ferramentas para otimizar sua vida e seus trabalhos, e com isso ser capaz de produzir conhecimentos ou melhores condições na elaboração de suas atividades cotidianas e de trabalho. Sem entender esta lógica, dificilmente haverá benefícios gerais.

Donde se conclui que a exclusão digital pode ocorrer de diferentes maneiras:

  1. A primeira e a mais visível é o individuo não ter o acesso à computadores, internet ou outros meios digitais que favoreçam o acesso e a troca de informações.
  2. Analfabetismo digital e às vezes, também funcional, onde o indivíduo simplesmente não compreende o básico necessário para ler e usar comandos tecnológicos simples sem auxílio de uma outra pessoa
  3. Incapacidade de saber usar ferramentas básicas de todos os dias que o auxiliariam em tornar o desenvolvimento de suas atividades cotidianas.
  4. Puro e simples desinteresse. Onde o individuo não sabe e não se interessa em aprender.

O que é certo é que a exclusão econômica leva à exclusão digital quase que de forma espontânea. A exclusão digital é quase o produto final de uma exclusão econômica que em geral, se atrela à uma exclusão social.

Por isso, é fundamental entender que não basta apenas haver internet, redes ou equipamentos. Se não enfrentarmos a exclusão social e econômica, a exclusão digital NUNCA será eliminada ou minorada. Por isso, precisamos entender que políticas públicas NECESSITAM ser implementadas e pensadas tomando-se em conta esta realidade no nosso país e o caminho primeiro é via da Educação.

Afinal, se fazemos mais, melhor e mais rápido com o uso e apropriação de tecnologias por que ainda há abismos entre nós?

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Nas ruas e nas redes: uma metodologia para análise da sociedade digital

Por: Eliana Rezende Bethancourt

A sociedade possui uma forma de estar e se comportar tanto nas ruas como em redes. Nossa sociedade se movimenta tanto física quanto digitalmente.

Registros fotográficos captam instantes e movimentos vividos nas ruas. Nas redes esta ‘fotografia’ de instantes pode ser observada com ferramentas de análise de redes.

A fotografia em toda sua história possui a característica de registrar e enfocar algo para nos chamar a atenção. O fotógrafo nos dirige o olhar para aquilo que lhe interessa e tudo o que está fora do enquadramento compõe o que chamamos extraquadro e se torna ausente. A fotografia, não representa nem a verdade de uma situação e representa sim um olhar sobre um vasto campo que engloba o objeto, mas que também exclui tudo o que compõe o extraquadro. É fruto de uma escolha pessoal e subjetiva do fotógrafo.

Da mesma forma que o registro fotográfico, as ferramentas de análise de redes que resultam em imagens instantâneas dos temas que provocam engajamento também trazem este foco, ao mesmo tempo que possuem, não um extraquadro, mas um contexto para suas conexões.

Há uma ampla gama de ferramentas que são utilizadas na coleta, análise, configuração dos dados e a elaboração de gráficos e imagens que fornecem a possibilidade de se verificar não apenas os graus de engajamento e interação, mas também a densidade destas ligações.

Dentre eles, temos, segundo SILVA, T. F. da .; RAMOS, T. C. da S. .; DAVID , H. M. S. L. .; VIEIRA, A. C. T. (2021):

– “(…) O Ucinet© – mais utilizado nos estudos que envolvem Análises de Redes Sociais (ARS) –, criado para auxiliar o analista de redes sociais no estudo das relações por meio de seus padrões. Permite caracterizar as ligações entre atores por meio de gráficos provenientes de uma matriz – conjunto de elementos formado por linhas e colunas, em que o analista de redes insere dados que representam as ligações dos atores na rede e pela aplicação de algoritmos específicos. Possibilita ainda o cálculo de medidas e a configuração das redes;
– O Netdraw©, que está integrado ao Ucinet© e é um programa para a representação de diagramas, possibilita a visualização de dados de redes sociais e permite visualizar relações múltiplas, distinguir atributos para os atores da rede, salvar os diagramas da rede como imagem, entre outros recursos;
– O Egonet©, que é uma ferramenta desenvolvida para analisar dados de redes egocêntricas. Auxilia o analista de redes na elaboração do questionário, na coleta de dados, na compilação de matrizes e na apresentação de análises estatísticas;
– O Pajek©, que tem a capacidade de representar, por gráficos, grandes redes, decompondo-as e identificando clusters (redes dentro de redes) ;
– E o Gephi©, considerado uma ferramenta “opensource” que auxilia na exploração e compreensão de dados a partir de gráficos. Ele permite que o usuário possa interagir com a representação, manipular as estruturas, formas e cores para revelar propriedades, por vezes ocultas, nos dados brutos. Pode ser utilizado para análise de redes egocêntricas ou completas. (…)”

Entenda toda esta teoria a partir de um exemplo prático:

Os movimentos ocorridos neste 7 de Setembro de 2021 entram para a história como sendo grandes movimentos, tanto nas ruas e praças, quanto na avenida larga da internet. Vimos o que aconteceu e o que não aconteceu nas ruas neste 7 de Setembro. Agora vamos tentar entender o que aconteceu nas redes e a forma como a sociedade se movimentou a partir das ferramentas disponíveis para análise delas.

Utilizarei grafos de Pedro Barciela que foram produzidos a partir de interações no Twitter.

Chamamos grafos estas imagens que parecem nuvens de palavras coloridas, que resultam de reunião e análise de grandes massas de dados.

Grafo de Pedro Barciela

Como forma de compreender estas imagens, tais grafos apresentam cores, que por sua vez se dividem em “grupos”. Para o caso da análise deste dia o cluster (que são as redes dentro de redes) representada pelo bolsonarismo é o laranja. Se colocarmos uma lupa sobre a quantidade de interações os dados revelam que menos de 18% dos usuários citaram as ‘manifestações’ ou mesmo ‘Bolsonaro’ em suas interações. As citações para o caso de redes utilizando hashtags são fundamentais para mensurarmos as interações. Esse baixo engajamento da análise deste grafo mostra que a mobilização digital #flopou (termo em linguagem digital para dizer que fracassou).

Mas o que poderia ser atribuído a isso? O que é definitivamente visível e perceptível é que a partir do esvaziamento da manifestação em Brasília com a presença de apenas 5% de manifestantes do que seria sua expectativa inicial. Fontes mais otimistas aguardavam algo acima de 1 milhão de manifestantes. Este volume, muito menor de pessoas, dificultou a criação de uma “enredo” sobre o que aconteceu. Isto deixou os que funcionavam como alimentadores das redes sem uma ‘ficção’ que engajasse seus pares e produzissem as tão desejadas interações que movimentariam as redes.

Apesar do grande tempo de preparação (quase 2 meses), com uso de recursos públicos e privados a decepção pelo que aconteceu em Brasília dificultou o engajamento na rede. Como a análise de redes ocorre em tempo real e instantâneo não é possível fazer análises sobre o que poderia ter acontecido nas ruas. Inúmeras versões surgem e só o Tempo mostrará. Para a análise das redes isto de fato não importa. Cabem a outras áreas de conhecimento investigar e propor caminhos interpretativos que se pautarão não apenas ao instante, mas aos eventos que circundam tais registros e estão no antes, durante e no depois. Colaboram com isso informações trazidas por apurações jornalísticas e, mais tarde e de forma bem mais robustas, por historiadores e cientistas sociais.

De outro lado, e não menos importante temos os outros clusters que representam o que pode se considerar a oposição ao bolsonarismo (representados pelas cores rosa e verde), e que se apresentam com uma interação muito maior. De novo, temos o engajamento de clusters diversos em oposição à jb. Não que TODOS pensem de forma idêntica, mas determinados pontos como a crise institucional e a luta por Democracia os une. O anti-bolsonarismo é diverso e possui muitas camadas de pensamentos, ideologias, objetivos e visões políticas e de mundo. Por isso, são uniões que ocorrem de forma pontual em resposta à situações específicas. Perceba que sempre há a figura de atores sociais que possuem um grande número de seguidores, e estes repercutem suas falas gerando o engajamento. Toda a movimentação se dá por posições e contraposições de ideias e posicionamentos. Alguns atores possuem interlocução com mais de um cluster exatamente por terem abordagens que engajam vários segmentos e pautas. E também é importante destacar que a aliança entre estes atores não se dá por conexão. Não estão conectados ou filiados politicamente, mas apresentam interesses no mesmo tema. Por isso dizemos que são alianças contranaturais. Estão unidos neste tema e aparecem neste instantâneo de momento.

Metodologia na Prática

Quando falamos em análise de redes não tomamos métricas usuais para outras coisas como raça, gênero, sexo, idade. Para analisá-las utilizamos critérios que tomam em conta a comunicação e interação entre ideias e comportamentos. O produto final destas análises funcionam como uma radiografia do social, e como toda radiografia há que se delimitar o quê efetivamente será mostrado.

A análise das redes nunca são abertas ao ponto de não se saber o que se quer mostrar. Como ocorre com todas as metodologias é preciso saber o quê e como será analisado. É preciso delimitar claramente quais serão as fronteiras do estudo.

O rigor metodológico da ARS implica duas condições: a escolha e a justificativa das relações que serão observadas e a delimitação do conjunto que será observado, ou seja, a especificação de fronteiras para a investigação. Para alcance da primeira, o pesquisador deve identificar os recursos cuja circulação é vital para o sistema, as produções, as trocas, os controles e as solidariedades que o caracterizam. A segunda condição pressupõe definir as fronteiras externas do ator coletivo ou do sistema de interdependência que se quer observar na estrutura relacional (Lazega & Higgins, 2014)“.

Por esta razão, vale frisar que as alianças contranaturais geradas pelo antibolsonarismo, segundo Pedro Barciela, são da mesma natureza que o movimento antipetismo. Isto porque ela fomenta alianças que antes só poderiam ser vistas estritamente no ambiente sócio-político.

Agora como entender os elementos que compõem este grafo e seus clusters?

A interpretação pode ser resumida da seguinte forma: os nomes que aparecem tem seu nome distribuído por tamanho de acordo com seu volume de interações. Quanto mais interações maior o nome aparecerá, sua localização no cluster estará no ponto onde se conecta com outros atores. Tais nomes também são chamados de nós. Taís nós são, dentro do ambiente de rede, tanto o que converge quanto o que bifurca interesses e conexões. Por isso, podemos afirmar que nunca as redes podem ser vistas como organismos fechados e homogêneos. Os nós podem ser antes de tudo o começo, e portanto está sempre aberto.

E as cores? Bem, as cores segundo a bióloga Carina Pensa, que utiliza grafos em seus trabalhos de pesquisa e os define da seguinte forma:

Os grafos, portanto, dão materialidade a algo que não podemos ver. Ao aplicar a análise de redes e usar os grafos podemos seguir interpretando os dados a partir das imagens que conseguimos ter a partir de diferentes ferramentas.

O que é importante destacar é que tais “fotografias” são como instantâneos e vão se alterando todo o tempo em função das interações ocorridas e dos eventos que se sucedem. As redes possuem interesses voláteis e por isso nunca representarão uma perspectiva fixa.

O exercício mais interessante é olhar para todos os dados e a partir daí seguir fazendo as interpretações possíveis a partir de todo o seu contexto.

Tal como ocorre com movimentos nas ruas, os movimentos em rede não são, nem uniformes e nem homogêneos. À medida que novos eventos ocorrem eles vão alterando o comportamento digital.

Observe-se pela manhã do dia 7 de Setembro de 2021 o movimento era maior, mas logo no meio da tarde e noite o levantamento de hashtags e engajamentos foram muito abaixo do que se esperava.

Observe o gráfico de engajamento nas redes criado também por Pedro Barciela. O gráfico mostra o engajamento em rede desde o dia anterior (06/09/21) e no decorrer de todo o dia 07/09. Fácil observar que a oposição teve uma reação bem maior contra o bolsonarismo.

Ao analisarmos fotografias do movimento nas ruas de Brasília na manhã do dia 07 de Setembro de 2021, basicamente no mesmo momento dos registros dos grafos acima verificaremos a dispersão de pessoas. Essa dispersão de pessoas levou ao menor engajamento em rede. Donde se lê que a rede acabou refletindo algo que estava ocorrendo nas ruas.

A interdisciplinaridade para análise da ruas e das redes

De tudo o que vimos, nas redes e nas ruas, fica claro que mais importante que imagens descoladas da realidade servem bem pouco à análise da sociedade digital. Sua complexidade entre diversos atores e mundos requerem uma multiplicidade de olhares. Mas antes e mais importante de tudo: são necessárias boas perguntas. Se não sabemos como elaborar boas perguntas a possibilidade de encontrarmos boas hipóteses e consequentemente boas análises interpretativas são pequenas.
O estudo tanto de redes sociais quanto digitais necessitam de um olhar interdisciplinar e atento.
E ainda mais importante: mesmo tendo em mãos muitas ferramentas para análise de redes, o sucesso depende daquele que circunscreve e delimita seu campo de investigação para posteriormente ser capaz de analisar de forma abrangente e perspicaz.

Gosto deste tipo de abordagem como análise social e digital pois permitem o cruzamento de diferentes dados. A reunião destes gera informação que pode produzir análise a partir de uma quantidade de variáveis e contextos. E aí temos uma prova fantástica de como nos dias de hoje áreas de exatas e humanas podem se unir para compreender a sociedade onde estão.

Este território de intersecção entre as áreas de Humanas com ferramentas das áreas de Exatas vem sendo chamada de Humanidade Digitais.

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** Artigos relacionados:
Lazega, E., & Higgins, S. S. Redes sociais e estruturas relacionais. Belo Horizonte. Editora Fino Traço, 2014.

SILVA, T. F. da .; RAMOS, T. C. da S. .; DAVID , H. M. S. L. .; VIEIRA, A. C. T. . Características e especificidades da Metodologia de Análise de Redes SociaisResearch, Society and Development[S. l.], v. 10, n. 3, p. e46510313622, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i3.13622. Acesso em: 9 set. 2021

Rezende, Eliana Almeida de Souza. ”Construindo imagens, fazendo clichês: fotógrafos pela cidade”. An. mus. paul. [online]. 2007, vol.15, n.1, pp.115-186. ISSN 0101-4714. Acesso em: 9 set, 2021.

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Redes sociais: domesticação dos sentidos e da criatividade

Há quase uma década venho me dedicando a analisar e escrever sobre o que as redes sociais tem feito, e/ou deixado de fazer, à sociedade dita digital.

Transcorrido o tempo tenho notado que a fórmula padrão iniciada com Facebook se repete de forma exaustiva, e mesmo tendo sido sucedida de tantas outras, tem encontrado um público usuário/consumidor que conseguiu piorar ainda mais aquilo que desde o início não era tão bom.

Retomo neste ponto ao papel que o Facebook teve em introduzir uma sociedade analógica ao viver digital, ao se transformar na primeira grande rede com alcance que superou tudo o que havia existido até então.

Mas em pouco mais de uma década o Facebook começou a conhecer o imobilismo criativo. Envelheceu antes mesmo de chegar à idade adulta.
Festejado em seus primórdios pelas possibilidades e potencialidades de conexão e compartilhamento social, usos dos mais variados, hoje sua plataforma parece ter encontrado a senilidade. Apesar de várias tentativas, e muitos escândalos, não tem conseguido reter usuários e a debandada aumenta dia-a-dia.

Apesar disso, e do Facebook ter sido sucedido por inúmeras outras redes, sua essência contaminou e moldou tudo o que o sucedeu.

Explico:

A experiência da rede tem se mostrado acomodada, acrítica, extremamente passiva e muitas vezes simplória. Os usuários muito rapidamente acostumaram-se a fórmulas que consagram e incentivam a economia de pensamento crítico. Tudo reduz-se ao “curtir”, onde a mecanização do gesto guarda em si a ignorância. Em muitos casos, se não na maioria das vezes, o botão é acionado sem que a pessoa tome de fato conhecimento do que se trata.

A preferência imagética é quase total e a fórmula aqui é uma foto e uma frase. A simplicidade rudimentar agrada, já que exige pouco, tanto de quem comunica, quanto de quem é comunicado.

Tanto imobilismo não entreterá por muito tempo a Geração Touchscreen.
Afinal, nasceram em outro tempo e, como dito por vários especialistas: o Facebook vem se transformando em uma rede que concentra a chamada terceira idade virtual.
Os natodigitais e os mais jovens buscam outras alternativas como o YouTube que ultrapassou o Facebook em 2019 e mantém com isso a liderança entre os brasileiros.
Logo atrás do Facebook temos, pela ordem atual: WhatsApp, Instagran, Facebook Messenger, Twitter, LinkedIn e Pinterest.

Apesar desta aparente oferta diversificada, estamos em um universo de mais do mesmo: Zuckerberg é o dono do Facebook, WhatsApp, Instagran e Facebook Messenger. Com isso estende domínios e algoritmos semelhantes à todas as redes, e, por tabela, oferece sempre a mesma coisa: domesticação de sentidos e ausência de criatividade à seus usuários. A forma de obtenção de dados é sempre a mesma, uma expropriação aviltante, que em alguns casos chega ao crime.

O restante da lista de redes mais utilizados no Brasil é ocupada pelo Snapchat e pelo Skype, atualmente nas mãos da Microsoft. Em ambiente profissional temos o LinkedIn. De diverso quase nada do que se encontra no Fecebookistão. E aí vejo que o problema não é apenas as plataformas em si, mas seus usuários que, ao quicar de uma para outra, esperam encontrar sempre a mesma coisa e a mesma forma de se comunicar. Estão totalmente domesticados.

Denomino domesticação de sentidos o fato de que as pessoas simplesmente param de pensar e agir por si só e por seus sentidos próprios. Seguem um comportamento raso de simplesmente seguir o fluxo, ou como alguns preferem chamar, ter o comportamento de manada. As redes sociais seriam um domínio onde se oferecem condições que demarcam uma situação ideal onde comportamentos se reproduzem.
Tomo de empréstimo a concepção de “fazenda de domesticação“, explicitada em um artigo de Piero C. Leirner, onde: “(…) A fazenda de domesticação é um terreno de atração, lugar do domínio e da realização. Do domus, mas também daquilo que faz – daí a etimologia latina da fazenda – e, também, do que está feito, !rmado, !rmare, daí o farm anglo-saxão. Na fazenda se quer domar, atrair, controlar essa força conjurada de um devir selvagem. É um latifúndio, não tem cerca, não se sabe bem onde começa e onde acaba; se sabe que ela quer crescer cada vez mais, e que pode até ter uma sede, mas o processo de domesticação ocorre em todo seu horizonte. Sua política, assim, é doméstica. Não há centro preferencial, “centro do centro”; se todos seus espaços se pretendem centrais, nesse nível sua geopolítica se dilui (…)”.
O artigo se concentra em explicar como o Estado domestica as sociedades e as pessoas. Mas para o objeto de nosso tema, ouso me apossar da expressão para pensarmos o ambiente das redes e a forma como ela se torna um grande feudo chamado internet. Ao oferecer os meios e as ferramentas, bastam apenas que atitudes sociais e culturais sejam imprimidas em seus utilizadores. Os aplicativos funcionam como os meios pelos quais se domesticam sentidos, sentimentos, e se externalizam isso. Tudo que ali ocorre é amplificado. As redes, portanto, não são diferentes do mundo analógico que temos. Apenas oferecem amplificação. Mas os sentidos domesticados nos dão a sensação de que grande parte parece apenas lobotomizadas.

Diante disso, nos mantemos em um loop infinito.

Observe:

Uma das coisas mais interessantes que temos que estar atentos é o padrão de repetição e passividade que uma plataforma, dita de interação e compartilhamento acaba oferecendo. Hoje é muito mais usual a passividade ante ao exposto, quer na forma escrita quer na forma visual, do que posicionamentos críticos e assertivos. Ironicamente as redes simplesmente eliminaram o que seja interação. Tornaram-se sim um palco para ostentação ou, o que talvez seja pior, um local onde prolifera o ódio, os xenofobismos, rancores e uma putrefata linguagem onde se faz linchamentos de reputações e vidas.

É estarrecedor pensar que cada vez mais as pessoas escolham apenas uma opção: “curtir” para expressar TUDO o que pensam sobre um tema. E o pior, mesmo que elas queiram se colocar, pouco estão interessadas em saber aprofundadamente sobre. 

A previsibilidade e constância de conteúdos e ausência de inovações são também igualmente avassaladoras. O grande meio de compartilhamento não está gerando, na mesma proporção, ideias criativas e inovadoras. Os grupos e as comunidades organizam-se de forma quase provinciana, no sentido de manutenção de pequenos nichos e interesses. Restringem-se ao miúdo e cotidiano de uma comunidade restrita e local. Mesmo em redes como LinkedIn nota-se que a última década simplesmente matou as possibilidades de interação, e as pessoas estão cada vez mais ausentes. Ausentes não por não estarem conectadas, mas simplesmente por optarem estarem confortavelmente instaladas com seus aplicativos nas mãos e a anos-luz de qualquer forma de contribuição, interlocução ou debate.

O que de fato temos, ao invés de um grande potencial de variáveis, é a repetição de padrões e fórmulas. Em geral, as pessoas cercam-se do que lhes é familiar e conhecido. E o mesmo se estende pelas formas de externar pensamentos e atitudes.

A cópia de ideias e até de conteúdos são constantes em blogs e em outros meios. É sempre muito raro encontrarmos conteúdos inéditos e de qualidade, fruto de uma reflexão pessoal de seu postulante. Temos quase sempre clichés que reproduzem falas vazias e que surgem de tentativas de auto-ajuda, motivação ou preconceitos mesmo. Fato que nos dá uma sensação e necessidade de perguntar: para onde é que vamos? Será mesmo que “todo excesso é prenúncio de uma grande falta?”

De fato, um temor sempre presente é em relação a esse excesso de informações rasas no qual estamos vivendo e se, de outro lado, não estaríamos às vésperas de uma grande falta. Isto é cíclico e está no desenvolvimento da História. Gerações que rompem estruturas, são fruto de uma geração anterior em que quase nada ocorreu e vice-versa. Isso vale para movimentos na arte, literatura, sociedade, política… e até no futebol!

O tema nos remete ao que significou o desenvolvimento da internet, as novas formas de comunicação e proposição de relações. Foi de fato um período de romper barreiras, estruturas e formas de estar e pensar. Hoje, é perceptível o atual momento como de uma saturação sem fim: as pessoas, especialmente em redes como o Facebook, LinkedIn, Instagran possuem um comportamento que ora é passivo, ora consumista, ora de ostentação.

Passivo em se contentar com simplesmente “curtir” ou “compartilhar” sem verticalizar nada. Fica-se numa superfície horizontal onde “toda” a mensagem se resume a uma foto ou uma frase (pior é quando eles vêm sem autoria correta e em muitos casos uma reprodução infinita de Clarice Lispector ou Caio Fernando Abreu).
Consumista no sentido de seguir não sei quem e nem porquê…
Ostentação de vidas e sucessos: ninguém tem problemas, tudo é uma felicidade e sucesso sem fins. Ou às vezes aquela choradeira interminável para falar sobre o “poder da superação”. Cansativo, de verdade!

Espalha-se um rastro de gostos e desgostos a troco de ter dados “embalados” e oferecidos às agências de publicidade que não param de poluir páginas feita em azul para que você, de novo, curta isto ou aquilo. É preocupante esta massificação zumbi de comportamentos e incapacidade de ações críticas de acordo com posicionamentos próprios frente ao dado ou estabelecido. Falta identidade e personalidade às redes!

Se todo o potencial que a internet oferecia não for reinventado e as pessoas não voltarem a buscar formas inovadoras, teremos cada vez mais plataformas que cairão vítimas de seu próprio veneno: o consumo pelo imediatamente novo. Não será para o melhor… simplesmente para o mais novo lançamento, sofrerá o descarte e substituição tal como um velho aparelho de TV de tubo.

Sim, o objetivo é irmos além de propriamente gostar de uma matéria interessante, mas é também verificarmos o quanto ela tem que ver com nossas opções, escolhas e repertório. Quanto de fato acrescenta àquilo que pensamos e acreditamos? 
A passividade não é desejada em espaço algum, mas em espaços ditos de compartilhamento e troca, fica ainda mais estranho.

O Facebook em verdade ditou um padrão, acolhido por uma maioria que é de curtir/compartilhar, como ferramentas de facilidade. É mais fácil clicar num botão de gostei ou postar uma foto e uma frase do que de fato articular um raciocínio e falar sobre algo de forma a acrescentar ou se colocar.

A massificação zumbi e robotização aparece como um instrumento de massa para obter cifras e dados e não como forma de gerar crescimento intelectual ou de conteúdo.  

É óbvio que não estamos aqui para questionar números. Contra tal não há argumentação. E talvez tenham sido alcançados exatamente por essa homogenização. Todos são tomados como meros algoritmos que são computados a partir do “gostei”. A situação é tão interessante que em tempos passados até campanha para ter o botão “não gostei”, houve. Mas claro que isso confundiria o sentido de construção da base do Facebook e demais redes em relação aos seus algoritmos, e portanto, nunca foi adotado por ninguém. E aí nos defrontamos com a situação absurda que é, por exemplo, a notícia da morte de alguém ou de uma catástrofe e que as pessoas sem pensar clicam “gostei”. Isso mostra o ápice do que seja um comportamento de manada zumbi sem critério ou crítica.
As pessoas simplesmente não param para pensar sobre isto!   

Buscar um olhar crítico envolve debruçar-se sobre. E em geral, as pessoas julgam não ter “tempo” para isso. A cultura da imediaticidade e consumo leva as pessoas para longe de estar em contato consigo próprias. Basta andarmos pela rua e vermos cada um com seu celular, seu jogo, sua música nos ouvidos. As pessoas não buscam mais relacionar-se com outros, mas sim com seus gadgets. Já disse antes que a internet tem conseguido o paradoxo de aproximar quem está a centenas de milhas ou quilômetros e em geral, separa os que dividem a mesma casa!

Esta robotização com ensimesmamento foi reforçada com as redes. E aqui há discussão para um post inteiro e que guardo para outra ocasião. 

Mas adianto que em cada período a humanidade está propensa a que determinados comportamentos se desenvolvam e se disseminem. Esta “massificação zumbi” é mundial e muito mais relacionada ao processo de midiatização e tecnologia em que estamos.

Há um narcisismo generalizado e uma busca por exposição que tem muito mais a ver com uma insegurança e temor de estar consigo próprio do que a necessidade de relação com o outro.
Os silêncios da alma são fantasmas para alguns e a busca da “multidão” tem um pouco esse sentido de fuga.
A robotização zumbi e massificada combinada com a alienação parecem ser uma marca dos nossos tempos.

Para além disso tudo, acho que o padrão de repetição em formatos idênticos para todas as redes é o que mais incomoda. De repente, Twitter e até LinkedIn repetem o mesmo padrão como forma de garantir que seus usuários continuem a usar suas respectivas plataformas. Aí tivemos o fenômeno do que se convenciona chamar de ‘Facebooquização’ virótica por TODAS as redes.

Sou usuária e gosto muito de tecnologias, mas gosto de pessoas, silêncios e leituras, gosto da reflexão que ações e comportamentos têm, ou de uma boa ideia exposta num texto, ou até numa frase. Não precisamos nos isolar e nem viver no meio de tudo. Há o caminho do meio sempre! Estar nele significa conseguir olhar de um lado e de outro e encontrar o caminho perfeito que há quando se tem equilíbrio e bom senso. 

Discuto aqui que esta alienação consentida, onde o nivelamento horizontal alcança tais redes numa velocidade muito grande e onde verticalidade, profundidade e criatividade estão deixando muito a desejar. As pessoas chegaram a um ponto que não conseguem mais ler um artigo. Leem apenas a primeira linha e passam adiante. Sou capaz de apostar que apenas 1% dos que começaram este artigo chegaram até aqui…Por isso, já há algum tempo parei de me preocupar se as pessoas leem ou não. Meu papel é de escrever!

Um dos precursores da realidade virtual e crítico da web 2.0, Jaron Lanier defende um caminho diferente para se utilizar a rede. Ele é defensor de uma internet aberta, mas não completamente gratuita. A questão levantada por Lanier é estrutural. O problema é que a rede, gradualmente, direciona e agrupa os usuários em blocos. As informações ‘sugeridas para o seu perfil’ escondem uma variedade enorme de outras possibilidades e, ao categorizar por ‘gostos’, tornam o usuário um produto bem definido para publicitários, por exemplo. Ou seja, no modelo atual, quem lucra mais são os sites de busca e as redes sociais, e quem sai perdendo são os criadores, que dependem dos direitos autorais para viver.

Segundo ele, a estrutura atual permite que exista uma ‘agência de espionagem privada’ que desvirtua o propósito inicial de permitir que cada usuário pudesse trocar seus bits com outros, como em um grande mercado, e tudo seria acessível a uma taxa razoável. Esse fluxo permitiria que a criação individual fosse devidamente remunerada e estimularia o trabalho intelectual. Nesse sentido, ele afirma que “precisamos de um design mais antropocêntrico ao invés de um focado em algoritmos”. O senhor Lanier quer não apenas, a liberdade de trocar informação mas a liberdade de pensar e de ser criativo em um modelo que, atualmente, anestesia, cada vez mais, seus usuários.

Desde os primórdios, o Facebook teve como característica coletar dados e a partir deles ter concentrada uma ampla base de dados. Longe de ter um viés relacional, cultural, educacional rapidamente transformou-se num meio eficiente de fornecer dados para fins mercadológicos e de consumo. Ponto. Os algorítimos utilizados foram ficando cada vez mais competentes em nos limitar, enquadra e sempre nos levar aos mesmos lugares. Escrevi sobre isso no artigo: “Algorítimos: os hábeis limitadores

Sua facilidade rudimentar trazendo funções simples com botões de uma única opção deu à maioria das pessoas o que elas querem: entropia! É neste estado entrópico que as pessoas realizam ações robotizadas e em alguns casos até insensíveis (como por exemplo: filmar alguém morrendo, sendo espancado, etc…para a seguir lançar na rede em busca de reconhecimento por meio de likes).
O mesmo podemo falar de TODOS os celulares: não importa a versão, modelo…TODOS rigorosamente apresentam os mesmos botões e funções. O objetivo é o consumo feito por TODOS de uma criança de 1 ano ao octogenário, de um analfabeto funcional à um acadêmico letrado. A tecnologia envolvida está longe de buscar inovação.

Apesar de tudo, vejo que em verdade, o Facebook e demais redes sociais acabam sendo um grande espelho de comportamento social e cultural do nosso tempo. E eventualmente, as plataformas servem apenas para refletir o que a nossa sociedade é em sua maioria: superficial, frívola, autocentrada e egocentrada.

Como historiadora, fico sempre imaginando o que pesquisadores daqui há alguns séculos dirão ou apreenderão quando olharem perfis de redes… que sociedade verão no espelho?

Fotógrafo: Eduardo Henrique Gonçalves

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* Texto atualizado e revisto de post publicado no meu Blog, o Pensados a Tinta, com o título de “Facebook: robotização e sedentarismo em rede”.
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O fracasso bem sucedido

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Numa sociedade performática, competitiva, consumista e muitas vezes vaidosa e hedonista, relatar ou admitir um fracasso parece ser algo impensável para alguém que pretenda ser bem sucedido. 

É importante dizer que o sucesso sempre será precedidos de inúmeros fracassos. 

Mas, não serve qualquer fracasso! É preciso que seja um fracasso bem sucedido, um que de fato deu certo. 

Explico:
Um fracasso bem sucedido é aquele que te trouxe aprendizados. Permitiu rever ideias, ações, estratégias, pensamentos. Obrigou-o a sair de fórmulas prontas e exaustivamente usadas para  um novo lugar, com novas perguntas e demandas por outras respostas. 

O fracasso bem sucedido funciona como uma catapulta, que em um primeiro momento o joga em um vácuo de onde não se espera nada. A sensação de vazio, de vaga, causa-nos uma sensação de tempo interminável. Do momento do lançamento até seu ponto de chegada há uma indescritível e interminável trajetória, que lhe revela o medo em todas as suas faces. Não há como voltar ao ponto inicial e o ponto de chegada é uma incógnita. Neste ponto de vácuo você pode encontrar formas de manter-se o mais ereto e procurar ganhar vantagem com o percurso. 

O que causa esse lançamento no vácuo pode ser um desemprego, uma mudança de carreira, um luto, a perda de bens ou da saúde. Importante é compreender que este ponto não é seu fim. Ele é apenas parte da trajetória. Se aprender deste momento, deste suposto fracasso, quando tudo parece perdido, desorganizado ou simplesmente ausente, estará na categoria que denomino de: fracasso bem sucedido

É óbvio que há muitas opções! 

Você pode transformar sua trajetória numa queda retumbante, fraturas expostas e totalmente sem condições de dar um passo sequer. Tudo é mesmo uma questão de entender como o tempo e a experiência se dão. Quando transforma suas ações em aprendizado terá conseguido produzir conhecimento, que nada mais são do que a experiência posta em prática. Se nada fizer com isso, será apenas um episódio traumático de sua existência, que marcará definitivamente o seu ponto de parada,  de desistência. Assumir a alternância dos eventos e do tempo é fundamental para fazer esta alquimia de transformar um fracasso em uma oportunidade segura, de fazer dar certo. 

Um exemplo muito bom é o que estamos vivendo neste momento de pandemia. Muitos profissionais perderam seu trabalho, ou passaram pela experiência da doença ou do luto. Isto, certamente fragiliza, preocupa e leva alguns ao desespero ou a tristeza profunda. Neste seu momento de vácuo não conseguem pensar além do momento imediato. E deixam de entender que; o percurso que fazem em sua catapulta pessoal, não durará toda a vida. Muitos dos que hoje perderam seus empregos ou posições provavelmente não as recuperarão. O número de empregos formais foi reduzido drasticamente, e para muitas empresas significará prosseguir sem o formato anterior. E neste ponto é que muitos profissionais devem entender que precisarão encontrar um novo caminho. O modelo mudou (paradigm-shift).

Eventualmente este novo caminho significará conviver com alguns fracassos. Como sairá de tudo isso é que mostrará se os fracassos fizeram seu papel de dar certo. 
Isto se chama ter um bom Quociente de Adversidades (QA). O termo foi criado pelo especialista em liderança, Paul Stoltz, presidente da Peak Learning, uma empresa de consultoria global fundada por ele em 1987, nos EUA. 

Não vou entrar aqui naquele discurso muito em voga, que se parece com a famosa auto-ajuda, pensamento positivo e outros termos que mais se assemelham ao de uma profissão de fé.
Não gosto desta mistura e a considero pouco qualificada. 
Vou pelo lado do pragmatismo que precisamos ter e demonstrar. É preciso Inteligência Emocional para entender o momento, se conhecer e verificar qual é o repertório que possui para enfrentar esta situação. Não vou dourar a pílula: muitos DEFINITIVAMENTE não se conhecem! E por isso é comum vermos a fila de desesperados quase que em cada ponto em que olhamos.  

Relembro aqui um outro artigo que escrevi sobre se “você tem carreira ou profissão?”. Isto porque de acordo com a resposta, seu tempo de trajetória neste vácuo pode ser maior ou menor, e a chegada com mais ou menos escoriações. O fato determinante aqui é: o que te diferencia dos demais, e o que faz com que você não caia numa vala comum que disputa a mesma coisa com muitos. Quando estamos diluídos numa multidão, rapidamente podemos ser preteridos por este ou aquele motivo.
Mas se temos algo que nos diferencie por completo, isto será determinante. 

Todas as áreas possuem, em maior ou menor grau, a necessidade de ser criativo.
Mas o que é ser criativo numa situação limite? A criatividade está ligada não a uma fórmula mágica que tudo resolva. Criatividade, em muitos momentos significa apenas e tão somente encontrar soluções diversas para coisas que sejam iguais. Significa encontrar um novo caminho entre ideias e conceitos, e novos conceitos a partir das mesmas ideias usando a própria experiência. Para isso, é óbvio que é preciso uma boa dose de flexibilidade e adaptação. O problema é que as pessoas tendem a ter o comportamento de manada para tudo: imitamos outros no que dizem, no que falam e até na forma de vestir.  Esquecemos de simplesmente fazer a pergunta: “e como seria fazer diferente disso?”.
Ou, a muito mais sintética e dura: “e se…”.
Além disso, a maioria atavicamente deseja ‘pertencer’ ao grupo, precisa se encaixar. Elas não conseguem entender que podem mudar as regras e alcançar objetivos maiores e mais interessantes. Se tudo o que você pensa e é, como profissional, tem que caber em um único formato, provavelmente terá muitas escoriações em sua chegada ao mundo pós-pandemia.

Em síntese e por partes: 

1. Conheça-se!
Se você não sabe quem é, e o que é capaz de realizar, pessoal ou profissionalmente, andará em círculos indefinidamente à espera que alguém lhe bata à porta para lhe oferecer um trabalho na matriz que você se colocou. 

O autoconhecimento definitivamente é fundamental para TODAS  as instâncias de sua existência, e porque seria diferente na seara profissional? 
Como pode achar que é outra pessoa que tem que te dizer como ela quer o seu trabalho?! Ou como pode esperar que este venha embrulhado numa caixa com fitilhos e laços com teu nome em um cartão? 

2. Seja Flexível
Provavelmente, o mundo pós-pandemia NUNCA mais será o mesmo no âmbito profissional. A sociedade sofreu um tranco de digitalização que levou para o território doméstico o desempenho de atribuições que só ocorriam em condomínios executivos. A empresas sobreviventes entenderão que podem enxugar custos e gastos de forma estrondosa em muitos setores. E o farão com certeza! Portanto, seja o mais flexível que puder na forma como se enxerga e como vê o desempenho de suas atividades.

Entenda que provavelmente tudo o que aprendeu nos bancos escolares ou em diferentes empregos não se aplicará mais. Se não se adaptar e for flexível o bastante, provavelmente se decepcionará e não sairá mais da fila da espera. Mais uma vez; o modelo mudou.

3. Diferencie-se
Se insiste em manter-se como sempre foi, estará provável e confortavelmente instalado em uma vala comum com outros milhares que pensam igual a você. 

O número de pessoas que de fato conseguem enxergar seu valor a partir das coisas que desenvolve e desempenha, é um imenso diferencial. As faculdades TODOS os anos despejam quantidades imensas de novos profissionais que acham que o diploma lhes deu uma profissão. Buscam sem trégua cursos, MBA, Mestrados, Doutorados, mas simplesmente não sabem o que fazer com o que supostamente aprenderam. Muitos tornam-se alunos profissionais, acumulando diplomas, certificados e bolsas, mas sem ser capazes de converter tudo o que supostamente aprenderam para uma carreira produtiva. Juntam-se aos milhões com diplomas pendurados e trabalhos que não tem nada a ver com o que estudaram. Portanto, olhe-se a fundo e veja como você pode usar o que aprendeu em sua formação e como pode transformar isso em algo diferente e criativo. Se não souber dar esta resposta, nenhum selecionador ou empregador saberá dar. Em vários casos, NÓS é que temos de mostrar o quanto eles precisam de nós. Se não soubermos como fazer ficaremos apenas com a ficha de preenchimento de vaga e nunca iremos à lugar nenhum. Aí culparemos empregadores, selecionadores, colegas, familiares pelo que nós não conseguimos. 
O mundo atual é feito de inúmeras carreiras que são interdisciplinares ou mesmo trabalhos que ainda não existem formalmente como profissão ou que tenha cursos formais oferecidos. Entenda como você pode aliar tudo o que já aprendeu a isso. Entenda que inúmeras profissões e ocupações simplesmente DEIXARÃO DE EXISTIR em pouquíssimo tempo. Se não tomar providências fará parte deste exercito crescente de desocupados sem possibilidades de ocupação ou integração. 
Está em suas mãos! 

4. Não mascateie
Não permita que o desespero o faça se transformar em um mascate. Daqueles que aceitam qualquer coisa e que se vende extremamente barato. Coloque limites ao que seja aceitável para a sua condição.

Em outro lugar, mas também não menos perigoso: não se prostitua. Respeite-se como profissional, saiba seu valor, o que faz e como o faz.

5. Dê-se o devido valor
Se você não se dá o devido valor, ninguém o fará por você. É preciso que você saiba exatamente o que faz, como faz e por quanto que faz. Aqui é o devido valor pelo que oferece. 

Há pessoas que pelo que oferecem ganham muito, e há muitos que ganham pouco pelo muito que fazem. 
É preciso saber se colocar, se valorizar e se respeitar como profissional. Se você não fizer isso provavelmente ninguém fará por você.  

6. Seja caprichoso
Um exemplo que gosto de dar aqui mesmo no LinkedIn quando analiso perfis que solicitam participação em Grupos. Muitos profissionais não demonstram capricho e cuidado em sua apresentação: não indicam o que fazem, como fazem. Em  alguns casos, não consigo saber nem o curso que a pessoas fez, pois ela só coloca o nome da instituição. Esquecem-se que devem valorizar o que estudaram e o que aprenderam. As fotos revelam pessoas que não estão em situações profissionais: alguns com ar desanimado, cansado, digitalização de fotos 3 X 4, cabelos molhados, vestidos para festas, acompanhados de maridos, esposas, filhos, carros. Olhem com atenção à tudo isso. Mostrem porque vocês merecem uma oportunidade e porque seu trabalho e a forma como o realiza são diferenciados. 

Sobre este tema abordei pontos a ser destacado no artigo: “Como escolher a foto adequada para perfil do LinkedIn

Você é seu melhor produto, portanto use uma vitrine adequada. 

7. Seja paciente
Nada acontece do dia para a noite. O seu fracasso bem sucedido precisa de tempo para acontecer!

Não irá adiantar ficar desesperado, abrir um perfil no LinkedIn e ficar pedindo peloamordedeus por uma vaga. Relações em redes sociais profissionais demoram para ser construídas. Não há imediatismo que caiba em sua necessidade. Portanto, procure lançar mão de um perfil destes para mostrar o seu melhor e de fato tirar proveito dos contatos que vier a ter. Se você está começando sugiro a leitura deste post: “LinkedIn para inciantes“. Será muito útil em te ajudar a construir uma estratégia pessoal de aproximação e busca de oportunidades.

8. Esteja atento
Como os seus erros se sucederão, esteja de olhos e ouvidos bem abertos e aprenda com eles. 

Deixe seus fracassos lhe ensinar a dar certo. 

Boa sorte com seus fracassos!

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De Cadeados e Criptografia aos Tempos de WhatsApp

Por: Eliana Rezende

Em 2016 foram uma, duas, três vezes e milhões de brasileiros sendo penitenciados por uma decisão togada que revelava além de uso desproporcional de força um equívoco provocado por desinformação começada na toga e concluída em praça pública.

Não creio ser necessário entrar no mérito da questão judicial que de um lado pressionava a empresa detentora do serviço (WhatsApp) e a questão de quebra de sigilo de contas de contraventores ou punição de milhões de inocentes.

O que me chamava a atenção naquele momento, e ainda hoje, era a desinformação sobre o assunto da criptografia por parte dos que julgam e promulgam sentenças. Algo crasso e imperdoável. Emitiram pareceres que caberiam bem no século XIX, ou no XX sem web. Mas nos dias de hoje?!

Para além de tudo significar ferir diretamente o que determinava o Marco Civil Regulatório da Internet no Brasil e o artigo nº 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de uma única vez.

Todo o mal entendido e as consequências dele decorrentes giravam em torno do desconhecimento do que vinha a ser criptografia.

Mas afinal: o que é mesmo criptografia?

Se formos ao dicionário, a definição mais completa seria:

“(….) Conjunto de regras e técnicas utilizado para cifrar, para codificar a escrita, transformando-a num tipo de código incompreensível para quem não está autorizado a ter acesso ao seu conteúdo. (…)”

A palavra criptografia vem do grego e é formada por duas palavras: “kryptós” que significa oculto e “gráphein” que significa escrever. Ou seja, é uma escrita escondida.

A técnica em si não é nova e remonta às civilizações clássicas gregas, romanas e egípcias que criptografavam seus escritos para impedir que inimigos tomassem conhecimento de seus escritos. Exemplo disso é a necessidade de pesquisadores decodificarem inscrições para compreenderem escritos diversos de tabuletas à tumbas.

A criptografia funciona como se fosse um embaralhamento de dados. E tal como ocorria em tempos passados, o objetivo é tornar seguro o conteúdo da informação trocada entre partes.

O grau de segurança de uma criptografia esta na quantidade bits utilizados para encriptação. Já que um sistema de encriptação que contenha 8 bits oferece um universo de 256 combinações diferentes. Atualmente utilizam-se 128 bits (que são combinações de números e letras).

Para se ter uma ideia, no modelo 128 bits, para se conseguir decodificá-los seriam necessários 40 computadores trabalhando simultaneamente durante 20 anos ininterruptamente! Isto do ponto de vista de um meio onde a fragilidade e volatilidade predominam é fundamental para garantir a segurança das partes.

De um ponto de vista mais técnico, diríamos que a criptografia pode ser simétrica e assimétrica e envolve uma série de procedimentos para cada um destes casos. Como não é objetivo deste post explanar tecnicamente isto sugiro a leitura para maior entendimento e mais fontes de bibliografia e consulta o texto “Segurança, Criptografia, Privacidade e Anonimato”.

Graficamente a criptografia pode ser exemplificada da seguinte forma:

Ou seja, o conteúdo das informações trocadas ficam disponíveis apenas entre os envolvidos, como se houvessem cadeados que as trancassem e apenas a chave que cada um tem as abre e decodifica.

Agora vejamos o caso do WhatsApp

Recentemente a ferramenta enviou mensagens a todos seus usuários informando que estaria sendo utilizada a criptografia de ponta-a-ponta. Provavelmente foi uma mensagem assim que você recebeu no seu celular, e que continua a receber toda vez que acrescenta um novo contato:

O que de fato este tipo de criptografia significa?

A chamada “criptografia de ponta-a-ponta” do WhatsApp assegura que somente as pessoas que estão se comunicando possam ler o conteúdo trocado. Ninguém mais consegue fazê-lo, nem mesmo o próprio WhatsApp.

Este formato de segurança, apesar de questionado para os casos de uso ao crime é uma grande segurança para usuários comuns e que representam a esmagadora a maioria de utilizações. Claro que crimes podem ser cometidos, mas interferir neste caso significa por em xeque a segurança de milhões de usuários. Algo prezado e alvo de muitos lutas e debates para que passassem a existir.

Por envolver tantos milhões de pessoas e negócios é uma relação onde o custo benefício precisa ser medido de forma responsável.

Como o próprio STF vem se manifestando, este tipo de punição a milhões de pessoas é desproporcional.

De minha parte, acrescento que, ignorante por parte de quem julga e inconsequente perante a punição de milhões de usuários que nada tem com o ocorrido. Não se pune 100 milhões de pessoas por causa de UM contraventor!

Além do mais, as decisões de bloqueio tomam a ferramenta como se a mesma funcionasse como um telefonema. O que nossos togados se esquecem, é que apesar de ser usada em um aparelho celular, a ferramenta está longe de possuir as características tão usuais de grampos telefônicos.

Se criminosos se comunicam da cadeia usando a ferramenta, o problema que precede ao seu uso, e este sim de competência das autoridades, é o de celulares nos presídios!

Enquanto soluções tecnológicas que atendam de um lado o direito à privacidade e sigilo de uns e, de outro, o praticante de delito, não estiverem disponíveis e sem prejuízo a ninguém, é preciso que togados usem de bom juízo e entendam os tempos que julgam, os meios tecnológicos e o seu alcance social. As decisões não podem ser unilaterais, autoritárias nem desproporcionais. Fazer isso fere a essência do que seja praticar o Juízo e a justiça.

Julgar, tomando em conta um único aspecto e perder de vista o alcance e prejuízo social de todos, em nome de um é uma irracionalidade torpe e sem sentido. A imagem da justiça com uma venda nos olhos parece se aplicar com precisão nestes casos.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação de procedimentos para a Preservação Digital e Repositórios Digitais Confiáveis em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a produção e tramitação de documentos digitais.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer

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Saiba mais:
Para compreender um pouco mais sobre os usos e aplicações da criptografia nos dias de hoje, assista o vídeo “O que é Criptografia”.

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Curadoria de Conteúdos: O que é? Quem faz? Como faz?

Por: Eliana Rezende
Versão revisada

O termo inquieta muita gente e, pela banalização de seu uso na mídia, causa a impressão de que afinal qualquer um pode realizar Curadoria de Conteúdo, ou como alguns preferem chamar Curadoria Digital ou Curadoria Informacional.

Em todos os casos, a questão circundante não muda muito e por uma questão que é muito mais pessoal do que de qualquer outra ordem, opto por chamá-la aqui de Curadoria de Conteúdos, já que a Informação é a matéria-prima com a qual se lida. E não utilizo Digital, por crer que o curador pode, e deve, atuar utilizando a produção de conteúdos para quaisquer suportes ou ambientes.

Já há algum tempo venho pensando em como falar a respeito do tema, tomando em conta especificamente a visão que tenho a partir de diferentes leituras e experiências que tenho tido.

Devido as amplas confusões em torno de seu uso em emprego, opto por um caminho contrário: talvez devêssemos estabelecer o que Curadoria de Conteúdos não é.

Observe:

  1. Curadoria não é simplesmente reunir e compartilhar conteúdos de terceiros nas redes
  2. Curadoria não se restringe à ferramentas tecnológicas
  3. Curadoria não está restrita à um único nicho de profissionais (encontraremos curadores entre profissionais da área de Comunicação Social, Biblioteconomia, Ciências da Informação, Ciências Humanas e outras diferentes áreas de Conhecimento)
  4. Curadoria não é editar e publicar conteúdos alheios para jornais, revistas ou sites
  5. Curadoria não é o que o chamado Marketing de Conteúdo diz fazer
  6. Curadoria de Conteúdos não pode ser confundido com o que vem sendo chamado de curadoria de informação (aqui um termo que vem sendo utilizado em especial por profissionais de informação, mas que possui uma outra forma de atuação, técnica e metodologia e em nada se assemelha ao que defino como curadoria de conteúdos).

Comecemos pelo princípio.
Se tomarmos a palavra pela sua origem, temos uma raiz que vem do latim “cura”, zelo por algo.

Os dicionários a dividem em pelo menos 4 significados:

  1. pessoa que cura um doente. Ex: Tratou-se com um curador.
  2. pessoa que exerce a curadoria de algo. Ex: o curador da exposição
  3. (lei) pessoa judicialmente incumbida de zelar pelos bens e interesses daqueles que não podem fazê-lo por si próprios. Ex:  Foi nomeado curador do órfão.
  4. (lei) membro do Ministério Público incumbido de defender pessoas ausentes, incapazes, instituições falidas. Ex: Foi indicado para o cargo de curador.

O termo desta forma remete sempre a um sentido de cuidar, zelar, proteger.

Assim, tomo em conta esta noção e saliento que o curador tem em mãos um patrimônio (i)material, e que após todo o seu trabalho o converterá para uma socialização.

É papel da Curadoria de Conteúdos oferecer um contexto e percursos alternativos ao usuário/leitor, de modo a valorizar as informações trabalhadas e disponibilizadas através do curador de conteúdos.
A necessidade e importância da curadoria de conteúdos tem aumentado na mesma proporção em que quantidades massivas de informações irrelevantes são produzidas dia a dia, gerando no usuário/leitor dificuldades em hierarquizar, priorizar e localizar o que de fato é de seu interesse.

Rosembaum (2011), por exemplo, denomina o ambiente desse volume de informações crescentes de “tsunami de dados” e Bieguelman (2011) de “dadosfera“.

Neal Gabler (2011) chegou a declarar que a era digital nos libertou para a “ignorância bem informada”. Isso porquê cada vez mais as pessoas vêm se transformando em grandes acumuladores de informação, mas já não são capazes de desenvolver um pensamento crítico e mais aprofundado das coisas.
Leia aqui o post que escrevi que trata sobre esse perfil de coletores e produtores de informação.

Um exemplo disso, é o que o recentemente um repórter do periódico The Guardian observou em pesquisa que fez verificou que de cada 100 pessoas online, uma cria conteúdo, dez interagem com ele (comentando ou oferecendo incrementos) e os outros 89 apenas leem, ou seja, continuam como espectadores passivos.
Ainda assim é um consumidor que pode ser influenciado. E portanto, alvo de diferentes mídias.
Graficamente estariam assim distribuídos:

Keen (2009), é outro jornalista e que se coloca como avesso à produção de conteúdos por internautas. Segundo ele, público e autor estão se tornando uma coisa só, e podemos estar transformando nossa cultura em cacofonia. Conheça aqui sua principal obra, e veja como ele se refere ao esvaziamento do papel de especialistas e a emergência dos palpiteiros da web que estão isentos de controle, fiscalização, abrindo com isso um território livre para plágio, calúnia, boataria e propaganda.

A grande diferença aqui é que todos os consumidores podem, se desejarem, ser produtores. Diferente do que ocorria com a mídia de controle que tínhamos antes do tempo de web, onde somente veículos institucionalizados poderiam produzir conteúdos.
A produção de conteúdo, no entanto, passa longe de ser curadoria.

Da mesma forma, que curadoria de conteúdos definitivamente não tem nada haver com curadoria de informação. Apesar da similaridade em relação à nomenclatura, o que temos é a utilização de um conceito polissêmico, mas que possui nos seus usos, aplicações e metodologias caminhos diversos e objetivos também diferentes.

A curadoria de informação aplica-se em ambientes onde dados e registros (que podem apresentar-se em diferentes suportes, de formas estruturadas ou não) necessitam ser organizados para ser disponibilizados como informação, e quem sabe posteriormente produzir conhecimento. Alguns também usam o termo curadoria digital para o trabalho que envolve a gestão de informação e a implantação de ambientes digitais onde esta informação será criada, armazenada e distribuída.
Em todos estes casos, são os profissionais de informação que serão os que farão este trabalho, e na maioria das vezes restringe-se ao trabalho de bibliotecários, cientistas de informação, arquivistas entre outros.

Explicito todos estes usos e aplicações para, a seguir, poder mostrar como a Curadoria de Conteúdos se aproxima e afasta deste termos, e talvez por isso gere tantas confusões conceituais.

É muito importante entender que a curadoria de conteúdos e seu curador, não estão restritos a uma área, e seu perfil é bem mais diversificado.  Ele exige por parte de quem deseja ser curador bem mais do que o manuseio de algumas ferramentas e técnicas.

Vejamos:

Tomando-se esse universo de grande produção de informação, diferentes pesquisadores veem tentando estabelecer quais seriam as fases que consistiriam esse trabalho de cura. Apesar de vários autores tratarem do tema não existe um consenso geral.
Apresento, portanto, alguns deles:

Segundo Weisgerber (2012) por exemplo, o trabalho de curadoria de conteúdos poderia ser dividido da seguinte forma:

  1. Achar: identificar um nicho; agregar
  2. Selecionar; filtrar; selecionar: qualidade/originalidade/relevância
  3. Editorializar: contextualizar conteúdo; introduzir/resumir (não simplesmente postar); adicionar a sua perspectiva;
  4. Arranjar/formatar: classificar conteúdo; hierarquizar; leiautar conteúdo;
  5. Criar: decidir por um formato: Paper.li, Scoop.it, Storify.Storiful, Twitter curation; creditar fontes
  6. Compartilhar: identifique sua audiência; qual mídia usam?
  7. Engajar: seja o anfitrião da conversação; providencie espaço; participe; anime;
  8. Monitorar: monitorar o engajamento; monitorar a liderança da conversação; melhorar

Creio ser importante analisar cada uma em em separado.

Curador de conteúdos

O que é?

O Curador de Conteúdo tenta encontrar entre a vasta quantidade de informação que inunda a internet, aquela que é realmente relevante aos seus usuários/leitores.
Esse conteúdo de valor deverá satisfazer as exigências de informação que tais pessoas apresentam, e que funcionaria como um antídoto contra aquilo que vem se convencionando chamar de infoxicação, da qual a rede padece de forma pandêmica.

Perceba que o objetivo é um público, e os escritos tem que ser altamente especializados. O curador será a ponte entre informação e usuário. Não pode deixar passar nada que seja relevante ou fundamental. E usará sua expertise para tanto.
É por isso, que o curador não irá simplesmente recolher ou editar textos alheios para publicar em alguma ferramenta tecnológica.
O que se espera do curador não é uma colcha de retalhos.

De acordo com minha experiência considero que as principais fases da Curadoria de Conteúdos sejam assim discriminadas:

Fases:

1 – Coleta

Esta fase é a primeira, exatamente porque é nela em que o curador toma contato com o grosso da informação disponível.

Esse momento equivale a um verdadeiro garimpo, onde vai-se buscar em meio a tudo o que se produz o que verdadeiramente tem interesse para aqueles que são seus usuários/leitores.

Nessa fase, se percorrerá todas as fontes possíveis de informação sobre o tema escolhido para cura e que estão em diferentes suportes e formatos: infográficos, resenhas, artigos, fotografias, tutoriais, etc..,.

Devido a essa quantidade massiva de informação o esforço demandado será grande e poderá significar um investimento alto em tempo despendido.

Importa ressaltar que nesse ponto já seria importante estabelecer hierarquias de valores para o que for sendo encontrado, excluindo-se aquilo que não for relevante ou que não tenha real interesse.

Considero nesse ponto, um grande teste ao curador de conteúdos: aqui começará a provar seu valor e consistência.

Deverá de pronto saber separar o joio do trigo. Não se deslumbrará e nem equivocará facilmente.
Não pode ser um compulsivo por compartilhamentos.

  1. Seleção e Criação de Filtros

Aqui é que o curador de conteúdos mostrará seu valor tanto como pesquisador como agregador.

Do universo, muitas vezes incomensurável de coisas, buscará critérios para selecionar aquilo que de fato será importante e que merece tempo e investimento em publicação e divulgação.

Um equívoco comum é achar que essa fase será simples e rápida, uma vez que tudo já foi coletado. Mas nem sempre é assim.

Esta fase pode também demandar tempo e esforço para filtrar e hierarquizar.
Cabe ressaltar que o filtro principal desta seleção é a área de conhecimento e produção do curador. Sua seleção se pautará exclusivamente sobre o que de fato entende suficientemente para posicionar-se e aprofundar conceitos e ideias.

  1. Edição, Elaboração

Nessa fase caberá ao curador acrescentar contexto ao conteúdo a partir de sua perspectiva e conhecimentos.
Lembre-se que o curador precisa ser um especialista sobre aquilo que fala.

Esta fase tem como objetivo poupar possíveis problemas, já que é nela que se examina como os conteúdos selecionados podem ser adaptados para melhor atender aos usuários. Essa adaptação pode tomar em conta: adequação ao idioma, formato para publicação, o tempo de leitura, links e hiperlinks.

Todos esses aspectos ajudam a definir qual a melhor estratégia de publicação e divulgação e minimizar erros ou fracassos dos mesmos como post ou outro meio.

Por isso, citei acima que um editor em uma redação não é um curador!

A velha e boa edição de redações em áreas de comunicação não representam e nem se configuram curadoria. A utilização do termo para estes casos é absolutamente inadequada.

4) Arranjar/formatar:

Classificar o conteúdo, criar hierarquizações e dar um leiaute à tudo o que selecionou, editou e elaborou.
O curador terá que se sentir à vontade nos meios que escolher para divulgar aquilo que amealhou e enriqueceu com seus conhecimentos.
E por isso a ferramenta importa muito pouco. Cada um preferirá esta ou aquela. O fundamental neste caso é o conteúdo a ser veiculado. Maus conteúdos ficam ruim em qualquer plataforma ou tecnologia.

5) Criar a estratégia de disponibilização/distribuição

Aqui é o momento de decidir por um formato: Paper.li, Scoop.it, Storify.Storiful, Twitter curation, entre outras.

É também o momento de creditar as fontes utilizadas.

Uma vez selecionada, filtrada, elaborada chega o momento de distribuir essa informação.

Aqui a escolha recai sobre quais os meios mais adequados para aquele conteúdo, em que faixa de horário e até o melhor dia da semana para alcançar a maior audiência para o mesmo.

É também a fase onde é testado o grau de conhecimento e interação do curador de conteúdos e sua audiência (público alvo)

O que citei acima sobre as ferramentas se aplica às redes escolhidas. É o conhecimento do curador sobre o perfil de seus usuários/leitores que o levarão para este ou aquele veículo. Se você não sabe quem é o seu público e quais as melhores formas de interagir com ele, nunca conseguirá ter conteúdos com boa circulação.

  1. Engajamento

O curador nesta fase exercitará seu poder de influência, animação entre seus usuários/leitores. Será preciso motivar, trocar e dialogar com sua audiência como forma de estabelecer a relação tão desejada de engajamento.

É o espaço de conversação e onde as relações com os usuários/leitores se estreitarão.

Daí a importância do curador ser conhecedor do tema em que faz a cura. Somente assim será capaz de instigar, tirar dúvidas, trocar, e mais do que tudo: ter uma boa reputação online. A influência acontece exatamente a partir desta qualidade e capacidade.
Se o curador não for capaz de sustentar e motivar a interação com seus leitores, não fez curadoria: apenas compartilhou. E isso, já sabemos, qualquer um em rede é capaz.

  1. Análise, monitoramento

A curadoria não termina no momento da divulgação.

É fundamental analisar de forma precisa e meticulosa todos os resultados obtidos.

Serão eles que determinarão se houve êxito na empreitada, se os objetivos e o público a que se destinava foram alcançados e com qual grau de assertividade.

Também será nessa fase que se estabelecerá estratégias futuras. A partir de erros e acertos, o curador irá aprimorar suas ações.

Portanto, essa fase tem igual peso e importância.

Erros mais comuns a se evitar:

É natural que lidando com um número tão grande de informações, ações e compartilhamentos cometamos alguns erros.

Estes aumentam especialmente se temos que fornecer conteúdos de forma sistemática e contínua.

Estabelecer crivos e filtros pode ser mais difícil do que se imagina.

Assim, aqui algumas dicas aos que desejam ser curadores de conteúdos e não apenas um compartilhador contumaz, ou um editor de ocasião:

  1. Nunca simplesmente cole e copie

Isso é desmerecer a inteligência e a paciência de seu usuário/leitor.

Cuide para não ficar repetindo chavões e fórmulas prontas. A internet anda cheia disso, e quem busca bom conteúdo não gosta disso.

  1. Nunca deixe de se posicionar. Sempre coloque sua posição

O Curador de Conteúdos deve ser antes de tudo um alimentador, fomentador de ideias. O objetivo de uma curadoria de conteúdos não é uma colcha de retalhos! Exercite sua criatividade. Vá além do dado e crie conexões e trilhas para que seus leitores cheguem aos seus caminhos com a ajuda que você oferecer.

  1. Dê sempre o crédito à sua fonte inicial

Nunca, nem sob tortura omita a fonte de onde retirou as informações. Não plagie! Nem ideias e muito menos conteúdos. Busque a autenticidade todo o tempo. Seja profissional em suas escolhas e ações. Se não for capaz disto, desista de ser um curador!
As pessoas podem não ser especialistas em muitas coisas, mas reconhecem a quilômetros um profissional que é um blefe.

Portanto, atribua créditos e tenha certeza que será igualmente respeitado e creditado

  1. Seja responsável com o que escreve

Como Curador de Conteúdos você não pode colecionar achismos. É preciso que, como especialista, saiba exatamente o que diz e porquê.
O curador deve vincular seus escritos com o seu nome. Portanto, não é apenas um conteúdo de quinta que oferecera se for pouco cioso. Estará construindo uma péssima reputação. E se de fato você estiver fazendo curadoria, estará em um determinado nicho especializado. Todos de conhecerão, tanto pelo que fez e faz de bom, mas muito mais pelo que faz de equivocado ou de forma preguiçosa e descuidada.
Zele por seu nome, sua reputação e o nicho ao qual faz parte.
Aqui é uma situação de igual profissionalismo e ética.

  1. Vá além das palavras chaves! 

As publicações precisam ter um conteúdo consistente que sirva de acompanhamento a tudo o que está recomendando.
Não escreva o óbvio e nem se restrinja a ser mero reprodutor de chavões e frases e ideias fáceis. Todos que não sabem o que fazer vão por esta via.
Escreva conteúdo de qualidade ou simplesmente fique em silêncio. O silêncio bem empregado vale mais do que mil palavras!

  1. Tenha cuidado com infográficos!

O infográfico possui como característica fundamental ser um facilitador de leitura de um conteúdo. Ele precisa e deve, por meio de imagens fazer com que o leitor/usuário fique dispensado da leitura e por meio de imagens intuitivamente apreender um conteúdo.

Mas, o que temos em muitos casos são verdadeiros poluidores de imagens e textos que geram mais confusão e ruído informacional do que qualquer outra coisa. Não se deslumbre facilmente por eles!

Recomendo a leitura deste excelente post que dá muito boas sugestões sobre o que tomar em conta quando se elabora um.

Algumas qualidades que são fundamentais para um Curador de Conteúdos:

  1. Precisa ter espírito curioso

Sem essa qualidade estará sempre no mesmo lugar. A curiosidade movimentará suas buscas e será fonte de inspiração para seus usuários/leitores. A curiosidade alimentará a si próprio ao mesmo tempo em que estimulará seus leitores/usuários.

  1. Precisa ter espírito sintético, já que deve funcionar como um filtro entre a informação e seus usuários/leitores.

Seu papel e função é exatamente ser capaz de reduzir tudo ao mínimo indispensável e de forma clara, objetiva e instigante. Mas sem omitir o que seja importante.

  1. Precisa ser empático

Se interagirá entre conteúdos e usuários/leitores precisa ser capaz de sentir o humor, as vontades, as necessidades de quem está do outro lado.

É muito importante que saiba colocar-se do lado de onde está seu usuário/leitor para perceber quais são as suas expectativas, necessidades, vontades.

Fazendo isso conseguirá um caminho estreito entre si  e o outro e a isso chamamos de diálogo.

A empatia gerará também confiança por parte do usuário/leitor e isso como vimos acima é fundamental na construção de uma boa reputação online.

  1. A proatividade é outra característica importante.

Tê-la significa antecipar-se sempre às necessidades e demandas de seus usuários/leitores e significará que sempre estará um passo adiante.

  1. O curador de conteúdos precisa ser um especialista do tema que escolher para curar.

Não é possível planar sobre várias coisas.

O Curador de Conteúdos terá que definir, para o bem e qualidade de sua permanência no meio, sobre qual será o âmbito de sua curadoria. Por isso, sugere-se que seja uma área em que domine e que possa ser considerado um especialista.

Caso não o seja, rapidamente poderá ser identificado como apenas um charlatão ou reprodutor puro e simples de ideias alheias. O que definitivamente não deve ser o caso.
Imagino que isso seja a última coisa que alguém que quer ser curador de conteúdos deseje ser.

Portanto, não vá além daquilo que você sabe! O limite de um curador, como tenho dito, é sempre a sua ignorância. Este é o momento de parar.

Quem está em busca de bom conteúdo saberá identificar rapidamente imprudências, superficialidades e engodos.
E caímos novamente no que pode ser o contrário de ter uma boa reputação online

Ainda um alerta: ser especialista em uma área não significa ser monotônico, ou seja, sempre falar das mesmas coisas. Isso vai cansar o público alvo. Rapidamente as pessoas pararão de lê-lo, pois sempre terão a impressão de que você fala de uma coisa só todo o tempo. A criatividade é fundamental nesta hora e ajudará a trazer ar frescos a antigas ideias.

  1. Saber exercitar a crítica

Aqui não é a crítica pela crítica, mas alguém com profundidade e consistência suficiente para, ao se defrontar com diferentes informações, saber qualificar o que lê na medida correta.

Graficamente teríamos:
[slideshare id=33345876&doc=curadoriadeconteudofinal-140409202705-phpapp01]

Trocando em miúdos

De tudo o que citei acima, vejo que um cuidado a se ter na Curadoria de Conteúdos é a acuidade nas escolhas.
Se não for seletivo e atento pode-se “atirar” para vários alvos e acabar afastando leitores. Sentir esse humor do usuário/leitor é fundamental.

Não vejo como sendo uma atividade a ser desenvolvida de forma restrita por esta ou aquela profissão. O Perfil deste profissional está muito mais ligado a uma habilidade do que propriamente a um diploma. O que de fato importa é que este profissional tenha profundo conhecimento da área em que atuará.
E que não seja necessariamente este ou aquele profissional oriundo desta ou daquela formação.

Além disso, o curador deve ser capaz de movimentar o tema e interagir quando for necessário. Se apenas reproduzir as notícias sem o trabalho de posicionar-se sobre as mesmas o conteúdo se transformará rapidamente em apenas mais um site de atualização de notícias. O que não vejo que seja o caso e nem o objetivo desse profissional.

Este trabalho de fato é técnico, mas requer grande habilidade e sensibilidade do outro. Este talvez seja o grande diferencial do Curador de Conteúdo. Conseguir ter repertório que sustente suas sugestões de conteúdos, encontrar temas relevantes e adequá-los ao seu público leitor é uma tarefa muitas vezes árdua e de “alta-costura” (requer paciência e cuidado). E o que é principal: deve posicionar-se de forma crítica ao mesmo tempo que acrescenta informação que venha complementar a sugestão de conteúdo inicial.

Talvez esteja aqui a maior e principal dificuldade da curadoria. Não somos capazes de falar com propriedade sobre tudo o que achamos interessante.
O limite para o curador será sempre sua própria ignorância!
Para manter a consistência terá que estar focado não apenas no que o seu público quer, mas também naquilo que pode comentar e contribuir com segurança e profundidade.

É preciso dar corpo e voz ao conjunto de postagens e fazer com que toda uma comunidade interessada no tema tenha conhecimento agregado a partir da verticalização que cabe ao curador.

Após toda esta explicação metodológica, recomendo a leitura do meu post “Fotografia como Documento e Narrativas Possíveis“, onde procurei exemplificar como se faz um trabalho de curadoria. Não apenas no que tange ao trabalho do fotógrafo e curadores da exposição no museu, mas para o meu próprio caso. Notem que neste caso vocês tem exemplificado como se realiza a curadoria de conteúdos. Tão em voga enquanto produto, mas muito longe de ser feito corretamente.
Espero ter podido mostrar com ele como a curadoria de conteúdos acontece de acordo com a metodologia que indiquei neste post de Curadoria.

A Curadoria não é fácil e exige muita leitura e disciplina. Isso eu garanto!
Mas de outro lado, é muito bom ver o quanto isso faz da comunidade usuária/leitora coesa e consistente.

Mas tudo falharia se não houvesse interlocutores.
Sem estes nenhuma curadoria faria sentido!

Será que é de um Curador de Conteúdos que sua Instituição precisa?

A ER Consultoria tem condições de ajudá-lo em áreas afins à Gestão de Informação, Gestão de Conhecimento e Memória Institucional.
Consulte-nos e apresentaremos uma Solução para as suas demandas.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

Referências

  • Amaral, Adriana; Aquino, Maria Clara. Eu recomendo…e etiueto. Praticas de folksonomia dos usuários di Lst.fm, Revista Libero, n. 24, Ano XII
  • Belguelman, Gisele, Curadoria de Informação. Palestra, USP 2011. [Link:]
  • Jenkins, Henry. Cultura da Convergência, São Paulo, Aleph, 2006
  • Keen, Andrew. O Culto do amador. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2009
  • Recuero, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009
  • Rosenbaum, Steven. Curation nation. Why the future of context is context. NY: McGraw Hill, 201
  • Site e Infográficos:
  • Link 1: 
  • Link 2: 
  • Link 3:

Agradecimentos:

  • Lionel Bethancourt por leitura atenta e cuidada e auxilio em diagramar ideias transformando-as em imagens.
  • Victor V. Valera por ser interlocutor atento e me despertar para uma série de temas relacionados à Curadoria de Conteúdos, e que me serviu de inspiração para muitos dos temas tocados nesse post.

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