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Memórias de uma Biblioteca pessoal convertida em Acervo Institucional

Por: Eliana Rezende Bethancourt 

O espaço doméstico circunscreve escritas. Escritas de vida, de opções, caminhos feitos ou abandonados, viagens, experiências, saberes e leituras. Pensar o espaço doméstico significa entender que ele é preenchido com escolhas e experiências sensoriais, pessoais, afetivas, eletivas, intelectuais e sensíveis de seus moradores. A organização dos seus espaços e suas disposições surgem como um vasto vocabulário sobre modos de viver de seus moradores. Dessa forma, uma biblioteca pessoal no espaço doméstico possui aspectos fascinantes se analisada minuciosamente, buscando interpretar essa sua inclusão.

A biblioteca pessoal em nada se assemelha à uma Biblioteca Institucional por uma infinidade de motivos e que tentaremos explicitar neste artigo.

A maneira como optamos por organizar nossos livros, sua disposição no espaço da casa e a maneira como revelam nossas preferências e interesses são verdadeiramente fascinantes.

Podem ser despojadas, meticulosamente compartimentadas e organizadas. Simplesmente não importa.
Representam o caminho de uma vida.

Como as pessoas, os livros possuem uma identidade própria, e se bem ‘lidos’ em seu conjunto pelos que observam uma biblioteca pessoal, poderão descobrir o quanto estes volumes reunidos deram a seus leitores.

Os livros são testemunhas silenciosas das vidas que tiveram. São capazes de nos dar muitos sinais: a dedicação de horas a algumas leituras pode deixar marcas e rastros: as páginas podem ficar amarelecidas por terem sido muito folheadas.
É leitura multissensorial (feitas com os olhos, mas também feita com o tato e até o olfato). Esse contato deixa rastros e sinais nas páginas: dobradas, marcadas ou até mesmo inscritas. Isso ocorre quando essas páginas se transformam em breves esboços dos caminhos e reviravoltas do pensamento diante da leitura.

Divagamos entre o espaço entrelinhas ou entre parágrafos, delimitamos suas margens.
Existem momentos que são pausas e os dedos parecem percorrer as frases que expressam um sentimento, uma ideia, uma justificativa… um conceito.

Enfim, as margens como as que circundam um rio servem de pausa ou mesmo reflexão para uma mente que às vezes deambula, vagueia e saltita, entre a agitação ou a calmaria de um pensamento, um sentido, uma essência, uma lembrança ou uma conexão. . 

Em alguns casos, os livros tornam-se suportes de outras memórias que não estão explícitas em grafismos e letras: há os marcadores oficiais que são ao mesmo tempo uma publicidade, ou um desejo de consumir uma leitura no futuro.
Entretanto, é possível improvisar: podemos encontrar entre suas páginas notas ou recibos de uma compra ou um café onde o livro era a companhia perfeita, folhas e flores secas, cartões postais, fotografias, bilhetes ou ingressos. Todas inscrições materiais sobre momentos vividos e compartilhados entre uma pausa de leitura e outra. Ou quando estes passeiam com seu leitor por diferentes lugares: um café, um jardim, uma praia, um museu…ou até como ocorria em bons tempos, uma sala de cinema com filmes fora de circuitos comerciais e lixo pirotécnico denominado filmes de ação.

A biblioteca pessoal é assim um amálgama de memórias. Por entre seus volumes trafegam tempo, imagens, percursos físicos ou apenas de alma. Representam muitas vezes, o espaço do hiato entre o sentir e o pensar. São um território livre para uma mente andarilha e uma alma que busca por espaço.
Se nos detivermos às suas marcas descobrimos, tal como um detetive, o valor de cada via trilhada.

Percorrer seus volumes significa observar como caminhos foram alterados, interrompidos, aprofundados… ninguém permanece o mesmo no decorrer da sua construção intelectual e de sensibilidades. A biblioteca, sem dúvida alguma espelha as rotas por onde seu leitor vagou, se interessou ou simplesmente abandonou.

Às vezes, tais bibliotecas se apresentam com estantes bem organizadas, com volumes cuidadosamente dispostos numa lógica sui generis e pessoal. Mas há os casos em que a desordem nos apresenta uma lógica própria, singular e hierárquica de prioridades e valores.
Provavelmente os volumes mais desorganizados colocados sobre móveis, poltronas, mesas e sobre prateleiras organizadas significam exatamente a preferência e a prioridade de leituras. Não estão perdidos ou desprezados como poderíamos supor. Em verdade estão sempre presentes e à mão, acompanhando o leitor em diferentes fases e momentos. Não tê-los à vista ou na distância do movimento dos braços, pode gerar, em alguns, ansiedade, desconforto ou mesmo o receio de perda.

No seu todo, os volumes reunidos também nos fornecem tons, espessuras, texturas, alturas, formatos, design gráfico, tridimensionalidade. Explodem num espetáculo de tons, matizes e grafismos. Apanham nosso olhar e com ele dialogam.
Olhados no seu todo, permitem que sejam conhecidos o conjunto de temas, autores ou preferências várias do seu acumulador.
Representam e espelham o que é de real significado para seu possuidor e como este dialoga com seus escritores e obras preferidas. As ausências sentidas também indicam escolhas e preferências. Como ocorre com o silêncio, a ausência de certos autores por um perfil de leitor indicam também uma forma de comunicação e interação.

Em geral, as bibliotecas pessoais longe de possuírem uma organização técnica, possuem uma organização preferencialmente temática que se aglutina por uma hierarquia de gostares e prazeres de seu leitor/acumulador.

Cada autor ou tema representa para seu leitor um percurso pessoal de construção de pensamentos e experiências. 
Muitos dos seus volumes têm histórias que antecedem sua aquisição.

É normal que o colecionador se lembre onde e como teve contato com determinada obra e o que sentiu ao ler pela primeira vez o livro. Pode ter sido aquela leitura rápida de uma aba numa livraria ou num aeroporto qualquer enquanto esperava por um outro compromisso ou afazer. 

Há também os livros reservados para um dia ser lidos.
Estes, representam um ardente desejo de posse e uma inexplicável ausência da oportunidade, a tão esperada leitura que sempre fica adiada para um futuro incerto tanto quanto improvável.

E como não falar dos volumes repetidos?!
Quantas vezes o temor de não possuir nos faz comprar um determinado livro mais que uma vez?
E como não falar sobre aqueles que são atualizados em seus suportes: dos xerox em tempos de dificuldade financeira enquanto fazia a Faculdade às edições de capa dura de anos futuros.
Mais recentemente, alguns ganham uma edição kindle.
Não há preconceitos: apenas afetos! 

Esteticamente estes volumes carregados de afeto e palavras podem dividir espaço com outros objetos de cultura material, que servem como suportes a outras memórias, como: discos, CDs, fotografias, pequenas esculturas e miniaturas que remetem à lugares, viagens, lembranças, presentes. Dispostos de formas várias contam uma história de percursos diversos que entrecortam a vida pessoal e/ou profissional do leitor.
Dialogam sobre a personalidade de seu colecionador como se alfabeto fossem.
Dispostos em prateleiras, mesas, descansos, banquetas, apoios: inscrevem e marcam um espaço que não é apenas o físico. É também cultural e emocional.
Marcam posição por categorias internas de valores imateriais. Daí estarem tão próximos do que consideramos Memória.  
Trazem Identidade à biblioteca por meio dos elementos dispostos como aparente ornamentação por seu colecionador, mas ao olhar atento de um pesquisador trará um repertório imenso de hipóteses e investigação.

O livro assim, como objeto, é carregado de informações não apenas escritas, mas também de sentidos culturais ou de apropriação cultural.
Tê-los em determinada ordem ou local representa a forma como concebemos nosso imaginário. Materializa o que somos por partes. A biblioteca por seu todo revela quem somos, de onde viemos, para onde e por onde caminhamos.
É assim uma obra aberta enquanto existimos.
Estará completa apenas quando não estivermos mais aqui. Neste ponto de nossa jornada cruzará nossa história com os percursos de outros e provavelmente, se converterá em uma terceira entidade, com a matriz de seu possuidor como ponto inicial. 
Vale aqui pensarmos nas bibliotecas herdadas, que se somam à outras em conjuntos variados, às vezes pessoais, às vezes institucionais.

E como toda joia exposta, precisam de locais e materiais que sirvam para sua exposição.
Madeiras, metais, vidros, tijolos, bambus…todos materiais que garantem a estabilidade necessária para que ali adormeçam e sirvam de companhia. 

O espaço também se desenha não apenas a partir de seus formatos, mas em especial por seus tons que oferecem personalidade e conexão profunda com o emocional e até o espiritual. 

Eventualmente haverá espaços para leitura, composto por aquela poltrona procurada por tempos, um recamier ou sofá com a luz certa e direta para cada momento.

A luz externa será bem vinda e é comum que diferentes seres vivos partilhem o ambiente. Folhagens, orquídeas, arranjos florais vários trazem à vida constituída de outras sensibilidades e odores.
Compõem um quadro onde sensações e estéticas diversas se aliam e trazem conforto e paz. Converte-se em um refúgio para a alma descansar e o espirito se expandir.

Por todos este motivos, a composição pessoal e intransferível. Faz parte do cultivo pelo tempo de cada um dos objetos ali dispostos.
NUNCA estará concluída e sempre guardará um espaço remanescente para a mais nova aquisição. 

As bibliotecas pessoais que vencerem este desafio ganham um novo status: a imortalidade da trajetória de pensamento de seu detentor.
O caminho e o itinerário de sua coleção será um exemplar único de uma história única.
Será um volume que contempla uma existência inteira.
E só assim terá sua identidade conhecida por todos. 

Bibliotecas pessoais quando são convertidas em Acervos Institucionais

Se as bibliotecas pessoais possuem toda a riqueza de detalhes explicitada acima, é fundamental que as entendamos em toda a sua complexidade quando forem convertida em uma Coleção para integrar uma Acervo dentro de uma instituição.

É usual que algumas bibliotecas pessoais, por seu caráter singular e específico mereçam ser recebidas quer como doação, quer como aquisição para integrar Acervos maiores que se encontram em instituições de Ensino e/ou Pesquisa.

Entender a lógica de organização de uma biblioteca pessoal é fundamental do ponto de vista de uma Coleção ou série Documental. Aqui diferentes profissionais terão olhares diversos sobre estes itens e volumes que compõem uma biblioteca pessoal.
Bibliotecários, Arquivistas e Historiadores terão olhares múltiplos e diversos sobre este conjunto, que poderá e deverá ser considerado um conjunto documental.

Como tal, e até para que não se perca seu sentido de “fundo” documental não deveria ser mutilado numa organização técnica por meio de catalogação decimal. Que apesar de correta, do ponto de vista técnico, perderia o sentido que seu colecionador resolveu dar à sua biblioteca.

Um historiador e um arquivista preferirão manter a organização original dada por seu acumulador, pois assim manterão todas as conexões e hierarquias de seu colecionador original.

Como conjunto, uma biblioteca pessoal pode ser um excelente meio de preservação da memória individual, e como tal pode perfeitamente ser organizada tomando-se como princípio teórico-metodológico o chamado respeito aos fundos, que em linhas gerais não destrói esta ordem original no momento em que faz a organização deste conjunto documental.

Apesar de possuírem objetivos de recolher, preservar, organizar, catalogar, indexar conjuntos documentais cada instituição o fará de forma e premissas diversas: o bibliotecário tomará a informação que cada documento traz, ou seja, tomará o conjunto como uma soma de entidades autômanas.
arquivista estará preocupado com as conexões institucionais entre colecionador e funções administrativas e relações de prova que os documentos possam oferecer. Estará preocupado em entender de que forma tal acervo se relaciona às funções desempenhadas por seu colecionador.
Já um historiador analisará o conjunto documental como sendo um potencial fornecedor de Memórias, subjetividades e possibilidades históricas. Mas NUNCA considerará as partes como sendo autômanas. SEMPRE considerará as relações entre TODAS as partes.

A grande limitação que vejo em uma organização para uma biblioteca pessoal é a utilização de um padrão de organização decimal como estabelecida por bibliotecários.
É limitador por, pelo menos, 4 motivos:
1. A CCD (Classificação Decimal de Dewey) foi construída como uma forma de organização do Conhecimento Humano divido em 10 grandes áreas. Mas todas elas a partir de conhecimentos e áreas do século XIX. Isto por si só é um grande problema, pois apesar de suas atualizações elas representam uma divisão conceitual própria do século XIX, e com todos os seus vícios e problemas eurocêntricos.
2. Ela não é suficientemente abrangente para áreas intertrans e polidisciplinares, causando vários problemas para a quantidade de áreas que temos hoje em dia. Basta falarmos por exemplo em Memória Social, Sustentabilidade, Humanidades Digitais, Estudos Ambientais para ficarmos em apenas alguns temas. Não há uma caixa padrão onde todas estas áreas possam estar.
Atribuir uma organização decimal aqui é matar as relações entre as diferentes áreas.
3. E talvez a pior de todas as limitações é ela ser excludente, ou seja, é feita apenas para ser entendida por pares. O que inviabilizará a compreensão da biblioteca como um todo de forma intuitiva com valorização cultural da mesma.
4. Vivemos em tempos de desintermediação de informação. A partir do momento que tentamos hierarquizar de forma tão milimétrica o que são, não apenas livros, mas todo um conjunto de saberes, fazeres e construção cultural presente em uma biblioteca pessoal temos uma perda incomensurável.

Na concepção tanto arquivística quanto histórica o documento NUNCA é visto como uma unidade autônoma. Sua preservação, contextualização e análise só podem ser pensadas em conjunto, até para que não seja perdida sua inserção histórica, social, cultural.

Neste sentido, a biblioteca pessoal pode ser pensada como um ato de comunicação, já que seus volumes dialogam com as ideias e perspectivas de vida, emocionais e intelectuais de seu acumulador. Como um alfabeto, os volumes dispostos nos permitem entrever histórias e itinerários…tanto de vida como profissionais.
E há os diferentes suportes que a compõem e que não se inserem como volumes. Citamos acima o exemplo de fotografias, CDs, quadros, pinturas, objetos tridimensionais vários (medalhas, troféus, placas, álbuns, miniaturas), esculturas e até plantas!

O que é fundamental ter em mente ao se deparar com uma biblioteca pessoal é não perder de vista a trajetória pessoal e profissional de seu acumulador (um seu avatar). Ao ser incorporada em uma instituição estes traços precisam estar presentes e explícitos para que não se perca toda a riqueza intelectual e cultural que representa.

Falamos da Identidade que CADA UMA das bibliotecas pessoais possuem, e que se estes volumes forem subtraídos de seu conjunto e ordem orgânica dada pelo colecionador muito será perdido.

Um outro exemplo que gosto de citar e que já escrevi sobre isso são as Cavernas como Acervos Vivos: seu valor de Patrimônio Natural. Como um todo, elas compõem um grande acervo vivo de elementos diversos. E podem sim ser pensados uma biblioteca.

Há também os jardins pessoais onde o conjunto de plantas, folhagens, árvores, lagos e fontes compõem uma acervo que pode ser pensado também como uma biblioteca viva. Neste caso, compreender o colecionador, suas preferências técnicas, intelectuais, culturais por meio de sua biblioteca pessoal é fundamental. Aqui podemos citar o caso de Burle Marx. Não foram apenas seus jardins que entraram no processo de organização documental. TUDO o que diz respeito a ele foi considerado: a casa, biblioteca e obras diversas.
O acervo do Instituto Burle Marx reúne uma diversidade de formatos, materiais e técnicas, totalizando mais de 150 mil itens em diferentes coleções.

Abaixo temos uma representação gráfica dos números do acervo e seus tipos documentais que fazem parte do Acervo da Instituto Burle Marx:

Um exemplo específico que gostaria de destacar neste caso é o trabalho de conjunto e interdisciplinar para que não fossem perdidas todas as dimensões da pessoa, o intelectual, o artista, o cidadão. A complexidade de tais acervos é fenomenal e por isso as soluções PRECISAM ser pensadas de formas diversas. Existem ferramentas acessíveis e metodologia capaz de lidar com tais complexidades. Quase nada mais é impossível.

Note a observação sobre o acervo:

De tudo o que foi dito, é preciso frisar que a lida com bibliotecas pessoais requer por parte do profissional que a tratará uma profunda sensibilidade e rigor teórico metodológico, não para impor uma organização técnica limitadora. Será seu papel dar voz a alma que esta biblioteca já possui.

Aí está o segredo!

Como a ER Consultoria pode ajudá-lo?

Na ER Consultoria possuímos metodologia própria para utilizar as informações contidas nos documentos em diferentes tipos de acervos e/ou arquivos para Projetos de Memória Institucional com vistas ao fortalecimento de Identidade e Cultura Organizacional em empresas de diferentes segmentos e suas áreas de atuação. Além de ofereceremos metodologias e técnicas adequadas para a Preservação e Conservação de Acervos e seus suportes físicos ou digitais.

Se você possui dúvidas sobre como tratar seus diferentes patrimônios entre em contato e encontraremos uma forma de auxiliá-lo quer por uma Assessoria Técnica Especializada ou por meio de Capacitações Técnicas ao seu corpo de profissionais.

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Bibliografia de Referência:
BARROS, Moreno. O futuro da Biblioteconomia. Briquet de Lemos, 2016.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. 2. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2004.
CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Arquivos pessoais são arquivos. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, ano XLV, n. 2, p. 26-39, jul.- dez. 2009.
CAMPOS, José Francisco Guelf (Org). “Arquivos Pessoais: experiências, reflexões, perspectivas”. Eventus 4. Associação de Arquivistas de São Paulo (ARQ-SP), São Paulo, 2017
GOMES, Thulio. Os limites de Dewey. Blog Biblioo, 2013.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. A crise da memória, história e documento: reflexões para um tempo de transformações. In: SILVA, Zélia Lopes da (org.). Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo: Editora Unesp; Fapesp, 1999, p. 11-29.
REZENDE, Eliana Almeida de Souza. “Um Ensaio de Ego-História“, Revista Sustinere, UFRJ, 2016.
______________________________.  “Memórias digitais em busca da eternidade e o papel do profissional de informação em tempos de geração touchscreen“. Memória E Informação3(1), 36-48, 2019
RODRIGUES, A. M. L. “A teoria dos arquivos e a gestão de documentos”. Perspect. Ciênc. Inf., Belo Horizonte, v.11, n.1, p. 102-117, jan./abr. 2006

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Quando as livrarias morrem…

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Recentemente tivemos o fechamento de muitas livrarias não apenas no Brasil mas pelo mundo à fora. Fato que nos causa certa estranheza por seu significado, já que ao ‘morrerem’ levam consigo todo um modo de convívio possibilitado por suas prateleiras e frequentadores. O vazio deixado ultrapassa questões como salões e lojas vazias. O que o corre é uma morte simbólica de muitas formas de vida e de trocas: a intelectual, a cultural, a criativa, a recreativa, a afetiva.
Explico:

Cria de São Paulo, o percurso por livrarias e sebos da cidade faziam parte de meus itinerários propositais: de livrarias pequenas em alguma esquina de alguns bairros à grandes livrarias com acervos imensos havia de tudo. Nos meus tempos da faculdade existiam as livrarias espalhadas pelo Campus que ofereciam temas e autores muito específicos de cada área. Era fácil nos perdermos entre suas prateleiras e folhearmos com voracidade os exemplares que estavam ali para serem manuseados, folheados, apalpados, cheirados e até “degustados”, aumentando ainda mais o desejo de trazê-los para as prateleiras de casa. 

E assim, a cidade tinha para mim como suas referencias as livrarias e os quarteirões em que elas existiam, e as cafeterias que as acompanhavam. Eram circuitos completos de possibilidade e relações, onde a história da cidade e a minha própria história se entrecruzavam e faziam surgir memórias com notas diversas: desde as olfativas às gustativas e emotivas. Alguns trechos especiais ofereciam, cinemas com livrarias e cafés como era o caso do Belas Artes ou dos cinemas da rua Augusta que foram se sucedendo pelos anos até finalmente baixarem suas portas. Pelas ruas que formavam apenas alguns quarteirões tínhamos o melhor de livros de Cultura & Arte, mas não apenas nas livrarias. À noite os vendedores de livros usados montavam suas bancas e vendiam ou trocavam com outros. Eram roteiros perfeitos com caminhos perfeitos, estimulavam paixões, imaginação, introspecção e mergulhos profundos a ideias diversas desenvolvidas em diferentes tempos. Os autores serviam como vozes de inquietação e estímulo, além de companhia perfeita para tardes chuvosas e cantos acolhedores. Às vezes, estes livros nos faziam companhia nos transportes públicos ou momentos de longas esperas. 
Eram fiéis companheiros nas idas às bibliotecas enquanto pesquisas eram desenvolvidas. Mundos e civilizações se descortinavam… sociedades e comportamentos analisados. As livrarias serviam como bunkers que nos serviam de proteção ou ataque ao que quer que fosse. Sentíamos que estávamos abrigados e protegidos com os nossos.

Mas a cidade foi sendo ‘consumida’. Numa autofagia muito própria, diferentes territórios foram desaparecendo dando vez para que cinemas virassem templos, antigas residências que formavam um quarteirão inteiro viravam da noite para o dia estacionamentos. Em outros casos, incorporadoras que conseguem tornar caixas de 15 metros quadrados em ‘loft‘. Palavra chic que significa apenas que você come, dorme e vive num cômodo apertado. O adensamento populacional trouxe gentrificação aos locais e antigos lugares de encontros possibilitados por livrarias ou pequenos livreiros foram sendo simplesmente abduzidos.  

Em verdade, em muitos bairros as livrarias foram simplesmente desaparecendo, deixando para trás a memória dos que ali iam, liam e trocavam experiências, leituras… vidas. 
As portas baixadas, com seus letreiros desatualizados e em vários casos, as pichações indicavam que as livrarias que ali habitavam haviam deixado de existir e que nunca mais retornariam. As fachadas se transformavam em um grande epitáfio simbólico da morte literária ocorrida.

Afinal, o circuito propiciado por livros, leitores e locais que abrigam leitores e ideias, fazem com que haja uma rede de circulação criativa. Se os lugares que abrigam tais livrarias começam a desaparecer uma ‘morte’ metafórica começa a ocorrer. 

Uma livraria, tal como uma biblioteca é um espaço múltiplo e diversificado que oferece em suas prateleiras títulos, sonhos, visões, caminhos… Quando deixam de estar ali presentes deixam todo um espaço de vivência, como se fosse uma grande e irremovível cratera. 
Torna-se um não-lugar, já que até um determinado ponto era referência e lugar.

Mas como poderiam morrer? 

As livrarias não morrem apenas quando baixam suas portas. Morrem todos os dias quando suas prateleiras precisam ser preenchidas com joguinhos eletrônicos, artesanatos, quebra-cabeças e pequenos objetos que servem às lembranças. Quando os marcadores de páginas deixam de existir, pois muito lerão apenas pequenos trechos em suportes digitais. 

As livrarias começaram a morrer, quando os textos pararam de ter o tamanho que seu escritor queria para que suas ideias se expandissem e brincassem com o imaginário de seus leitores. Aos poucos, os livros começaram a ter que ser escritos com poucas palavras e passaram a ser recheados com mais imagens. Os textos, que antes circulavam entre pessoas no formato de livro percorrem agora uma teia digital que usa emogis para indicar a qualidade do escrito. 

E não apenas isso! 

Os formatos digitais oferecem as editoras como a Amazon a possibilidade de saber o número de páginas lidos por um leitor, em quanto tempo, e se foi deixado em algum momento da leitura. A métrica serve de indicador para a editora saber se certo gênero ou autor merecem ou não ser publicados.

E assim, numa relação que era apenas entre leitor e escritor, entra uma figura estranha e algorítmica que determinará a morte literal deste ou daquele escrito e autor. 

Ainda tomando-se em conta este novo mundo livreiro de mensurações algorítmicas, novas perdas se somam: 

O mundo cada vez mais digital, cada vez mais distante e solitário é também mais bruto e literal. Afinal, para que gastar com metáforas que estimulem imaginação?! 

Os escritos seguem rápidos e ágeis para combinar com atenções cada vez mais dispersas. A escrita cada vez mais linear se assemelha ao mundo das animações, onde mais que um roteiro bem escrito, utilizam em sua maioria sons e cores que impactam.  

Mas as livrarias não começaram a morrer com o mundo digital somente. Elas começaram a morrer bem antes, quando os leitores começaram a rarear e quando a sobrevivência de grandes livrarias parecia estar ligada à existência de outros atrativos para além dos livros.  

Em minhas memórias, o maior exemplo que tive foi a Livraria Cultura localizada na Av. Paulista dentro do Conjunto Nacional. Acompanhei todo seu caminho de crescimento e ampliação, sua transformação em uma espécie de shopping onde você podia ouvir CDs antes de os comprar, leituras dramáticas, jogos, e uma quantidade infinita de lembranças eram oferecidas aos visitantes. Quando chegou a este ponto deixou de ser minha livraria do coração para ser convertida em ponto turístico e os que ali estavam não tinham nada que ver com a cidade que havia crescido e vivido. Eram estranhos visitando um lugar, não era a livraria que servia de ponto de encontro de todos que moravam ou trabalhavam na região. Essa mudança foi muito profunda e sentida por mim. Aos poucos, as livrarias especificas de Arte e Tecnologia foram novamente reunidas. Num dia andando desavisadamente encontrei no espaço de livros de Arte um mercadinho de conveniência do Carrefour Express. Senti como que uma facada no peito. A seguir, até o Restaurante e Café Viena baixou as portas. Entendi que era hora de parar pois a minha livraria já não estava mais lá. Havia se convertido em apenas um produto, e que não resultou em todos os seus esforços: faliu! 

Ou seja, o caminho de morte das livrarias físicas é um fato corriqueiro em todas as grandes cidades do mundo contemporâneo. Os livros continuam a ser lidos e consumidos, hoje com muitas possibilidade de suportes, mas os livros apenas nos chegam através dos correios. A vida trouxe-nos a possibilidade da entrega à domicílio e assim seguimos, mas sem nos conectarmos com o circuito que existiria se tantas livrarias não tivessem desaparecido. 

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Livro é Magia Encadernada

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Você imagina o que acontece quando todas as luzes se apagam e a noite cai dentro de uma livraria? O diretor de arte Sean Ohlenkamp tentou descobrir: passou quatro noites em claro  na Livraria Type, localizada em Toronto. Quer saber o que descobriu?
Grandes e inusitadas movimentações!

Assim, brincando com as posições dos objetos, suas formas, cores, texturas surgiu o stop-motion The Joy of Book.  Uma animação onde o espaço enche-se de magia e diversão.
Assista o vídeo (que acabou se transformando em viral) e que povoa a mente e a imaginação de muita gente.
Chegou sua vez!

Type Books – Director, Editor, and Cinematographer Sean Ohlenkamp

Todo esse incentivo para que a animação fosse vista foi apenas um pretexto para falar sobre nossa relação com livros, livrarias, bibliotecas e afins.
A ideia foi estimular os sentidos: às vezes é tão simples!

Se pensarmos, uma livraria tem essa vida quando a noite cai. São sob as luzes da noite que inventários se fazem, que livros são dispostos em prateleiras e em mesas de divulgação… a noite é que “alimenta” a circulação de obras e de autores para que cheguem às mãos de seus “apreciadores” finais. É o mercado das letras!

Desse universo meio mágico e cheio de movimentos e ações que tintas impressas, compostas e encadernadas em diferentes formatos fazem um longo caminho até chegar as mãos daqueles que o apreciarão.

Ao encontrar as mãos desse leitor nova mágica se dá.
A relação com os livros é mesmo uma experiência sensível e por isso fala-nos tanto aos sentidos e o tato talvez seja o maior deles.
O formato físico propicia desfrutá-lo em qualquer parte e isso é mesmo uma delícia.
Como lembro de ter dito algures sobre o sentido da escrita sobre papel: ler é uma experiência de afetos e que em alguns casos transcende os suportes!

Eu mesma tenho minha preferência pelos livros em papel por conta do deslizar de dedos  sobre suas páginas, sentir sua textura, ouvir seu som estalido de páginas de acordo com a gramatura de cada uma, sentir o cheiro que parte de cada uma delas…poder grifá-las, pô-las em relevo e destaque: ADORO!

Gosto de questionar o autor, fazer perguntas, sinalizar a leitura. Todas as leituras ficam assim com meu rastro e os que não o possuem é simplesmente porque não foram lidos com a atenção e carinho de outros! Foram leituras em diagonal, apenas para atender uma demanda, um chamado. Nunca para atender um apelo do espírito. Esses últimos possuem a deferência e o apreço de todos os meus sentidos.

Apesar desse encantamento pelo formato físico e essa relação de afetos com os mesmos, leio também em suportes digitais. Indo mais longe nesse sentido de apropriar-me: chego a salvar aqueles escritos que temo serem tragados pela malha virtual, ou quebrados em um link que os destinem a um limbo de esquecimento e desaparecimento. As palavras ali postas são fluidas demais para uma permanência longa de tempos ou eras. São feitas talvez para serem esquecidas. Ou quiçá numa economia de mercado surgir como mais um produto a ser considerado passível de substituição ou obsolescência…não sei!

E assim, a grande biblioteca digital encontra seus volumes dispersos pelo espaço, mas sem garantias de futuro ou herança. Simplesmente constam como um dia ter existido, mas podem perfeitamente em algum futuro encontrar apenas o esquecimento e a ignorância dos que nunca puderam ler o que neles havia.
Lembro agora de um filme onde um robô bibliotecário era a garantia de toda a memória bibliográfica estivesse armazenada. Mas como toda tecnologia ele simplesmente parou em um mundo distante onde nem as pessoas existiam mais… Como um produto de um passado distante a sua Memória acabou se tornando obsoleta perante novos humanos que não sabiam do que ele falava.

Type Books – Director, Editor, and Cinematographer Sean Ohlenkamp

Sou a leitora ávida de sempre, sem preconceitos quanto ao suporte! A leitura, nesse contexto propicia deslocamentos de mentes e almas.
Tome o caso de comunidades, que muitas vezes, desprovidas de outros meios de viagem quer dos corpos quer das mentes descobrem o fascínio da leitura e o quanto podem ser companheiras de existência. Talvez diferente do que ocorre em grandes centros urbanos onde os estímulos e a pirotecnia visual distraem os sentidos e estimulam apenas a desatenção e o “quicar” daqui para lá.

A livraria e seus afins são magia exatamente pela vida que se guarda para além dos livros e que envolve todo o meio onde se encontra. O caminho do livro é rico e passa por tantas paisagens desde a sua concepção criativa até sua materialização e circulação social e cultural. É mesmo fascinante!
E acho que o vídeo dá-nos essa dimensão.

É magia encadernada!

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Os Analfabetismos do Século XXI

Por: Eliana Rezende Bethancourt

De uma sociedade que chegou a ser chamada de sociedade de informação temos nos convertido num exército de analfabetos surgidos do modo de viver digitalmente neste principio do século XXI. 

O volume avassalador de informações produzidos e reproduzidos em rede tem mostrado o quanto quantidade tem sido inversamente proporcional à qualidade.
O desenho propiciado por plataformas e aplicativos digitais favorecem que as informações fragmentadas possam circular em grande quantidade e fazer um rastro imenso em diferentes camadas da população. Este estilhaçamento faz com que a mesma informação alcance nichos diversos com capacidades diversas de lidar com tais fragmentos.

Ou seja, apesar da possibilidade de maior velocidade de compartilhamento tais registros não primam por reflexão e aprofundamento. É um plainar raso sobre todo e qualquer tema. Com um outro agravante: em segundos e um clique todos se convertem em especialistas de TODOS os assuntos e temas, em vários casos, com perspectivas e defesas tão apaixonadas que podem gerar muito barulho e furor.

É óbvio que as redes surgiram para interação entre pessoas, e tinham como principal objetivo agilizar assuntos sem aprofundá-los. Era algo muito interessante inicialmente. O que ocorreu a seguir foi começar a se converter na única forma de comunicação em diferentes ambientes. De rodas de conversas entre amigos e familiares, sua adoção foi por outros setores e rapidamente foi tragada por ambientes institucionais e até educacionais. 

Tudo isso somado: superficialidade + agilidade resultou em uma gama imensa ou de publicidades de todas as ordens, em especial as indesejáveis, e de outro muuuita desinformação. O pulo para desinformação foi favorecido exatamente por esta incapacidade de ler e ter crítica sobre o que se lê. Atentem que a palavra crítica aqui possui aquele sentido de ser capaz de aprofundar um tema ou assunto por que a pessoa se deteve e estudou para aquilo, a boa crítica deveria se assentar em argumentos e bons fundamentos.
Mas não é o que temos.

O fundo deste problema é uma geração inteira que nasce e cresce num ambiente onde as redes sociais dominam e a elaboração de um pensamento crítico e aprofundado é cada vez mais abandonado. 
No geral, e propiciado por tais comunicações rápidas das redes, os mais jovens mostram uma quase incapacidade de concentração, análise e reflexão sobre um determinado tema. 

“A atenção fragilizada e dispersa somada a incapacidade de pensamento reflexivo nos leva diretamente  aos mais novos analfabetos do século XXI. O analfabetismo aqui tem rastros e vícios digitais. Muitos não conseguem se quer escrever com letra cursiva ou escrever corretamente sem um corretor ortográfico acionado. Pensamentos mais complexos e correlacionados quase ficam inviabilizados e o exército destes analfabetos aumentam dia a dia  e são facilmente mensurados no número de desempregados ou sem profissões. Muitos não conseguem reunir o mínimo necessário para se capacitar e desenvolver um pensamento mais abstrato e robusto”. 

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Não confundir esta forma de analfabetismo, que é a incapacidade de formular raciocínios mais complexos e profundos em direção ao pensamento mais reflexivo e critico com o que denominamos analfabetismo digital.

Neste caso, o analfabetismo digital se refere à ausência de acesso aos meios digitais. São pessoas que mesmo alfabetizadas no sistema tradicional não conseguem usar e se valer das diferentes tecnologias digitais. Possuem dificuldade em utilizações básicas de editores de textos, planilhas, visualização ou produção de documentos em meios digitais.  

O analfabetismo digital está intimamente relacionado à pobreza.
A tecnologia não é um sistema igualitário e sua manutenção e atualização exige recursos. Quem não os possui será automaticamente alijado de todo o sistema.
Neste sentido, o analfabetismo digital é mais uma face da desigualdade social, cultural e econômica que aflige milhões na humanidade. 

Convivendo com tais formas de analfabetismo temos o mais popular de todos e que precede os que abordamos até aqui que é o analfabetismo funcional.

O analfabetismo funcional vem se transformando num clássico entre diferentes níveis de escolaridade, pois atinge de forma irrestrita uma grande gama de todas a população supostamente escolarizada.

O analfabetismo funcional pode se manifestar de diversas formas, mas as mais usuais são os casos em que o individuo de fato aprendeu a ler e tecnicamente aprendeu a fazer uma leitura pragmática envolvendo seu dia-a-dia, mas que não é capaz de interpretar um texto ou compreender subtextos. O analfabeto funcional possui seu diploma, mas é incapaz de ter um raciocínio bem elaborado ou fundamentado sobre um tema, não é capaz de construir argumentações ou fundamentações valendo-se de seu aprendizado.

Por isso, é usual encontrarmos analfabetos funcionais em níveis considerados superiores, onde a pessoas passam por processos de alfabetização, consegue ingressar em cursos que não exigem tanto em seus processos seletivos, e por isso, serão incapazes de exercer suas profissões porque simplesmente não conseguem ir além da mera leitura.
Não constroem ou elaboram a partir do que aprendem, e por isso, também não são capazes de emitir posicionamentos ou pesquisas circunstanciadas sobre o que quer que seja.

Vê-se que quando temos estas sobreposições de analfabetismos estaremos diante de um grande problema não apenas escolar mas sociocultural.

É preciso compreendermos as diferentes camadas de que são feitos tais analfabetismos, para que em todos os casos seja devolvido a estes atores a possibilidade de ter pleno acesso e cidadania social, cultural e digital. Sem compreender isso, estaremos mergulhados num pântano de preconceitos nebulosos e total incapacidade de viabilizar informação para a produção de conhecimento.

De tudo o que foi mencionado, fica claro que todos aqueles que se dedicam aos temas acima e suas conexões com a Educação terão obrigatoriamente de tomar em conta os caminhos de desigualdade social que atinge nossa população de forma avassaladora.
A partir da pandemia de Covid19 todos estes elementos se entrecruzaram e revelaram um país com muitas dificuldades e obstáculos a vencer. Foi escancarado o que já institivamente sabíamos: os fossos educacionais se estreitavam cada vez mais quanto mais carentes eram os públicos.

Milhões de alunos ficaram completamente reféns de uma situação que mostrava aos quatro cantos que seus pais e outros membros de sua família sofriam de vários níveis de analfabetismo e que pouco ou nada poderiam ajudá-los em suas dúvidas.

E não foi difícil encontrar educadores que também sentiam em maior ou menor grau seus limites em relação à alfabetização digital.

Assim, fica absolutamente claro que se não cuidarmos de nossas desigualdades todas as outras camadas de dificuldades apenas se aprofundarão e irão compor uma verdadeira erosão social e cultural em nosso país em pouquíssimo tempo. A digitalização do mundo está sendo responsável, ao mesmo tempo em que oferece novas profissões e caminhos de subsistência, um grande exército de desocupados que simplesmente não conseguem assimilar este novo mundo.

O laço estreito entre analfabetismo digital e exclusão digital ocorre na medida em que parte considerável da população é alijada dos meios possíveis para gerar riqueza e conhecimento a partir destes meios digitais. Isso ficou muito patente durante a pandemia de Covid19 quando milhões de pessoas não tinham como realizar seus trabalhos remotamente, ou crianças que não tinham como ter suas aulas online.

Mas a exclusão digital possui outros tentáculos e por consequência outros alcances:
– é uma importante barreira a ser vencida para os que desejam produzir saber e conhecimento;
– acentua diferenças sociais
– dificulta acesso ao trabalho e por consequência melhoria nas condições de vida e renda;
– acentua o isolamento e a distância de territórios e pessoas (quanto mais distantes e pobres os territórios de exclusão digital aumentam)

Esta exclusão digital não possui um único tipo. Ela pode ser subdividida em:

  • exclusão de acesso
  • exclusão de uso
  • exclusão de qualidade no acesso

    O que este itens significam? Eventualmente as pessoas simplesmente não conseguem ter acesso ao meio digitais. Outros até podem possuir o acesso, mas não dominam de forma eficaz tais meios. E finalmente, há aqueles que possuem o acesso, conseguem usar algumas de suas possibilidade e ferramentas, mas não possuem conhecimento diversificado e aprofundado para tirar o máximo proveito de todos os recursos que estariam disponíveis.

    Ou seja, a exclusão digital é tão complexa quanto a exclusão social, mas possui uma série de variáveis que interferem em todo o processo e estes estão totalmente ligados aos meios digitais.

“Especificamente no caso do Brasil, a exclusão digital se assenta nas desigualdades sociais, culturais, econômicas e históricas.
Daí sua complexidade e acabar se transformando em reflexo de todas elas”.
E o principal: a exclusão digital e a exclusão social se retroalimentam reforçando uma à outra.

Por: eliana Rezende Bethancourt

Não enfrentar isso, significará ter um país cada vez mais empobrecido, famélico e sem possibilidades de exercer atividades que lhe ofereceram uma remuneração que mantenha a si e sua família.

É disso que teremos que tratar como cidadãos que ensinam e lutam por igualdade e cidadania digital e social .

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De Leitores e Leituras

Por: Eliana Rezende Bethancourt

De novo sobre leitores e leituras. Instigando todos a pensar um pouco…

Em “Utopia de um homem que está cansado“, Borges descreve o encontro do narrador com um homem de quatro séculos, que vive no futuro – ‘um homem vestido de cinza’, cor que envolve os mensageiros da estranheza em vários contos do escritor argentino – e que faz assustadoras revelações. Uma delas é a extinção da imprensa, “um dos piores males do homem, já que tendia multiplicar até a vertigem textos desnecessários”. (BORGES)

À revelação do desaparecimento da imprensa no mundo do futuro, o narrador responde com um longo discurso:

“Em meu curioso ontem (…) prevalecia a superstição que entre cada tarde e cada manhã acontecem fatos que é uma vergonha ignorar. O planeta estava povoado de espectros coletivos, o Canadá, o Brasil, o Congo Suíço e o Mercado Comum. Quase ninguém sabia a história anterior desses entes platônicos, mas sim os mais ínfimos pormenores do último congresso de pedagogos, a iminente ruptura de relações e as mensagens que os presidentes mandavam, elaboradas pelo secretário do secretário com a prudente imprecisão de que era própria do gênero.
Tudo se lia para o esquecimento, porque em poucas horas o apagariam outras trivialidades. (…)
As imagens e a letra impressa eram mais reais do que as coisas. Só o publicado era verdadeiro”
. (BORGES)

A verdade é que neste tempo distante e assustador de Borges extinguiram-se não apenas os jornais, mas também os museus e as bibliotecas. Inexistiam monumentos, feriados ou espaços de rememoração; inexistiam cidades. Dito de outra forma: todos os espaços destinados a cultura, convivência e memória foram extintos, restando apenas uma grande ode ao esquecimento, nada era feito para lembrar ou fazer recordar.

Tal como ocorre aqui no texto de Borges, a leitura parece ser feita sob muitas circunstâncias, para o esquecimento.
Gostaria de levá-los a repensar a literatura e suas relações com seus leitores e o contexto de produção de suas obras.

Isso porque a leitura sempre vai além do texto. É preciso tomar em conta o leitor, o escritor, o texto, a época em que o texto é produzido, bem como o tempo em que o mesmo é lido. Cada texto assim pode ser sempre recriado, reinventado a cada vez que é reinterpretado e/ou assimilado.
Mas vejo que cada vez mais essa forma de ler parece ser algo bem além do que nossa civilização seja capaz de fazer. Distraídos, dispersos e na maioria das vezes ávidos apenas pelo novo que chega, deixa essa possibilidade de leitura para trás.

Para este caso, a leitura tal como a conhecíamos no mundo analógico, talvez esteja encontrando o seu final. O déficit de atenção e a indisposição pela verticalização inviabilizam este tipo de leitura. Refiro-me àquela leitura quase que feita como degustação. Pausada em cada trecho, parágrafo ou ideia para melhor assimilá-la. Flutuar com os pensamentos por entre as linhas e pelos não ditos. Divagar por entre trechos, sensações ou mesmo silabas. Encontrar as brechas que rementem a outros encontros e pensamentos.
Percorrer uma obra é como visitar uma cidadela muralhada e oferece diferentes roteiros e percursos. Oferece experiências diversas para cada um que se aventura sobre ela. O bom escritor consegue caminhar com muitos tipos de leitores. E assim a mágica entre obra, leitores e leituras se dá.

Com as leituras feitas em tempos de textos hiperlinkados ou com um deficit de atenção e interesse abaixo dos razoáveis, aqueles que se dedicam à escrita terão que possuir uma sensibilidade ainda maior. Se pretendem alcançar seus leitores, deverão estar atentos ao modos que estes leem.

E assim, a literatura (seja ela de ficção ou não-ficção) e provavelmente, seus autores terão que tomar esse dado para além dos suportes e grau de interação possível e provável. O leitor sempre em fuga torna-se um “ser que quica”: pula de um lugar ao outro, com mentes dispersas, dedos ávidos e concentração ligada num modo mínimo.
E-books, por exemplo já conseguem determinar o tempo de concentração por página, velocidade de leitura por página e obra, o que ajuda a determinar o quanto um leitor de fato se detém sobre o que lê. Agora determinar o grau de proveito dos mesmos continua uma incógnita. O escritor nunca saberá se suas tintas de fato alcançaram seus leitores ou se simplesmente plainaram sem interagir de fato com o escrito.
Tempos novos, interessantes e de muitos desafios.

Crédito: Orelha do Livro

Felizmente acho que muito poucos ainda põem em questão o término do livro.
Há algo aqui que envolve a qualidade de leitores. O bom leitor é arguto, perspicaz e caminha com o escritor. Busca todo o tempo interlocução de ideias e conteúdo. E talvez aqui exista a maior fragilidade a ser vencida. O verdadeiro leitor é antes de tudo um ser crítico. Não no sentido pejorativo de gostar ou não das coisas, mas no sentido de saber ser interlocutor fazendo as perguntas adequadas ao lido e as transpondo para seu universo de atuação. É assim que se constrói repertório: ler; questionar; reformular e aplicar. Empoderar-se do lido e transformá-lo em seu.

Com os tempos de superficialidade de leituras temos cada vez mais pessoas apenas reproduzindo o lido, e é neste sentido que quero instigar os leitores a irem além do escrito e propor novos caminhos para antigos questionamentos. É fundamental que os que desejam ser verdadeiros leitores aprendam a de fato interagir com o autor: dialogar por meio de uma leitura eficaz.
Em outro artigo procurei mostrar como “Ler de forma produtiva“. Nele aponto diferentes formas de transformar sua leitura em algo verdadeiramente proveitoso.
Experimente!

Procurando ser bastante objetiva, nossos tempos oferecem uma complexidade e diversidade sobre o perfil de leitores e leituras.
Entenda:

Conseguimos ter vários tipos de leitores, talvez o primeiro deles seria os leitores analógicos: aqueles mais contemplativos de leituras lentas e longas, nascidos e crescidos num tempo de leituras e produção textual totalmente analógica. Este tipo de leitor se relaciona com a leitura de uma forma totalmente diferente dos chamados nato-digitais. Em geral, preferem publicações em formato físico e tem nos livros objetos pessoais de companhia e vida. Transitam com eles enquanto os lê e destinam locais especiais para que sejam armazenados, lidos, contemplados ou apenas vistos. Seus livros ganham espaços em bibliotecas, mesas de centros e escrivaninhas onde surgem não apenas como objeto para leitura, mas também são usados decoração, ou mesmo como forma de ostentação de status quo ou erudição. Em muitos casos são de fato, manipulados e usados como referência. Tê-los em mãos oferecem aos seus leitores uma experiência tátil que chega pela capa e tipos de encadernação, formato, gramatura de papel e qualidade do papel, dos tipos de letras impressas e das ilustrações usadas. Possuem um odor próprio: onde celulose e tintas se misturam e trazem um odor que lhe são próprios. Oferecem aos seus possuidores o prazer das sensações.

A seguir temos um outro tipo de leitor e que prefiro chamá-los leitores híbridos: não são nato-digitais, mas são intermediários entre os tempos analógicos e os digitais. Conseguiram assimilar as duas maneiras de produzir e ler textos, e de acordo com seu interesse vão de um à outro sem grandes dificuldades. De certa forma ainda interagem com os textos digitais da mesma forma que interagem com os textos analógicos, ou seja, leem de forma mais linear e atenta, alguns chegam a optar por concluir uma leitura para seguir por outra e assim sucessivamente. Ainda apreciam os livros em formato analógico, mas em vários casos optam pela praticidade de um e-book e começam a investir em bibliotecas mais digitais pela suposta economia de espaços e acessos. Será possível que este leitor híbrido tenha seus aparelhos digitais preferidos para leitura tanto quanto o leitor analógico tem seus livros preferidos.

Mas há o leitor que é ubíquo (aqui usando uma expressão de Santaella, 2013) na sua forma de ser: interage com suas leituras ao mesmo tempo que interage com o ambiente e com outros aparelhos. Usa fartamente possibilidades não lineares de leitura e segue indo de um lugar ao outro. Clica e pula por várias telas, meios, textos, imagens, sons. Concentra-se em ter os aparelhos mais recentes e provavelmente terão várias abas e aparelhos abertos em temas diversos. Em muitos casos, interagem ao mesmo tempo com o ambiente em que estão inseridos e os veremos conduzindo e ouvindo um podcast ou audio-livro, ou estarão usando mais do que um aparelho para funções diversas, incluindo-se até o uso de mensagens e telefonemas.
Para este perfil os textos não podem ser longos demais sob o risco e pena de serem abandonados sem muitas cerimônias.
A velocidade de rolagem das telas digitais fará quem em geral leiam apenas os primeiro parágrafos e rapidamente se dirijam para as linhas finais. Não aguarde deste tipo de leitor uma fidelidade canina ou fixação em cada palavra ou pensamento desenvolvido.

Se de um lado temos a possibilidade de ter um número maior de alfabetizados como em nenhum outro momento da história, por outro lado estes encontram-se dispersos e desatentos. A leitura deixou de ser algo restrito a muito poucos, mas a contrapartida é ter leitores mais dispersos e desatentos.

O que fica de fato é que cada vez mais teremos tipos de leituras para leitores diversos, e caberá aos que escrevem ter sempre isso em mente para conseguir encontrar-se com seus leitores.

Referências:
BORGES, Jorge Luis. “Utopia de um homem que está cansado
Danziger, Leila – O Jornal e o Esquecimento
Orelha de Livro
MARTINS, Vagner Basqueroto. “E-books em tablets: um estudo sobre a opinião de leitores adultos acerca de sua experiência de uso”. Curitiba, 2016 – Dissertação de Mestrado em Design, UFPR
SANTAELLA, L. Repercussões na Cultura e na Educação. São Paulo: Editora Paulus, 2013.

* Post atualizado de publicação feita originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta

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Ler de forma produtiva. Mas como?!

*Por Eliana Rezende

Muito se tem dito e escrito sobre a qualidade dos leitores em tempos de tantos estímulos digitais.
Desconcentração e desinteresse tendem a encabeçar quase todas as listas.
A seguir e bem de perto estão a preguiça, dificuldade de retenção e compreensão do que se lê.

Sem entrar nos méritos da alfabetização ou sua ausência, do analfabetismo funcional e problemas com o ensino desde sua base, algumas sugestões podem e devem ajudar quem, de fato, quer ou precisa ler e ainda não aprendeu como.

Aqui a sugestão é para leituras técnicas ou de conteúdo profissional e que necessitam de uma outra forma de leitura daquelas que destinamos a romances e entretenimento de horas de lazer.

livro-leitura-xícara-outono

Vamos ver se consigo:

  • Crie o hábito de tracejar o que lê. Isso mesmo! Use um lápis (nada de marcadores e canetas! Estes estragam seu livro). Procure um lápis macio (6B ou mesmo um integral seriam fantásticos). Se estiver lendo em um tablet use o recurso de pintar o trecho que quer destacar.
  • Munido desta ferramenta aprenda a sinalizar o que lê. Encontre uma sinalética que te dê pistas se o assunto é interessante, repetitivo, se você já leu em outro lugar, etc.
  • Não grife parágrafos inteiros! Escolha palavras que sintetizem a ideia do parágrafo. Assim quando bater os olhos na página não terá que ler todo o conteúdo novamente.
  • Procure anotar títulos que te façam saber do que o parágrafo ou a página tratam.
  • Relacione a leitura desta página com outra que a complemente, ou mesmo outra obra e autor.
  • Estabeleça uma relação com o autor. Faça-lhe perguntas e procure encontrar as respostas enquanto lê. Dessa forma ficará atento e a concentração será consequência deste diálogo silencioso.
  • Este recurso também pode ser usado quando lembrar do argumento de outro autor. Interpele o atual sobre o que o outro disse e tente encontrar uma resposta satisfatória.
  • Tenha sempre um dicionário por perto. A leitura é fantástica para descobrir novos significados para as palavras, bem como seu emprego na construção de uma ideia.
  • Achou uma palavra nova? Não a perca! Escreva ao lado dela o seu significado. Você provavelmente não decorará de primeira.

Logo nas primeiras páginas pergunte-se:

  1. Qual é o objetivo do autor? O que o autor quer com seu escrito? Ele está vendendo uma ideia ou um produto? É importante descobrir qual é o seu objetivo para que ao término da leitura você possa qualificar de boa ou má sucedida sua obra em relação a você. Isto será importante para que você seja capaz de argumentar se gostou ou não do que leu e o quanto ficou convencido pelo exposto.
  2. O que ele está defendendo?
  3. Com quem ele fala? Conversa ou rebate a ideia de outro autor? Ou tenta expor e propor uma nova ideia ou conceito?
  4. De onde o autor fala? Ele é do mercado de trabalho, da academia ou é um empreendedor? Atentar para isso pode ajudar a compreender seus argumentos. Ele procurará falar aos seus pares e saber quem são lhe ajudará a ter mais ferramentas para compreende-lo.
  5. Qual a data da publicação? Essa é uma pergunta interessante, já que se for um autor contemporâneo trará temas mais recentes. Mas às vezes é uma publicação escrita há décadas! Talvez seja um clássico, ou uma leitura obrigatória dentro da área de conhecimento. Saber quando uma obra foi escrita evitará que cometamos erros de interpretação, ou mesmo notar ausências de abordagens, pois estas só ocorreram muito mais tarde.
  6. O autor consegue convencer você ao final? Veja, o convencimento aqui é você cruzar o que era o objetivo inicial dele e como ele foi conduzindo você. Ao final, valeu a pena o percurso? Ele conseguiu cumprir o objetivo que se colocou?
  7. Suas ideias são claras ou já viu outros autores explicando melhor? Tente fazer estas conexões. Isto significará que você não está mais na superfície e que sua leitura está ganhando consistência.
  8. Ao concluir a leitura de um tópico ou capítulo, pergunte-se: “o que mesmo o autor falou?”. E neste momento escreva em duas ou três linhas o que respondeu. Isso lhe ajudará a ir fixando as partes importantes de cada capitulo, seção ou tópico. Ao término da leitura poderá se arriscar a ler tuas anotações e fazer a mesma pergunta só que para o livro todo e redigir um parágrafo síntese.
  9. Pode parecer bobagem, mas fazer isto pouco a pouco o ajudará a ir fixando o conteúdo e imprimindo sua compreensão ao que leu. Com certeza você irá mais longe em sua compreensão.

Se prestou atenção, os recursos para ler um livro físico são os mesmos que você também pode usar em um livro ou paper digital. A via é a da comunicação. É preciso estabelecer uma relação de troca com o texto, com o escritor. Fale com ele! Feito isto não há leitura que seja difícil ou dura.

Será que quer aplicar comigo estas dicas que falei?
Experimente! E depois me conte!

livro-leitura-chuva-janela

*
Os procedimentos para uma boa leitura auxiliam e muito nos meios possíveis para estabelecer trocas em especial as acadêmica e profissionais.
A leitura acurada é meio de tornar a informação muito mais proveitosa, e sim, matéria-prima para a produção de conhecimento.
ER Consultoria, atenta às muitas formas de “ler” possui como missão, portanto, prestar serviços de Gestão de Informação que possibilitem aos seus clientes: fortalecimento de sua identidade institucional e cultura organizacional, disponibilização de matéria-prima para a produção de conhecimento e inovação, além de valorização do capital intelectual existente no interior de cada organização.

Consulte-nos e saiba como podemos auxiliá-lo, ou consulte nosso Portfólio de clientes e o quê eles tem a dizer sobre nosso trabalho.

* Post publicado originalmente no meu Blog, o Pensados a Tinta

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