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Nas ruas e nas redes: uma metodologia para análise da sociedade digital

Por: Eliana Rezende Bethancourt

A sociedade possui uma forma de estar e se comportar tanto nas ruas como em redes. Nossa sociedade se movimenta tanto física quanto digitalmente.

Registros fotográficos captam instantes e movimentos vividos nas ruas. Nas redes esta ‘fotografia’ de instantes pode ser observada com ferramentas de análise de redes.

A fotografia em toda sua história possui a característica de registrar e enfocar algo para nos chamar a atenção. O fotógrafo nos dirige o olhar para aquilo que lhe interessa e tudo o que está fora do enquadramento compõe o que chamamos extraquadro e se torna ausente. A fotografia, não representa nem a verdade de uma situação e representa sim um olhar sobre um vasto campo que engloba o objeto, mas que também exclui tudo o que compõe o extraquadro. É fruto de uma escolha pessoal e subjetiva do fotógrafo.

Da mesma forma que o registro fotográfico, as ferramentas de análise de redes que resultam em imagens instantâneas dos temas que provocam engajamento também trazem este foco, ao mesmo tempo que possuem, não um extraquadro, mas um contexto para suas conexões.

Há uma ampla gama de ferramentas que são utilizadas na coleta, análise, configuração dos dados e a elaboração de gráficos e imagens que fornecem a possibilidade de se verificar não apenas os graus de engajamento e interação, mas também a densidade destas ligações.

Dentre eles, temos, segundo SILVA, T. F. da .; RAMOS, T. C. da S. .; DAVID , H. M. S. L. .; VIEIRA, A. C. T. (2021):

– “(…) O Ucinet© – mais utilizado nos estudos que envolvem Análises de Redes Sociais (ARS) –, criado para auxiliar o analista de redes sociais no estudo das relações por meio de seus padrões. Permite caracterizar as ligações entre atores por meio de gráficos provenientes de uma matriz – conjunto de elementos formado por linhas e colunas, em que o analista de redes insere dados que representam as ligações dos atores na rede e pela aplicação de algoritmos específicos. Possibilita ainda o cálculo de medidas e a configuração das redes;
– O Netdraw©, que está integrado ao Ucinet© e é um programa para a representação de diagramas, possibilita a visualização de dados de redes sociais e permite visualizar relações múltiplas, distinguir atributos para os atores da rede, salvar os diagramas da rede como imagem, entre outros recursos;
– O Egonet©, que é uma ferramenta desenvolvida para analisar dados de redes egocêntricas. Auxilia o analista de redes na elaboração do questionário, na coleta de dados, na compilação de matrizes e na apresentação de análises estatísticas;
– O Pajek©, que tem a capacidade de representar, por gráficos, grandes redes, decompondo-as e identificando clusters (redes dentro de redes) ;
– E o Gephi©, considerado uma ferramenta “opensource” que auxilia na exploração e compreensão de dados a partir de gráficos. Ele permite que o usuário possa interagir com a representação, manipular as estruturas, formas e cores para revelar propriedades, por vezes ocultas, nos dados brutos. Pode ser utilizado para análise de redes egocêntricas ou completas. (…)”

Entenda toda esta teoria a partir de um exemplo prático:

Os movimentos ocorridos neste 7 de Setembro de 2021 entram para a história como sendo grandes movimentos, tanto nas ruas e praças, quanto na avenida larga da internet. Vimos o que aconteceu e o que não aconteceu nas ruas neste 7 de Setembro. Agora vamos tentar entender o que aconteceu nas redes e a forma como a sociedade se movimentou a partir das ferramentas disponíveis para análise delas.

Utilizarei grafos de Pedro Barciela que foram produzidos a partir de interações no Twitter.

Chamamos grafos estas imagens que parecem nuvens de palavras coloridas, que resultam de reunião e análise de grandes massas de dados.

Grafo de Pedro Barciela

Como forma de compreender estas imagens, tais grafos apresentam cores, que por sua vez se dividem em “grupos”. Para o caso da análise deste dia o cluster (que são as redes dentro de redes) representada pelo bolsonarismo é o laranja. Se colocarmos uma lupa sobre a quantidade de interações os dados revelam que menos de 18% dos usuários citaram as ‘manifestações’ ou mesmo ‘Bolsonaro’ em suas interações. As citações para o caso de redes utilizando hashtags são fundamentais para mensurarmos as interações. Esse baixo engajamento da análise deste grafo mostra que a mobilização digital #flopou (termo em linguagem digital para dizer que fracassou).

Mas o que poderia ser atribuído a isso? O que é definitivamente visível e perceptível é que a partir do esvaziamento da manifestação em Brasília com a presença de apenas 5% de manifestantes do que seria sua expectativa inicial. Fontes mais otimistas aguardavam algo acima de 1 milhão de manifestantes. Este volume, muito menor de pessoas, dificultou a criação de uma “enredo” sobre o que aconteceu. Isto deixou os que funcionavam como alimentadores das redes sem uma ‘ficção’ que engajasse seus pares e produzissem as tão desejadas interações que movimentariam as redes.

Apesar do grande tempo de preparação (quase 2 meses), com uso de recursos públicos e privados a decepção pelo que aconteceu em Brasília dificultou o engajamento na rede. Como a análise de redes ocorre em tempo real e instantâneo não é possível fazer análises sobre o que poderia ter acontecido nas ruas. Inúmeras versões surgem e só o Tempo mostrará. Para a análise das redes isto de fato não importa. Cabem a outras áreas de conhecimento investigar e propor caminhos interpretativos que se pautarão não apenas ao instante, mas aos eventos que circundam tais registros e estão no antes, durante e no depois. Colaboram com isso informações trazidas por apurações jornalísticas e, mais tarde e de forma bem mais robustas, por historiadores e cientistas sociais.

De outro lado, e não menos importante temos os outros clusters que representam o que pode se considerar a oposição ao bolsonarismo (representados pelas cores rosa e verde), e que se apresentam com uma interação muito maior. De novo, temos o engajamento de clusters diversos em oposição à jb. Não que TODOS pensem de forma idêntica, mas determinados pontos como a crise institucional e a luta por Democracia os une. O anti-bolsonarismo é diverso e possui muitas camadas de pensamentos, ideologias, objetivos e visões políticas e de mundo. Por isso, são uniões que ocorrem de forma pontual em resposta à situações específicas. Perceba que sempre há a figura de atores sociais que possuem um grande número de seguidores, e estes repercutem suas falas gerando o engajamento. Toda a movimentação se dá por posições e contraposições de ideias e posicionamentos. Alguns atores possuem interlocução com mais de um cluster exatamente por terem abordagens que engajam vários segmentos e pautas. E também é importante destacar que a aliança entre estes atores não se dá por conexão. Não estão conectados ou filiados politicamente, mas apresentam interesses no mesmo tema. Por isso dizemos que são alianças contranaturais. Estão unidos neste tema e aparecem neste instantâneo de momento.

Metodologia na Prática

Quando falamos em análise de redes não tomamos métricas usuais para outras coisas como raça, gênero, sexo, idade. Para analisá-las utilizamos critérios que tomam em conta a comunicação e interação entre ideias e comportamentos. O produto final destas análises funcionam como uma radiografia do social, e como toda radiografia há que se delimitar o quê efetivamente será mostrado.

A análise das redes nunca são abertas ao ponto de não se saber o que se quer mostrar. Como ocorre com todas as metodologias é preciso saber o quê e como será analisado. É preciso delimitar claramente quais serão as fronteiras do estudo.

O rigor metodológico da ARS implica duas condições: a escolha e a justificativa das relações que serão observadas e a delimitação do conjunto que será observado, ou seja, a especificação de fronteiras para a investigação. Para alcance da primeira, o pesquisador deve identificar os recursos cuja circulação é vital para o sistema, as produções, as trocas, os controles e as solidariedades que o caracterizam. A segunda condição pressupõe definir as fronteiras externas do ator coletivo ou do sistema de interdependência que se quer observar na estrutura relacional (Lazega & Higgins, 2014)“.

Por esta razão, vale frisar que as alianças contranaturais geradas pelo antibolsonarismo, segundo Pedro Barciela, são da mesma natureza que o movimento antipetismo. Isto porque ela fomenta alianças que antes só poderiam ser vistas estritamente no ambiente sócio-político.

Agora como entender os elementos que compõem este grafo e seus clusters?

A interpretação pode ser resumida da seguinte forma: os nomes que aparecem tem seu nome distribuído por tamanho de acordo com seu volume de interações. Quanto mais interações maior o nome aparecerá, sua localização no cluster estará no ponto onde se conecta com outros atores. Tais nomes também são chamados de nós. Taís nós são, dentro do ambiente de rede, tanto o que converge quanto o que bifurca interesses e conexões. Por isso, podemos afirmar que nunca as redes podem ser vistas como organismos fechados e homogêneos. Os nós podem ser antes de tudo o começo, e portanto está sempre aberto.

E as cores? Bem, as cores segundo a bióloga Carina Pensa, que utiliza grafos em seus trabalhos de pesquisa e os define da seguinte forma:

Os grafos, portanto, dão materialidade a algo que não podemos ver. Ao aplicar a análise de redes e usar os grafos podemos seguir interpretando os dados a partir das imagens que conseguimos ter a partir de diferentes ferramentas.

O que é importante destacar é que tais “fotografias” são como instantâneos e vão se alterando todo o tempo em função das interações ocorridas e dos eventos que se sucedem. As redes possuem interesses voláteis e por isso nunca representarão uma perspectiva fixa.

O exercício mais interessante é olhar para todos os dados e a partir daí seguir fazendo as interpretações possíveis a partir de todo o seu contexto.

Tal como ocorre com movimentos nas ruas, os movimentos em rede não são, nem uniformes e nem homogêneos. À medida que novos eventos ocorrem eles vão alterando o comportamento digital.

Observe-se pela manhã do dia 7 de Setembro de 2021 o movimento era maior, mas logo no meio da tarde e noite o levantamento de hashtags e engajamentos foram muito abaixo do que se esperava.

Observe o gráfico de engajamento nas redes criado também por Pedro Barciela. O gráfico mostra o engajamento em rede desde o dia anterior (06/09/21) e no decorrer de todo o dia 07/09. Fácil observar que a oposição teve uma reação bem maior contra o bolsonarismo.

Ao analisarmos fotografias do movimento nas ruas de Brasília na manhã do dia 07 de Setembro de 2021, basicamente no mesmo momento dos registros dos grafos acima verificaremos a dispersão de pessoas. Essa dispersão de pessoas levou ao menor engajamento em rede. Donde se lê que a rede acabou refletindo algo que estava ocorrendo nas ruas.

A interdisciplinaridade para análise da ruas e das redes

De tudo o que vimos, nas redes e nas ruas, fica claro que mais importante que imagens descoladas da realidade servem bem pouco à análise da sociedade digital. Sua complexidade entre diversos atores e mundos requerem uma multiplicidade de olhares. Mas antes e mais importante de tudo: são necessárias boas perguntas. Se não sabemos como elaborar boas perguntas a possibilidade de encontrarmos boas hipóteses e consequentemente boas análises interpretativas são pequenas.
O estudo tanto de redes sociais quanto digitais necessitam de um olhar interdisciplinar e atento.
E ainda mais importante: mesmo tendo em mãos muitas ferramentas para análise de redes, o sucesso depende daquele que circunscreve e delimita seu campo de investigação para posteriormente ser capaz de analisar de forma abrangente e perspicaz.

Gosto deste tipo de abordagem como análise social e digital pois permitem o cruzamento de diferentes dados. A reunião destes gera informação que pode produzir análise a partir de uma quantidade de variáveis e contextos. E aí temos uma prova fantástica de como nos dias de hoje áreas de exatas e humanas podem se unir para compreender a sociedade onde estão.

Este território de intersecção entre as áreas de Humanas com ferramentas das áreas de Exatas vem sendo chamada de Humanidade Digitais.

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Fotografia como Documento e Narrativas Possíveis
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** Artigos relacionados:
Lazega, E., & Higgins, S. S. Redes sociais e estruturas relacionais. Belo Horizonte. Editora Fino Traço, 2014.

SILVA, T. F. da .; RAMOS, T. C. da S. .; DAVID , H. M. S. L. .; VIEIRA, A. C. T. . Características e especificidades da Metodologia de Análise de Redes SociaisResearch, Society and Development[S. l.], v. 10, n. 3, p. e46510313622, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i3.13622. Acesso em: 9 set. 2021

Rezende, Eliana Almeida de Souza. ”Construindo imagens, fazendo clichês: fotógrafos pela cidade”. An. mus. paul. [online]. 2007, vol.15, n.1, pp.115-186. ISSN 0101-4714. Acesso em: 9 set, 2021.

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Importância do Rigor Metodológico e Conceitual em Memória Institucional

Por: Eliana Rezende Bethancourt 

À guisa de uma introdução:

A escrita coloca a quem escreve, o desafio de ponderar palavras e elaborar conexões de sentido. Diante disso, um esclarecimento: minha fala pauta-se a partir da observação que venho fazendo em relação ao oferecimento de cursos e outras formas de capacitação e/ou consultorias que tem proliferado nas redes, até propiciada pelos recursos online aos quais temos acesso. 

Uma tempestade perfeita se formou onde de um lado, temos a tecnologia acessível, e de outro pessoas disponíveis com tempo ou recursos, querendo realizar cursos e aperfeiçoamentos, ou demandas que necessitam de uma consultoria ou assessoria técnica. Engana-se aquele que acredita que, por ser uma capacitação ou consultoria, esta deva ser desprovida de rigor, e que qualquer coisa poderia ser aceita, já que são poucas horas destinadas a ela.

Os pilares que sustentam, e que firmam toda uma carreira, assentam-se obrigatoriamente na formação teórica, acadêmica e no rigor metodológico. São pilares que prezo e persigo tanto em mim, quanto no meu trabalho, meus alunos e nos profissionais que me cercam, ou nos clientes que me procuram.

Em geral, e até por uma demanda que chamamos de coerência, este rigor Conceitual e Metodológico devem ser acompanhado por ações profissionais que os sustentem. A seriedade imposta deve ser ainda mais rigorosa quando nos dispomos a ensinar ou a desenvolver um trabalho que repercutirá numa comunidade ou organização (seja ela qual for). A docência e o profissionalismo em áreas de conhecimento técnico é um compromisso público e ético com a área em que atuamos e com aqueles com quem compartilhamos nossos conhecimentos ou experiências.

Colocando uma lupa

Como é óbvio, não é possível cobrir todas as formas de capacitações ou consultorias e assessorias técnicas em diferentes áreas. Portanto, me aterei a minha área específica de atuação acadêmica e profissional que é a Gestão de Informação e a Memória Institucional. Leitores de outras áreas podem tirar proveito do que escrevi pensando em conexões com suas áreas especificas de formação e/ou atuação.
Meu debate procura reforçar a noção de que em todas as áreas há os que se esmeram em Conceituação e Método aplicáveis à sua prática profissional. Mas há também os que consideram isso supérfluo e até desnecessário, por considerarem que o que importa é mesmo a cifra ao término e ao cabo. Para estes últimos não há a preocupação, pois consideram que os demandantes pouco sabem e por isso tanto faz.

No decurso de minha experiência, e por diferentes vezes, me defronto com cursos ou consultorias oferecidas que pecam exatamente pela falta de compromisso ético com o rigor e a qualidade do que se oferece. Em alguns casos, tais cursos ou consultorias apresentam fragilidades conceituais, técnicas, metodológicas e chegam a ser oferecidos de uma forma mercadológica, onde preços e certificados são oferecidos e suas entregas muitas vezes, à domicilio!

Consigo compreender que existam, na livre concorrência e nas leis de mercado, sistemas mercadológicos tais como os descritos acima e que também existam alguns profissionais que se submetam a isso. O que definitivamente não sou capaz de aceitar são fragilidades conceituais e muitas vezes grandes equívocos propiciados pela tábula rasa da ausência de consistência teórica e intelectual sendo oferecidas como vantagem e capacitação.

Exemplo neste sentido é a área de Gestão Documental, por excelência uma área multidisciplinar, e isto lhe dá como característica predominante a possibilidade de trocas e experiências com diferentes saberes. Mas simplesmente não pode ser confundida e colocada de uma forma como se tudo pudesse estar junto e misturado, sem um detido e aprofundado estudo dos diferentes conceitos que a compõe.

Dentre eles cito os que são mais gritantes e perceptíveis na área que atuo: Memória Institucional, Gestão Documental, Processos Híbridos (microfilmagem e digitalização) e célebres frases indevidas e erradas como: “arquivos inativos”, “arquivos mortos”, ou afirmar que Arquivo seja Memória Institucional e que GED é Gestão Documental. Usual é também considerar que Informação possa ser tomada como Conhecimento. Algo impensável, já que Conhecimento representa uma a informação processada e transformada em experiência pessoal e intrasferível.

Pode ficar ainda pior quando técnicas são confundidas, como por exemplo, não saber diferenciar storytelling, depoimento, história de vida ou entrevista e de como estes poderiam ser realizados em um Projeto de Memória Institucional.
Ou não ser capaz de entender como a Memória Institucional acaba sendo uma parte importante do que seja a Memória Social, e que esta definitivamente tem que ver com Tabelas de Temporalidade Documental, e NUNCA com colecionismo ou escolhas que compõe uma lógica que está há anos-luz de ser um Método adequado. Coloco propositalmente temas que se tocam, mas são de áreas diversas e possuem concepções teóricas e metodológicas diversas, não porque seja errada a interdisciplinaridade, mas sim a incapacidade por parte de alguns de transitar por todas estas áreas sem praticar alguns equívocos conceituais.

Infelizmente tenho visto muitos confundirem Linhas de Tempo e “relíquias institucionais” com Memória Institucional e com História.
Em outros casos, vejo Memória Institucional ser confundida com Arquivo. Apesar dos arquivos fornecerem subsídios para que se possa chegar ao que denominamos Memória Institucional, Arquivo NÃO é Memória Institucional. Assim como Memória Institucional NÃO significa uma cronologia composta a partir da produção de documentos, como querem alguns arquivistas.
Alguns usam a expressão “resgate de Memória“, como se esta fosse uma ‘entidade’ a ser buscada em alguma parte, para ser embalada e mostrada como produto. Esquecem-se ou simplesmente não sabem que a Memória é forjada no território social, que é constituída a partir da História e que esta não existe à priori: é uma construção subjetiva a partir de um determinado ponto de vista e/ou repertório, em última instância é forjada a partir de relações sociais complexas e que possuem diferentes vetores.

O “equívoco” é grave quando se supõe que a partir de escolhas realizadas por áreas de Comunicação ou Marketing se acumulem documentos e objetos para formar o que chamam de Memória Empresarial ou Museu. Cabe sempre lembrar que documentos NÃO nascem para ser isso ou aquilo. São produzidos no âmbito de FUNÇÕES desempenhadas por pessoas ou organizações e por isso, a escolha aleatória por terceiros não passa em grande parte de achismos e de reunião de objetos e coisas que poderiam bem compor um “gabinete de curiosidades”. Decidir por critérios outros que este ou aquele documento ou objeto é histórico é, em grande parte um erro que não se sustenta por rigor teórico e metodológico. Ainda que se faça esta ou aquela pesquisa denominada histórica, esta está longe de ser rigorosa. Representa apenas uma forma de maquiar e dar lastro à coleção reunida por objetos e eventuais ditos documentos.

São portanto, equívocos cometidos em série e que atinge de morte áreas como a Arquivologia e a História.
Há também equívocos que consideram que a produção de documentos arquivísticos da Administração Direta e Indireta de Órgãos Públicos são Memória Institucional, o que NÃO é real. A Memória Institucional é uma construção e não fruto apenas de Tabelas de Temporalidade (apesar destes documentos ser utilizados como fontes). Ainda dentro desta mesma esfera e no campo da Administração Pública, os documentos permanentes (que são os de valor histórico) devem cumprir seus prazos legais como tais. Poderão ser utilizados como fonte histórica, mas NUNCA ser subtraídos dos conjuntos documentais de que são parte. Aqui temos um exemplo bem acabado do seja teoria e metodologia aplicáveis à diferentes áreas e que possuem em comum um conjunto documental. Uma área NUNCA poderá prescindir da outra ou suplantá-la.

Também NÃO é Memória Institucional elaborar Linhas do Tempo ou escrever textos bonitinhos para integrar livros comemorativos ou mesmo exposições. Não é também colecionar imagens num álbum de fotos antigas, ou fazer colagens de ‘curiosidades’. Reduzir o trabalho a isso significa oferecer “perfumarias” desprovidas do que seja o verdadeiro significado da Memória Institucional. É preciso ir muito além disso. Como repito constantemente: a Memória Institucional não é um produto em si. É sim, meio para fortalecer a Identidade e Cultura Organizacional. É favorecer a produção de Conhecimento e Inovação dentro das organizações além de ser importante na valorização do Capital Intelectual nas organizações.

São tão graves esses equívocos que, colocar tais termos em cursos ou consultorias oferecidas, mostra à partida quão grave e preocupante é a qualidade do que se abordará! Quem se propuser a ir por esta seara deverá estar firmemente embasado por 4 áreas, talvez 5: Arquivologia, História, Tecnologia, Biblioteconomia e Gestão. Sendo a História a mais complexa e com maior rigor de leituras e metodologia. As demais áreas são técnicas e de aplicação. Diante disso, conceitos caros à História como Memória, Identidade, Sociedade, Cultura, etc, devem ser tratados a fundo e muito bem fundamentados. Utilizar tais conceitos sem conhecimento de causa é pelo menos uma temeridade.

Vejo a multidisciplinaridade como meio eficaz de aprendermos e nos esmerarmos com o aprendizado e nunca, nem que seja por um minuto sequer apropriar-nos de forma errada, equivocada ou despretensiosa de uma área tão grande de conhecimento.

Não aceitem ser ludibriados! Solicito que tenham atenção. Verifiquem, analisem, peçam indicação.

Um diagnóstico preliminar
A formação profissional, metodológica e técnica é algo sério e todos devemos zelar por isso! Se não souber avaliar, peça ajuda de quem saiba! Não temos que saber tudo sobre tudo, mas temos o dever de esclarecer quando houver problemas graves.

Um equívoco custa caro ao seu emitente, mas pode ser muito mais caro ao consumidor do mesmo! Exatamente por preocupar-me com os que buscam o saber é que estou me posicionando. Os discentes ou clientes muitas vezes, não possuem ferramentas para discernir, às vezes são jovens demais, inexperientes e oriundos de outras áreas. Por isso, temos que nos colocar e esclarecer quando possível quando detectamos tais problemas.

Acho que é um misto de várias coisas, em especial para os casos de cursos para que tais problemas ocorram.
De um lado, há uma busca de ter sempre na prateleira alguma coisa de consumo rápido e raso… sem grandes compromissos ou aprofundamentos. Este uso é comum, e temos casos de conteúdos ficarem ali sendo “fornecidos” por anos à fio. Já vi casos que os docentes morreram e o conteúdo permanece ali disponível. Isto em geral ocorre com modalidades em formado EaD previamente gravados, ou mais recentemente em formatos de conteúdos online. Estes obedecem uma lógica de oferecer ao maior número possível de pessoas o mínimo sobre algum tema. Com isto possuem um atrativo simples: custos módicos, certificados rápidos e a fantasia de capacitação.

Em outros casos, pode haver má fé: pessoas apropriando-se de ideias e proposições de outros e tentam costurar algo que sirva à vários “corpos”.

E numa que talvez seja a forma mais grave, que é a falta de cabedal e sustentação intelectual e conceitual que compromete a formação de outros. Considero essa a forma mais grave pois quando ensinamos estamos nos comprometendo com a ética da partilha de Conhecimento, mas este deve assentar-se de forma sólida numa formação devida. Nunca poderá ser aceitável uma pessoa que não seja de determinada área ser irresponsável de abarcar saberes que desconhece, ou que os saiba apenas de superfície. O que digo, é que não há problema algum em visitar áreas afins, beber e constituir perspectivas para atuação pessoal e profissional. Mas nunca apropriar-se indevida e equivocadamente daquilo que não sabe só como forma de tornar palatável a venda de um produto ou serviço (no caso aqui me refiro a cursos de capacitação e/ou consultorias).

Talvez o maior remédio que temos contra isso é que as pessoas aprendam a selecionar.

Creio que muitos espaços são indevidamente ocupados exatamente porque os que o deveriam fazer isso deixam as brechas.

Uma torre fortificada numa Ilha da Fantasia

Cito como exemplo, a minha área – as Ciência Humanas -, que é também território de aplicabilidade e prática e infelizmente muitos acham que só são profissionais se estiverem na academia… deixam com isso, espaços que poderiam ser seus na sociedade, em empresas e instituições, para serem ocupados por profissionais que possuem talvez boa vontade mas lhes falta consistência, aprofundamento e na maioria das vezes, leituras da formação.
Seria interessante que os profissionais se desencastelassem da academia e fossem ao mundo real atuar de forma aplicada quer ministrando capacitações, quer prestando assessorias técnicas ou consultorias!
A sociedade ganharia muito!

O fato a que me refiro é de que muitos profissionais encastelam-se em suas “fortalezas” intelectuais: produzindo apenas para seus pares e deixam de alcançar o cerne da sociedade. Mas creio que discursos esvaziam-se quando ficamos em discussões epistemológicas, conceituais ou de especialidades sem o pé na realidade. Aí o que temos é apenas, e tão somente, conteúdos que massageiam egos e inflam vaidades.

Preocupo-me muitíssimo, e aí falo dentro da minha área de atuação (sou historiadora, de graduação à pós-doc), que exista essa cisão de que o profissional de gabinete quase nunca saiu de sua zona de conforto e em muitos casos, não conhece as demandas de mercado e das instituições que não sejam as acadêmicas. Sabe pouco sobre a aplicação de tantos conhecimentos discutidos apenas na academia em um formato teórico. A metáfora que gosto de usar é a da Ilha da Fantasia. Alguns intelectuais ficam apenas dentro da academia, numa bolha que não o coloca no confronto direto com as demandas da realidade. Seria muito interessante que tais intelectuais pegassem seus barquinhos e fossem ao continente para ver o que se passa. Voltariam com outros olhares para a sua pequena ilha.

O inverso também é verdadeiro. Alguns saem da Ilha, vão ao Continente e NUNCA mais retornam à sua origem. Ou seja, afastam-se do rigor que é tão caro e necessário na Academia. Acredito sinceramente que o profissional do século XXI precisa e deve trafegar entre a ilha e o continente e saber levar de cada um o que há de melhor. Este seria o melhor dos mundos.

A História durante toda sua existência, e com especial força durante todo o século XIX, lutou para instituir-se e figurar como Área de Conhecimento. São discussões longas, cujos iniciadores não viveram para ver o final. Mas é muito importante que as aproximações feitas entre áreas diversas representem um esforço sério de embasamento teórico, metodológico e técnico (quando for o caso).

Arquivologia e Biblioteconomia iniciaram essas discussões ainda há pouco e há também as Ciências da Informação, que reivindicam um outro espaço de ocupação, o que indica uma longa e árdua discussão em campos teóricos e epistemológicos não cabíveis de fato ao espaço deste artigo.

Uma proposição
Acho que deve haver a busca do caminho do meio: há sim discussões teóricas, metodológicas e epistemológicas no universo de constituição e aplicação desses saberes, mas há também um território de aplicabilidade que não se encontra na academia e que nem por isso deva ser feito de forma pouco consistente. Um não deve servir de impedimento ao outro. A responsabilidade fica assim na mão de profissionais que devem estar inteirados, atualizados, preocupados e responsavelmente determinados a aplicar os mesmos em suas respectivas áreas de atuação.

Considero que estes equívocos ocorrem exatamente porque muitos profissionais de academia não assumem seu papel de agentes no âmbito social e fornecem as brechas para que profissionais sem muitos escrúpulos mascateiem o que deveria ser algo mais sério: que é a formação profissional. Este é um ponto que me inquieta.

Às vezes, os pesquisadores nos cursos de pós graduação (aqui refiro-me mais aos Mestrados e Doutorados) permanecem num mundo à parte e o que digo é que toda essa competência de fundo conceitual, metodológico, teórico precisa aparecer na sociedade e nos produtos oferecidos a instituições públicas e privadas e que não fiquem restritas às salas e discussões em aula. É altamente salutar fazermos isso! Em hipótese alguma sou contra a produção acadêmica e escrever e compartilhar deve ser nossa preocupação.
Não me coloco contra a realização de cursos e capacitações oferecidos em ambiente de web. Desde que os respectivos profissionais sejam responsáveis e tenham estofo intelectual, teórico e metodológico para isso. Esta responsabilidade sim, fará com que haja produção de Conhecimento. E é com ela que me preocupo e esforço todos os dias. 

É contra esse mercantilismo que me coloco!

A dica que fica é: quer aprimorar seus conhecimentos? Estude, investigue para poder saber escolher entre joio e trigo. 

Ou então:

Quino, Picasso revisitado

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Arquitetura tumular: a cidade dos mortos no mundo dos vivos

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Há muitas formas de visitar a morte.
Às vezes, a visitamos pela experiência sofrida assistindo a debilidade que avança, os dias que chegam ou o convívio com uma sentença de morte provocada por uma doença sem cura, ou um acidente que ceifa vidas e planos.
A experiência sentida para todos estes casos é a da perda ou dor. Paira sobre nossas mentes e nos faz saber que, mesmo em sua ausência, sua presença pode ser constante enquanto não chegar.
Seu lugar em nossas vidas está também nos espaços que ocupa. Espaços simbólicos, emocionais ou físicos, não importam. Os tempos e espaços destinados para a morte em nossas vidas ocupam nossos corpos, mentes e até mesmo lugares específicos para seu culto/lembrança.

Dentre os lugares de morte o cemitério talvez seja o de maior representatividade no mundo. E aqui, independente de culturas ocidentais ou orientais é um espaço do Sagrado e de reverência ao que ele guarda. 

Os cemitérios são exatamente o local, e a cidade dos mortos, no mundo dos vivos. 
Representam esta cidade que está calada e desenhada, porém viva como um recado, uma lembrança, um alerta. É arquitetura esquadrinhada, que possui seus lugares e hierarquias e até mesmo imposição de posições sociais, prestígio, status e valores que podem ser observados através de todo um conjunto de símbolos que chamamos de arquitetura tumular. Exemplos não faltam de elementos desta arquitetura de vivos para o mundos dos mortos, e neste ponto apresento alguns destes elementos que utilizamos como estudo na área que denominamos em História de Cultura Material.
Os jazigos, seus túmulos e toda a referência mobiliária e de objetos prestam-se a um excelente meio de análise e abordagem de um tempo: oferecem ao pesquisador referências interessantíssimas e muitas vezes ausentes em outros tipos de fontes como: nomes, datas de nascimento e morte, preferências sociais, culturais e relações familiares trazidas por meio de dedicatórias e despedidas onde os nomes e laços de parentescos ficam expostos.
Convertem-se em acervos “vivos” da Memória de um tempo e das vidas de seus ocupantes, os seus laços e suas relações.

Há todo um conjunto de signos iconológicos que favorecem a interpretação sobre o período de sua produção e em qual contexto social e cultural foi utilizado como representação. Em tempos mais recentes as fotografias surgem como outro elemento carregando mais informações sobre o morto. Sua fisionomia, e em alguns casos, sua sisudez ou sorriso nos desafiam o olhar. Fixados num determinado espaço/tempo nos dirigem o olhar,  nos inquirem… Recortados em um contexto são imagem cristalizada de um projeto que se interrompeu. A imagem, por excluir a morte, é carregada de vida e energia. Talvez por isso, tenhamos a empatia do olhar que se comunica e troca. É impossível não pensar sobre aquele rosto, a história que tinha e como chegou ali: alguns muito cedo, outros após uma existência plena com cônjuges, filhos, netos e até bisnetos.
Englobam-se no que chamamos arquitetura tumular a arte representada pelas esculturas que ornamentam os túmulos. Representam visões de mundo de um tempo, de uma sociedade, de grupos familiares e pessoas, fornecem elementos caros à construção de uma memória de si e do seu entorno social. Um conjunto rico, e muitas vezes valiosíssimo de expressão artística, fazendo muitos cemitérios ter programas de visitas guiadas por seus túmulos para amantes desta arte ou para acadêmicos de diferentes áreas.

Muito interessante entender que os cemitérios, tal como as cidades tem uma história de implantação e definição tanto estética quanto dos seu lugares e limites no tecido urbano. Não surgem espontaneamente, e são sim fruto de um projeto social para estar inserido no mundo dos vivos.

Por isso, é preciso entender as circunstância em que os cemitérios foram se secularizando. O espaço destinado aos mortos era sempre um local de proximidade: eram colocados, por exemplo, nos terrenos em volta das casas, ou nos espaços considerados sagrados das igrejas e seu entorno. Isso propiciava a proximidade e alguma privacidade a estes corpos abandonados pela vida, ceifados por diferentes motivos. A secularização dos cemitérios levou estes corpos a compor um outro espaço só que desta feita coletivo. Os mortos seguem assim um destino comum reservado a todos e longe das casas e seus quintais que os abrigaram por toda vida. Neste local, o espaço da morte é definido e demarcado para estar nas bordas das cidades e a partir de uma concepção higienista de sociedade, onde a doença e a morte precisam ser isoladas e retiradas do convívio familiar. Experimentar a doença e morte deixa de ser um ato corriqueiro e familiar (algo que até então era usual e costumeiro) e começa a possuir espaços definidos para isolar, cuidar e quando não for mais possível, enterrar. A doença, a dor e a morte eram assim levadas para outros territórios. São territórios da morte.

Os túmulos de uma mulher católica e seu marido protestante, que não puderam ser enterrados juntos devido aos regulamentos do cemitério. Eles morreram na década de 1880.
Nota: as mãos segurando sobre a parede divisória. Localizada em Roermond, Holanda.
Por: Lindsey Fitzharris

Uma cidade aprisionada
A sociedade deste período (e falamos em algo a partir do século XVII e XVIII, com maior incidência a partir do século XIX) passa a ter diferentes instituições que procuravam isolar, controlar e disciplinar. É deste período que vemos o surgimentos de instituições como quartéis, conventos, escolas, manicômios, hospitais e porque não cemitérios?! A lógica para todos os casos é sempre a mesma: murar, cercar e facilitar a vigilância fornecendo espaços esquadrinhados, milimetricamente individualizados, entradas e saídas quase que exclusivas e horários rígidos para trânsito e permanência. A individualidade garantida é a do próprio corpo que ocupa celas, cadeiras, camas ou para nosso caso, o jazigo, a sepultura.

Para os cemitérios, a ordem de fechamento, que se mantém até os dias de hoje, revela a nítida separação entre o simbólico: Luz e Sombras, que remete ao perigo das almas que habitam o “mundo subterrâneo e escondido das profundezas”. Não devendo por isso, comunicar-se com o mundo dos vivos no período onde reinam as Trevas.

Esta cidade dos mortos a que nos referimos acima recebe dos vivos, em seus primeiros séculos, consideráveis investimentos: a morte e os sentimentos em relação a ela precisavam ser mostrados por meio de mausoléus ricos em detalhes, com muitos acessórios e peças vindas da Europa. Artistas, escultores e artífices da morte eram contratados para entalhar detalhes de vida e personalidade do morto em pedras, mármores, granitos. materiais que pela dureza e durabilidade remetiam à Eternidade, Permanência, Presença do Ausente.

À medida que a sociedade sofre a perda do poder aquisitivo, os túmulos deixam de ser locais de ostentação e a arquitetura tumular parece empobrecer. É o período de popularização de cruzes, sem a riqueza escatológica de períodos anteriores. A cor predominante continuava sendo o branco. Mas o investimento na morte se reduz enormemente.

Em períodos de maior opulência, como entre os anos 1900 e 1930 no Brasil, a morte passa a ser vista como um grande espetáculo e momento onde se pode mostrar a força e o poder.

Com isso toda uma produção artística atende esta população endinheirada e opulenta das cidades que se metropolizam. As cruzes passam a ser paulatinamente substituídas por crucifixos.
Tal como a cidade extra-muros, não há homogeneidade entre seus ocupantes. Riqueza e poder possuem elementos explícitos de ostentação. Daí a riqueza que estes elementos oferecem como território de análise para construções mentais, sociais e culturais. É um território de representações, sem dúvida! Mas tais construções iam além: os cemitérios podiam segregar não apenas por seu mobiliário e posição social. Desde o passado remoto, os mortos poderiam ser incluídos ou excluídos a partir de seus dotes ou preferências espirituais. Quanto mais considerados próximos da Divindade mais próximos poderiam ser enterrados dos templos e locais de adoração. Em tempos mais recentes os cemitérios criaram a segregação religiosa. E assim protestantes não podiam ser enterrados em cemitérios cristãos, suicidas não podiam ser enterrados em solo cristão, nem mulçumanos em cemitérios não-mulçumanos e assim sucessivamente. A morte e seus corpos carregavam o estigma espiritual de suas opções e escolhas feitas em vida. 

Ter em mente todos os elementos citados acima não significa esquecer-se de outras dimensões.
Passear por suas Alamedas propicia um silêncio e um contato com o tempo de histórias que já se foram, personagens petrificados em sorrisos de fotografias, em frases nas placas com datas, locais de nascimento, dedicatórias, epitáfios ou mesmo frases avulsas que sintetizam  pensamentos e ideias dos que foram ou dos que ficam. A comunicação entre vivos com seus mortos e dos mortos por meio de seus epitáfios são gravados em pedras e materiais de longa resistência como mármores, granitos. São assim um convite à permanência e resistência ao tempo e intempéries. Afinal ali estarão, imóveis… colocadas para resistir às muitas estações e gerações. Só farão sentido se assim forem e se assim conseguirem se manter frente à passagem do tempo por elas.

Estes escritos são, portanto, o registro do Tempo. São um mergulho de alma que nos remete a vidas que se passaram e relações que se entrelaçaram. Vínculos expostos publicamente num gesto final que pretende ser de resistência ao esquecimento.  Este território da morte perdido na cidade dos vivos é um território de transição: local de saudades de lembranças, abandonos, vidas que se deixam, vidas que permanecem.  Esta transitoriedade presente e calada nos faz pensar sobre permanência e imanência, e mostram a relação que seres humanos possuem entre si e com a sua representação de seus medos, suas inseguranças, esperanças e até fé.
Inevitável não pensar em alguns casos como o abandono chega e avança: delapidação, vandalismo, esquecimento, estão presentes em muitos destes locais.

Em outros lugares, ao contrário, somos levados a observar o cuidado com a lembrança personificada pela presença viva de flores e plantas. Afinal, estas servem para nos fazer lembrar que a vida possui seus ritmos, obedecem estações e estão em meio a esse tempo passado.

Os cemitérios, tanto como as cidades, envelhecem e até morrem. Deixam de ser territórios de lembrança, culto e devoção. Vencidos pelo tempo, muitos apenas deixam de existir. Outros, tal como muitas cidades ganham robustez com a passagem do tempo por meio dos personagens que ali tem seu destino final. Oferecem a todos o testemunho de um outro tempo e seguem sendo uma cidade de mortos no mundo dos vivos.
Paradoxal portanto, que este mergulho nesta cidade dos mortos, revela o quanto de vida pulsante existe em suas ruelas, quadras, muros e extra-muros. 

Os Mortos e o Luto em Tempos de Pandemia

Não poderia deixar de abordar o tratamento dado a morte e seus corpos em tempos de pandemia. 

A Pandemia de COVID19 trouxe ao mundo uma outra relação com todos os ritos relacionados aos mortos e seus parentes: desde os processos de isolamento no período crítico de internação, até sepultamentos sem velórios acompanhado por apenas uma ou duas pessoas. A experiência do luto deixa de ser restrito a um grupo familiar e ser compartilhado por cidades, países, continentes. A vivência da doença e morte é levada ao paciente como experiência solitária. A morte e sua materialização ocorrem em valas comuns ou sepulturas que se espalham pelos cemitérios aguardando caminhões frigoríficos e filas intermináveis de carros funerários. A morte ganha um status de linha de produção com excedentes de corpos insepultos.  Os corpos perdem o direito dos seus ritos: procedimentos de tanatopraxia (lavagem e preparo do corpo para o rito fúnebre) por exemplo, deixam de ser feitos. Os corpos possuem terão que passar por procedimentos de limpeza com produtos adequados, são embalados em plásticos com zíper e entregues para sepultamento em um caixão lacrado. Sem velórios, os corpos seguem para o sepultamento ou cremação acompanhados por no máximo quatro pessoas.
As despedidas comuns aos entes queridos deixam de ser possíveis, e em muito casos a pessoa que entra no hospital para isolamento nunca mais retornará. 

O Brasil, apesar de todo o negacionismo em relação às mortes, teve cemitérios lotados, covas rasas, retroescavadeiras, caminhões frigoríficos e até valas comuns! Tudo revelando a forma como a doença inesperada escancarou despreparos, desrespeitos e alguma negligência por parte de autoridades. Afinal, a cidade dos mortos pobres nas cidades dos vivos, significa invisibilidade constante. Os cemitérios apenas existem nas áreas periféricas para dar destino aos corpos que abandonam a vida por doenças e mortes violentas. Não cumprem uma função social de conforto, mas mais uma vez de exclusão e silêncio.  

Exemplar destas cenas são rapidamente localizadas, mas creio que dois cemitérios representaram muito bem o que foi a invasão de um inimigo oculto na vida das cidades. O cemitério de Manaus nos ofereceu cenas que serão icônicas do que significa improvisação e um estado acéfalo: valas comuns e retroescavadeiras.

Outro exemplo as imagens aérea do maior cemitério de São Paulo (Vila Formosa) com covas abertas antecipadamente aguardando seus mortos, que chegavam em filas de carros fúnebres. 
Sem ritos, túmulos ou cerimônias e despedidas, as cruzes brancas com números identificam os mortos em valas estreitas e rasas. Uma explosão demográfica na cidade dos mortos: crescimento desordenado, sem planejamento, vias de acesso ou quadras…

O espaço, que em uma configuração planejada seria de uma determinada dimensão tem as sepulturas delimitadas por madeiras para separar o espaço mínimo entre os corpos e sua urna. Tal a quantidade de corpos perfilados.  

O tempo ainda nos mostrará com maior amplitude as cicatrizes nos tecidos destes solos, sagrados para alguns, e suas consequências na forma de entender este processo de mortes coletivas e a lida com o luto. De concreto temos é um novo espaço criado pela pandemia nas áreas periféricas de todas as cidades: um espaço que não mais apresenta uma arquitetura tumular, mas simplesmente caminhos perfilados de caixões, justapostos lado-a-lado. 

A desigualdade se manterá entre ricos e pobres, já que para o caso dos endinheirados seus corpos serão depositados em seus mausoléus e túmulos de família. A escrita da pandemia nos cemitérios da cidade deixará seu desenho de exclusão e indiferença muito bem marcados. 
Não concluo, pois há uma pandemia em ação. Os corpos que deixa atrás de si contam trechos de muitas histórias. 

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Artigos relacionados:
Rezende, Eliana Almeida de Souza.  “Os historiadores e suas fontes em tempos de Web 2.0“. Publicado nos Cadernos do CEOM, ‘Documentos: da produção à historicidade”, Capa > v. 25, n. 36, Editora Argos, Chapecó, 20 (acessado em 01/11/2020)
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Ventres urbanos: cidades e sanitarismo“. Revista Ler História. Dossiê Guerras Civis, Lisboa. n. 51, 2006. pp 135-165 (acessado em 01/11/2020).
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Construindo imagens, fazendo clichês: fotógrafos pela cidade” (acessado em 01/11/2020)

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O Valor do Conteúdo: uma reflexão

Por: Eliana Rezende Bethancourt

A questão da produção, circulação e valor do conteúdo em ambientes digitais é um tema que interessa muito e que é fundamental quando pensamos os ambientes em que estamos inseridos, sejam eles institucionais, públicos ou privados, sejam os meios educacionais e culturais. Em outras oportunidades, falei sobre qual seria o perfil do Gestor de Conhecimento e o que seria a Curadoria de Conteúdos: quem faz e como faz.

Nesta oportunidade especificamente não me refiro à produção de Conhecimento.
Para mim, tal produção requer algo muito mais aprofundado do que a mera explicitação de conteúdo em ambiente web. Tais conteúdos são relevantes para a circulação de informação e ideias, num ambiente mais ágil que pode levar eventualmente seus consumidores e interlocutores à uma reflexão, que pode originar a produção de uma abordagem mais elaborada. Esta sim podendo ser considerada a produção de Conhecimento, que em geral, será comunicada a partir de artigos acadêmicos e/ou científicos, e que portanto, de maior fôlego para veículos próprios para isso e que alcançarão um público mais especializado e gabaritado para interação e divulgação na sociedade.

É preciso que se diga que o mundo em web oferece muitas possibilidades para a produção de conteúdo, muitos deles bastante relevantes, mas como não transformar nossa produção apenas em ruído? Como não permitir que tal produção de conteúdo signifique, apenas e tão somente, mais registros e informações que se convertem em infointoxicação, um excesso que apenas causa ruído e não favorece aquilo que chamamos de valor? Entropia.

Facilidade e imediaticidade tornam os conteúdos, muitas vezes, massivos, repetitivos e na maior parte das vezes muito raso. Muitos não chegam a dois ou três parágrafos mal desenvolvidos e/ou suportados por bons argumentos e consistência.

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De tanto ver chego a conclusão que os conteúdos em ambiente web oferecem pelo menos três dimensões de produção e propagação. Seriam elas:

Primeira, a dimensão horizontal, que é aquela que ao produzir conteúdos busca-se em outros sites e portais mais informação. É um universo de produção onde se aglutinam informações sobre informações para deles extrair mais conteúdo. Em geral, esta dimensão procura, nos seus iguais, informações para ou contestá-las ou fortalecê-las aliando-se a elas. O esforço aqui é muito mais quantitativo e por aproximação. Mas na maior parte dos casos não representa um diálogo. Neste horizonte, se não se tomar os devidos cuidados, o que acabará ocorrendo é uma cópia simplificada e rasa, ou ainda pior: um plágio por pura preguiça ou má fé.
Neste universo, o produtor ao invés de inspirar-se nos conteúdos encontrados e mostrar outras abordagens, ou aprofundar os mesmos, simplesmente cola e copia.

Segunda, a dimensão vertical. Nela há um maior aprofundamento dentro de uma determinada linha temática. A verticalização aprofunda na medida em que esquadrinha, disseca e verticaliza cada uma de suas variáveis ou aspectos. Em geral, o recurso à verticalidade dentro de um site ou portal é aprofundar temas levantados de forma superficial na abordagem horizontal citada acima. Representa, em verdade, uma tentativa de adensar alguns aspectos onde a horizontalidade não permitiu.
Quando este exercício é bem executado a produção de conteúdo começa a ganhar consistência e valor. Aqui o produtor não é um mero reprodutor do que encontrou. Começa a buscar conexões possíveis e avança, ainda que em uma única direção.
O cuidado aqui é não tornar-se monotômico e falar SEMPRE DA MESMA COISA. Isso irá dar a sensação de que o produtor de conteúdo ao invés de ser um especialista é alguém com profundos receios e inseguranças, e que só é capaz de se movimentar dentro de um quadrado bem delimitado de ideias e concepções. Acabará por também limitar e circunscrever seus leitores, que diante de tantas ofertas migrará para outra parte por começar a achar que nunca há novidades e que sempre tem-se a impressão de já ter lido aquele conteúdo.
Note que aqui o conteúdo talvez seja mesmo bom, mas a monotomia oferecida fará com que o desinteresse passe a predominar e o valor deste conteúdo diminuirá cada vez mais.

E, por último temos a dimensão transversal, que é exatamente a busca de expandir ideias para além de suas fronteiras e encontrar em informações correlatas formas de ‘alargar’ conteúdos. Neste caso, entendo que uma ou mais linhas de verticalização serão cruzadas e expandidas em outras direções a partir de outros conteúdos produzidos por outros. Assim funciona de forma muito parecida com os recursos de hipertextos que usamos em várias circunstâncias.
Para a produção de conteúdos esta dimensão é que possui maiores chances de produzir conteúdos relevantes, interessantes e diversos.
Aqui o produtor de conteúdo mostrará ousadia e estará incessantemente se desafiando e desafiando seus leitores à novos horizontes e ideais. A imaginação e curiosidade serão seus maiores trunfos, tanto sua quanto de seus leitores. Sua imaginação criativa e curiosidade o lançarão há novos horizontes que o desafiarão a estudar e conhecer outros caminhos e possibilidades, de outro lado, a sua curiosidade o alimentará na mesma proporção que seus leitores serão incentivados à ela.
Atingir este ponto é altamente compensador e os resultados visíveis.

Esta estratificação permite que a informação seja produzida e trafegue por várias instâncias, e que em especial, atenda diferentes públicos e melhore seus objetivos. Apesar disso tudo, aflige-me a superficialidade que os tempos de web oferecem. Anteriormente esta produção tinha apenas um matiz que era a forma escrita. Rapidamente ganhou formatos de hipertextos e links, para seguir por outros formatos como os podcats, vídeos sua febre mais atual, as lives. Independente daquilo que seja seus meios ou suportes de veiculação, algumas perguntas necessitam ser feitas:

Não teríamos que ir mais longe e mais fundo?
Pode ser, mas como ir contra toda uma tradição onde o mundo é compartimentado em pequenos extratos e partes, a que se chama especialização?

O que se passa?

Este compartimento esquadrinhado que o “Saber” acabou nos colocando nos leva a um ponto de limitação. O grau de especialização tornou as pessoas muito mais suscetíveis a saberem cada vez mais de uma coisa só, e este é apenas um lado da questão.
De outro lado, e não menos importante, está a defesa desta compartimentação devido às inúmeras concepções sobre o que vem a ser conhecimento.

A produção de conteúdo objetiva sempre atender um determinado público, e este a cada dia é mais diversificado na mesma proporção em que é desatento. As pessoas, que em geral, são as receptoras destes conteúdos: basicamente planam sobre os temas que são de seu interesse quicando aqui e ali sem de fato se concentrar no que busca.

Há ainda os que definitivamente não sabem o que procurar. Simplesmente esperam lançar uma palavra e lá encontrar, tanto as perguntas quanto as respostas, mesmo que não sejam as suas.

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Fico muito preocupada ao constatar que há uma massa monumental de pessoas que mesmo longe de áreas de formação, mas sim inseridas no mundo social, também acabam por preferir parcelas segmentadas de tudo. Um planar sobre tudo e uma real impossibilidade de seguir profundamente algo.

O ambiente web e todas as suas potencialidades deveriam fazer as pessoas conseguir ir mais longe, mais fundo e com muito menos fronteiras e limites. No entanto, o que vejo se configurando nesse ciberespaço é exatamente o contrário disso tudo. Talvez tenha sido essa a minha motivação de proposição: afinal porque está sendo cada vez mais difícil encontrarmos conteúdos relevantes? O que falta?
Porque será que cada vez mais as pessoas deixam de se importar e até preferem que os conteúdos sejam cada vez mais sintéticos, em nome de uma pressuposta objetividade?
É a irrelevância o maior objeto de consumo?

Mas Conhecimento não é consumo!
E aí temos um nó górdio. Nossa atual civilização se importa muito pouco com o Conhecimento. A informação massificada e generalizada à toque de uma ‘Goolgada’ leva as pessoas tanto a consumir como a produzir platitudes. A preguiça intelectual é generalizada e mantém conteúdos massificados, rasos e rápidos. As lives nos dias de hoje, tem sido um bom exemplo de platitude com pressa à mistura. A ânsia de achar que “inova” com uma resposta rápida para consumo imediato leva ao engodo de uma proliferação sem sentido e medíocre de lives para tudo e qualquer coisa. Cansam pela proposta rudimentar de repetir o mais do mesmo.

E ainda há a preguiça da produção de conteúdo de valor e original. A sociedade do copia e cola tem muitos problemas no que concerne a produção de ideias inéditas ou que ofereçam abordagens diversas das que estão em voga. Aí é muito comum nos deparamos com o pior que a produção de conteúdos pode conter: o plágio.

A questão de autoria na produção e valor do conteúdo

Atualmente a noção de autoria e produtor de conteúdo parecem confusas e se notarmos até a Lei de Direitos Autorais votada no Brasil em 1998 apresenta sérias confusões em relação a isso. Já que o produtor, em especial na web, faz isso com espírito de compartilhamento, doação em beneficio de uma “coisa pública”. Em geral, não está preocupado com a autoria porque acredita que essa é apenas uma variável entre muitas possibilidades.

Ou seja, de um lado há a ideia da generosidade de doação por parte de uns e a má fé irresponsável por parte de outros, onde deixa de creditar uma ideia, um pensamento e assim por diante.

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Fica claro portanto, que há muitas interfaces a ser tomada em consideração na produção de conteúdo.

Mas produzir conteúdo não é tudo! Sou adepta de que é preciso produzir com qualidade.
Não consigo pensar na produção de conteúdo como sendo algo sem interesse, verticalidade e profundidade, ainda que para um post que integrará um portal ou um site ou mesmo uma live.

É óbvio que é necessário criar formas de registro simples, eficientes, acessíveis e -insisto neste ponto – altamente compartilháveis, seria uma solução. Mas por outro lado, e também muito importante, seria necessário mudar a atitude dos mortais em relação ao acesso a estes registros, estas informações, e desses conhecimentos gerados.

De um lado, teríamos uma atitude que deveria ir na direção de ser capaz de veicular informações sólidas, mas de forma acessível para que cada vez mais pessoas se interessem pela consistência. Aqui a questão de saber comunicar é fundamental. A magia está em tornar simples e palatável algo que definitivamente é profundo e complexo. A mediação aqui do produtor de conteúdo é fundamental. É dele a função de agregar valor ao que expõe. Fazendo isso produz-se um círculo virtuoso de valor e não um circulo vicioso de platitudes que não servem para quase nada.

O produtor de conteúdo tem que compreender que seu papel é comunicar ideias relevantes. Pode ser um eficiente mediador entre a circulação de informação e a produção de conhecimento.

Por isso, cada vez mais sinto falta do sentido de humanismo ao qual me filio e gosto de adotar, ou seja, esse sentido de que não se deve excluir nunca. Temos sim que comunicar e intercambiar áreas, saberes, perspectivas. Oferecer sempre portas para que mais descobertas se deem. Não cabe ao produtor de conteúdo a última palavra. Ele é apenas um veículo, um facilitador para que mais conteúdo seja produzido, ainda que seja na direção oposta à sua.

Este mundo segmentado, compartimentado e fechado em si não pode ir muito longe ou avançar a outros horizontes. Quando deixarmos ruir todos esses compartimentos e muros, erguidos por vaidade ou ignorância, aí sim o Conhecimento será definitivamente algo democrático de ser alcançado e sonhado por ampla parcela de pessoas e/ou organismos.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de uma Arquitetura de Informação para o seu Portal Institucional ou mesmo em como proceder a produção e curadoria de conteúdos que de fato atinja seu público alvo.

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Direto ao ponto: Gestão Documental e a Babel Algorítmica

Por: Eliana Rezende

Por largo tempo em minha carreira tenho me dedicado à Gestão Documental, Preservação e Conservação de Acervos, Organização de Arquivos. Em muitos casos, este trabalho antecedeu a tudo o que temos hoje em relação a tecnologias e ferramentas.  Talvez por isso, aprendi a lidar com documentação tomando em conta seu universo de produção, circulação e armazenamento. Talvez por isso, tenha aprendido a lidar com documentação tomando em conta seu universo de produção, circulação e armazenamento inicialmente em formatos que ainda eram analógicos e posteriormente em seus suportes digitais.

A mudança de suportes em si não é um problema, mas sim a forma em que lidaremos com eles no tempo, em especial se estamos preocupados com sua permanência e acesso no Tempo.

Observo que muitos se encantam por supostas “soluções” de GED e ECM acreditando piamente que a partir da aquisição das mesmas todos os seus problemas estarão resolvidos. Gosto sempre de repetir que são apenas ferramentas, e por conta disso, não trazem soluções a quem quer que seja. As empresas e instituições esquecem-se de que não é a ferramenta que lhes dirá o quê e como fazer!
Se a instituição não sabe como produz, a quem serve, e porquê necessita deste ou daquele documento, poderá adquirir ferramentas com bites de ouro, nada será resolvido.

Insisto muito que Ferramenta não é Solução

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Ainda é preciso dizer, que oferecer acesso às informações é muito pouco para uma suposta ferramenta. Veja: acesso todo meio digital dá, em maior ou menor grau. Diria até, que temos um excesso de informações nos meios digitais. O maior problema que de fato temos que combater é a forma como tais informações são produzidas, processadas, utilizadas e armazenadas no tempo. Se não tomarmos os devidos cuidados estaremos cercados apenas e tão somente de lixo, com uma ínfima parte de informações de fato relevantes e que gerarão “riqueza”. Portanto, é preciso que os responsáveis pela Gestão Documental nas organizações entendam de uma vez por todas que uma ferramenta que oferece pastinhas, caixinhas e fluxos em sua interface não traz absolutamente nada de inovador. Quem trará valor à uma ferramenta são àqueles que sabem exatamente o quê querem, como querem, porquê querem e em que tempo. Aqui não é a ferramenta a fazer nada pela organização.

A solução, enfim, precisa ser encontrada pelos produtores e usuários da informação nos ambientes organizacionais. Não existem receitas prontas ou que caibam em todo e qualquer caso. Cada situação, em cada ambiente e com o público específico de utilizadores e/ou clientes terão demandas diversas que não cabem em estratégias massivas.

Não é possível pensar em Gestão Documental de forma reduzida a documentos digitalizados (muitas vezes, usados com numeração automática em PDF) e pendurados em pastas ou fluxos. Em um espaço reduzidíssimo de tempo ninguém encontrará mais nada. Pois a digitalização desenfreada e sem critérios levará o caos já existente em formato analógico para o formato digital.

É fundamental ter claro que todo o trabalho de refino e busca de informação deverá ser embasado em técnicas de indexação com vocabulário controlado.

É neste ponto que procuro auxiliar às organizações: definir melhores estratégias e caminhos para que a produção, circulação e armazenamento da informação se dê com vistas à produção de conhecimento e inovação. Para que a informação armazenada seja de fato localizada dentro de uma lógica que faz sentido a todos os que necessitam de tais informações.
Não há mágicas! Há apenas trabalho.

Não serão ferramentas tecnológicas que trarão coesão, sentido, agilidade aos processos de Gestão Documental. Será exatamente a definição de uma política de Gestão Documental aliada à Políticas de Preservação Digital que farão isso. Devemos entender política, como algo que possui continuidade e que deve possuir uma boa arquitetura de construção, como forma de trazer solidez ao resultados e garantias de que se faz o melhor possível. Aqui o ponto é muito importante, já que muitas instituições que necessitam realizar a Gestão Documental são órgãos públicos que precisam cumprir aspectos legais. A complexidade neste universo aumenta, e muito, pois, para além do acesso precisamos nos preocupar com aspectos relacionados à sigilo, segurança, autenticidade. Em especial se os documentos também estão em formato digital.

Definitivamente não há soluções simples ou fáceis. Todas exigem rigor e amplo domínio de procedimentos técnicos, jurídicos, tecnológicos. Daí que é muito importante não se seduzir por uma mera ferramenta tecnológica. Há muito mais envolvido!

A Política de Gestão Documental deve ser compreendida de forma sistêmica e tal como é estabelecida em lei. Como forma de auxiliar nesta compreensão preparei este slideshare.

Veja:

[slideshare id=jPGq4FsVKVVhjY&w=595&h=485&fb=0&mw=0&mh=0&style=border: 1px solid #CCC; border-width: 1px; margin-bottom: 5px; max-width: 100%;&sc=no]

De tudo o que disse, e o que verdadeiramente conta é a necessidade de compreendermos de uma vez por todas que processos digitais envolvem a digitalização da sociedade. É preciso que simplesmente entendamos que o grande motor de mudança nas organizações  na forma como geram, buscam e guardam suas informações está nas pessoas. São elas que trarão o gênio da inovação e das soluções verdadeiramente inteligentes dentro das organizações e não ferramentas vendidas como solução!

Se continuarmos a utilizar os mesmo paradigmas de sempre não obteremos resultados satisfatórios. Não podemos pensar em gestão documental com pressupostos de séculos passados usando arquivos e ficheiros em ambientes digitais. O mundo hoje oferece a experiência da digitalização de meios, formatos, pessoas, relações, com dados que armazenados e cruzados geram informações e estas são localizadas por algorítimos. É uma trama que altera completamente as relações entre produtores e usuários da informação.

A babel algorítmica precisa de um dialeto próprio que comunique e interligue objetos e objetivos. Ao mesmo tempo, se não houver um bom trabalho de enriquecimento deste “vocabulário” teremos uma ferramenta entediante e repetitiva (pois assim são todos os algorítimos).
Aqui está a lógica que a boa Gestão Documental necessita buscar.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de podermos orientar boas práticas em relação ao uso de ferramentas tecnológicas com vistas a produção e tramitação de documentos digitais.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Juniorização e perda de Capital Intelectual nas Organizações

Por: Eliana Rezende

“Os tempos são outros e renovar é preciso”, um mantra que vem se repetindo cada vez mais.
Por caminhos diversos, empresas e instituições estão vivendo, no Brasil e no mundo, um processo de substituição de grandes gurus por pequenos guris. Este processo atroz de descarte de capital intelectual impacta toda a sociedade e a forma como esta retém valores.

Os primeiros, que representam a experiência acumulada, a vivência de práticas e um olhar perspicaz e holístico pelos segundos: afoitos, sempre com pressa e, em geral… inexperientes. Boa parte de sua bagagem resume-se a notas de rodapé obtidas em anos de formação e pós-graduação como alunos profissionais (alguns parecem se especializar em acumular bolsas e títulos sem fim, e nunca encarar o mercado de trabalho, daí a expressão aluno profissional)
São produto de um mundo compartimentado, feito de teclas e muitos sons que produzem dispersão: seres aparentemente multitarefas, mas que em verdade possuem uma grande dificuldade de concentração e acuidade/profundidade nas relações, abordagens e intervenções. Em muitos casos, falta-lhes a flexibilidade eloquente de quem com empatia se antecipa aos problemas e as dificuldades  compondo saídas e alternativas satisfatórias, sem prejuízos ou perdas.

E diante disso, que nos vemos numa grande encruzilhada: ao praticar a ‘juniorização’ com vistas à redução de custos e de forma muitas vezes indiscriminada, as organizações estão plantando dificuldades que colherão muito em breve.

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Ao partir, os mais experientes levam consigo aquilo que de maior valor e ativo uma organização pode ter: seu Capital Intelectual. Este não pode ser transmitido por osmose. Necessita de tempo… Afinal a principal virtude destes é a sabedoria atrelada à experiência: e aqui não há receitas rápidas…há o fio do tempo tecendo tramas que sustentarão as fibras do bom caráter de um líder equilibrado e respeitado.

Quando uma organização não percebe isso, perde potenciais que nunca verá crescer.

Infelizmente, nos últimos anos tenho tido oportunidade de assistir em muitas organizações do que chamei acima, de um verdadeiro bota-abaixo de gurus por guris. Pressa, atropelo, presunção, improvisação são os primeiros produtos.

A seguir, uma tentativa pífia de bota-abaixo para, num ato de pura insegurança, querer substituir a experiência pregressa pelo dito “novo e eficiente”. Em verdade, na maioria das vezes o novo não é tão novo assim, e a dita eficiência é mais um sinônimo de precipitação. O espaço destruído torna-se estilhaço e fazer brotar em terra arrasada leva tempo.

Se as instituições se apercebessem de que mora neste Capital Intelectual o verdadeiro valor das organizações muitos problemas seriam evitados. Não seria preciso reinventar a roda.
Mas na prática é o que vemos…

É neste cenário que cada vez mais fica claro para mim que Projetos de Memória Institucional, se bem conduzidos, propiciam de um lado o fortalecimento da Cultura e Identidade Organizacional e de outro favorecem a valorização do Capital Intelectual presente nas organizações. Esta costura fina tornará juniores melhores pois a experiência de um beberá na energia do outro.

O trabalho daí surgido é interdisciplinar e empático, favorecendo e tecendo relações pelo tempo e pela experiência. Não há meio de não resultar. O dividendo será uma organização que soube se manter no Tempo por meio da troca. Sem dúvida, em tempos de tanta escassez um verdadeiro feito!

Esses funcionários antigos e experientes são a melhor mentoria que um jovem profissional poderia ter, e sem dúvida com um valor agregado superior a qualquer MBA.

É preciso pensar que o Capital Intelectual funciona como um repositório humano onde informações valiosas que propiciariam a produção de novos Conhecimentos e Inovação estão ali depositados. Acessá-los é abrir a porta de um grande tesouro institucional.

Além disso, utilizar a Memória Institucional como valorização do Capital Intelectual das organizações resultará em auxiliar a sanar uma dificuldade sempre constante quando se fala em Gestão de Conhecimento, que é a de se achar que a escolha de ferramentas resolverá por si só a produção e circulação de Conhecimento. O que não é fato. A opção por ferramentas sem um trabalho prévio de fortalecimento da Cultura e Identidade Institucional trará opacidade a todo o processo e os resultados esperados dificilmente chegarão. Daí a noção que desenvolvi e argumentei no post “O Desafio das Soluções na Era da Informação”.

A Memória Institucional, por possuir um cabedal interdisciplinar, fornecerá condições adequadas para a circulação do Conhecimento nas organizações, tal como representada na figura a seguir:

Metodologia ER para Memória Institucional , Capital Intelectual e Gestão do Conhecimento.

A Memória Institucional se colocaria como elemento aglutinador e central, favorecendo as trocas, em especial as intangíveis. Daí nossa opção por uma representação gráfica de bolhas: podem sem vistas, dimensionadas, relacionadas, interseccionadas, mas se tocadas de forma inadequada rompem-se e desfazem-se. É esta a metáfora que melhor exemplifica o trabalho meticuloso e altamente eficiente que a Memória Institucional pode alcançar.

Mas afinal, o que seria o Capital Intelectual?
Entre tantas definições hoje feitas e por diferentes áreas, opto por escolher a que define Capital Intelectual como sendo a somatória dos ativos tangíveis e intangíveis que estão relacionados aos que dão sentindo intelectual às suas ações. Mais do que ativos materiais compostos por máquinas, ferramentas e mesmo valores monetários, os ativos intangíveis que tem em sua criatividade seu principal valor são agentes potencializadores de produção de conhecimento organizacional, já quem por meio de seu conhecimento acumulado são capazes de gerar e distribuir informações para que mais conhecimento e inovação se dê. São portanto, Patrimônio Intelectual.

Diante disso, é explicita a importância destes para toda e qualquer instituição, sem importar seu ramo de atividade ou porte.

criatividade-inspiracao

Cada indivíduo neste todo organizacional compõe uma memória que é coletiva da organização e que se assenta no tripé: aquisição, retenção e recuperação da informação (Walsh e Ungson, 1991). Observe, segundo os autores citados como isto se dá:

“(…) Relativamente ao processo de retenção os autores apresentam um elenco de seis “caixas de retenção” da informação, sendo cinco delas internamente à organização e uma externa, conforme a seguir:

indivíduos – só os indivíduos compreendem a relação causa efeito, o porquê de uma decisão, eles retêm informações baseado em suas próprias experiências e observações;
cultura – modo aprendido de perceber, pensar e sentir sobre os problemas e que é transmitido para os membros da organização;
transformação – há informação incorporada nas várias transformações que ocorrem na organização, exemplo matéria prima transformada em produto acabado;
estrutura – reflete e armazena informação sobre a percepção do ambiente da organização;
ecologia – experiências interpessoais de empregados são afetadas pelo leiaute físico da organização, exemplo local mal iluminado gera baixa produtividade e conflitos; e, finalmente,
os arquivos externos – empregados antigos retêm grande quantidade de informações sobre a organização, especialmente sobre o tempo em que nela atuaram. (…)”

Relação entre Capital Intelectual e Memória Institucional

É neste momento que um Projeto de Memória Institucional com vistas a valorização de Capital Intelectual passa a fazer toda a diferença no âmbito institucional.

Anteriormente, em outro post que fiz sobre Memória Institucional disse que:

“(…) a partir do conjunto formado por instalações, máquinas, equipamentos, pessoas e missões que uma Instituição se firma e se põe e, impõe ao mercado, aos funcionários e a toda à sociedade. Este conjunto é considerado Patrimônio Institucional. E as pessoas em seu interior são seu Capital Intelectual.
Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos de uma instituição no tempo e no espaço.(…)”.

Por isso, a intersecção Memória Institucional e Gestão de Conhecimento se dão no trabalho de valorização do capital intelectual das organizações. É o trabalho sensível de lidar com a experiência e a história que dará sustentação, direção e objetivos sólidos à uma organização e a fará distinguir-se das demais, não apenas pelo valor monetário expresso em cifras, mas por valores muito mais caros e valiosos, intangíveis em sua maior parte.

As empresas que saem na frente em compreender o valor deste bem intangível dentro de suas organizações conseguem fortalecer sua Identidade e Cultura Organizacional por manter viva as suas raízes e origem: de onde vieram e com quais objetivos e para onde pretendem chegar. A ponte entre este passado de surgimento e seu futuro está exatamente nas mentes destes que compõem o Capital Intelectual da organização. Os cérebros maduros de uma organização são de fato seu maior ativo e valor:
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Conforme citei antes no post: “Profissionais na maturidade como ativo organizacional“:

“(…) Fantástico ter a exata noção de que, tal como um músculo, o cérebro quando exercitado, nunca deixa de responder. E que o tempo aliado às experiências vividas e experimentadas podem fornecer conexões muito mais certeiras do que as que ocorrem nos jovens: já que estes contam apenas com o que lhes é extrínseco. Ainda aprenderão a transformar vivências em experiência.
São de fato, os artifícios que o tempo e a existência nos oferecem e brindam. 
Importante pensar o tempo não como uma caminho de perdas! Pode e deve ser um caminho de libertação, já que maduros deixamos as inseguranças e inexperiências próprias da juventude para trás. 
Ganhamos a possibilidade de aliarmos experiência com ação. E isso cá entre nós é o caminho para alargamento do espírito!
E isso que as instituições precisam e devem perceber. Nossa sociedade está envelhecendo e manter-se-á muito mais tempo em período de maturidade do que o seu contrário. Vale a pena redimensionar conceitos e valores. Só assim este beneficio se estenderá à pessoas, organizações e sociedades.(…)”

A valorização do capital intelectual por meio de um Projeto de Memória Institucional significa não ser apenas uma efeméride a mais na organização, mas de fato um meio de produzir conhecimento sem descartar nem desperdiçar os valores existentes.

É esta costura indelével entre a experiência e a juventude que os Projetos de Memória Institucional agregam valor ao Patrimônio Intelectual das organizações e as ajudam a mostrar a si mesmas e a sociedade que estão inseridas o que são, de onde vieram e para onde vão com os cérebros que possuem na sociedade onde estão inseridos. É assim que a instituição praticará a Responsabilidade Histórica para com a sociedade que a acolheu e absorveu.

_____________
Referências:
WALSH, James P.; UNGSON, Gerardo Rivera. Organizational Memory. Academy of Management Review, v.16, n.1, pp. 57-91, 1991.

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Como desenvolver um Projeto de Memória Institucional que atenda demandas de valorização de Capital intelectual e Gestão de Conhecimento e como a ER Consultoria pode auxiliá-lo:

  • Definir qual caminho seguir
  • Como pensar em um Projeto de Memória Institucional com olhar interdisciplinar?
  • Como relacionar Gestão de Conhecimento e Memória Institucional para valorização de Capital Intelectual numa organização?
  • Como um trabalho interdisciplinar de Memória Institucional pode fortalecer a Cultura e Identidade da Instituição ao mesmo tempo em que organiza e distribui informação para a geração de Conhecimento e Inovação?
  • Como utilizar as metodologias de Storytelling e História Oral?
  • Como através de um Projeto de Memória divulgar e fortalecer a imagem corporativa/institucional?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na organização da Informação produzida hoje. De forma a poder ser instrumental para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que se constitui como matéria-prima para que a Memória e Identidade Institucional se fortaleçam, e a Cultura Organizacional se mantenha através do tempo.

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Design de Informação para Portais Institucionais

Por Eliana Rezende e Lionel C. Bethancourt

“No começo, a internet era simples. Quando a conheci, nos começos de 1993 (trabalhando para a O’Reilly Global Network Navigator) havia somente um navegador para ver as páginas web, e ele funcionava exclusivamente na plataforma Unix. Existiam somente uns doze comandos que faziam tudo ser interessante. Desenhar uma página web era uma tarefa relativamente simples.
Não ficou simples por muito tempo.”

Niederst, Jennifer, “Web Design in a Nutshell”, 2001.

Aceitemos como fato, que toda informação moderna, ou é criada ou será digitalizada mais cedo ou mais tarde, para o espaço mais caro e inexistente da face da terra. Toda a informação histórica contida em documentos analógicos irá mudar para digital brevemente.

Quando lidamos com informação, muitas perguntas nos ocorrem, e as dúvidas subsequentes são de várias ordens.

Nosso mundo tecnológico, digitalizou-se de tal forma, que hoje a informação está em todo lugar, mas se não houver por parte de quem comunica uma intenção clara, tudo se perde, e ao final o resultado será apenas um grande ruído branco.

É preciso que se diga, que a informação é originada de dados, e que sem um objetivo, intenções bem definidas e disseminação eficiente, não resulta em praticamente nada.
Estas afirmações simples e prosaicas, nem sempre são entendidas, nem levadas a sério por aqueles que tratam a informação, ou a disponibilizam de alguma forma.

Há algumas décadas saímos dos registros e impressos analógicos para chegarmos a um mundo de bits, links e hiperlinks. E aqui os problemas começam.

Vejamos como as camadas de informação podem ser visualizadas no mundo WWW.

As Páginas da Internet, as webpages, são documentos, escritos basicamente, em código HTML (acrônimo para HyperText Markup Language). Tais documentos contêm, na sua forma mais simples: hipertextosbarras de navegação, imagens e links. Este código é exibido pelos navegadores de internet, browsers, em monitores de computador, telas de celulares e tablets. Apenas saiba que, dependendo de como ele seja mostrado, este código pode ser definido como estático ou dinâmico.

O que vemos quando abrimos um endereço web (URL), usando o famoso: www.etcetera-etcetera.com.br, é o resultado da somatória da arquitetura e do design de informação e a informação que o autor quer transmitir.
E a forma como ele deseja que você, o usuário/a, reaja àquelas informações.

Lembre que, a arquitetura define estrutura e o design define a forma da informação que vemos. Mesmo muito antes de saber que esse endereço específico existisse. Isto pode ser chamado de comunicação visual. No caso específico das páginas de internet, este é um processo que o autor, o desenvolvedor e o designer deveriam fazer juntos.
Um processo multidisciplinar!

Conteúdo, hierarquia e forma 
Um Portal de internet é, entre outras coisas, um conjunto de webpages criadas com o propósito específico de informar sobre um tema, produto ou serviço definido, separando-o dos seus parecidos ou semelhantes. Estas informações são, na maior parte das vezes, de propriedade/autoria do “dono do domínio”. Pois nada impede que existam páginas de avaliações ou opiniões, em blogs ou portais, além daquelas dos produtores ou donos da marca, serviço ou produto.

Na ER Consultoria, cada vez mais nos deparamos com os mesmos problemas ao analisar a criação e usabilidade de portais de clientes. Muitos se esquecem que, depois de lançados, os Portais precisam de cuidados constantes. Atualizações focais e atendimento aos clientes/usuários são diários ou, pelo menos, semanais. Alguém precisa se responsabilizar pelas atualizações e a intermediação com os clientes e usuários.

Veja os elementos que consegue identificar nos portais; arte, comunicação, administração, lógica, e por ai vai. Imagine fazer portais com somente um desses elementos.
Agora imagine fazer seu portal com um desses elementos faltando!
 
Independente de qual for a ferramenta utilizada para desenvolver e montar seu portal, ele deverá obedecer certos critérios para poder atingir seus objetivos.
São estes critérios que fazem a diferença.
Aqui entramos no universo o qual chamamos de design de informação

Em geral, as pessoas se esquecem que todo o conjunto de informações possui pelo menos duas partes.
Uma que é interna e que exige uma diagramação que favorecerá as conexões entre os dados, para que estes façam sentido e possam ser lidos e interpretados por um público alvo.
E outra externa, o público-alvo ao qual as informações se dirigem e que procuram de forma muito diferente dos padrões do programador.

É esta linha tênue que deixa de ser respeitada e que, apesar de transcorridas tantas décadas, encontramos sites e portais que nada nos dizem, vazios de forma e conteúdo, recheados apenas e tão somente de pequenas pirotecnias de programação e cores.

Pode ocorrer também outra situação ainda pior para o design de informação: ainda que a informação exista, que haja competência técnica por parte de quem alimenta os bancos de dados, e que sejam ricos em possibilidades, o mau design simplesmente tornará tudo submerso e opaco.
A página torna-se estéril, desinteressante e muda.

São páginas que precisam de tutoriais, manuais, para poder ser utilizadas, num universo visual, econômico e restrito. Um universo onde as imagens valem mais que mil palavras, se não gostamos das imagens, não leremos nenhuma delas.

Conteúdo
Aqui é o ponto nevrálgico e a razão de ser de seu site ou Portal. Se você não sabe exatamente o que quer, como quer, para quem e porque, deixe para outra ocasião! Neste ponto, insistimos muito que é fundamental grandes conversas para alinhar objetivos.
Aqui sempre fazemos o cliente entender o que de fato precisa fazer para que suas metas sejam alcançadas.

Consideramos que é muito importante que, se seu site ou portal for de conteúdo, consultorias e afins, ele precisa ter solidez, consistência. Por outro lado, se você está oferecendo um produto ou serviço, não confunda seu cliente gerando voltas imensas e desnecessárias.

Tudo o que estiver no seu site ou portal tem que fazer sentido e dirigir-se ao seu público alvo de forma clara, sem rodeios.

A Informação precisa ser visualmente agradável, ao ponto de incentivar a navegação e consequentes descobertas quer a usuários comuns, quer a pesquisadores ou técnicos. O que significa dizer, que um único template usado para diferentes portais ou sites não oferecem os requisitos acima colocados.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na elaboração do Design de Informação para Portais Institucionais que de fato atinjam seu público alvo.

Entre em contato pela nossa página ou pelo e-mail para assessoria técnica na construção do seu Portal Corporativo de acordo com suas demandas ou da sua instituição. E com o benefício de poder escolher se ela será em português, inglês ou espanhol.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer

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Referências

Tipos de Portais, in WGabriel, “Tipos de Portais”, http://wgabriel.net/arquitetura-da-informacao-e-webwriting/tipos-de-portais-web/, acessada em 10/10/2017.
Enciclopedia de Clasificaciones (2017). “Tipos de páginas web”. Recuperado de: http://www.tiposde.org/internet/172-tipos-de-paginas-web/, acessada em 10/10/2017.
Rosenfeld, L. e Morville, P., Information Architecture for the World Wide Web, OReilly, 1998.
Nielsen, J. e Tahir, M., Homepage usability, New Riders, 2001.
Nielsen, J., Designing Web Usability, New Riders, 1999.
Niederst, J., Web Design in a Nutshell, Second Edition, O’Reilly, 2001.
Design de Informação: O que é e para quê serve?, acessado em 22/10/2017
e mais outros…

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Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público

Por: Eliana Rezende

Entre os dias 27 e 28 de julho de 2017, na Sede do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) ocorreu o VIII Encontro Nacional de Memoriais do Ministério Público com o objetivo de compartilhar informações e trocar experiências entre profissionais e instituições ligados às áreas de documentação e memória.

O evento procurou apresentar práticas e experiências atuais desenvolvidas em diferentes instituições e que interessam diretamente à centros de memória. Na ocasião ocorreram palestras proferidas por profissionais reconhecidos em diferentes áreas de conhecimento, dentre os quais tive a honra de ser a responsável pela Conferência de Abertura.

A Conferência foi intitulada: “Centros de Documentação e Memória: Espaços de Preservação e Salvaguarda de Patrimônio Documental e Identidade Institucional“, e que pode ser assistida em sua integra abaixo, tocou em aspectos práticos e metodológicos relacionados à Centros de Documentação e Memória, além de suas relações com a transparência administrativa, gestão documental, organização e acesso à informação com vistas à produção de conhecimento.

Confira a conferência na íntegra clicando na imagem abaixo:

apres_MPFSPA ER Consultoria pode ajudá-lo em Projetos para Memória Institucional ou Implantação de Centros de Documentação.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer
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O Valor da Gestão Documental para as Empresas

Por: Eliana Rezende Bethancourt & Lionel Bethancourt

Quando falamos em dados, sempre estaremos lidando com números astronômicos. 90% dos dados que há no mundo hoje foram criados nos últimos dois anos e, agora, a cada dois anos, o mundo dobra a taxa em que os dados são produzidos. “Segundo a sexta edição da pesquisa DOMO em 2018, mais de 2,5 quintilhões de bytes são criados todos os dias (domo.com). E, no ano de 2020, estima-se que 1.7MB de informação serão criados a cada segundo, por pessoa, no mundo”.

A verdade é  que estamos vivendo uma revolução no setor de dados. O que impulsiona essa revolução, além da abundância de dados disponíveis atualmente, são as tecnologias fundamentais que alteram a forma com que coletamos, armazenamos, analisamos e transformamos as informações.

Se olharmos de uma perspectiva mundial, as estatísticas ficam realmente interessantes, observe:

  • O IDC estimou que em 2020, as transações comerciais na internet, que incluem B2B and B2C alcançariam US$ 450 bilhões por dia.
  • A Walmart atende mais de 1 milhão de transações de clientes por hora, e elas são importadas a vários bancos de dados que contêm mais de 2.5 Petabytes de informação.
  • No distante ano de 2008, a Google processava 20 Petabytes (20,000Tb) de dados por dia.
  • AT&T tem um banco de dados que com 312 Tb de tamanho, incluindo gravações de 1.9 trilhões de ligações telefônicas.
  • Há 30 bilhões de peças de conteúdo compartilhado no Facebook mensalmente com 2,85 bilhões de usuários.
  • Mais de 100 horas de conteúdo de vídeo são carregadas à YouTube a cada minuto.
  • No ano de 2013, segundo Chris Flores, diretor de comunicação para o Grupo Windows da Microsoft, foram criados 500 bilhões de documentos no Office!
  • Segundo Gil Press (Forbes), de 2010 a 2020, a quantidade de dados criados, capturados, copiados e consumidos no mundo aumentou de 1,2 trilhão de gigabytes para 59 trilhões de gigabytes, um crescimento de quase 5.000%.
  • Segundo a International Data Corporation IDC a taxa composta de crescimento anual (CAGR) de cinco anos até 2024 dos dados criados, capturados, copiados e consumidos no mundo; a quantidade de dados criados nos próximos três anos será maior do que os dados criados nos últimos 30 anos. E não apenas isso. Em 2024, os dados de entretenimento representarão 40% do Global DataSphere e a produtividade / dados incorporados serão 29%, parcialmente paralisados ​​pela dinâmica do COVID-19.
  • Ainda nesta esteira temos a produção massiva de dados por pessoas e empresas por meio de redes móveis e nuvens, quer por trabalho, quer diversão gerando uma massa imensa de dados e informações que compõem ora lixo, ora informação relevante que precisa ser distinguida e usada. O universo de produção de dados audiovisuais com fins de recreação, segurança ou trabalho é uma realidade que aumenta de forma absurda os dados de pessoas e organizações.
  •  Em 2021 já tínhamos mais de 2.29 bilhões de usuários no YouTube que a cada minuto, sobem 500 horas de vídeo distribuídos por cerca de 1 bilhão de canais.
  • O Instagram possui 1,22 bilhões de usuários ativos
  • A presença em redes sociais e perfis digitais acumulam inúmeros dados e é comum empresas e instituições também possuírem tais perfis e não terem o devido cuidado com os mesmos. Lembrando que representam partem substancial do que seja sua Memória Institucional.

Mas a pergunta que todos nos fazemos é: em que ritmo e velocidade produzimos documentos hoje? E ainda: precisaremos deles por quanto tempo?
E ao precisar, encontraremos?
E se, em formato digital, conseguiremos abri-lo?

Sabemos que os dados estão aumentando, mas será que sabemos o que realmente isto significa para nossos negócios? Segundo a Fathom Consultoria, dados pobres custam aos negócios 20-35% da sua renda operacional, com dados ruins custando aos negócios americanos US$ 600 bilhões anualmente.

Em estudo recente patrocinado pela Xerox Corporation, chegou-se a conclusão que:

  • 90% das organizações não têm controle sobre os valores gastos anualmente sobre a produção de processos/tarefas que envolvem documentos;
  • 82% das organizações acreditam que os documentos são essenciais para o sucesso das operações organizacionais;
  • 70% dos executivos afirmam que uma Gestão Documental ineficiente, torna a organização mais lenta, e;
  • 45% do tempo dos executivos é utilizado com documentos (produção, acesso, recuperação, uso, etc.)

Se você está envolvido nas operações de TI na sua organização, pergunte-se:

  • Estamos coletando e armazenando os dados corretamente?
  • Usamos os dados coletados para melhor gerenciar nossos negócios ou dos nossos clientes?
  • Qual nossa confiança em tomar decisões baseadas nestes dados?
  • O que fazem nossos competidores? Lançaram campanhas direcionadas à nossa base de clientes?
  • E por último, mas não menos importante: se vamos conseguir uma vantagem competitiva sobre nossa concorrência e ofertar uma experiência única aos nossos clientes, será que os dados que temos e produzimos nos ajudam neste propósito?

E, se você é produtor-usuário de dados e informações pergunte-se:

  • Para quê serve a Gestão Documental numa empresa?
  • Existe Gestão Documental na nossa empresa?
  • A quem cabe a responsabilidade da Gestão Documental?
  • Como estabelecer políticas de Gestão Documental?
  • Quais são os seus benefícios e retorno?
  • Como definir prazos e locais para guardar informações?
  • Como filtrar, hierarquizar e localizar informações relevantes?
  • Como estabelecer critérios para segurança, sigilo e acesso às informações?
  • Ferramentas e tecnologia resolverão meus problemas de Gestão de Documental?
  • Como identificar o que de fato preciso?
  • Como multiplicar conhecimento a partir de dados e informações nos documentos que produzimos?

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Apesar da importância e volume representada pela informação digital ou mesmo mantida em ambientes físicos, existe um amplo desconhecimento do que uma Tabela de Temporalidade Documental (TTD) e um Código de Classificação dos Documentos (CCD) podem fazer por uma documentação a ser gerida. O que acaba acarretando um aumento nos custos operacionais das empresas, afinal despende-se em recursos (humanos, tecnológicos e em espaços) tanto físicos quanto digitais. Guardando documentos além do tempo necessário e perdendo documentos importantes para a tomada de decisões estratégicas. Independente de se possuir ferramentas tecnológicas ou não.
Indo além: acabam ocupando espaços caros com o que, às vezes, não importa e perdendo aqueles que são verdadeiros tesouros de Patrimônio Cultural/Documental, que servem ao fortalecimento da Cultura, Identidade e Memória Institucional.

Gestores que ignoram a Gestão Documental como parte essencial dos processos organizacionais incorrem no erro básico de ingerência. Subaproveitam valor contido nas informações presentes nos documentos sob sua responsabilidade. Cuidar de informações significa cuidar de TODOS os seus suportes (sejam eles físicos ou digitais) e com toda a complexidade que cada um deles representa do ponto de vista de guarda, sigilo e acesso.

A ER Consultoria possui metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para a aplicação da Gestão Documental e Memória Institucional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação.

Veja nosso Portfólio de Cases   e o que nossos clientes tem a dizer

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* Post revisto e atualizado em Julho/2021

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Memórias Digitais em busca da Eternidade

Por: Eliana Rezende

De novo a questão das obsolescências e permanências.
A crescente demanda por informação e acesso tem imposto alguns limites e soluções precisam ser buscadas.
Como não perder tudo o que se produz? Como e onde armazenar? Para quê e para quem? Com quais finalidades? E com quais custos?
São muitas as perguntas!

Creio que a partir do momento que tais tais questões e reivindicações surgem é de fato um progresso interessante.
Além disso, destaco mais dois outros pontos importantes: a busca por um direito de acesso à informação e de outro o exercício de transparência e cidadania em suas múltiplas esferas.

Preservacao+digital

Diriam alguns que Tecnologia da Informação é um eterno reinventar, por que existe a barreira das leis da física. Noves fora isso, o restante é com o departamento de marketing.
Mas será?
Poria outros dois mais: o financeiro que destina recursos, e porque não a preservação de documentos para o futuro?

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Como historiadora, um dos principais obstáculos que temos é a garantia de acesso a documentos através do tempo. A longa duração para historia pode significar a eternidade, já para a tecnologia ela representa tão somente casas que vão abaixo dos dois dígitos e que ficam em torno de 3 ou 5 anos. A conta não fecha!
Haja visto a quantidade, por exemplo, de links e arquivos digitais que se perdem todos os dias. Somos a geração que mais produz informações em toda a história da humanidade, mas também a que mais perde.

Já convivo nos dias atuais com perdas irreversíveis e isso vale tanto para suportes físicos quanto digitais. Por isso, a minha preocupação sempre presente com a preservação documental sob vários aspectos: sem ela teremos vácuos impossíveis de serem recuperados pelas sociedades futuras.

Um exemplo interessante é o caso do Livro do Apocalipse, de William o Conquistador, escrito em couro no ano de 1086. Sobreviveu por 900 anos, chegando até nós. Mas uma versão digitalizada da obra, gravada em 1986, não pode mais ser lida em 2006, apenas 20 anos depois.
Seria cômico, se não fosse trágico!

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E os problemas se multiplicam quando pensamos na quantidade imensa de Bibliotecas Digitais que são formadas e que poderão facilmente estar perdidas para sempre.

E em relação a Portais institucionais, sites e blogs temos sérios problemas.
Uma massa imensa do que produzimos nasce, vive e se desenvolve em meios digitais. É editado, alterado e recortado nestes meios e posso assegurar que ninguém se preocupa com suas versões anteriores.
Mas onde estão mesmo estas versões?
Quem era esta instituição em sua primeira versão de Portal ou Site?

Ninguém sabe ou saberá…

Não consigo compreender como ninguém possa estar preocupado com as inúmeras páginas de conteúdo que desaparecem quase que na mesma velocidade em que são produzidas. Até 2020, segundo expectativas, teremos produzidos 44 zetabytes de informações.
Para se ter uma ideia, 1 zetabyte equivale a 2.000.000  de anos de música!

A despreocupação vale para conversas em redes e imagens… muitas imagens.
Ninguém registra estas correspondências ordinárias e nem seu movimentado alfabeto de construção. Séculos adiante não teremos como saber as formas de registros coloquiais que nossa geração produziu. Léxicos e formas de expressão estarão para sempre perdidos. Provavelmente ainda teremos hieróglifos egípcios e as tábuas de argila mesopotâmicas e nada sobre nossas comunicação rápida digital.

Inventamos a internet para ser apagados por ela! Não deixaremos sequer rastros.
O descarte imediato de tudo leva-nos para um não lugar. Um espaço virtual, sem forma e vazio.
Não daremos aos nossos descendentes a possibilidade de conhecer nossos pensamentos por registros cotidianos, que antes eram tão bem feitos por diários, cartas e outros tipos de registros.

Há ainda os textos e hipertextos, numa leitura que há muito deixou de ser linear. Perderemos conteúdos e as leituras hiperlinkadas que cada texto produziu.

Enfim, nosso presente é editado e recortado com desprezo incondicional por sua gênese.

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O mesmo ocorre com muitos manuscritos ficcionais e obras literárias várias.
O tempo dos manuscritos editados à mão pelo artista não existem mais e assim, muito de seu processo criativo se perde. As versões editadas e limpas chegam sempre às editoras sem o rastro dos caminhos de uma escrita.
Esta ausência inviabilizaria uma publicação como a que ocorreu com Mário de Andrade, que recentemente teve uma edição da obra e seus manuscritos. Uma riqueza documental propiciada por originais, cartas, rascunhos e tão belamente trabalhados no IEB/USP.

A situação é tão inquietante que no Reino Unido estão fazendo a solicitação para que escritores entreguem seus computadores antigos ao invés de os jogarem fora para a British Library e, utilizando-se de programas de investigação forense e perícia reconstituem por metadados tais caminhos criativos de grandes autores.
Uma tarefa que aos poucos também me parece inviável, já que seria um forma de arqueologia digital (manter computador, software e hardware), e fazer a manutenção disso no tempo, também não me parece razoável e nem possível.

O mesmo vale para importantes pesquisas científicas  publicadas. Temos sempre um artigo limpo e editado e nunca os caminhos rascunhados, desenhados, arquitetados e editados, percorridos.

Sorte teremos se daqui a 100 anos o artigo final esteja preservado!

O valor destes manuscritos são fáceis de ser mensurados quando pensamos em Isaac Newton, Albert Einstein, Leonardo Da Vinci. Que seria de nós se apenas tivéssemos sua última versão?
Sem sabermos suas indecisões e por onde andaram seus pensamentos e invenções? É deste trajeto que me refiro quando falo em processo criativo deletado dia a dia.

Um exemplo bem acabado do que cito foi que cinco séculos após a morte de Leonardo Da Vinci cientistas italianos conseguiram interpretar seu projeto para um carro, e recriá-lo a partir de suas anotações. A invenção é considerada um precursor do automóvel moderno. Conheça-o clicando na imagem:

Da-Vinci-Carro-Automovel
Óbvio está que não poderemos, a bem da sanidade, preservar “tudo” o que se produz. Mas há que haver políticas que visem a preservação digital de nossa produção social, cultural, intelectual e científica. Não se pode tolerar a ideia de que séculos adiante, igual aos Maias, seremos reconhecidos como aqueles que não deixaram herança aos seus descendentes.

É aqui que entra uma das minhas maiores motivações profissionais: ajudar a salvar do esquecimento e da obsolescência, os vestígios de nossa civilização.  As instituições precisam se dar conta que NECESSITAM de uma política de preservação digital, tanto quanto de ferramentas para produção e uso de informação no agora. Não terá valido de nada tudo o que uma organização, pessoa, instituição ou sociedade criou se não for capaz de preservar isso para o futuro.

Imagino que duas coisas são fundamentais: uma reconhecer que temos tantos problemas quanto produção massiva de informação. Outra, que apesar de tudo não precisamos abrir mão de tudo e entrar num desânimo pessimista.

Políticas sérias de preservação digital, com um olhar que vá bem além do horizonte imediato, podem minimizar problemas. É um caminho que requer planejamento e investimento em recursos (tempo, dinheiro e pessoal).
Possível e viável, desde que planejado e desejado.

Se você se encontra neste difícil entroncamento, consulte-nos. Auxiliaremos a encontrar uma Solução que lhe dê acesso à informação, mas ao mesmo tempo tome em conta políticas de preservação digital e da informação contida em diferentes documentos e suportes.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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* Versão atualizada e revisada de post publicado originalmente no meu  Blog Pensados a Tinta

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