Arquivo da categoria: Cultura Material

Arquitetura tumular: a cidade dos mortos no mundo dos vivos

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Há muitas formas de visitar a morte.
Às vezes, a visitamos pela experiência sofrida assistindo a debilidade que avança, os dias que chegam ou o convívio com uma sentença de morte provocada por uma doença sem cura, ou um acidente que ceifa vidas e planos.
A experiência sentida para todos estes casos é a da perda ou dor. Paira sobre nossas mentes e nos faz saber que, mesmo em sua ausência, sua presença pode ser constante enquanto não chegar.
Seu lugar em nossas vidas está também nos espaços que ocupa. Espaços simbólicos, emocionais ou físicos, não importam. Os tempos e espaços destinados para a morte em nossas vidas ocupam nossos corpos, mentes e até mesmo lugares específicos para seu culto/lembrança.

Dentre os lugares de morte o cemitério talvez seja o de maior representatividade no mundo. E aqui, independente de culturas ocidentais ou orientais é um espaço do Sagrado e de reverência ao que ele guarda. 

Os cemitérios são exatamente o local, e a cidade dos mortos, no mundo dos vivos. 
Representam esta cidade que está calada e desenhada, porém viva como um recado, uma lembrança, um alerta. É arquitetura esquadrinhada, que possui seus lugares e hierarquias e até mesmo imposição de posições sociais, prestígio, status e valores que podem ser observados através de todo um conjunto de símbolos que chamamos de arquitetura tumular. Exemplos não faltam de elementos desta arquitetura de vivos para o mundos dos mortos, e neste ponto apresento alguns destes elementos que utilizamos como estudo na área que denominamos em História de Cultura Material.
Os jazigos, seus túmulos e toda a referência mobiliária e de objetos prestam-se a um excelente meio de análise e abordagem de um tempo: oferecem ao pesquisador referências interessantíssimas e muitas vezes ausentes em outros tipos de fontes como: nomes, datas de nascimento e morte, preferências sociais, culturais e relações familiares trazidas por meio de dedicatórias e despedidas onde os nomes e laços de parentescos ficam expostos.
Convertem-se em acervos “vivos” da Memória de um tempo e das vidas de seus ocupantes, os seus laços e suas relações.

Há todo um conjunto de signos iconológicos que favorecem a interpretação sobre o período de sua produção e em qual contexto social e cultural foi utilizado como representação. Em tempos mais recentes as fotografias surgem como outro elemento carregando mais informações sobre o morto. Sua fisionomia, e em alguns casos, sua sisudez ou sorriso nos desafiam o olhar. Fixados num determinado espaço/tempo nos dirigem o olhar,  nos inquirem… Recortados em um contexto são imagem cristalizada de um projeto que se interrompeu. A imagem, por excluir a morte, é carregada de vida e energia. Talvez por isso, tenhamos a empatia do olhar que se comunica e troca. É impossível não pensar sobre aquele rosto, a história que tinha e como chegou ali: alguns muito cedo, outros após uma existência plena com cônjuges, filhos, netos e até bisnetos.
Englobam-se no que chamamos arquitetura tumular a arte representada pelas esculturas que ornamentam os túmulos. Representam visões de mundo de um tempo, de uma sociedade, de grupos familiares e pessoas, fornecem elementos caros à construção de uma memória de si e do seu entorno social. Um conjunto rico, e muitas vezes valiosíssimo de expressão artística, fazendo muitos cemitérios ter programas de visitas guiadas por seus túmulos para amantes desta arte ou para acadêmicos de diferentes áreas.

Muito interessante entender que os cemitérios, tal como as cidades tem uma história de implantação e definição tanto estética quanto dos seu lugares e limites no tecido urbano. Não surgem espontaneamente, e são sim fruto de um projeto social para estar inserido no mundo dos vivos.

Por isso, é preciso entender as circunstância em que os cemitérios foram se secularizando. O espaço destinado aos mortos era sempre um local de proximidade: eram colocados, por exemplo, nos terrenos em volta das casas, ou nos espaços considerados sagrados das igrejas e seu entorno. Isso propiciava a proximidade e alguma privacidade a estes corpos abandonados pela vida, ceifados por diferentes motivos. A secularização dos cemitérios levou estes corpos a compor um outro espaço só que desta feita coletivo. Os mortos seguem assim um destino comum reservado a todos e longe das casas e seus quintais que os abrigaram por toda vida. Neste local, o espaço da morte é definido e demarcado para estar nas bordas das cidades e a partir de uma concepção higienista de sociedade, onde a doença e a morte precisam ser isoladas e retiradas do convívio familiar. Experimentar a doença e morte deixa de ser um ato corriqueiro e familiar (algo que até então era usual e costumeiro) e começa a possuir espaços definidos para isolar, cuidar e quando não for mais possível, enterrar. A doença, a dor e a morte eram assim levadas para outros territórios. São territórios da morte.

Os túmulos de uma mulher católica e seu marido protestante, que não puderam ser enterrados juntos devido aos regulamentos do cemitério. Eles morreram na década de 1880.
Nota: as mãos segurando sobre a parede divisória. Localizada em Roermond, Holanda.
Por: Lindsey Fitzharris

Uma cidade aprisionada
A sociedade deste período (e falamos em algo a partir do século XVII e XVIII, com maior incidência a partir do século XIX) passa a ter diferentes instituições que procuravam isolar, controlar e disciplinar. É deste período que vemos o surgimentos de instituições como quartéis, conventos, escolas, manicômios, hospitais e porque não cemitérios?! A lógica para todos os casos é sempre a mesma: murar, cercar e facilitar a vigilância fornecendo espaços esquadrinhados, milimetricamente individualizados, entradas e saídas quase que exclusivas e horários rígidos para trânsito e permanência. A individualidade garantida é a do próprio corpo que ocupa celas, cadeiras, camas ou para nosso caso, o jazigo, a sepultura.

Para os cemitérios, a ordem de fechamento, que se mantém até os dias de hoje, revela a nítida separação entre o simbólico: Luz e Sombras, que remete ao perigo das almas que habitam o “mundo subterrâneo e escondido das profundezas”. Não devendo por isso, comunicar-se com o mundo dos vivos no período onde reinam as Trevas.

Esta cidade dos mortos a que nos referimos acima recebe dos vivos, em seus primeiros séculos, consideráveis investimentos: a morte e os sentimentos em relação a ela precisavam ser mostrados por meio de mausoléus ricos em detalhes, com muitos acessórios e peças vindas da Europa. Artistas, escultores e artífices da morte eram contratados para entalhar detalhes de vida e personalidade do morto em pedras, mármores, granitos. materiais que pela dureza e durabilidade remetiam à Eternidade, Permanência, Presença do Ausente.

À medida que a sociedade sofre a perda do poder aquisitivo, os túmulos deixam de ser locais de ostentação e a arquitetura tumular parece empobrecer. É o período de popularização de cruzes, sem a riqueza escatológica de períodos anteriores. A cor predominante continuava sendo o branco. Mas o investimento na morte se reduz enormemente.

Em períodos de maior opulência, como entre os anos 1900 e 1930 no Brasil, a morte passa a ser vista como um grande espetáculo e momento onde se pode mostrar a força e o poder.

Com isso toda uma produção artística atende esta população endinheirada e opulenta das cidades que se metropolizam. As cruzes passam a ser paulatinamente substituídas por crucifixos.
Tal como a cidade extra-muros, não há homogeneidade entre seus ocupantes. Riqueza e poder possuem elementos explícitos de ostentação. Daí a riqueza que estes elementos oferecem como território de análise para construções mentais, sociais e culturais. É um território de representações, sem dúvida! Mas tais construções iam além: os cemitérios podiam segregar não apenas por seu mobiliário e posição social. Desde o passado remoto, os mortos poderiam ser incluídos ou excluídos a partir de seus dotes ou preferências espirituais. Quanto mais considerados próximos da Divindade mais próximos poderiam ser enterrados dos templos e locais de adoração. Em tempos mais recentes os cemitérios criaram a segregação religiosa. E assim protestantes não podiam ser enterrados em cemitérios cristãos, suicidas não podiam ser enterrados em solo cristão, nem mulçumanos em cemitérios não-mulçumanos e assim sucessivamente. A morte e seus corpos carregavam o estigma espiritual de suas opções e escolhas feitas em vida. 

Ter em mente todos os elementos citados acima não significa esquecer-se de outras dimensões.
Passear por suas Alamedas propicia um silêncio e um contato com o tempo de histórias que já se foram, personagens petrificados em sorrisos de fotografias, em frases nas placas com datas, locais de nascimento, dedicatórias, epitáfios ou mesmo frases avulsas que sintetizam  pensamentos e ideias dos que foram ou dos que ficam. A comunicação entre vivos com seus mortos e dos mortos por meio de seus epitáfios são gravados em pedras e materiais de longa resistência como mármores, granitos. São assim um convite à permanência e resistência ao tempo e intempéries. Afinal ali estarão, imóveis… colocadas para resistir às muitas estações e gerações. Só farão sentido se assim forem e se assim conseguirem se manter frente à passagem do tempo por elas.

Estes escritos são, portanto, o registro do Tempo. São um mergulho de alma que nos remete a vidas que se passaram e relações que se entrelaçaram. Vínculos expostos publicamente num gesto final que pretende ser de resistência ao esquecimento.  Este território da morte perdido na cidade dos vivos é um território de transição: local de saudades de lembranças, abandonos, vidas que se deixam, vidas que permanecem.  Esta transitoriedade presente e calada nos faz pensar sobre permanência e imanência, e mostram a relação que seres humanos possuem entre si e com a sua representação de seus medos, suas inseguranças, esperanças e até fé.
Inevitável não pensar em alguns casos como o abandono chega e avança: delapidação, vandalismo, esquecimento, estão presentes em muitos destes locais.

Em outros lugares, ao contrário, somos levados a observar o cuidado com a lembrança personificada pela presença viva de flores e plantas. Afinal, estas servem para nos fazer lembrar que a vida possui seus ritmos, obedecem estações e estão em meio a esse tempo passado.

Os cemitérios, tanto como as cidades, envelhecem e até morrem. Deixam de ser territórios de lembrança, culto e devoção. Vencidos pelo tempo, muitos apenas deixam de existir. Outros, tal como muitas cidades ganham robustez com a passagem do tempo por meio dos personagens que ali tem seu destino final. Oferecem a todos o testemunho de um outro tempo e seguem sendo uma cidade de mortos no mundo dos vivos.
Paradoxal portanto, que este mergulho nesta cidade dos mortos, revela o quanto de vida pulsante existe em suas ruelas, quadras, muros e extra-muros. 

Os Mortos e o Luto em Tempos de Pandemia

Não poderia deixar de abordar o tratamento dado a morte e seus corpos em tempos de pandemia. 

A Pandemia de COVID19 trouxe ao mundo uma outra relação com todos os ritos relacionados aos mortos e seus parentes: desde os processos de isolamento no período crítico de internação, até sepultamentos sem velórios acompanhado por apenas uma ou duas pessoas. A experiência do luto deixa de ser restrito a um grupo familiar e ser compartilhado por cidades, países, continentes. A vivência da doença e morte é levada ao paciente como experiência solitária. A morte e sua materialização ocorrem em valas comuns ou sepulturas que se espalham pelos cemitérios aguardando caminhões frigoríficos e filas intermináveis de carros funerários. A morte ganha um status de linha de produção com excedentes de corpos insepultos.  Os corpos perdem o direito dos seus ritos: procedimentos de tanatopraxia (lavagem e preparo do corpo para o rito fúnebre) por exemplo, deixam de ser feitos. Os corpos possuem terão que passar por procedimentos de limpeza com produtos adequados, são embalados em plásticos com zíper e entregues para sepultamento em um caixão lacrado. Sem velórios, os corpos seguem para o sepultamento ou cremação acompanhados por no máximo quatro pessoas.
As despedidas comuns aos entes queridos deixam de ser possíveis, e em muito casos a pessoa que entra no hospital para isolamento nunca mais retornará. 

O Brasil, apesar de todo o negacionismo em relação às mortes, teve cemitérios lotados, covas rasas, retroescavadeiras, caminhões frigoríficos e até valas comuns! Tudo revelando a forma como a doença inesperada escancarou despreparos, desrespeitos e alguma negligência por parte de autoridades. Afinal, a cidade dos mortos pobres nas cidades dos vivos, significa invisibilidade constante. Os cemitérios apenas existem nas áreas periféricas para dar destino aos corpos que abandonam a vida por doenças e mortes violentas. Não cumprem uma função social de conforto, mas mais uma vez de exclusão e silêncio.  

Exemplar destas cenas são rapidamente localizadas, mas creio que dois cemitérios representaram muito bem o que foi a invasão de um inimigo oculto na vida das cidades. O cemitério de Manaus nos ofereceu cenas que serão icônicas do que significa improvisação e um estado acéfalo: valas comuns e retroescavadeiras.

Outro exemplo as imagens aérea do maior cemitério de São Paulo (Vila Formosa) com covas abertas antecipadamente aguardando seus mortos, que chegavam em filas de carros fúnebres. 
Sem ritos, túmulos ou cerimônias e despedidas, as cruzes brancas com números identificam os mortos em valas estreitas e rasas. Uma explosão demográfica na cidade dos mortos: crescimento desordenado, sem planejamento, vias de acesso ou quadras…

O espaço, que em uma configuração planejada seria de uma determinada dimensão tem as sepulturas delimitadas por madeiras para separar o espaço mínimo entre os corpos e sua urna. Tal a quantidade de corpos perfilados.  

O tempo ainda nos mostrará com maior amplitude as cicatrizes nos tecidos destes solos, sagrados para alguns, e suas consequências na forma de entender este processo de mortes coletivas e a lida com o luto. De concreto temos é um novo espaço criado pela pandemia nas áreas periféricas de todas as cidades: um espaço que não mais apresenta uma arquitetura tumular, mas simplesmente caminhos perfilados de caixões, justapostos lado-a-lado. 

A desigualdade se manterá entre ricos e pobres, já que para o caso dos endinheirados seus corpos serão depositados em seus mausoléus e túmulos de família. A escrita da pandemia nos cemitérios da cidade deixará seu desenho de exclusão e indiferença muito bem marcados. 
Não concluo, pois há uma pandemia em ação. Os corpos que deixa atrás de si contam trechos de muitas histórias. 

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Artigos relacionados:
Rezende, Eliana Almeida de Souza.  “Os historiadores e suas fontes em tempos de Web 2.0“. Publicado nos Cadernos do CEOM, ‘Documentos: da produção à historicidade”, Capa > v. 25, n. 36, Editora Argos, Chapecó, 20 (acessado em 01/11/2020)
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Ventres urbanos: cidades e sanitarismo“. Revista Ler História. Dossiê Guerras Civis, Lisboa. n. 51, 2006. pp 135-165 (acessado em 01/11/2020).
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Construindo imagens, fazendo clichês: fotógrafos pela cidade” (acessado em 01/11/2020)

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A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

Museus: Faces e Fases de uma Metrópole

Por: Eliana Rezende

Como poderíamos, por meio de determinados ícones de arquitetura e cultura, entender uma metrópole?

Experimente fazer isso com alguns deles.
Comecemos por dois. Com acervos e localização à parte, os prédios da Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MASP (Museu de Arte de São Paulo) podem nos trazer pistas interessantes sobre a metrópole e suas faces. Contam-nos boas histórias de um outro tempo e da criatividade e determinação de seus arquitetos e idealizadores.

Um é representante de uma arquitetura tradicional de princípios do século XX, com projeto do escritório de Ramos de Azevedo (1896-1900) e que no decurso do tempo sofreu diversas reformas e intervenções. A última delas ocorrida na década de 1990, durante a gestão de Emanoel Araújo como diretor da instituição. E de um projeto de recuperação do prédio assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha.

O outro é representante de uma arquitetura moderna.
Em 1958, a arquiteta Lina Bo Bardi projeta o edifício da avenida Paulista, atual sede do museu. Foi inaugurado em 1968 com a presença da rainha Elizabeth II da Inglaterra, logo após a morte de seu fundador, Assis Chateaubriand (1892-1968).

Pensar estes dois prédios é de fato pensar de que forma o cosmopolitismo de São Paulo perpassa bairros, épocas e composições. Olhar o vão livre do MASP é espreitar sob um janela de 74 metros estendida sobre o asfalto e de alguma maneira tomada pelos paulistanos e por suas construções em concreto à sua volta. Tem uma linguagem que, para mim que sou leiga, é limpa, linear, moderna, sem excessos ou rebuscados.

A Pinacoteca é fruto de um prédio que pareceu, no decurso do tempo, ser fruto de uma constante reforma, e que por empenho de muitos, com um acervo impecável e uma programação irrepreensível, tornou-se uma referência do coração da cidade. Plantada numa área histórica, se impõe como um edifício que salta aos olhos e que para nós paulistanos, dá uma sensação de nos sentir em casa. Carrega em si todas as nossas contradições urbanóides. A sensação de luminosidade e espaço em seu interior contrastam com uma cidade sufocada por trânsito, congestionamentos de carros e de almas que tem em suas bordas toda a marginalidade e decadência do craque, da prostituição.

De fato, duas pauliceias: prazer estético e contradições para todos os que por elas passam.

MASP2

O vão livre do MASP a cada dia parece menor em vão e mais ocupado em gentes. Espaço de constantes manifestações e ocupações, é palco de vida pulsante.

Para além disto, o MASP parece ser o signo de toda a nossa contradição: um esforço de ser moderno, viver com suas dificuldades, usos e abusos heterogêneos de espaços, riqueza cultural e patrimonial, em meio a um poder público omisso e ausente. Sua riqueza de acervo contrasta com problemas estruturais de múltiplas gestões e muitas ausências de políticas culturais e financeiras. De fato, temos no MASP a expressão de tudo junto: essa Pauliceia sôfrega por tantos problemas, ritmos e possibilidades.

A Pinacoteca e todo seu conjunto arquitetônico, em torno da Luz, tem uma vitalidade histórica contrastante com tantos problemas sociais e de ocupação à sua volta. Mas é uma ilha de prazer estético e entrar dentro dela parece nos levar para outro tempo… outra sensação. É um ponto de oxigenação para mentes e meio de encontrar diálogos para formas e estéticas.

Icônicos em composição, ocupação, funções e atribuições revelam as muitas contradições que só uma megalópole como São Paulo tem.

Mas as faces e as fases de Sampa não são apenas estas.
Podem estar no caleidoscópio de outros ícones que se espalham pela cidade e que dão conta de outros trechos de longas histórias.

Um terceiro exemplo é o Museu Paulista, mais conhecido como o Museu do Ipiranga.
O arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi foi contratado em 1884 para realizar o projeto de um monumento-edifício. O estilo arquitetônico, eclético, foi baseado no de um palácio renascentista, muito rico em ornamentos e decorações.

Seu acervo riquíssimo dá ao seu conjunto arquitetônico ainda mais interessência e prazer estético. Escadarias internas e externas, colunas e tetos adornados, ladeado por belos jardins planejados e inspiradores. O primeiro projeto paisagístico, por exemplo, é de 1909 do belga Arsênio Puttemans. Nos anos 1920 o jardim foi remodelado, desta vez pelo alemão Reinaldo Dierberger. Leia mais aqui, sobre a importância de tais projetos paisagísticos na construção da identidade nacional e suas relações com os espaços urbanos.

É de fato um museu que se derrama por seu entorno e que acolhe todos os que fazem de seus jardins uma extensão de suas próprias casas. Permite por meio de suas calçadas e jardins uma comunicação interessante entre os espaços de dentro e de fora. Democrático nos seus sentidos de uso, via a diversidade de utilizadores encontrar-se todos os dias com pesquisadores em busca de seu acervo documental e rica biblioteca.

Sem dúvida, está entre o mais querido e lembrado por todos os que visitam ou moram na cidade.
Mas também é outro museu que vive de contradições tal como os citados acima. Infelizmente para todos nós, foi o que teve o mais trágico destino dos últimos tempos.
Teve suas portas fechadas às pressas e só tem previsão de reabertura em 2022, para salvaguardar conjunto arquitetônico, bem como suas obras e acervo.

Mas, e quando a arte deixa as edificações e as paredes que as circunscrevem e toma a rua num nítido transbordamento de muros?

beco-do-batman

São Paulo também conhece muito bem esse fenômeno. A Vila Madalena corporifica esse transbordamento por becos e ruelas. O grafitti ganha os muros e revela um museu a céu aberto. As fronteiras tão marcadas por projetos desenhados, que guardam obras e expressões artísticas intramuros se dissipa: o muro e a rua passam a ser molduras para seus artistas e sua comunicação com e pela cidade.

A cultura neste sentido, deixa suas marcas na malha urbana e dialoga com os espaços desta. O grafitti se espalha pelos muros do bairro usando a cidade como seu suporte principal. Técnicas, temas e artistas se revezam nos olhares de transeuntes-consumidores. Uma via de comunicação entre os que vão e os que vêm.

No bairro, uma viela se tornou um ponto turístico na região, é a rua Gonçalo Afonso, chamada de Beco do Batman que é totalmente grafitada, onde não se encontra praticamente um espaço para mais desenhos, por isso, periodicamente os trabalhos são substituídos.

Conheça um pouco mais do Beco do Batman na Vila Madalena, através da reportagem “Outras Coisas”, Do programa da TV Uniesp sobre o roteiro cultural do bairro:

Movimento-Beco do Batman

De tudo o que vimos tem-se que a cidade e seus museus são espaços de apropriação multicultural. Por meio destas apropriações, tais sujeitos fornecem uma nova cartografia que se impõe aos diferentes espaços aqui analisados. Representam também formas que se alteram pelo tempo e espaço, não apenas edificado, mas social e cultural.

É só prestarmos atenção como a arquitetura eclética e de paisagismo construído com vistas à criação de uma identidade nacional presente no edifício do Museu Paulista, ganha um novo contorno na proposta do prédio da Pinacoteca do Estado, que é tradicional, como o são toda a concepção de cidade que cresce ao seu entorno. Uma cidade que ainda busca em matrizes europeias, formas, gostos e ornatos.

Num nítido processo de busca de despojar-se de todo esse passado, o projeto arquitetônico do MASP traz uma nova dimensão de linhas e traços. Abandona os rebuscados. Busca nas linhas retas e de material moderno sua edificação. Plantado em meio a casarões de barões de café, para começar a comunicar-se com seu entorno: acolhe e é acolhido por outros elementos de construção à sua volta. Ergue-se e constitui-se um marco de uma metrópole contemporânea, assumindo formas que dão-lhe mais usos e funções.
É concreto e cor sobre asfalto e gentes.

beco-do-batman2

E só a partir daí que a maturidade urbana permite o encontro da arte com os muros de ruas, becos, ruelas. A Pauliceia encontra formas de expressão não apenas circunscrita por paredes e projetos, mas pelas ruas desenhadas por habitantes e ocupações: sem projetos ou linhas. A arte libertou-se de todas as amarras e encontra expressão por tintas, pinceis e spray, molduradas por blocos simples de cerâmica ou concreto.
A Vila Madalena materializa esse escape cultural.

Daí tantas faces e fases. Escolha a sua!
 

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para o desenvolvimento e aplicação de princípios para a Projetos de Preservação e Conservação de Patrimônio Documental e Fotográfico em instituições de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de podermos orientar boas práticas em relação à produção documental em diferentes suportes com principal atenção à práticas de conservação preventiva com o objetivo de evitar consequências de processos de deterioração. Além de podermos orientar boas práticas em relação à produção documental em diferentes suportes com principal atenção à práticas de conservação preventiva com o objetivo de evitar consequências de processos de deterioração.
Ao realizar isso, cuidamos da Memória Institucional garantindo que a cultura e a identidade organizacional se solidifiquem, ao mesmo tempo em que auxiliamos nas formas como a informação possa estar acessível, organizada e em locais próprios como Centros de Documentação e/ou Memória.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.
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* Artigo publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta
 
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Patrimônio Cultural e Responsabilidade Histórica: uma questão de cidadania

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Ainda vivemos o rescaldo de uma das maiores tragédias culturais que nosso país assistiu bestializado: 200 anos de pesquisa e trabalho científico viraram cinzas sob os olhos televidentes do Brasil e do mundo. Era domingo, perto das 19 horas no primeiro dia da “Semana da Pátria”.
Ironias à parte, eram um dia e horários nobres para que assistíssemos o inominável desfecho de séculos de desprezo ao Patrimônio que é de todos. Nosso Patrimônio Cultural/Documental foi consumido pelo descaso, por cupins e chamas!
Naquele momento faltavam palavras… sobravam dor e estupor.

O regresso civilizacional que demonstramos e nossa impotência de ser fiel guardador de um Patrimônio único e precioso que não é de um Museu, mas da Humanidade. Sim, Humanidade! Pois, Patrimônios Culturais pertencem à toda a civilização humana: é Responsabilidade Histórica que devemos à nossa geração e às futuras.

Mas afinal, que povo, que sociedade somos nós?
Pergunto, pois o momento atual não é o de sair à caça de bruxas e bodes expiatórios, sem qualquer crítica reflexiva. Fazer isso nada mais será do que escancarar, apenas e tão somente, espasmos de um discurso raso e oportunista.

Buscam-se “culpados” e “responsabilidades”, mas sem uma verdadeira e profunda preocupação. Em verdade, venhamos e convenhamos: o descaso e desrespeito ao Patrimônio Cultural e Histórico no nosso país foi construído e exercido há séculos, e por todas as camadas e segmentos da sociedade. Não ocorrem do dia para noite. Em alguns casos é fruto de séculos.

É exemplo disso, o relatório de 1844 que o então Diretor do Museu Nacional, Frei Custódio Alves Serrão, responsável pela instituição entre os anos de 1828 e 1847, apresentava sobre as condições precárias do Museu, então com 26 anos de vida.
Em suas palavras: “A Seção de numismática e artes liberais, arqueologia, usos e costumes das nações antigas e modernas acha-se em uma sala cujo teto ameaça ruína, visto as grandes fendas do estuque que continuamente se alargam“.
Diferentes relatórios se sucederam e as dificuldades não cessaram.
A maior prova deste fato foi o ocorrido no fatídico 02 de Setembro de 2018.

Pensemos sobre a sociedade que temos e que conseguimos produzir nestes nossos poucos séculos de existência. Será mesmo que como conjunto, podemos ser considerados um povo que exerce sua cidadania zelando e cuidando do que seja seu Patrimônio Cultural? Quantos de nós, individualmente ou como instituição, cumprimos o papel cidadão de responsabilidade histórica para com as futuras gerações?

Um breve olhar nos faz ver que nossa sociedade saiu direto do analfabetismo funcional para as redes sociais, sem escala, crivo ou pensamento crítico. Consome-se diversão através de grandes telas pixeladas e dificilmente, estes mesmos consumidores estiveram de fato dentro de um museu consumindo a cultura que necessitou de séculos para ser produzida.

Pergunte a quem está ao seu lado, quantos livros ou artigos leu no último mês, e quantos vídeos compartilhou no YouTube. Os analfabetos funcionais na nossa sociedade podem não ler, nem compreender um único parágrafo, mas não se descolam de seus Smartphones, e a quantidade de compartilhamento e likes movimentados em um único dia, indicam que absolutamente nada é lido, nem pensado. Uma sociedade espasmódica e plana, que não sabe o nome dos museus de sua cidade, as exposições que abrigam e com quem dialogam. Mas que distribui como ninguém correntes de Whatsapp e fotos fazendo biquinhos no Instagram e Facebook.

Descaso, cupins e chamas…
O que me aflige, é que o tempo passará, e em breve até os poucos indignados se calarão, pois não terão mais ouvidos para além das imagens sensacionalistas produzidas em um dia de intensas reportagens televisivas voltadas única e exclusivamente para garantir consumo de imagens e dar aos cofres das empresas de mídia anunciantes ávidos por consumidores voláteis.

Em pouco tempo a revolta estará calada, e voltaremos a ver patrimônios serem pichados, sujados, vandalizados, roubados, destruídos. Quer por inciativas individuais, quer por iniciativa das Administrações Públicas e Privadas, que estarão cada vez mais negando ou tirando recursos para “investir” em outras áreas.

Ou será que já esquecemos do que ocorreu com Museu da Língua Portuguesa, ou o Instituto Butantã com um acervo biológico incomensurável?
Ou o incêndio, que em 2005, destruiu, em Franco da Rocha, o Arquivo Histórico do Hospital Psiquiátrico do Juqueri? Boa parte dos registros da história da nossa psiquiatria virou cinzas.

Ou as águas do temporal de 2 de janeiro de 1990, que invadiram a Biblioteca de Filosofia e Ciências Sociais da USP atingindo em cheio os livros colecionados a duras penas desde a chegada da Missão Francesa que fundou a USP?
Ou a enchente do Rio Pinheiros nos meados dos anos 1980, na Vila Leopoldina, que inundou o pavilhão do Tribunal de Justiça de São Paulo onde era abrigado um acervo de 200 anos do Arquivo do Judiciário? Mais de um metro de água suja cobriu muitas centenas de processos, entre eles os 180 volumes do processo da Revolução de 1924. Um dos volumes era exclusivamente de fotografias, um documento visual da tragédia ocorrida em São Paulo naquele ano. Aquele arquivo era fundamental para o estudo de questões sociais, referência de teses acadêmicas sobre temas fundamentais de nossa história social, como criminalidade e anomia social.

Ou quem sabe o incêndio que consumiu o Museu de História Natural da UFMG, que abrigava segundo a instituição 265.664 itens entre peças e espécimes científicos preservados e vivos, em diferentes áreas de Conhecimento, como: Arqueologia, Paleontologia, Geologia, Botânica, Zoologia, Cartografia Histórica, Etnografia, Arte Popular e grande quantidade de Documentação Bibliográfica e Arquivística. O espaço ainda contava com um auditório, viveiro de mudas, uma lagoa, um anfiteatro ecológico e um jardim sensorial.

Ou seja, estamos conseguindo nos jogar nas trevas da ignorância e do alheamento para com a produção de diferentes saberes. Será mesmo isso o que queremos como Nação, como Sociedade e como Comunidade Científica e Acadêmica?

O Culto à Ignorância
Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação significam para a humanidade verdadeiros templos: fiéis guardadores do saber e da construção do Conhecimento através dos Tempos e das Eras. Sem eles perdemos nossa Identidade. Perdemos o sentido do: de onde viemos e para onde vamos. São nestes espaços que a pesquisa e a investigação se adensam, fortificam-se e geram saberes perpetuando-se para futuras gerações. Desprezar isso é a barbárie social e cultural de toda uma civilização.
Uso as palavras textuais do professor José de Souza Martins:
Subestimar, depreciar e abandonar os acervos que registram, preservam e acumulam o saber vivo de muitas gerações mortas de pesquisadores e cientistas é renunciar à ciência. Descuidar dos acervos de arquivos, museus e bibliotecas é a morte do próprio conhecimento“.

É preciso que abandonemos o culto à ignorância e ao desrespeito ao passado. E infelizmente nosso país tem sido zeloso neste culto. De alto abaixo: de secundaristas à gestores de multinacionais – o culto à ignorância e à reverência ao deus mercado e ao imediatismo tolo tem sido a regra. Vive-se o hoje pelo hoje e se esquecem de quem não tem passado não possui lastro para construir presente nem futuro.

Assisto atônita como profissional da informação e lidando com Memória Institucional, um descaso descomunal com o que é considerado apenas “gasto”. Gestores, ditos “profissionais”, possuem uma visão que não alcança um palmo e se esquecem de que sua gestão passará, mas a História do que formos e fizermos, para o bem ou para o mal permanecerá. As vantagens e cifras obtidas em negar o que é devido à História, cobrará uma fatura altíssima no futuro. O gestor que não consiga ter vistas ao futuro não praticará a gestão, e sim ingerência.

O descaso que presenciamos pode ser de amplas proporções com labaredas imensas, consumindo trabalhos de séculos em horas. Ou pode ser no descaso praticado diuturnamente com as más condições de vida e trabalho oferecidas à profissionais e seus acervos. Pode ser nas goteiras que não abandonam telhados, fissuras e rachaduras que insistem em trincar paredes, nos armários ou materiais para acondicionamento que nunca chegam, nas tecnologias que já chegam ultrapassadas. Pode ser na mão-de-obra que nunca é contratada ou no recurso que é sempre esparso e insuficiente. Pode ser na perda de capital intelectual por meio de políticas de juniorização das instituições, quando experientes profissionais simplesmente são encostados ou demitidos para dar lugar a jovens ambiciosos mas sem qualquer experiência. Não importa! O fim último é sempre o mesmo: perda de Patrimônios e subtração de nossa História, com impactos profundos sobre funcionários ainda zelosos e a Memória Social de diferentes gerações.

Os documentos (entendidos aqui como todos os registros da atividade humana) em diferentes suportes, são verdadeiros sobreviventes. São sobreviventes de descasos múltiplos, mutilações, abandonos, desprezos, ataques de forças da natureza (enchentes, vendavais, insetos, terremotos, incêndios), ou talvez o mais nefasto deles: o ataque dos humanos (vandalismo, roubo, depredação, desprezo, abandono, ingerências de várias ordens e instâncias). No capítulo ingerências poderia escrever um tratado escrito em frente e verso sobre as diferentes formas que gestores, que em teoria deveriam zelar por seus patrimônios, tornam-se por ignorância ou determinação, algozes do passado e do futuro: imprimem ao presente e às suas gestões a determinação da destruição. Acreditam ser perenes. Quando em verdade passarão, mas os estragos causados permanecerão como testemunhas silenciosas de sua passagem, suas práticas, feitos, desfeitos  e omissões.

Por outro lado há os que acham, de novo, que Patrimônios se reconstroem! Acham que basta destinar alguma verba e tudo estará “reconstruído”. Uma palavra de cautela aqui: em primeiro lugar não há “reconstrução” para o que é imaterial! E não há reconstrução para Patrimônios da Humanidade, há sim, esforços de “restauração”. Mas esta está condicionada há muitos fatores e possivelmente, não poderá ser efetuada em sua integridade.

No caso do Museu Nacional, se em alguns casos a pedra e o cal podem ser “restaurados”, há coleções construídas no decorrer de 200 anos de pesquisa e trabalho científico que não poderão. São trabalhos feitos à mão por centenas de pesquisadores e existências inteiras dedicadas à pesquisa e produção de conhecimento. O Conhecimento é construído e tessido a partir do acúmulo e do diálogo estabelecido com seu predecessor.
Por isso, o trabalho de produção de Conhecimento a partir de estudo e pesquisa é algo que não está em uma prateleira para ser buscado e recolocado em seu lugar. Não há peças de reposição! Diferentes pesquisadores já morreram há décadas e com eles seus saberes que estavam cristalizados no conjunto de suas coleções e estudos.
E aqui é preciso compreender a forma específica que um Museu se constitui. Em nada se parecem com valores, cifras e acúmulos bem conhecidos dos cultuadores do “deus mercado”. Há coisas que definitivamente o dinheiro não compra!

O que importa, é que o acontecido no Museu Nacional do Rio de Janeiro serviu para colocar em debate aspectos relacionados à preservação e conservação de documentos e coleções imbuídas de valor histórico.

Conservação Preventiva como Políticas de Preservação de Patrimônios
Antes de pensarmos em restaurar, precisamos ter o sentido do que são ações e Políticas de Preservação que devem nortear instituições com acervos tão ricos e especiais. A noção de preservar tem que ver com uma atitude de prevenção, é algo que se estende a modos que impliquem uma conscientização que pode ser de um grupo, uma pessoa ou uma instituição.

Como forma de auxiliar nesta definição, apresento de forma sintética como todos estes termos polissêmicos podem ser entendidos.

[slideshare id=35231408&doc=definindoeconceituandopreservao-conservaofinal-140528150836-phpapp01]

O mais importante em ações que envolvem políticas de preservação e conservação são sua manutenção no tempo. Para isso definições de prioridades e estratégias de como utilizar recursos são fundamentais. E aqui entra um aspecto fundamental: a prevenção não ocorre com grandes montantes de vez em nunca, mas em ações contínuas. Precisam ser entendidas como políticas de preservação e conservação preventiva, que precisam ter ser espaço garantido no decurso do tempo.

Vamos compreender alguns equívocos recorrentes:
Em muitos casos, argumenta-se que é preciso utilizar diferentes processos tecnológicos para “salvar” tais documentos. Mas é preciso que se diga que coleções formadas e guardadas em Museus possuem uma característica para além do que é oferecido por documentos bidimensionais: a digitalização ou microfilmagem torna-se inviável já que tais documentos são objetos tridimensionais, dotados de características muito específicas e únicas, e denominados por isso, de Cultura Material. A principal característica deste tipo de registro pauta-se sobre sua existência material, única e carregada de sentidos tanto quanto de forma e conteúdo.

Não há reflexão possível ou provável a partir da sua ausência ou falta. A imaginação serve pouco, pois carece de análise que só os indícios podem trazer.

O que teremos neste caso, seria uma redução das potencialidades de uma documentação nascida a partir da experiência tridimensional (cor, textura, peso, etc) para sua redução à bidimensionalidade de uma imagem escaneada. Não há aqui crítica pela crítica, mas sim uma característica indissociável do que seja o objeto tridimensional e o bidimensional. A digitalização aplicada a este conceito reduziria possibilidades de pesquisa e investigação próprios e caros à Cultura Material.

Processos de digitalização podem e devem ser introduzidos em Políticas de Preservação e Conservação de Patrimônios, mas nunca como uma medida pós tragédias. Convém que sejam pensadas e implementadas como estratégias de conservação preventiva. Para entender melhor este tema, sugiro a leitura de um artigo que escrevi intitulado “Uso de tecnologias como política de preservação e conservação de patrimônio cultural/documental“.

Uma nota de atenção
Há ainda os ditos liberais de plantão que acreditam que empresas privadas dariam melhor conta dos desafios administrativos de um Museu. Mas aí entramos em outras questões: um Museu está relacionado à Cultura e Identidade Nacionais. Não podem ter lastro com intenções e oscilações do deus mercado. Se iniciativas privadas possuem um interesse grande pela imediaticidade de retornos, custos e cifras seria muito complicado para uma instituição que tem sua responsabilidade marcada pelo seu compromisso com o tempo e longe de vínculos com o Mercado.
Se tais instituições privadas querem o bem dos Museus podem sim auxiliar fornecendo possibilidades financeiras e de boas práticas gerenciais, mas com um sentido colaborativo e não como responsáveis diretos e únicos.

Patrimônios da Humanidade pertencem ao conjunto de toda a sociedade e precisam ser tratados como bem de todos, e portanto, devendo ser garantidos através do tempo para a posteridade. Não podem estar regulados por interesses de mercado onde cifras, metas e bilheterias servem de métricas.
O papel de inciativas privadas é dotar tais instituições de condições para se perpetuarem no tempo e garantir que seus acervos fiquem guardados em segurança cumprindo seu papel histórico e social. Ao fazer isso, as empresas envolvidas estarão cumprindo seu papel de Responsabilidade Histórica para com a sociedade presente e futura.

Adendo pós-incêndio na Cinemateca Brasileira:
Um roteiro de como se destruir a Memória de um país

Tal como temia, após o incêndio do Museu Nacional outras grandes tragédias o sucederam. Em 29 de Julho de 2021, o fogo encontrou a Cinemateca Brasileira. Era mais elemento de destruição somado ao abandono em que a instituição se encontrava. Até o Ministério Público Federal chegou a processar a União por abandono do acervo em julho de 2020.
A trágica histórica da Cinemateca Brasileira encontrou seu pior enredo em 2019 quando o governo federal anunciou que não iria renovar o contrato com a organização que tomava conta da Cinemateca. Mesmo sem receber seus salários, parte da equipe que lá estava continuou trabalhando por amor ao acervo e medo que este fosse completamente destruído pelo abandono e descaso. Mas infelizmente em agosto de 2021, o secretário especial da Cultura, Mario Frias, exigiu que todos saíssem e as chaves fossem entregues. E assim aconteceu.

O restante da tragédia todos sabemos:
Filmes antigos com base de nitrato de celulose, necessitam de trabalhos de preservação e conservação como forma de prevenir incêndios e outras formas de deterioração. Sem elas o roteiro de destruição de consumaria mais dia menos dia, tal como ocorreu em diferentes ocasiões.

A Cinemateca Brasileira (criada por intelectuais amantes e estudiosos de cinema) sofreu diferentes incêndios no decurso de sua história:

1957: A Cinemateca havia se separado do MAM para obter independência jurídica e administrativa e conseguir apoio financeiro público. Finalmente havia se tornado a Cinemateca Brasileira (antes, era a Filmoteca, um departamento de cinema dentro do MAM).
“Ali, estavam guardadas películas dos primórdios do cinema nacional, documentários da vida do país” dos últimos 30 anos, diz o texto, “entre fitas do interior e películas alemãs, francesas, inglesas, russas e norte-americanas”.
1969: Um novo incêndio, desta vez em prédio dentro do Parque do Ibirapuera consumiu cerca de 300 filmes.
1982: Desta vez 1,5 mil filmes foram perdidos por um novo incêndio.
2016: Neste incêndio, foram mais de mil rolos de filmes perdidos. Segundo o site da instituição, o fogo destruiu 731 dos 44 mil títulos guardados na Cinemateca.
2021: Ainda não se sabe qual parte do acervo se perdeu neste quinto incêndio. Um manifesto divulgado por ex-funcionários da instituição lista itens do acervo que estava armazenado na Vila Leopoldina e que pode ter sido perdido ou afetado pelo incêndio. Itens como todo o acervo documental das polícias do audiovisual brasileiros, como o Arquivo Embrafilme. Também havia ali parte do acervo de documentos do arquivo Tempo Glauber, “inclusive duplicatas da biblioteca de Glauber Rocha e documentos da própria instituição”, diz o manifesto.

O manifesto dos trabalhadores da Cinemateca classifica o incêndio de quinta (29/7/21) como um “crime anunciado, que culminou na perda irreparável de inúmeras obras e documentos da história do cinema brasileiro”.

Entrevista concedida ao Jornal El País e publicada em 10.08.2021 em versão espanhola para público internacional.

É evidente que não bastam indignação, dor, revolta. Estamos diante de um projeto de destruição da cultura em nosso país. E este vem sendo vencedor…infelizmente!

É fundamental que intelectuais e profissionais de diferentes áreas e setores se unam e encontrem formas, atitudes e ações que de fato alternem este estado de coisas.

Cada um a sua maneira deve buscar forma colaborativas e criativas de ajudar a salvar acervos, história e memória. Da minha parte sigo colaborando como sei.

Como a ER Consultoria pode ajudá-lo?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria para utilizar as informações contidas nos documentos em diferentes tipos de acervos e/ou arquivos para Projetos de Memória Institucional com vistas ao fortalecimento de Identidade e Cultura Organizacional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de ofereceremos metodologias e técnicas adequadas para a Preservação e Conservação de Acervos e seus suportes físicos ou digitais.

Se você possui dúvidas sobre como tratar seus diferentes patrimônios entre em contato e encontraremos uma forma de auxiliá-lo quer por uma Assessoria Técnica Especializada ou por meio de Capacitações Técnicas ao seu corpo de profissionais.

Conheça nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer

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* Versão atualizada a partir do incêndio na Catedral de Notre Dame acontecido em 14/04/2019 e com o incêndio do Museu de História Natural da UFMG, ocorrido em 15/06/2020 e do incêndio na Cinemateca Brasileira em 29/07/2021.

Referências:
Artigo Morte da Memória Científica de José de Souza Martins, escrito em 2010 no Estadão.
A Construção do Conceito de Patrimônio Histórico: Reconstrução e Cartas Patrimoniais Reportagem  BBC – NEWS/Brasil

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Fotografia como Documento e Narrativas Possíveis

Por: Eliana Rezende*

Pare, pense e responda:
Você vai fazer uma longa viagem, somente poderá levar uma mala de mão com alguns pertences. O quê você levaria, quais objetos seriam sua escolha? O que seria fundamental?

Em 1995, a Secretaria de Saúde do Estado de New York, desativou o Sanatório Mental de Willard, em Syracuse. um edifício de arquitetura vitoriana que abriu suas portas em 1893. Antes de concluir o fechamento, o funcionário Bev Courtwright, foi incumbido de fazer uma vistoria para determinar o que poderia ser recuperado (antiguidades, mobília, etc.). Ao executá-la, o funcionário abriu a porta de um dos sótãos, e descobriu um tesouro: uma coleção de mais de 400 malas (429, mais precisamente) com pertences de antigos pacientes da instituição, datando de 1910 até fins dos anos 1960.

Craig Williams adquiriu as malas para o Museu do Estado de New York e as incorporou à Coleção Permanente da instituição. No ano de 2003 ela originou uma exposição que o fotógrafo Jon Crispin pode ver e interessou-se em documentar através de registros fotográficos tais pertences. Contar um pouco desses pacientes que, a partir de um dado momento de suas vidas foram internados e viveram ali até suas mortes. Poderiam ser trilhas para as histórias prováveis desses pacientes a partir daquilo que carregaram consigo no momento de sua internação.

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A escolha deste argumento para meu post não foi aleatória. O caso aqui utilizado como mote para o post é exatamente o quê alguém que estava sendo confinado em um manicômio levaria consigo… ou quem sabe o fariam levar para uma viagem que provavelmente não teria volta.

Belíssimo sob esse aspecto, pois aponta uma certa quantidade de valores tangíveis e intangíveis e que só fazem sentido ao seu possuidor. De qualquer forma, podemos inferir possibilidades, intenções, trechos de uma história nem dita nem escrita, apenas disposta em retalhos como num caleidoscópio.

De outra parte, e não menos sedutor para mim que sou historiadora e também arquivista, é o sentido que tal documentação de cultura material pode ajudar a tecer trilhas de existências que se foram. Achei de uma criatividade sensível incrível a proposta do artista e a forma delicada com que lançou luz aos objetos para que, combinados entre si, fossem crônica do pensado e vivido por um paciente recluso devido aos fantasmas mentais que os habitavam.

São imagens fortes, apesar do ensaio ter um quê muito sensível.
Olhar por essas frestas das histórias por trás dessas malas e de seus pertences, saber sobre seus pacientes, seus nomes e histórias pregressas é mesmo uma experiência muito forte e cheia de significados.

Quando pensamos no caso de pacientes de manicômios desse período podemos de fato encontrar historias de pessoas que foram deixadas ali por abandono ou ganância. Era comum pessoas sãs serem entregues a essas instituições por seus familiares, como forma de mantê-las reclusas.
Mas há também aqueles que, de fato, tinham do seu passado apenas sua mala. Suas memórias (bem mais precioso que podemos ter) já haviam sido perdidas.

Além disso, a fotografia, para mim, também tem um sentido muito especial.

Sou historiadora, conservadora e restauradora de fotografias dos séculos XIX e XX.
E como historiadora, lido muito com as memórias das pessoas e sei o quanto objetos pessoais são elementos de ligação com uma trajetória, um passado, uma vida. Despertam sentimentos e emoções que muitas vezes não cabem entre duas linhas. São carregadas de sentimentos e portam como poucas coisas aquilo que é precioso para cada um.

E é nesse sentido que o ensaio fotográfico é tão forte.
Somos alçados a estas vidas através de seus pertences pessoais. As malas são por assim dizer metáforas de vidas vividas que se foram, sobram como repositório de vestígios, pistas de um passado diverso.
É como se nós próprios estivéssemos embarcando em uma longa viagem.

Lógico está que esta viagem dependerá de onde partimos, com qual olhar, e com quais inquietações. Por isso a diferença do olhar do historiador, do escritor de ficção, ou mesmo de um psicólogo verá de maneira diferente do que um jornalista olhando para os mesmos objetos.
O fundamental é termos a dimensão exata do que este ensaio revela: a humanidade vivida e experienciada deixada nesses pequenos vestígios.

Através do singelo olhar do fotógrafo, foi-nos possível conhecer o conjunto de objetos, e descobrir neles indícios e links da vida vivida e sentida desses pacientes. Seu ensaio fotográfico tornou-se, pelo seu conjunto, uma narrativa.

Convido-os a vir comigo e ver o resultado desse ensaio. Preparei uma apresentação para que tenham a oportunidade de perscrutar algumas dessas muitas vidas e seus fragmentos:

[slideshare id=33919125&doc=willardasylumsuitcases1-140424183413-phpapp02]

Conheça mais o projeto e seu idealizador clicando aqui:

Na área de História chamamos de Cultura Material o trabalho de ver nesses objetos pequenas notas de existências e pequenos trechos de possíveis longas histórias.
Da reunião desses objetos tem-se uma micro-história.
Os objetos assim, possuem uma biografia, uma trajetória que o insere em um determinado contexto.

São como pontos que tecem um fio… cada fio conta uma história.

Como destaco em um artigo que escrevi sobre a fotografia e cultura material, que você pode ler na íntegra aqui, de onde o trecho abaixo foi tirado:

“Seria bom frisar que, no caso do documento fotográfico, temos sempre um objeto único e, portanto, com características muito peculiares. No entanto, se tecermos a rede das tramas que nos trouxeram a estes objetos, sozinhos ou em coleções, chegaremos a horizontes mas amplos.” (Rezende, 2007)

Lidar com tais documentos tridimensionais requereu por parte do fotógrafo um cuidado extremo, e mais do que tudo: apoio interdisciplinar de profissionais de várias áreas. Acompanhe um vídeo produzido para mostrar como foi o trabalho de produção do ensaio fotográfico:

[vimeo 29772611 w=640 h=360]

Todo esse trabalho feito pelo museu de identificar cada um dos pacientes e suas respectivas malas podem ser conhecidos, eis o link.
Gostaria que percebessem porque a História é algo tão fascinante para mim.
Na realidade, tais fragmentos abrem janelas de possibilidades que fornecem pontes de acesso, elos que ligam a um outro tempo. Sem estes toda a leitura do conjunto ficaria dificultada.

Ao fotografar tais objetos, o fotógrafo nos direciona o olhar. Fragmenta e enfoca o tema para fixarmos nossa atenção. Depois desse momento, todas as leituras são possíveis a partir do repertório, interesses e indagações de cada um.
Um historiador olhará de forma diferente que um autor ficcional, por exemplo. Cada um lançará viés próprio.

As imagens nos remetem a uma certa intimidade de um tempo e de determinadas histórias que estavam perdendo suas referências, identidades e memórias. Confinadas num espaço de reclusão podem ser alcançadas pelos rastros e vestígios que deixaram e que traziam de uma vida pregressa, que teve que ficar do lado de fora dos muros de sua reclusão.
Muitos deles deixaram suas vidas ali mesmo na instituição.
Nunca mais retornaram às suas origens.

Por serem registros tomados com sensibilidade nos trazem uma beleza quase roubada de uma existência que se foi. Uma história que passou.

O projeto do fotógrafo de fato nos permite caminhar por esse horizonte de análise de documentos e o qual convencionamos chamar de Cultura Material. Lógico que aqui não é uma aula, mas é um meio de conhecerem um pouco outras formas e fontes documentais que servem à pesquisa e à organização documental.

Percebam como ‘documento’ é uma categoria muito mais ampla do que simplesmente a que o senso comum costuma imaginar?

E, ao término, uso este post para indicar-lhes como se faz um trabalho de curadoria. Não apenas no que tange ao trabalho do fotógrafo e curadores da exposição no museu, mas para o meu próprio caso.
Notem que aqui vocês tem exemplificado como se realiza a curadoria de conteúdos. Tão em voga enquanto produto, mas muito longe de ser feito corretamente.
Espero ter podido mostrar como a curadoria de conteúdos acontece de acordo com a metodologia que indiquei em outro post, intitulado “Curadoria de Conteúdos: O que é? Quem faz? Como faz?”

Além disso, contribuiu para toda a construção do conteúdo e mesmo do ensaio fotográfico algo fundamental a qualquer profissional: saber usar a empatia. Sem ela provavelmente você não teria terminado a leitura deste post.

Encerrando, gostaria de saber:
“Conseguiu decidir o que tua mala conteria?
Que pistas deixaria para investigações e elucubrações futuras?
O que teus vestígios revelariam?
Qual seria a narrativa que tua mala possibilitaria?”

E de tudo o que viu? Qual a sua narrativa?

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor de tratar acervos documentais que possam compor patrimônio cultural documental, dentre eles Projetos de Preservação e Conservação Documental e Fotográfica.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Este post é uma versão revisada e atualizada da versão publicada originalmente no Blog Pensados a Tinta sob o título: “Como se constrói uma Narrativa Fotográfica?

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Referências:

Ginzburg, Carlo. “Mitos, Emblemas e Sinais – Morfologia e História“. São Paulo, Companhia das Letras, 1986.
Meneses, Ulpiano T. Bezerra de. “Memória e Cultura Material: Documentos Pessoais no Espaço Público”.
Meneses, Ulpiano T. Bezerra de. “A cultura material no estudo das sociedades antigas“.
Rede, Marcelo. “Estudos de cultura material: uma vertente francesa“.
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Construindo imagens, fazendo clichês: fotógrafos pela cidade“.
Rezende, Eliana Almeida de Souza. “Um Ensaio de Ego-História

Créditos:
Todas as imagens aqui apresentadas são de direitos autorais do fotógrafo Jon Crispin

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