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Museus: Faces e Fases de uma Metrópole

Por: Eliana Rezende

Como poderíamos, por meio de determinados ícones de arquitetura e cultura, entender uma metrópole?

Experimente fazer isso com alguns deles.
Comecemos por dois. Com acervos e localização à parte, os prédios da Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MASP (Museu de Arte de São Paulo) podem nos trazer pistas interessantes sobre a metrópole e suas faces. Contam-nos boas histórias de um outro tempo e da criatividade e determinação de seus arquitetos e idealizadores.

Um é representante de uma arquitetura tradicional de princípios do século XX, com projeto do escritório de Ramos de Azevedo (1896-1900) e que no decurso do tempo sofreu diversas reformas e intervenções. A última delas ocorrida na década de 1990, durante a gestão de Emanoel Araújo como diretor da instituição. E de um projeto de recuperação do prédio assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha.

O outro é representante de uma arquitetura moderna.
Em 1958, a arquiteta Lina Bo Bardi projeta o edifício da avenida Paulista, atual sede do museu. Foi inaugurado em 1968 com a presença da rainha Elizabeth II da Inglaterra, logo após a morte de seu fundador, Assis Chateaubriand (1892-1968).

Pensar estes dois prédios é de fato pensar de que forma o cosmopolitismo de São Paulo perpassa bairros, épocas e composições. Olhar o vão livre do MASP é espreitar sob um janela de 74 metros estendida sobre o asfalto e de alguma maneira tomada pelos paulistanos e por suas construções em concreto à sua volta. Tem uma linguagem que, para mim que sou leiga, é limpa, linear, moderna, sem excessos ou rebuscados.

A Pinacoteca é fruto de um prédio que pareceu, no decurso do tempo, ser fruto de uma constante reforma, e que por empenho de muitos, com um acervo impecável e uma programação irrepreensível, tornou-se uma referência do coração da cidade. Plantada numa área histórica, se impõe como um edifício que salta aos olhos e que para nós paulistanos, dá uma sensação de nos sentir em casa. Carrega em si todas as nossas contradições urbanóides. A sensação de luminosidade e espaço em seu interior contrastam com uma cidade sufocada por trânsito, congestionamentos de carros e de almas que tem em suas bordas toda a marginalidade e decadência do craque, da prostituição.

De fato, duas pauliceias: prazer estético e contradições para todos os que por elas passam.

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O vão livre do MASP a cada dia parece menor em vão e mais ocupado em gentes. Espaço de constantes manifestações e ocupações, é palco de vida pulsante.

Para além disto, o MASP parece ser o signo de toda a nossa contradição: um esforço de ser moderno, viver com suas dificuldades, usos e abusos heterogêneos de espaços, riqueza cultural e patrimonial, em meio a um poder público omisso e ausente. Sua riqueza de acervo contrasta com problemas estruturais de múltiplas gestões e muitas ausências de políticas culturais e financeiras. De fato, temos no MASP a expressão de tudo junto: essa Pauliceia sôfrega por tantos problemas, ritmos e possibilidades.

A Pinacoteca e todo seu conjunto arquitetônico, em torno da Luz, tem uma vitalidade histórica contrastante com tantos problemas sociais e de ocupação à sua volta. Mas é uma ilha de prazer estético e entrar dentro dela parece nos levar para outro tempo… outra sensação. É um ponto de oxigenação para mentes e meio de encontrar diálogos para formas e estéticas.

Icônicos em composição, ocupação, funções e atribuições revelam as muitas contradições que só uma megalópole como São Paulo tem.

Mas as faces e as fases de Sampa não são apenas estas.
Podem estar no caleidoscópio de outros ícones que se espalham pela cidade e que dão conta de outros trechos de longas histórias.

Um terceiro exemplo é o Museu Paulista, mais conhecido como o Museu do Ipiranga.
O arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi foi contratado em 1884 para realizar o projeto de um monumento-edifício. O estilo arquitetônico, eclético, foi baseado no de um palácio renascentista, muito rico em ornamentos e decorações.

Seu acervo riquíssimo dá ao seu conjunto arquitetônico ainda mais interessência e prazer estético. Escadarias internas e externas, colunas e tetos adornados, ladeado por belos jardins planejados e inspiradores. O primeiro projeto paisagístico, por exemplo, é de 1909 do belga Arsênio Puttemans. Nos anos 1920 o jardim foi remodelado, desta vez pelo alemão Reinaldo Dierberger. Leia mais aqui, sobre a importância de tais projetos paisagísticos na construção da identidade nacional e suas relações com os espaços urbanos.

É de fato um museu que se derrama por seu entorno e que acolhe todos os que fazem de seus jardins uma extensão de suas próprias casas. Permite por meio de suas calçadas e jardins uma comunicação interessante entre os espaços de dentro e de fora. Democrático nos seus sentidos de uso, via a diversidade de utilizadores encontrar-se todos os dias com pesquisadores em busca de seu acervo documental e rica biblioteca.

Sem dúvida, está entre o mais querido e lembrado por todos os que visitam ou moram na cidade.
Mas também é outro museu que vive de contradições tal como os citados acima. Infelizmente para todos nós, foi o que teve o mais trágico destino dos últimos tempos.
Teve suas portas fechadas às pressas e só tem previsão de reabertura em 2022, para salvaguardar conjunto arquitetônico, bem como suas obras e acervo.

Mas, e quando a arte deixa as edificações e as paredes que as circunscrevem e toma a rua num nítido transbordamento de muros?

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São Paulo também conhece muito bem esse fenômeno. A Vila Madalena corporifica esse transbordamento por becos e ruelas. O grafitti ganha os muros e revela um museu a céu aberto. As fronteiras tão marcadas por projetos desenhados, que guardam obras e expressões artísticas intramuros se dissipa: o muro e a rua passam a ser molduras para seus artistas e sua comunicação com e pela cidade.

A cultura neste sentido, deixa suas marcas na malha urbana e dialoga com os espaços desta. O grafitti se espalha pelos muros do bairro usando a cidade como seu suporte principal. Técnicas, temas e artistas se revezam nos olhares de transeuntes-consumidores. Uma via de comunicação entre os que vão e os que vêm.

No bairro, uma viela se tornou um ponto turístico na região, é a rua Gonçalo Afonso, chamada de Beco do Batman que é totalmente grafitada, onde não se encontra praticamente um espaço para mais desenhos, por isso, periodicamente os trabalhos são substituídos.

Conheça um pouco mais do Beco do Batman na Vila Madalena, através da reportagem “Outras Coisas”, Do programa da TV Uniesp sobre o roteiro cultural do bairro:

Movimento-Beco do Batman

De tudo o que vimos tem-se que a cidade e seus museus são espaços de apropriação multicultural. Por meio destas apropriações, tais sujeitos fornecem uma nova cartografia que se impõe aos diferentes espaços aqui analisados. Representam também formas que se alteram pelo tempo e espaço, não apenas edificado, mas social e cultural.

É só prestarmos atenção como a arquitetura eclética e de paisagismo construído com vistas à criação de uma identidade nacional presente no edifício do Museu Paulista, ganha um novo contorno na proposta do prédio da Pinacoteca do Estado, que é tradicional, como o são toda a concepção de cidade que cresce ao seu entorno. Uma cidade que ainda busca em matrizes europeias, formas, gostos e ornatos.

Num nítido processo de busca de despojar-se de todo esse passado, o projeto arquitetônico do MASP traz uma nova dimensão de linhas e traços. Abandona os rebuscados. Busca nas linhas retas e de material moderno sua edificação. Plantado em meio a casarões de barões de café, para começar a comunicar-se com seu entorno: acolhe e é acolhido por outros elementos de construção à sua volta. Ergue-se e constitui-se um marco de uma metrópole contemporânea, assumindo formas que dão-lhe mais usos e funções.
É concreto e cor sobre asfalto e gentes.

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E só a partir daí que a maturidade urbana permite o encontro da arte com os muros de ruas, becos, ruelas. A Pauliceia encontra formas de expressão não apenas circunscrita por paredes e projetos, mas pelas ruas desenhadas por habitantes e ocupações: sem projetos ou linhas. A arte libertou-se de todas as amarras e encontra expressão por tintas, pinceis e spray, molduradas por blocos simples de cerâmica ou concreto.
A Vila Madalena materializa esse escape cultural.

Daí tantas faces e fases. Escolha a sua!
 

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Ao realizar isso, cuidamos da Memória Institucional garantindo que a cultura e a identidade organizacional se solidifiquem, ao mesmo tempo em que auxiliamos nas formas como a informação possa estar acessível, organizada e em locais próprios como Centros de Documentação e/ou Memória.

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* Artigo publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta
 
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