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O Valor do Conteúdo: uma reflexão

Por: Eliana Rezende Bethancourt

A questão da produção, circulação e valor do conteúdo em ambientes digitais é um tema que interessa muito e que é fundamental quando pensamos os ambientes em que estamos inseridos, sejam eles institucionais, públicos ou privados, sejam os meios educacionais e culturais. Em outras oportunidades, falei sobre qual seria o perfil do Gestor de Conhecimento e o que seria a Curadoria de Conteúdos: quem faz e como faz.

Nesta oportunidade especificamente não me refiro à produção de Conhecimento.
Para mim, tal produção requer algo muito mais aprofundado do que a mera explicitação de conteúdo em ambiente web. Tais conteúdos são relevantes para a circulação de informação e ideias, num ambiente mais ágil que pode levar eventualmente seus consumidores e interlocutores à uma reflexão, que pode originar a produção de uma abordagem mais elaborada. Esta sim podendo ser considerada a produção de Conhecimento, que em geral, será comunicada a partir de artigos acadêmicos e/ou científicos, e que portanto, de maior fôlego para veículos próprios para isso e que alcançarão um público mais especializado e gabaritado para interação e divulgação na sociedade.

É preciso que se diga que o mundo em web oferece muitas possibilidades para a produção de conteúdo, muitos deles bastante relevantes, mas como não transformar nossa produção apenas em ruído? Como não permitir que tal produção de conteúdo signifique, apenas e tão somente, mais registros e informações que se convertem em infointoxicação, um excesso que apenas causa ruído e não favorece aquilo que chamamos de valor? Entropia.

Facilidade e imediaticidade tornam os conteúdos, muitas vezes, massivos, repetitivos e na maior parte das vezes muito raso. Muitos não chegam a dois ou três parágrafos mal desenvolvidos e/ou suportados por bons argumentos e consistência.

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De tanto ver chego a conclusão que os conteúdos em ambiente web oferecem pelo menos três dimensões de produção e propagação. Seriam elas:

Primeira, a dimensão horizontal, que é aquela que ao produzir conteúdos busca-se em outros sites e portais mais informação. É um universo de produção onde se aglutinam informações sobre informações para deles extrair mais conteúdo. Em geral, esta dimensão procura, nos seus iguais, informações para ou contestá-las ou fortalecê-las aliando-se a elas. O esforço aqui é muito mais quantitativo e por aproximação. Mas na maior parte dos casos não representa um diálogo. Neste horizonte, se não se tomar os devidos cuidados, o que acabará ocorrendo é uma cópia simplificada e rasa, ou ainda pior: um plágio por pura preguiça ou má fé.
Neste universo, o produtor ao invés de inspirar-se nos conteúdos encontrados e mostrar outras abordagens, ou aprofundar os mesmos, simplesmente cola e copia.

Segunda, a dimensão vertical. Nela há um maior aprofundamento dentro de uma determinada linha temática. A verticalização aprofunda na medida em que esquadrinha, disseca e verticaliza cada uma de suas variáveis ou aspectos. Em geral, o recurso à verticalidade dentro de um site ou portal é aprofundar temas levantados de forma superficial na abordagem horizontal citada acima. Representa, em verdade, uma tentativa de adensar alguns aspectos onde a horizontalidade não permitiu.
Quando este exercício é bem executado a produção de conteúdo começa a ganhar consistência e valor. Aqui o produtor não é um mero reprodutor do que encontrou. Começa a buscar conexões possíveis e avança, ainda que em uma única direção.
O cuidado aqui é não tornar-se monotômico e falar SEMPRE DA MESMA COISA. Isso irá dar a sensação de que o produtor de conteúdo ao invés de ser um especialista é alguém com profundos receios e inseguranças, e que só é capaz de se movimentar dentro de um quadrado bem delimitado de ideias e concepções. Acabará por também limitar e circunscrever seus leitores, que diante de tantas ofertas migrará para outra parte por começar a achar que nunca há novidades e que sempre tem-se a impressão de já ter lido aquele conteúdo.
Note que aqui o conteúdo talvez seja mesmo bom, mas a monotomia oferecida fará com que o desinteresse passe a predominar e o valor deste conteúdo diminuirá cada vez mais.

E, por último temos a dimensão transversal, que é exatamente a busca de expandir ideias para além de suas fronteiras e encontrar em informações correlatas formas de ‘alargar’ conteúdos. Neste caso, entendo que uma ou mais linhas de verticalização serão cruzadas e expandidas em outras direções a partir de outros conteúdos produzidos por outros. Assim funciona de forma muito parecida com os recursos de hipertextos que usamos em várias circunstâncias.
Para a produção de conteúdos esta dimensão é que possui maiores chances de produzir conteúdos relevantes, interessantes e diversos.
Aqui o produtor de conteúdo mostrará ousadia e estará incessantemente se desafiando e desafiando seus leitores à novos horizontes e ideais. A imaginação e curiosidade serão seus maiores trunfos, tanto sua quanto de seus leitores. Sua imaginação criativa e curiosidade o lançarão há novos horizontes que o desafiarão a estudar e conhecer outros caminhos e possibilidades, de outro lado, a sua curiosidade o alimentará na mesma proporção que seus leitores serão incentivados à ela.
Atingir este ponto é altamente compensador e os resultados visíveis.

Esta estratificação permite que a informação seja produzida e trafegue por várias instâncias, e que em especial, atenda diferentes públicos e melhore seus objetivos. Apesar disso tudo, aflige-me a superficialidade que os tempos de web oferecem. Anteriormente esta produção tinha apenas um matiz que era a forma escrita. Rapidamente ganhou formatos de hipertextos e links, para seguir por outros formatos como os podcats, vídeos sua febre mais atual, as lives. Independente daquilo que seja seus meios ou suportes de veiculação, algumas perguntas necessitam ser feitas:

Não teríamos que ir mais longe e mais fundo?
Pode ser, mas como ir contra toda uma tradição onde o mundo é compartimentado em pequenos extratos e partes, a que se chama especialização?

O que se passa?

Este compartimento esquadrinhado que o “Saber” acabou nos colocando nos leva a um ponto de limitação. O grau de especialização tornou as pessoas muito mais suscetíveis a saberem cada vez mais de uma coisa só, e este é apenas um lado da questão.
De outro lado, e não menos importante, está a defesa desta compartimentação devido às inúmeras concepções sobre o que vem a ser conhecimento.

A produção de conteúdo objetiva sempre atender um determinado público, e este a cada dia é mais diversificado na mesma proporção em que é desatento. As pessoas, que em geral, são as receptoras destes conteúdos: basicamente planam sobre os temas que são de seu interesse quicando aqui e ali sem de fato se concentrar no que busca.

Há ainda os que definitivamente não sabem o que procurar. Simplesmente esperam lançar uma palavra e lá encontrar, tanto as perguntas quanto as respostas, mesmo que não sejam as suas.

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Fico muito preocupada ao constatar que há uma massa monumental de pessoas que mesmo longe de áreas de formação, mas sim inseridas no mundo social, também acabam por preferir parcelas segmentadas de tudo. Um planar sobre tudo e uma real impossibilidade de seguir profundamente algo.

O ambiente web e todas as suas potencialidades deveriam fazer as pessoas conseguir ir mais longe, mais fundo e com muito menos fronteiras e limites. No entanto, o que vejo se configurando nesse ciberespaço é exatamente o contrário disso tudo. Talvez tenha sido essa a minha motivação de proposição: afinal porque está sendo cada vez mais difícil encontrarmos conteúdos relevantes? O que falta?
Porque será que cada vez mais as pessoas deixam de se importar e até preferem que os conteúdos sejam cada vez mais sintéticos, em nome de uma pressuposta objetividade?
É a irrelevância o maior objeto de consumo?

Mas Conhecimento não é consumo!
E aí temos um nó górdio. Nossa atual civilização se importa muito pouco com o Conhecimento. A informação massificada e generalizada à toque de uma ‘Goolgada’ leva as pessoas tanto a consumir como a produzir platitudes. A preguiça intelectual é generalizada e mantém conteúdos massificados, rasos e rápidos. As lives nos dias de hoje, tem sido um bom exemplo de platitude com pressa à mistura. A ânsia de achar que “inova” com uma resposta rápida para consumo imediato leva ao engodo de uma proliferação sem sentido e medíocre de lives para tudo e qualquer coisa. Cansam pela proposta rudimentar de repetir o mais do mesmo.

E ainda há a preguiça da produção de conteúdo de valor e original. A sociedade do copia e cola tem muitos problemas no que concerne a produção de ideias inéditas ou que ofereçam abordagens diversas das que estão em voga. Aí é muito comum nos deparamos com o pior que a produção de conteúdos pode conter: o plágio.

A questão de autoria na produção e valor do conteúdo

Atualmente a noção de autoria e produtor de conteúdo parecem confusas e se notarmos até a Lei de Direitos Autorais votada no Brasil em 1998 apresenta sérias confusões em relação a isso. Já que o produtor, em especial na web, faz isso com espírito de compartilhamento, doação em beneficio de uma “coisa pública”. Em geral, não está preocupado com a autoria porque acredita que essa é apenas uma variável entre muitas possibilidades.

Ou seja, de um lado há a ideia da generosidade de doação por parte de uns e a má fé irresponsável por parte de outros, onde deixa de creditar uma ideia, um pensamento e assim por diante.

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Fica claro portanto, que há muitas interfaces a ser tomada em consideração na produção de conteúdo.

Mas produzir conteúdo não é tudo! Sou adepta de que é preciso produzir com qualidade.
Não consigo pensar na produção de conteúdo como sendo algo sem interesse, verticalidade e profundidade, ainda que para um post que integrará um portal ou um site ou mesmo uma live.

É óbvio que é necessário criar formas de registro simples, eficientes, acessíveis e -insisto neste ponto – altamente compartilháveis, seria uma solução. Mas por outro lado, e também muito importante, seria necessário mudar a atitude dos mortais em relação ao acesso a estes registros, estas informações, e desses conhecimentos gerados.

De um lado, teríamos uma atitude que deveria ir na direção de ser capaz de veicular informações sólidas, mas de forma acessível para que cada vez mais pessoas se interessem pela consistência. Aqui a questão de saber comunicar é fundamental. A magia está em tornar simples e palatável algo que definitivamente é profundo e complexo. A mediação aqui do produtor de conteúdo é fundamental. É dele a função de agregar valor ao que expõe. Fazendo isso produz-se um círculo virtuoso de valor e não um circulo vicioso de platitudes que não servem para quase nada.

O produtor de conteúdo tem que compreender que seu papel é comunicar ideias relevantes. Pode ser um eficiente mediador entre a circulação de informação e a produção de conhecimento.

Por isso, cada vez mais sinto falta do sentido de humanismo ao qual me filio e gosto de adotar, ou seja, esse sentido de que não se deve excluir nunca. Temos sim que comunicar e intercambiar áreas, saberes, perspectivas. Oferecer sempre portas para que mais descobertas se deem. Não cabe ao produtor de conteúdo a última palavra. Ele é apenas um veículo, um facilitador para que mais conteúdo seja produzido, ainda que seja na direção oposta à sua.

Este mundo segmentado, compartimentado e fechado em si não pode ir muito longe ou avançar a outros horizontes. Quando deixarmos ruir todos esses compartimentos e muros, erguidos por vaidade ou ignorância, aí sim o Conhecimento será definitivamente algo democrático de ser alcançado e sonhado por ampla parcela de pessoas e/ou organismos.

Como podemos ajudar?
Na ER Consultoria possuímos metodologia própria, conhecimentos testados e experiência prática para auxiliá-lo na melhor configuração de uma Arquitetura de Informação para o seu Portal Institucional ou mesmo em como proceder a produção e curadoria de conteúdos que de fato atinja seu público alvo.

Veja nosso Portfólio de Cases e o que nossos clientes tem a dizer.

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Curadoria de Conteúdos: O que é? Quem faz? Como faz?

Por: Eliana Rezende
Versão revisada

O termo inquieta muita gente e, pela banalização de seu uso na mídia, causa a impressão de que afinal qualquer um pode realizar Curadoria de Conteúdo, ou como alguns preferem chamar Curadoria Digital ou Curadoria Informacional.

Em todos os casos, a questão circundante não muda muito e por uma questão que é muito mais pessoal do que de qualquer outra ordem, opto por chamá-la aqui de Curadoria de Conteúdos, já que a Informação é a matéria-prima com a qual se lida. E não utilizo Digital, por crer que o curador pode, e deve, atuar utilizando a produção de conteúdos para quaisquer suportes ou ambientes.

Já há algum tempo venho pensando em como falar a respeito do tema, tomando em conta especificamente a visão que tenho a partir de diferentes leituras e experiências que tenho tido.

Devido as amplas confusões em torno de seu uso em emprego, opto por um caminho contrário: talvez devêssemos estabelecer o que Curadoria de Conteúdos não é.

Observe:

  1. Curadoria não é simplesmente reunir e compartilhar conteúdos de terceiros nas redes
  2. Curadoria não se restringe à ferramentas tecnológicas
  3. Curadoria não está restrita à um único nicho de profissionais (encontraremos curadores entre profissionais da área de Comunicação Social, Biblioteconomia, Ciências da Informação, Ciências Humanas e outras diferentes áreas de Conhecimento)
  4. Curadoria não é editar e publicar conteúdos alheios para jornais, revistas ou sites
  5. Curadoria não é o que o chamado Marketing de Conteúdo diz fazer
  6. Curadoria de Conteúdos não pode ser confundido com o que vem sendo chamado de curadoria de informação (aqui um termo que vem sendo utilizado em especial por profissionais de informação, mas que possui uma outra forma de atuação, técnica e metodologia e em nada se assemelha ao que defino como curadoria de conteúdos).

Comecemos pelo princípio.
Se tomarmos a palavra pela sua origem, temos uma raiz que vem do latim “cura”, zelo por algo.

Os dicionários a dividem em pelo menos 4 significados:

  1. pessoa que cura um doente. Ex: Tratou-se com um curador.
  2. pessoa que exerce a curadoria de algo. Ex: o curador da exposição
  3. (lei) pessoa judicialmente incumbida de zelar pelos bens e interesses daqueles que não podem fazê-lo por si próprios. Ex:  Foi nomeado curador do órfão.
  4. (lei) membro do Ministério Público incumbido de defender pessoas ausentes, incapazes, instituições falidas. Ex: Foi indicado para o cargo de curador.

O termo desta forma remete sempre a um sentido de cuidar, zelar, proteger.

Assim, tomo em conta esta noção e saliento que o curador tem em mãos um patrimônio (i)material, e que após todo o seu trabalho o converterá para uma socialização.

É papel da Curadoria de Conteúdos oferecer um contexto e percursos alternativos ao usuário/leitor, de modo a valorizar as informações trabalhadas e disponibilizadas através do curador de conteúdos.
A necessidade e importância da curadoria de conteúdos tem aumentado na mesma proporção em que quantidades massivas de informações irrelevantes são produzidas dia a dia, gerando no usuário/leitor dificuldades em hierarquizar, priorizar e localizar o que de fato é de seu interesse.

Rosembaum (2011), por exemplo, denomina o ambiente desse volume de informações crescentes de “tsunami de dados” e Bieguelman (2011) de “dadosfera“.

Neal Gabler (2011) chegou a declarar que a era digital nos libertou para a “ignorância bem informada”. Isso porquê cada vez mais as pessoas vêm se transformando em grandes acumuladores de informação, mas já não são capazes de desenvolver um pensamento crítico e mais aprofundado das coisas.
Leia aqui o post que escrevi que trata sobre esse perfil de coletores e produtores de informação.

Um exemplo disso, é o que o recentemente um repórter do periódico The Guardian observou em pesquisa que fez verificou que de cada 100 pessoas online, uma cria conteúdo, dez interagem com ele (comentando ou oferecendo incrementos) e os outros 89 apenas leem, ou seja, continuam como espectadores passivos.
Ainda assim é um consumidor que pode ser influenciado. E portanto, alvo de diferentes mídias.
Graficamente estariam assim distribuídos:

Keen (2009), é outro jornalista e que se coloca como avesso à produção de conteúdos por internautas. Segundo ele, público e autor estão se tornando uma coisa só, e podemos estar transformando nossa cultura em cacofonia. Conheça aqui sua principal obra, e veja como ele se refere ao esvaziamento do papel de especialistas e a emergência dos palpiteiros da web que estão isentos de controle, fiscalização, abrindo com isso um território livre para plágio, calúnia, boataria e propaganda.

A grande diferença aqui é que todos os consumidores podem, se desejarem, ser produtores. Diferente do que ocorria com a mídia de controle que tínhamos antes do tempo de web, onde somente veículos institucionalizados poderiam produzir conteúdos.
A produção de conteúdo, no entanto, passa longe de ser curadoria.

Da mesma forma, que curadoria de conteúdos definitivamente não tem nada haver com curadoria de informação. Apesar da similaridade em relação à nomenclatura, o que temos é a utilização de um conceito polissêmico, mas que possui nos seus usos, aplicações e metodologias caminhos diversos e objetivos também diferentes.

A curadoria de informação aplica-se em ambientes onde dados e registros (que podem apresentar-se em diferentes suportes, de formas estruturadas ou não) necessitam ser organizados para ser disponibilizados como informação, e quem sabe posteriormente produzir conhecimento. Alguns também usam o termo curadoria digital para o trabalho que envolve a gestão de informação e a implantação de ambientes digitais onde esta informação será criada, armazenada e distribuída.
Em todos estes casos, são os profissionais de informação que serão os que farão este trabalho, e na maioria das vezes restringe-se ao trabalho de bibliotecários, cientistas de informação, arquivistas entre outros.

Explicito todos estes usos e aplicações para, a seguir, poder mostrar como a Curadoria de Conteúdos se aproxima e afasta deste termos, e talvez por isso gere tantas confusões conceituais.

É muito importante entender que a curadoria de conteúdos e seu curador, não estão restritos a uma área, e seu perfil é bem mais diversificado.  Ele exige por parte de quem deseja ser curador bem mais do que o manuseio de algumas ferramentas e técnicas.

Vejamos:

Tomando-se esse universo de grande produção de informação, diferentes pesquisadores veem tentando estabelecer quais seriam as fases que consistiriam esse trabalho de cura. Apesar de vários autores tratarem do tema não existe um consenso geral.
Apresento, portanto, alguns deles:

Segundo Weisgerber (2012) por exemplo, o trabalho de curadoria de conteúdos poderia ser dividido da seguinte forma:

  1. Achar: identificar um nicho; agregar
  2. Selecionar; filtrar; selecionar: qualidade/originalidade/relevância
  3. Editorializar: contextualizar conteúdo; introduzir/resumir (não simplesmente postar); adicionar a sua perspectiva;
  4. Arranjar/formatar: classificar conteúdo; hierarquizar; leiautar conteúdo;
  5. Criar: decidir por um formato: Paper.li, Scoop.it, Storify.Storiful, Twitter curation; creditar fontes
  6. Compartilhar: identifique sua audiência; qual mídia usam?
  7. Engajar: seja o anfitrião da conversação; providencie espaço; participe; anime;
  8. Monitorar: monitorar o engajamento; monitorar a liderança da conversação; melhorar

Creio ser importante analisar cada uma em em separado.

Curador de conteúdos

O que é?

O Curador de Conteúdo tenta encontrar entre a vasta quantidade de informação que inunda a internet, aquela que é realmente relevante aos seus usuários/leitores.
Esse conteúdo de valor deverá satisfazer as exigências de informação que tais pessoas apresentam, e que funcionaria como um antídoto contra aquilo que vem se convencionando chamar de infoxicação, da qual a rede padece de forma pandêmica.

Perceba que o objetivo é um público, e os escritos tem que ser altamente especializados. O curador será a ponte entre informação e usuário. Não pode deixar passar nada que seja relevante ou fundamental. E usará sua expertise para tanto.
É por isso, que o curador não irá simplesmente recolher ou editar textos alheios para publicar em alguma ferramenta tecnológica.
O que se espera do curador não é uma colcha de retalhos.

De acordo com minha experiência considero que as principais fases da Curadoria de Conteúdos sejam assim discriminadas:

Fases:

1 – Coleta

Esta fase é a primeira, exatamente porque é nela em que o curador toma contato com o grosso da informação disponível.

Esse momento equivale a um verdadeiro garimpo, onde vai-se buscar em meio a tudo o que se produz o que verdadeiramente tem interesse para aqueles que são seus usuários/leitores.

Nessa fase, se percorrerá todas as fontes possíveis de informação sobre o tema escolhido para cura e que estão em diferentes suportes e formatos: infográficos, resenhas, artigos, fotografias, tutoriais, etc..,.

Devido a essa quantidade massiva de informação o esforço demandado será grande e poderá significar um investimento alto em tempo despendido.

Importa ressaltar que nesse ponto já seria importante estabelecer hierarquias de valores para o que for sendo encontrado, excluindo-se aquilo que não for relevante ou que não tenha real interesse.

Considero nesse ponto, um grande teste ao curador de conteúdos: aqui começará a provar seu valor e consistência.

Deverá de pronto saber separar o joio do trigo. Não se deslumbrará e nem equivocará facilmente.
Não pode ser um compulsivo por compartilhamentos.

  1. Seleção e Criação de Filtros

Aqui é que o curador de conteúdos mostrará seu valor tanto como pesquisador como agregador.

Do universo, muitas vezes incomensurável de coisas, buscará critérios para selecionar aquilo que de fato será importante e que merece tempo e investimento em publicação e divulgação.

Um equívoco comum é achar que essa fase será simples e rápida, uma vez que tudo já foi coletado. Mas nem sempre é assim.

Esta fase pode também demandar tempo e esforço para filtrar e hierarquizar.
Cabe ressaltar que o filtro principal desta seleção é a área de conhecimento e produção do curador. Sua seleção se pautará exclusivamente sobre o que de fato entende suficientemente para posicionar-se e aprofundar conceitos e ideias.

  1. Edição, Elaboração

Nessa fase caberá ao curador acrescentar contexto ao conteúdo a partir de sua perspectiva e conhecimentos.
Lembre-se que o curador precisa ser um especialista sobre aquilo que fala.

Esta fase tem como objetivo poupar possíveis problemas, já que é nela que se examina como os conteúdos selecionados podem ser adaptados para melhor atender aos usuários. Essa adaptação pode tomar em conta: adequação ao idioma, formato para publicação, o tempo de leitura, links e hiperlinks.

Todos esses aspectos ajudam a definir qual a melhor estratégia de publicação e divulgação e minimizar erros ou fracassos dos mesmos como post ou outro meio.

Por isso, citei acima que um editor em uma redação não é um curador!

A velha e boa edição de redações em áreas de comunicação não representam e nem se configuram curadoria. A utilização do termo para estes casos é absolutamente inadequada.

4) Arranjar/formatar:

Classificar o conteúdo, criar hierarquizações e dar um leiaute à tudo o que selecionou, editou e elaborou.
O curador terá que se sentir à vontade nos meios que escolher para divulgar aquilo que amealhou e enriqueceu com seus conhecimentos.
E por isso a ferramenta importa muito pouco. Cada um preferirá esta ou aquela. O fundamental neste caso é o conteúdo a ser veiculado. Maus conteúdos ficam ruim em qualquer plataforma ou tecnologia.

5) Criar a estratégia de disponibilização/distribuição

Aqui é o momento de decidir por um formato: Paper.li, Scoop.it, Storify.Storiful, Twitter curation, entre outras.

É também o momento de creditar as fontes utilizadas.

Uma vez selecionada, filtrada, elaborada chega o momento de distribuir essa informação.

Aqui a escolha recai sobre quais os meios mais adequados para aquele conteúdo, em que faixa de horário e até o melhor dia da semana para alcançar a maior audiência para o mesmo.

É também a fase onde é testado o grau de conhecimento e interação do curador de conteúdos e sua audiência (público alvo)

O que citei acima sobre as ferramentas se aplica às redes escolhidas. É o conhecimento do curador sobre o perfil de seus usuários/leitores que o levarão para este ou aquele veículo. Se você não sabe quem é o seu público e quais as melhores formas de interagir com ele, nunca conseguirá ter conteúdos com boa circulação.

  1. Engajamento

O curador nesta fase exercitará seu poder de influência, animação entre seus usuários/leitores. Será preciso motivar, trocar e dialogar com sua audiência como forma de estabelecer a relação tão desejada de engajamento.

É o espaço de conversação e onde as relações com os usuários/leitores se estreitarão.

Daí a importância do curador ser conhecedor do tema em que faz a cura. Somente assim será capaz de instigar, tirar dúvidas, trocar, e mais do que tudo: ter uma boa reputação online. A influência acontece exatamente a partir desta qualidade e capacidade.
Se o curador não for capaz de sustentar e motivar a interação com seus leitores, não fez curadoria: apenas compartilhou. E isso, já sabemos, qualquer um em rede é capaz.

  1. Análise, monitoramento

A curadoria não termina no momento da divulgação.

É fundamental analisar de forma precisa e meticulosa todos os resultados obtidos.

Serão eles que determinarão se houve êxito na empreitada, se os objetivos e o público a que se destinava foram alcançados e com qual grau de assertividade.

Também será nessa fase que se estabelecerá estratégias futuras. A partir de erros e acertos, o curador irá aprimorar suas ações.

Portanto, essa fase tem igual peso e importância.

Erros mais comuns a se evitar:

É natural que lidando com um número tão grande de informações, ações e compartilhamentos cometamos alguns erros.

Estes aumentam especialmente se temos que fornecer conteúdos de forma sistemática e contínua.

Estabelecer crivos e filtros pode ser mais difícil do que se imagina.

Assim, aqui algumas dicas aos que desejam ser curadores de conteúdos e não apenas um compartilhador contumaz, ou um editor de ocasião:

  1. Nunca simplesmente cole e copie

Isso é desmerecer a inteligência e a paciência de seu usuário/leitor.

Cuide para não ficar repetindo chavões e fórmulas prontas. A internet anda cheia disso, e quem busca bom conteúdo não gosta disso.

  1. Nunca deixe de se posicionar. Sempre coloque sua posição

O Curador de Conteúdos deve ser antes de tudo um alimentador, fomentador de ideias. O objetivo de uma curadoria de conteúdos não é uma colcha de retalhos! Exercite sua criatividade. Vá além do dado e crie conexões e trilhas para que seus leitores cheguem aos seus caminhos com a ajuda que você oferecer.

  1. Dê sempre o crédito à sua fonte inicial

Nunca, nem sob tortura omita a fonte de onde retirou as informações. Não plagie! Nem ideias e muito menos conteúdos. Busque a autenticidade todo o tempo. Seja profissional em suas escolhas e ações. Se não for capaz disto, desista de ser um curador!
As pessoas podem não ser especialistas em muitas coisas, mas reconhecem a quilômetros um profissional que é um blefe.

Portanto, atribua créditos e tenha certeza que será igualmente respeitado e creditado

  1. Seja responsável com o que escreve

Como Curador de Conteúdos você não pode colecionar achismos. É preciso que, como especialista, saiba exatamente o que diz e porquê.
O curador deve vincular seus escritos com o seu nome. Portanto, não é apenas um conteúdo de quinta que oferecera se for pouco cioso. Estará construindo uma péssima reputação. E se de fato você estiver fazendo curadoria, estará em um determinado nicho especializado. Todos de conhecerão, tanto pelo que fez e faz de bom, mas muito mais pelo que faz de equivocado ou de forma preguiçosa e descuidada.
Zele por seu nome, sua reputação e o nicho ao qual faz parte.
Aqui é uma situação de igual profissionalismo e ética.

  1. Vá além das palavras chaves! 

As publicações precisam ter um conteúdo consistente que sirva de acompanhamento a tudo o que está recomendando.
Não escreva o óbvio e nem se restrinja a ser mero reprodutor de chavões e frases e ideias fáceis. Todos que não sabem o que fazer vão por esta via.
Escreva conteúdo de qualidade ou simplesmente fique em silêncio. O silêncio bem empregado vale mais do que mil palavras!

  1. Tenha cuidado com infográficos!

O infográfico possui como característica fundamental ser um facilitador de leitura de um conteúdo. Ele precisa e deve, por meio de imagens fazer com que o leitor/usuário fique dispensado da leitura e por meio de imagens intuitivamente apreender um conteúdo.

Mas, o que temos em muitos casos são verdadeiros poluidores de imagens e textos que geram mais confusão e ruído informacional do que qualquer outra coisa. Não se deslumbre facilmente por eles!

Recomendo a leitura deste excelente post que dá muito boas sugestões sobre o que tomar em conta quando se elabora um.

Algumas qualidades que são fundamentais para um Curador de Conteúdos:

  1. Precisa ter espírito curioso

Sem essa qualidade estará sempre no mesmo lugar. A curiosidade movimentará suas buscas e será fonte de inspiração para seus usuários/leitores. A curiosidade alimentará a si próprio ao mesmo tempo em que estimulará seus leitores/usuários.

  1. Precisa ter espírito sintético, já que deve funcionar como um filtro entre a informação e seus usuários/leitores.

Seu papel e função é exatamente ser capaz de reduzir tudo ao mínimo indispensável e de forma clara, objetiva e instigante. Mas sem omitir o que seja importante.

  1. Precisa ser empático

Se interagirá entre conteúdos e usuários/leitores precisa ser capaz de sentir o humor, as vontades, as necessidades de quem está do outro lado.

É muito importante que saiba colocar-se do lado de onde está seu usuário/leitor para perceber quais são as suas expectativas, necessidades, vontades.

Fazendo isso conseguirá um caminho estreito entre si  e o outro e a isso chamamos de diálogo.

A empatia gerará também confiança por parte do usuário/leitor e isso como vimos acima é fundamental na construção de uma boa reputação online.

  1. A proatividade é outra característica importante.

Tê-la significa antecipar-se sempre às necessidades e demandas de seus usuários/leitores e significará que sempre estará um passo adiante.

  1. O curador de conteúdos precisa ser um especialista do tema que escolher para curar.

Não é possível planar sobre várias coisas.

O Curador de Conteúdos terá que definir, para o bem e qualidade de sua permanência no meio, sobre qual será o âmbito de sua curadoria. Por isso, sugere-se que seja uma área em que domine e que possa ser considerado um especialista.

Caso não o seja, rapidamente poderá ser identificado como apenas um charlatão ou reprodutor puro e simples de ideias alheias. O que definitivamente não deve ser o caso.
Imagino que isso seja a última coisa que alguém que quer ser curador de conteúdos deseje ser.

Portanto, não vá além daquilo que você sabe! O limite de um curador, como tenho dito, é sempre a sua ignorância. Este é o momento de parar.

Quem está em busca de bom conteúdo saberá identificar rapidamente imprudências, superficialidades e engodos.
E caímos novamente no que pode ser o contrário de ter uma boa reputação online

Ainda um alerta: ser especialista em uma área não significa ser monotônico, ou seja, sempre falar das mesmas coisas. Isso vai cansar o público alvo. Rapidamente as pessoas pararão de lê-lo, pois sempre terão a impressão de que você fala de uma coisa só todo o tempo. A criatividade é fundamental nesta hora e ajudará a trazer ar frescos a antigas ideias.

  1. Saber exercitar a crítica

Aqui não é a crítica pela crítica, mas alguém com profundidade e consistência suficiente para, ao se defrontar com diferentes informações, saber qualificar o que lê na medida correta.

Graficamente teríamos:
[slideshare id=33345876&doc=curadoriadeconteudofinal-140409202705-phpapp01]

Trocando em miúdos

De tudo o que citei acima, vejo que um cuidado a se ter na Curadoria de Conteúdos é a acuidade nas escolhas.
Se não for seletivo e atento pode-se “atirar” para vários alvos e acabar afastando leitores. Sentir esse humor do usuário/leitor é fundamental.

Não vejo como sendo uma atividade a ser desenvolvida de forma restrita por esta ou aquela profissão. O Perfil deste profissional está muito mais ligado a uma habilidade do que propriamente a um diploma. O que de fato importa é que este profissional tenha profundo conhecimento da área em que atuará.
E que não seja necessariamente este ou aquele profissional oriundo desta ou daquela formação.

Além disso, o curador deve ser capaz de movimentar o tema e interagir quando for necessário. Se apenas reproduzir as notícias sem o trabalho de posicionar-se sobre as mesmas o conteúdo se transformará rapidamente em apenas mais um site de atualização de notícias. O que não vejo que seja o caso e nem o objetivo desse profissional.

Este trabalho de fato é técnico, mas requer grande habilidade e sensibilidade do outro. Este talvez seja o grande diferencial do Curador de Conteúdo. Conseguir ter repertório que sustente suas sugestões de conteúdos, encontrar temas relevantes e adequá-los ao seu público leitor é uma tarefa muitas vezes árdua e de “alta-costura” (requer paciência e cuidado). E o que é principal: deve posicionar-se de forma crítica ao mesmo tempo que acrescenta informação que venha complementar a sugestão de conteúdo inicial.

Talvez esteja aqui a maior e principal dificuldade da curadoria. Não somos capazes de falar com propriedade sobre tudo o que achamos interessante.
O limite para o curador será sempre sua própria ignorância!
Para manter a consistência terá que estar focado não apenas no que o seu público quer, mas também naquilo que pode comentar e contribuir com segurança e profundidade.

É preciso dar corpo e voz ao conjunto de postagens e fazer com que toda uma comunidade interessada no tema tenha conhecimento agregado a partir da verticalização que cabe ao curador.

Após toda esta explicação metodológica, recomendo a leitura do meu post “Fotografia como Documento e Narrativas Possíveis“, onde procurei exemplificar como se faz um trabalho de curadoria. Não apenas no que tange ao trabalho do fotógrafo e curadores da exposição no museu, mas para o meu próprio caso. Notem que neste caso vocês tem exemplificado como se realiza a curadoria de conteúdos. Tão em voga enquanto produto, mas muito longe de ser feito corretamente.
Espero ter podido mostrar com ele como a curadoria de conteúdos acontece de acordo com a metodologia que indiquei neste post de Curadoria.

A Curadoria não é fácil e exige muita leitura e disciplina. Isso eu garanto!
Mas de outro lado, é muito bom ver o quanto isso faz da comunidade usuária/leitora coesa e consistente.

Mas tudo falharia se não houvesse interlocutores.
Sem estes nenhuma curadoria faria sentido!

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Referências

  • Amaral, Adriana; Aquino, Maria Clara. Eu recomendo…e etiueto. Praticas de folksonomia dos usuários di Lst.fm, Revista Libero, n. 24, Ano XII
  • Belguelman, Gisele, Curadoria de Informação. Palestra, USP 2011. [Link:]
  • Jenkins, Henry. Cultura da Convergência, São Paulo, Aleph, 2006
  • Keen, Andrew. O Culto do amador. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2009
  • Recuero, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009
  • Rosenbaum, Steven. Curation nation. Why the future of context is context. NY: McGraw Hill, 201
  • Site e Infográficos:
  • Link 1: 
  • Link 2: 
  • Link 3:

Agradecimentos:

  • Lionel Bethancourt por leitura atenta e cuidada e auxilio em diagramar ideias transformando-as em imagens.
  • Victor V. Valera por ser interlocutor atento e me despertar para uma série de temas relacionados à Curadoria de Conteúdos, e que me serviu de inspiração para muitos dos temas tocados nesse post.

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